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A tragédia nacional, a disputa institucional e o candidato a Napoleão em plena campanha

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Espiando o poder: análise diária da grande imprensa

Foto: Beto Barata/PR

Por Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho

A tragédia com a delegação da Chapecoense e jornalistas que acompanhavam o time rumo à final da Copa Sulamericana, na Colômbia, ainda é, com todas as justificativas para isso, o assunto predominante na imprensa brasileira. Imagens do velório das vítimas, ontem, na Arena Condá, em Chapecó (SC), dominaram as primeiras páginas dos jornais deste domingo, e nas revistas semanais, que trataram pela primeira vez do acidente aéreo que matou 76 das 81 pessoas a bordo, o assunto também esteve em todas as capas, ainda que de maneiras diferentes. A Época limita-se à bela homenagem em preto, com o escudo da Chapecoense e a referência ao justo título de campeão da Copa Sulamericana de 2016. A Veja quase vai pelo mesmo caminho, mas não. No verde gramado que toma toda a capa da revista não há escudo da Chapecoense nem nomes, nem fotos nem qualquer mensagem de tristeza, solidariedade ou coisa parecida. Há a frase escrita no meio dizendo que “enquanto o Brasil chorava a tragédia…”, e concluída no pé, ao lado de dois ratos adentrando na capa embaixo, onde “…deputados entravam em campo contra a Lava-Jato”. A revista invade a dor pela tragédia com seus próprios interesses na disputa entre os Poderes, na defesa do Judiciário, do estado de exceção, que ganha argumentos em contrário na própria grande mídia, a começar pela manchete do Globo de hoje.

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“Empresas investigadas param obras que já gastaram R$ 55 bi”, informa o jornal carioca na manchete. Embaixo, os subtítulos afirmam que “há empreendimentos suspensos desde 2014, sem prazo para retomada”, e que “dificuldades financeiras, após as investigações que revelaram formação de cartel e pagamento de propina, estão entre as razões que levaram ao abandono dos projetos, incluindo usina nuclear e refinaria”. Estão paradas “pelo menos 11 grandes obras executadas por empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato”, completa o texto da chamada, citando “a Usina Nuclear de Angra 3, o Complexo Petroquímico do Rio (Comperj) e parte da transposição do Rio São Francisco” entre os projetos parados.

A primeira página do Globo avisa ainda, em chamadas laterais, uma em cima da outra, que o “consumo só se recupera em 2020”, e que “o desemprego vai continuar subindo até o terceiro trimestre de 2017, segundo um estudo do Ministério da Fazenda”. Dentro desse quadro, a Lava Lato contribui para tornar tudo ainda pior, segundo a manchete do diário carioca, ainda que permaneçam a postos, ativos, no próprio jornal, defensores fiéis como Merval Pereira, cuja coluna tem hoje o título sucinto, definitivo: “Apoio à Lava-Jato”.

Merval compra a versão difundida pelos procuradores da Lava-Jato ao dizer que “a manobra dos deputados na noite de quarta-feira na Câmara” acabou “distorcendo o sentido original das medidas contra a corrupção para transformá-las em perseguição a juízes e procuradores do Ministério Público”. No mesmo jornal, Elio Gaspari ironiza dizendo na capa que “doutores da Lava-Jato devem crer na Justiça.” “Os doutores da Operação Lava-Jato dizem que o projeto que pune os abusos de autoridade praticados por policiais, juízes e promotores destina-se a ‘aterrorizar procuradores, promotores e juízes'”, afirma Gaspari, na primeira frase de seu texto.

Em seguida, o jornalista ressalta que “antes de concordar com o fim do mundo, fica uma pergunta: quem poderá condenar o policial, o procurador ou o juiz? Um magistrado, e só um magistrado”. E questiona “se os procuradores da Lava-Jato, o juiz Moro, a ministra Cármen Lúcia e seu colega Joaquim Barbosa não confiam na Justiça, por que alguém haverá de fazê-lo?”. “De fato, juízes e procuradores podem se sentir intimidados, até mesmo aterrorizados. A Lei Maria da Penha, por exemplo, intimida e aterroriza milhares de homens que pensam em bater numa mulher. Assim são as coisas e é bom que assim sejam”, completa Gaspari.

