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Orlando Silva explica apoio a Maia

Orlando Silva: É preciso ouvir Guimarães Rosa As eleições para as mesas da Câmara e do Senado sempre ensejam muita intriga política, disputas por protagonismo e por objetivos das forças políticas que compõem o Parlamento, sejam elas governistas ou de oposição. Muitas vezes, para galvanizar prestígio na opinião pública “engajada” e deslegitimar movimentos de outras […]

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Foto: Richard Silva/PCdoB na Câmara

Orlando Silva: É preciso ouvir Guimarães Rosa

As eleições para as mesas da Câmara e do Senado sempre ensejam muita intriga política, disputas por protagonismo e por objetivos das forças políticas que compõem o Parlamento, sejam elas governistas ou de oposição. Muitas vezes, para galvanizar prestígio na opinião pública “engajada” e deslegitimar movimentos de outras forças, argumentos enviesados são apresentados, como se as eleições internas do parlamento seguissem as mesmas regras ou fossem um terceiro turno das eleições gerais.

Por Orlando Silva*

A verdade, no entanto, é que são eleições em quase tudo distintas. Nas eleições gerais são debatidos – ou ao menos deveriam ser – projetos para o país, objetivos a perseguir na economia, em políticas públicas para as diversas áreas, como saúde e educação, que, ao fim, são submetidos a escolha popular através do voto em candidatos que sustentem tais programas.

No caso das eleições para o comando das casas legislativas, os debates giram entorno da reafirmação da autonomia do poder e não submissão ao Executivo, dos compromissos com a manutenção da democracia interna da Casa, do respeito ao regimento e à proporcionalidade para distribuição dos espaços na mesa diretora, em comissões, relatorias. Não são questões menores, pois garantem a própria condição para o exercício de prerrogativas caras às minorias e oposições. Mas também não são, como alguns querem fazer parecer, debates entre programas de governo. Tais pactos firmados pelos candidatos guiam as posições partidárias – não é, portanto, necessariamente, uma disputa entre direita e esquerda, nem uma questão de princípios.

A ação dos comunistas no Parlamento sempre esteve acompanhada de polêmica. É natural, trata-se de uma instituição que ganhou formas mais precisas com a democracia liberal e se constituiu em mecanismo funcional para o domínio institucional das classes dominantes. Por outro lado, pode ser uma caixa de ressonância das demandas dos trabalhadores e, a depender da correlação de forças, até um espaço de conquistas para o povo.

O PCdoB já tem uma tradição relevante de atuação parlamentar, que remonta a 1945. Já atravessamos momentos bem distintos da vida nacional. E essa história deve nos inspirar. A conjuntura atual tempera muito os debates políticos, exigindo balizar e justificar a posição a ser tomada pelos comunistas com base em objetivos traçados para atuação no Congresso no próximo período. A meu ver:

1. Garantir funcionamento democrático do parlamento, de maneira que a oposição possa exercer efetivamente seu papel;

2. Atuar para o que o legislativo reequilibre a relação com outros poderes. Isso nos interessa porque interessa à estabilidade democrática, o que no quadro atual tem especial importância. No Brasil de hoje, a estabilidade institucional tem um valor chave.

3. Manter relações políticas amplas, fundamentais para nossa ação política nos próximos anos.

4. Participar da governança da Casa e das comissões, com alguma relevância.

Tenho dito que eleição da Mesa da Câmara não é do líder do Governo, nem da Oposição. Isso é importante porque o ambiente político está extremamente polarizado e essa polarização vai prosseguir, pois ela é funcional para os polos. Um alimenta o outro: facilita o exercício do poder para um lado, e mantém a perspectiva de poder para o outro. E o interesse nacional vai sucumbindo nesse estica e puxa. É triste.

No caso concreto da eleição para a direção da Câmara, a candidatura de Rodrigo Maia polariza o debate. Natural, é o atual presidente. É um político conservador. Na economia, um liberal convicto. Mas é um democrata, não um déspota.

Com a queda de Eduardo Cunha, foi eleito presidente. Assumiu e cumpriu movimentos delicados, como impedir que instrumentos legislativos fossem utilizados para perseguir e criminalizar entidades e movimentos sociais ou o acordo que retirou de pauta o projeto de privatização da Eletrobrás.

Na eleição atual para a Mesa, havia uma construção para unir um bloco em defesa da política.

O PSL percebeu o jogo e correu para anunciar o apoio a Maia, assim reduzindo o risco do governo sofrer uma derrota estratégica. Contudo, a eventual vitória de Rodrigo Maia não deve ser lida como uma vitória do campo governista, uma vez que este sempre o qualificou como “velha política”. Lembremos que o Clã Bolsonaro anunciou a quem quisesse ouvir que “o tempo de Rodrigo Maia havia passado” – mais claro, impossível.

Candidaturas forjadas só para marcar posição servem para ganhar likes nas bolhas das redes sociais, mas seguem uma lógica de isolamento que em nada serve à oposição.

Há, também, candidatos avulsos tentando pescar em águas turvas, buscando bênçãos da sorte “Severina”. Lembram do Severino?

Esse é o quadro, com uma novidade aqui e outra ali, fatos acessórios, úteis à crônica política. No mais, há uma polêmica na esquerda, que diz respeito a diferenças estratégicas e táticas, de leitura de correlação de forças, de frente ampla ou frente de esquerda. Na eleição da Câmara, tais divergências vão aparecer sempre. O debate de fundo se arrasta faz tempo. Esse será apenas mais um round.

