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A pirataria “corporativa” no Brasil

Reproduzo a matéria abaixo, publicada ontem na Folha, porque ela é fruto de uma denúncia de empresa parceira do Cafezinho, a Fênix Filmes. A Fênix é uma distribuidora que cuida dos direitos autorais de filmes de várias partes do mundo, em especial filmes de arte. A empresa distribui, por exemplo, filmes de Jim Jarmush e […]

7 comentários
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Reproduzo a matéria abaixo, publicada ontem na Folha, porque ela é fruto de uma denúncia de empresa parceira do Cafezinho, a Fênix Filmes.

A Fênix é uma distribuidora que cuida dos direitos autorais de filmes de várias partes do mundo, em especial filmes de arte. A empresa distribui, por exemplo, filmes de Jim Jarmush e Marco Bellochio, estrelas sagradas do cinema mundial.

A tal Old Flix, que estava oferecendo ilegalmente o filme “De Punhos Cerrados”, de Bellochio, é gerida por sócios do Rio Grande do Norte, de uma família que tem concessão de TV. O dono, Manoel Ramalho, é casado com Wilma Wanderley, que se filiou ao PSL para se candidatar a deputada federal. Reportagens locais mostram que Wilma tenta se vender politicamente como “a candidata de Bolsonaro”…

A participação da Old Flix, empresa que também é dona da TV União, na distribuição ilegal de filmes revela uma situação surreal: a pirataria no Brasil, com reflexos ruins para todo o mercado criativo, está sendo conduzida também por corporações privadas, sem que o governo tome nenhuma atitude.

***

Na Folha

Distribuidora acusa serviço Oldflix de exibir filme sem pagar direitos
16.jul.2018 às 2h00

GUILHERME GENESTRETI

A carioca Priscila Miranda se diz fã de filmes antigos. Na última quinta-feira (12), ela descobriu a Oldflix, plataforma brasileira de vídeo sob demanda que, por R$ 12,90 ao mês, dá acesso a um catálogo de centenas de títulos internacionais.

“Você é CULT. Está a procura de um contéudo (sic) clássico. Achou!”, anuncia o site.

O que Priscila achou foi dor de cabeça.

Ela deu de cara com o longa “De Punhos Cerrados” (1965), do italiano Marco Bellocchio. “Mas como pode?”, pensou. “Esse filme é meu!”

É que, além de fã de longas antigos, a carioca é também dona da distribuidora Fênix Filmes, especializada em trazer para o Brasil produções europeias e que foram premiadas em festivais estrangeiros.

A Fênix é dona dos direitos autorais e de comercialização do filme “De Punhos Cerrados” no Brasil —direitos que não foram cedidos para exibição na plataforma Oldflix.

“Para terem esse título, eles precisariam licenciá-lo”, afirma Priscila.

Ela conta ter comprado o filme diretamente da alemã Match Factory, uma das maiores empresas do setor de venda de filmes e que, de fato, elenca o longa de Bellocchio no catálogo de seu site.

A Fênix pretende entrar com ação na Justiça contra o serviço brasileiro de vídeo sob demanda. “É escandaloso”, esbraveja. “Estão agredindo a mim e ao diretor, que ainda vive dos direitos do filme.”

A Folha entrou em contato com o empresário Manoel Ramalho, sócio-fundador da Oldflix, que conta ainda não ter sido notificado pela Fênix.

“Pode ter sido um engano e que esse filme tenha vindo errado no lote”, diz ele, que afirma ter passado a titularidade da empresa, fundada em 2016, para o seu filho. “Mas continuo o mentor, o conselheiro.”

Segundo Manoel Ramalho, o catálogo da Oldflix, que ele estima contar com cerca de mil títulos, é adquirido de um distribuidor sediado em Curitiba com quem trata há mais de dez anos.

“Ele nunca me deu problema, nem com os filmes que fornece para a minha TV.” O empresário potiguar era dono do canal TV União, de Natal, que ele afirma ainda estar sob o controle de sua família.

“Esse rapaz lá de Curitiba me garante que tem os direitos de todos os filmes que me vende”, afirma Ramalho.

