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Matadores que não eram “santos”, para governador, causaram, para Michel, “acidente pavoroso”

Por Denise Assis, colunista do Cafezinho Depois de declarar, em entrevista, que entre os 56 mortos no presídio privatizado Anísio Jobim, do Amazonas, “não tinha nenhum santo”, o governador do estado, José Melo de Oliveira, mandou que fossem enviadas coroas de flores para adornar as covas rasas das vítimas do massacre. O gesto soa demagógico […]

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Por Denise Assis, colunista do Cafezinho

Depois de declarar, em entrevista, que entre os 56 mortos no presídio privatizado Anísio Jobim, do Amazonas, “não tinha nenhum santo”, o governador do estado, José Melo de Oliveira, mandou que fossem enviadas coroas de flores para adornar as covas rasas das vítimas do massacre.

O gesto soa demagógico na essência, inócuo e eleitoreiro, para quem definiu os homenageados como “estupradores, matadores e pessoas ligadas a outra facção, que é minoria aqui, no Estado do Amazonas”. A fala, contém um quê de opinião de torcedor, como se o fato de ser “minoria” no manancial de detentos socados no presídio, os colocasse já, de antemão, na condição de merecedores do fim que tiveram. Perdedores.

José Melo, que conseguiu a reeleição por decisão do Tribunal Regional Eleitoral, depois de passar por acusações de compra de votos para ser reconduzido ao cargo, talvez tenha se pronunciado a partir de sua experiência sempre vitoriosa, na vida pública. E deve ser bom de contas, o governador. Sua formação é em Economia. Sua diplomação se deu em períodos difíceis para o país e para o estado, em 1967, em plena ditadura militar.

A julgar pelo seu currículo, no entanto, os percalços da época não turvaram o seu caminho. Iniciou sua vida pública ainda na universidade, onde atuou em várias funções, entre elas as de datilógrafo e diretor do Departamento de Educação e Desportos.

Vale lembrar, que àquela altura, universitários andavam às voltas com o decreto 477, e costumavam passar longe dos gabinetes e das reitorias, onde qualquer menear de cabeça podia ser mal interpretado e lá se ia a liberdade, e até mesmo a matrícula, conseguida em penosos exames vestibulares. Foi também interino na Sub-Reitoria para Assuntos Acadêmicos e membro do Conselho Universitário. Sua atuação como professor na Universidade do Amazonas deu-se entre 1970 e 1984.

Ocupou o cargo de delegado do Ministério da Educação e Cultura entre 1984 e 1987. De 1989 a 1991, foi secretário de Educação e Cultura do Estado do Amazonas. Ocupou também o posto de secretário Municipal de Educação de Manaus, de 1993 a 1994. Em 1995 voltou a assumir a Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Desportos do Amazonas. Foi eleito deputado federal em 1994, tendo sido reeleito em 1998. Em 2002, foi eleito deputado estadual pelo PFL, atual DEM, um partido de ultradireita, com certeza. Durante dois anos, entre 2005 e 2006, assumiu a presidência da Sociedade de Navegação Portos e Hidrovias do Amazonas (SNPH).

Nas eleições de 2010 mudou-se para o PMDB – o mesmo partido de Michel, que atualmente ocupa o Planalto – quando foi alçado à condição de vice-governador do estado do Amazonas, na chapa encabeçada por Omar Azis. Chegou ao cargo de governador, pelo PROS, quando Omar Aziz foi disputar o Senado, em 2014. Por fim, candidatou-se à reeleição, vencendo no segundo turno.

Nessas horas, quando até o Papa volta os seus olhos para o Brasil, e emite um protesto contra a forma violenta como morreram aqueles 56 pobres diabos, é interessante lançarmos o olhar para o perfil dos políticos que, a rigor, deveriam ser os responsáveis pelo destino daquelas pessoas. José Melo preferiu terceirizar a responsabilidade, privatizando um problemão, agora se sabe, colocando-o nas mãos da empresa que financiou a sua campanha.

Afeito à vida burocrática desde o início de sua vida laboral, viu com certo distanciamento o fim daqueles sujeitos que, a rigor, de acordo com a sua fala, não mereciam mesmo nenhuma atenção. Afinal, não eram “santos”. Acostumado a lidar com eles, os santos, o Papa Francisco foi piedoso. Pediu orações por suas almas e para o conforto de suas famílias. Sim. Eles têm famílias.

Num estado, em que as facções criminosas transformam-se em verdadeiros conglomerados econômicos e as bibliotecas servem de cenário para negociatas entre o poder e os criminosos, (foi lá, numa biblioteca, do Compaj, segundo denúncias, que a facção Família do Norte negociou trégua em troca da não transferência dos seus comandos para presídios federais), fica difícil mesmo que jovens não virem “matadores e estupradores”. Tivessem acesso aos livros que testemunharam a negociação, e não teriam se transformado “num acidente pavoroso”, no dizer de Michel, quando se decidiu, três dias depois, a prestar atenção ao acontecido

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C.Poivre

06/01/2017 - 11h27

Preconceito: uma jornada através do DNA:

https://youtu.be/aCyhIhVfUYQ


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