O país vive uma situação delicada. Temos um governo de extrema direita, que diz abertamente que entre seus objetivos está perseguir a esquerda, acabar com direitos sociais e democráticos. Neste quadro extremamente desfavorável para as forças progressistas, o isolamento no Congresso pode ser fatal até mesmo para o exercício pleno da oposição ao governo.

Guimarães Rosa já nos ensinou que “o sapo não pula por boniteza, mas por precisão”. É o caso. Rodrigo Maia, nas atuais condições políticas, é o nome que reúne melhores condições para presidir a Câmara dos Deputados e garantir o seu funcionamento democrático e autonomia diante dos outros poderes.

O PCdoB indicou sua posição. E busca construir com PSB e PDT um caminho comum.

* Orlando Silva é líder do PCdoB na Câmara dos Deputados.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Nilson Messias

18/01/2019 - 00h40

Depois perguntam e reclamam da hegemonia do PT.

brasileiro

17/01/2019 - 12h01

Enquanto nós perdemos tempo com fogo-‘amigo’, os neoliberais nem tocam mais em assunto de política. Vamos copiar eles e reclamar bem muito do governo, não reconhecer as eleições etc.

Era dos Boçais

17/01/2019 - 10h39

PC do B é coerente. PT e demais bloquearam que o povo tivesse acesso as armas e pudesse se fazer aqui uma revolução tal como a Russa e CUbana

PJ

17/01/2019 - 10h00

Esse “comunista” ferrou com O Brasil na copa e nas olimpíadas. Ele e o Aldo Rebelo. Vergonha para os comunistas do mundo inteiro! Chacota para a direita. Que país é esse? Esquerda no Brasil, se houver, é somente no PT e PSOL. O resto é partido pra levar dinheiro do fundo partidário e dar cargo político.

    Carlos Eduardo

    17/01/2019 - 16h02

    PT esquerda!?!?!?!!?!?!?

    Que o digam os banqueiros, os mega empresários e, principalmente, o Meirelles e o Levy…

Nostradamus ( banquinho & bacia )

16/01/2019 - 17h39

Estabilidade institucional com Tofolli dia-e-noite submetendo o STF aos milicos ? Não apurando as denúncias de fraudes eleitorais ?

    Justiceiro

    16/01/2019 - 19h31

    Fraudes na eleição? quais?
    Não vá dizer que você também se emprenhou pela reportagem da Folha, que não apresentou um recibinho qualquer.

    Se só matéria de jornal vale, então as que O Globo e Estadão já mostraram de Lula, dá para condená-lo pelas próximas reencarnações.

    Ah! Só para seu conhecimento, Twitter, Facebook já disseram a justiça que não houve nada.

a.ali

16/01/2019 - 17h38

mal comparando, parecem cão de rabo cotoco: tentam, tentam e não saem do mesmo lugar…
com uma “esquerda” dessas nem é necessário uma “direita” torta!

Paulo

16/01/2019 - 17h02

E da-lhe “Botafogo”, o “democrata”!

Zeff

16/01/2019 - 14h29

Vamos descobrindo muito facilmente quem são os verdadeiros canalhas que se dizem de esquerda, progressistas mas são pilantras infiltrados. Esse aí já era…e com ele o seu partido em estado moribundo.

Ghost68

16/01/2019 - 14h00

trouxinhas.

Marco

16/01/2019 - 13h55

Dançou. Nunca mais este fdp vai levar meu voto. Um dia bolsonito sempre bolsonito

gNagano

16/01/2019 - 13h29

Manuela D’Ávila vendendo camiseta cara para pagar aparecer bem no super capitalista youtube….e agora o PCdoB apoiando o Maia para outra vez impedir a CPI da UNE….comédia

Marcos Videira

16/01/2019 - 13h20

NENHUM partido está 100% comprometido com a nossa Educação Política. Como pode o povo brasileiro comparar, compreender e decidir se não há uma clara distinção entre direita e esquerda ? O fato é que os partidos políticos estão, PRIMEIRAMENTE, comprometidos em manter os privilégios concedidos pelo poder estabelecido. E para isso utilizam falsos “argumentos pragmáticos”.

Justiceiro

16/01/2019 - 12h37

Vamos aos fatos:

1)” O PCdoB já tem uma tradição relevante de atuação parlamentar, que remonta a 1945.”

Para de balela, tapioca. Esse partido não existia em 1945. O que existia era o PCB. O PCdoB foi um braço dissidente do PCbão e foi fundado em 1962. O PCdoB está para o PCB assim como o Psol está para o PT. São dissidentes.

2) Não enrola, tapioca…esse apoio a Maia é a troca para ele continuar sentado na CPI da UNE, que tanto amedronta vocês.

3) Como o PCdoB vai ocupar algum cargo na mesa diretora se nem conseguiu atingir a cláusula de barreira?

O PCdoB, ao não atingir a cláusula de barreira, deveria ter simplesmente sido extinto.

Ricardo Alves de Araújo

16/01/2019 - 12h21

PC do B, perdeu meu voto! Explicar o inexplicável, não dá.

Luiz Antonio Maia de Araujo

16/01/2019 - 11h59

Tentar explicar o que não tem explicação… só nesta nossa esquerda imbecil mesmo… tanta incompetência, covardia e burrice destes partidos progressistas é que nos legaram esta era de trevas em que penetramos… lamentável e assustador… Marx e Lenin revirando-se no túmulo.

    Paulo

    16/01/2019 - 16h59

    Lênin é insepulto…foi um assassino formidável e ganhou uma maldição…


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