O rapaz em questão é Wanderley Cepeda Júnior, que se apresenta como corretor de imóveis no seu perfil em uma rede social e que costuma vender DVDs no Mercado Livre.

Cena do filme ‘De Punhos Cerrados’, de Marco Bellocchio (Créditos: Divulgação)
Cepeda conta à reportagem que trabalha com cinema há 22 anos e que é dono dos direitos de comercialização para o streaming de diversos longas, entre eles do filme “De Punhos Cerrados”, de Bellocchio.

No caso dos direitos referentes a esse último, diz que são válidos até 2022 e foram comprados de uma empresa chamada Huntington & Partners Incorporated, de Los Angeles.

Uma busca na internet com esses detalhes só resulta numa companhia de consultoria na área de investimentos.

Cepeda se recusou a enviar o contrato com a empresa. “Não posso mostrar por cláusula de confidencialidade.”

Após o contato, a Oldflix enviou um email à Folha, relatando que foi detectada uma falha no sistema e que o filme já foi retirado de sua plataforma. “Esse título realmente não foi adquirido do nosso licenciante”, diz a mensagem.

Ramalho disse que encaminharia toda uma remessa de filmes para uma rechecagem.

Estreia de Bellocchio, “De Punhos Cerrados” narra a história de um sujeito de classe média que quer se livrar dos irmãos, que sofrem de moléstias que vão da epilepsia ao transtorno bipolar.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Deodato Guilherme Santos Souza

04/09/2021 - 14h18

Quantos estão pirateando nessa história toda? Pelo visto, esse filme de Bellochio passa por muitas mãos, mas só chega ao grande público pelas mãos logo de quem é pirata… O que é que essa Sra. que é fã de filmes clássicos está fazendo para que essa e outras grandes obras cheguem ao público? E quantos direitos autorais dos filmes do catálogo da Oldflix já caducaram?

Teo

16/05/2021 - 12h35

Fui assinar esse serviço de stream e logo percebi que isso é algo totalmente ilegal! De cara me deparei com alguns filme da trilogia Guerras nas Estrelas, que pertence exclusivamente a plataforma da Disney plus!

Leila Benedetti

22/08/2018 - 13h53

Mas brasileiro tá muito doente com política ultimamente, hein? Concordo que a Oldflix está errada em reproduzir um filme sem os seus devidos direitos autorais, mas justificar isso com o fato da mulher do dono da plataforma ser candidata a deputada e ainda defender o Bolsonaro é demais! Não sou nem um pouco fã do Bolsonaro, tenho repulsa desse ser, mas uma coisa não nada a ver com a outra!

    Miguel do Rosário

    22/08/2018 - 15h35

    Tem razão, Leila.

    fernando

    13/03/2022 - 09h50

    Tem tudo a ver. Essa gente se apresenta como incorruptíveis. Estão sempre chamando os outros de vagabundo, de ladrão. São defensores da lei e da moral. Mas na verdade são marginais. Na sua grande maioria.

L’Amie

17/07/2018 - 23h47

Tive a mesma percepção do Marcos. Muito estranho que, justamente em Curitiba vamos encontrar estas marmeladas, visto que o Cowboy Justiceiro e Don Quixote da moralidade, com suas italicas mãos limpas tem se empenhado unilateralmente em combater a corrupaco Pção. Há algo a ser explicado quanto a certos grupos Paranaenses. No passado já se insurgiram e quisera separar-se do Brasil, contudo, têm memoria fraca. Quando aqui chegaram seus antepassados, fugidos das guerras europeia, da fome, do desemprego, das epidemias, da violência, das perseguições e de perseguições etnicas encontraram receptividade. Trabalharam, progrediram, comeram e beberam, instruiram filhos, netos e bisnetos para serem felizes e terem o que faltava aos avoengos. Infelizmente a praga do fascismo, causa dessa migração fez-se sombra nos descendentes. Agora, cospem no prato que comeram, criticam o feijão que os tirou da fome, repetem o erro dos seus conterrâneos europeus e tal qual lobos ingratos querem devorar os seus salvadores. Pobres infelizes.

Marcos Videira

17/07/2018 - 15h28

Um é de Curitiba (!!!) e a mulher do outro é correligionária de Bolsonaro (!!!).
Tá tudo explicado…


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