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Notas internacionais (por Ana Prestes) 24/06/19

– Sem muitas questões de Estado para cuidar, o chanceler brasileiro Ernesto Araújo se dedicou nos últimos dias a estudar o Foro de São Paulo e publicar suas conclusões no Twitter. Uma das suas descobertas mais geniais é a de que o Foro de São Paulo (FSP) realmente existe! Ele escreveu em seu twitter no […]

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– Sem muitas questões de Estado para cuidar, o chanceler brasileiro Ernesto Araújo se dedicou nos últimos dias a estudar o Foro de São Paulo e publicar suas conclusões no Twitter. Uma das suas descobertas mais geniais é a de que o Foro de São Paulo (FSP) realmente existe! Ele escreveu em seu twitter no domingo (23): “para quem diz que o FSP não existe. O site do Foro: (…) Agenda da próxima reunião (…)”. É isso, o chanceler do maior país da América do Sul dedicou seu domingo a informar seus seguidores sobre a existência do FSP e como acompanhar suas atividades pela internet. Há outras conclusões brilhantes nos seus escritos, como a de que “o ataque insidioso”, segundo ele, a Moro e a Lava-Jato, “obviamente” faz parte de uma estratégia do FSP. E por aí vai.

– O final de semana passado foi marcado por episódios do cada vez mais intenso conflito entre EUA e Irã. O último fato foi um cyberataque aprovado por Trump para desabilitar sistemas computadorizados iranianos para controlar lançamentos de mísseis e foguetes, segundo o Washington Post. O ataque foi uma resposta à derrubada de um drone espião americano na última quinta (20). Após desferir seu golpe cibernético, americanos temem a contrapartida. Nas palavras do porta-voz da NSA, Greg Julian, se dirigindo a industriais, no sábado (22): “nestes tempos de tensão elevada, todos devem ficar alertas para quaisquer sinais de agressão iraniana no ciberespaço e devem montar defesas apropriadas”.

– Os britânicos adoram um escândalo para encher as primeiras páginas dos tabloides. E a disputa pela vaga de premiê do Reino Unido deixada por Theresa May não vai passar sem pelo menos um agito como ficou demonstrado no último final de semana. Uma discussão entre o principal candidato conservador ao posto, Boris Johnson, com a namorada, na madrugada de sexta para sábado, foi denunciada por vizinhos e a polícia foi fazer uma visita ao postulante. Os gritos que reverberaram e foram gravados pelos vizinhos tinham a ver com vinho derramado no sofá, “não use meu computador” e “saia do meu apartamento”. Foi o suficiente para agitar as casas de apostas britânicas nas quais Johnson é cotado como favorito à frente de Jeremy Hunt, atual ministro de relações exteriores, visto como um conservador mais moderado, comedido e palatável, especialmente pelos europeus.

– Comentei aqui nestas notas em fevereiro deste ano sobre a Conferência de Varsóvia para Promover um Futuro de Paz e Prosperidade no Oriente Médio, promovida por EUA e Polônia, com forte participação de Israel e total ausência de Rússia, China e Irã. Deste encontro nasceu um plano econômico de 50 bilhões de dólares preparado pelo governo de Trump para o Oriente Médio e que inclui iniciativas para a “dissolução” do conflito entre Israel e Palestina. Ele deve ser apresentado amanhã (25), em uma conferência de dois dias no Bahrein, pelo genro de Trump, Jared Kushner, uma espécie de Eduardo Bolsonaro norte-americano. Ocorre que os palestinos já rechaçaram o plano e o denunciam. Nas palavras do ministro de Finanças da Palestina, Shukri Bishara, neste domingo (23), “não precisamos da reunião do Bharein para construir nosso país. Precisamos de paz, e a sequencia (proposta pelo plano) de renascimento econômico seguido por paz é irreal e ilusória”. Mas não foram só os palestinos que rejeitaram de antemão o plano de Kushner. Noticia-se que do Sudão ao Kuweit, fala-se do plano como “colossal perda de tempo”, “natimorto”, “sem valor para ser discutido”. A crítica mais forte diz que se trata de uma tentativa de subornar palestinos a aceitarem a ocupação israelense. Confirmaram sua presença na conferência do Bahrein os governos da Arábia Saudita, Emirados Árabes, Egito, Jordânia e Marrocos. Líbano e Iraque declinaram. Irã, Síria e Jordânia também não irão, para além da óbvia e perturbadora ausência da Palestina.

– O presidente turco, Recep Erdogan, sofreu uma dura derrota no final de semana. Seu partido (AKP) não conseguiu vencer a segunda eleição deste ano para a prefeitura de Istambul, a capital econômica do país, uma espécie de São Paulo turca, após 25 anos de governo. A eleição foi “repetida” três meses após a primeira (março), também vencida pela oposição, após denúncias de “irregularidades”. Após apuração de 99% dos votos, a vitória ficou com Ekrem Imamoglu, com 54% de votos, contra 45% para o governista Binali Yildirim (que já reconheceu a derrota). Na eleição de março o AKP também perdeu Ankara, a capital política. A disputa por Istambul no final de semana foi tão acirrada, que o AKP chegou a maneirar o discurso quanto aos curdos e o Curdistão, um verdadeiro tabu para Erdogan e seu partido. O slogan do vitorioso na eleição, Imamoglu, é: “Tudo vai ficar bem”.