Ele conclui afirmando que “com novos mecanismos de correição, uma juíza como a doutora Clarice Maria de Andrade, da comarca paraense de Abaetetuba, poderia ficar intimidada ou mesmo aterrorizada antes de permitir, em 2007, que na sua jurisdição uma menina de 15 anos fosse mantida presa numa cela com 23 homens durante 26 dias”. “Três anos depois”, continua Gaspari, “o Conselho Nacional de Justiça puniu-a, com a pena de aposentadoria compulsória. Em outubro passado, o CNJ reviu a decisão, colocando-a em disponibilidade, por dois anos, com vencimentos proporcionais. Depois, zero a zero e bola ao centro.”

Em texto publicado na quinta-feira no blog de Luis Nassif, o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão faz coro afirmando que “quem não deve não teme”, e perguntando se “não é, senhores procuradores e magistrados?” “Esta é a frase preferida de juízes e membros do ministério público, quando a defesa se insurge contra provas extravagantes admitidas assimetricamente a favor da acusação: quem não deve, não teme”, afirma Aragão, para completar em seguida. “Suas Excelências estão em polvorosa porque a Câmara dos Deputados resolveu, na última versão do texto do PL 4850/2016 (sobre as famigeradas 10 medidas do MPF), incluir a previsão de crimes de abuso de autoridade por juízes e membros do ministério público. Que tal acalmá-los, lembrando-lhes de seu bordão: quem não deve, não teme?”

No embate entre o Legislativo e o Judiciário, Merval Pereira afirma que há “manifestações marcadas para hoje em todo o país a favor da Lava-Jato, que já incorporavam protestos contra uma tentativa de anistia do caixa 2 — que acabou sendo abortada pela reação da opinião pública — e passaram a ser contra também tal distorção do combate à corrupção.” Jânio de Freitas, na Folha de São Paulo, diz que “O Brasil está no terceiro ano de uma desconstrução que só tem encontrado estímulos, nenhum obstáculo”, e que “a crise passou de política a institucional, como previsível”.

“Quem apoiou o impeachment com a ideia de que seria um fato isolado tem elementos agora para começar a entendê-lo. O confronto protagonizado por Judiciário e Legislativo tem as formas de divergências legais e vinditas mútuas, mas o seu fundo é institucional: é disputa de poder”, afirma o jornalista. E nessa disputa quem tem mais a perder, no momento, é o Executivo, quando, segundo Jânio de Freitas, “os sussurros e a cerimônia começam a desaparecer, em favor da objetividade”.

“É um estágio conhecido. Temer o conhece como praticante, desde quando costurava com Aécio Neves a conspiração do impeachment. Agora o conhece como alvo. Sem a companhia de Aécio. Aliás, parece possível dizer, apenas, sem companhia”, afirma o jornalista, para conpletar dizendo que “não é outro o motivo do chamado do atônito Temer a Armínio Fraga, guru do neoliberalismo, e ao PSDB para se imiscuírem no gabinete de Henrique Meirelles, cuja carta branca é cassada sem aviso prévio e publicamente”.

Para concluir, Jânio lembra que “daqui à sucessão normal são 25 meses. Mais de três vezes os meses que desmoralizaram a propaganda sobre as maravilhas do governo pós-impeachment, com Temer, Geddel, Moreira e outros”. E se na Folha a manchete mira o Legislativo na batalha dos Poderes, ao dizer que “deputados federais viajam ao exterior a cada dois dias”, no Estadão ela mostra a fraqueza do Executivo afirmando que “Planalto teme que protestos virem onda contra governo”.