– O chinês Qu Dongyu foi eleito ontem (23) diretor-geral da FAO, agência das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura. Biólogo e atual vice-ministro da Agricultura da China ele substituirá o brasileiro José Graziano da Silva. Em seu discurso como diretor-geral eleito, Qu acenou para a iniciativa privada, citando a fundação Bill e Melinda Gates e a gigante exportadora chinesa Ali Baba, como possíveis parceiras no combate à fome mundial que tem crescido nos últimos anos por decorrência dos efeitos dos conflitos geopolíticos e das mudanças climáticas.

– Bachelet deixou a Venezuela depois de uma visita como alta comissária da ONU para direitos humanos. Sua visita não causou o estrondo que a oposição venezuelana reivindicou ao dizer que seriam descobertos os “grandes crimes contra a humanidade” de Maduro. Na prática, a ex-presidente chilena fez o que muitos fariam no seu lugar, denunciou os efeitos das sanções norte-americanas sobre o país e sugeriu aos dois grupos que “participem do diálogo construído pela Noruega”. Como fruto da sua visita também foi restabelecida a presença permanente de dois delegados do Alto-Comissariado de DDHH da ONU no país, para “monitorar a situação e prestar assessoria técnica”.

– Em mais uma ofensiva contra Cuba, o governo Trump acusou na última quinta (20) o país de “traficar pessoas através de convênios para envio de médicos a outros países”. O relato, feito por Mike Pompeo, secretário de estado, cita o programa brasileiro Mais Médicos como “abandonado” por Cuba após “pedidos do presidente eleito Jair Bolsonaro”. No relato, Cuba é acusada de forçar médicos a fazerem parte de suas missões internacionais. Com o relatório, Cuba passa a integrar uma lista norte-americana de países que não cumprem os padrões mínimos de proteção a vítimas do tráfico de pessoas, como China, Coreia do Norte, Rússia, Venezuela e a também recém-ingressada na lista (pelo mesmo relatório), Arábia Saudita. Realmente, as dolorosas despedidas dos médicos cubanos do Mais Médicos de seus pacientes jovens, crianças, adultos e idosos aos prantos, em vários pontos do território desse imenso Brasil no ano passado, demonstram o quão “forçados” trabalhavam esses médicos. Em resposta, o presidente cubano Miguel Díaz-Canel publicou a foto de um médico cubano atendendo crianças em Moçambique e escreveu: “isto é o que as ideias conservadoras que imperam nos EUA confundem com o tráfico de pessoas. Denunciamos esta acusação imoral, mentirosa e perversa”.

– Texto de Igor Gielow, na FSP, traz dados da retomada da prioridade estratégica do Brasil apara o Atlântico Sul. Segundo o jornalista, em agosto, a ONU deve ratificar ao Brasil o controle do primeiro de três lotes de expansão de sua plataforma marítima continental. Um primeiro pedido brasileiro para aumentar sua Zona Econômica Exclusiva, na qual detém direitos para explorar ou conceder licença de exploração, foi feito em 2004. O pedido foi atendido em 81% em 2007, o que garantiu a possibilidade de exploração do pré-sal. Desde então novos estudos foram feitos e houve uma reformulação do pedido de expansão da ZEE. O pedido foi dividido em três: o primeiro (que deve ser atendido em agosto) é a “Submissão Sul” – 170 mil quilômetros quadrados na região sul; o segundo é o “Submissão Equatorial” – 390 mil quilômetros quadrados junto à linha do Equador; o terceiro (joia da coroa, segundo Gielow) é o “Ocidental/Meridional” – 1,6 milhão de quilômetros quadrados (elevação do Rio Grande do Norte, com grande reserva mineral oceânica).

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Ana Prestes

Ana Prestes Socióloga, mestre e doutora em Ciência Política pela UFMG. Autora da tese “Três estrelas do Sul Global: O Fórum Social Mundial em Mumbai, Nairóbi e Belém” e do livro infanto-juvenil “Mirela e o Dia Internacional da Mulher”. É membro do conselho curador da Fundação Maurício Grabois, dirigente nacional do PCdoB e atua profissionalmente como assessora internacional e assessora técnica de comissões na Câmara dos Deputados em Brasília.

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Luiz

24/06/2019 - 23h53

A ação econômica nociva dos EUA na Venezuela demonstra como a reciprocidade é a regra civilizacional elementar. A noção de Estado (nacional), político e jurídico, só é mais do que uma declaração formal de boas intenções porque balizado pela economia, como é o caso do extrativismo.

Paulo

24/06/2019 - 18h26

Quanto ao “mais médicos”, não há tráfico de pessoas, como acusam os EUA, o que há é exploração de seus nacionais em território estrangeiro pelo próprio Governo cubano. Aliás, por que a OIT não se pronuncia sobre esse Programa? E, obviamente, ninguém é obrigado a participar, mas todos o querem, por permitir ao medico ganhar muito mais do que ganharia em Cuba, ainda que vendendo a maior parte de sua “mais-valia”.

Sobre nossa hegemonia no Atlântico Sul, como anda o projeto do submarino nuclear?

Marcio

24/06/2019 - 12h33

Passou da hora de interrar o Lixào de Sào Paulo, um receptaculo de bandidos.


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