“Avaliação é de que manobras do Congresso para fragilizar medidas anticorrupção aumentaram tensão política”, diz o subtítulo da manchete do Estado do São Paulo e entre as revistas semanais a Istoé e a Carta Capital fazem a mesma dobradinha involuntária. A primeira foi na mesma linha escolhida pela Veja, incluindo o escudo do time no nome da revista, mas sem deixar de relacionar o caso ao noticiário nacional à sua maneira, dizendo em cima do nome e do escudo do time que “o povo sofre por Chapecó”, e embaixo, que “o Congresso zomba do povo”.

Talvez por ter o fechamento de sua edição mais próximo da queda do avião, em relação às concorrentes, a Carta Capital saiu com a tarja preta no alto, no canto, com o escudo do time e a inscrição, “Força Chape”, e manteve a capa anunciando o derretimento do governo atual, previsão corroborada por José Murilo de Carvalho, que na capa do Estadão, na chamada para seu artigo, diz que “mandato de Temer pode estar em perigo”.

No mesmo Estadão, o título da coluna de Eliane Cantanhêde é “Encalacrada”. “Política e economia vão mal e exigem solavancos que Temer não pode dar”, afirma a colunista, que não tem pudor em escalar um time dos sonhos particular, mesmo informando ser a reunião dele, no momento, impossível. “Armínio Fraga na Fazenda, Pedro Parente no Planejamento e Antônio Imbassahy na Secretaria de Governo seriam um sonho, mas isso é inviável neste momento”, reconhece Cantânhede.

Antes, logo na abertura do texto, ela afirma que “a crise política castiga os ânimos, enquanto a alta expectativa de recuperação da economia não está se confirmando. Quanto mais alto o voo (ou a expectativa), maior o tombo (ou a frustração). E uma frustração nessa área sensível é o pior dos mundos para Temer, que já farejou o perigo e tenta acionar quadros tucanos para equilibrar-se na ‘pinguela’ a que se refere Fernando Henrique Cardoso.”

E é justamente o ex-presidente FHC que surge hoje nas primeiras páginas de Globo e Estadão, com seu artigo a afirmar, no título, que “Algoritmo da política mudou: o foco é nas redes.” “Às consequências sensíveis da globalização em momentos de crise (estagnação, deslocalização e desemprego), portanto, somam-se também tensões em torno a padrões de comportamento”, diz o ex-presidente em tom mediador, tentando se colocar no centro dos acontecimentos para projetar o futuro, entender o presente em que, citados “os conflitos pela hegemonia mundial e as ameaças inquietantes do terrorismo, completa-se o quadro no qual, mais que ‘de direita’ (no sentido clássico), as reações são de medo.”

“O assunto não se esgota, portanto, em dizer: é a direita que está vitoriosa, embora seja. Não é qualquer direita, é a direita do orgulho nacional xenófobo, do “fora, imigrantes”, do protecionismo e do personalismo autoritário, valores em parte compartilhados por certa esquerda”, afirma FHC, embaralhando tudo, esquerda, direita, no momento conturbado atual em que “mais correto diante da vitória de Trump seria repetir Angela Merkel e dizer: nós temos princípios, amamos a liberdade, temos respeito à dignidade humana e à democracia”.

E assim, falando em democracia, o ex-presidente do partido que ajudou a instaurar o caos nacional, com a campanha até o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, derrubando a vontade dos mais de 54 milhões de eleitores que a mantiveram na Presidência, conclui que o “mal-estar precisa ser entendido para recriar-se a esperança.”

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Luis Edmundo

Luis Edmundo Araujo é jornalista e mora no Rio de Janeiro desde que nasceu, em 1972. Foi repórter do jornal O Fluminense, do Jornal do Brasil e das finadas revistas Incrível e Istoé Gente. No Jornal do Commercio, foi editor por 11 anos, até o fim do jornal, em maio de 2016.

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Roberta Vilarejo

04/12/2016 - 17h51

Como diria Crisálida Viegas ‘É uma m*erd*!!!’


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