Em defesa da Amazonia, Europa joga duro com Bolsonaro

No Valor:

Por Amazônia, Finlândia pede que UE considere banir carne do Brasil

O governo da Finlândia, que detém a presidência rotativa da União Europeia, pediu que o bloco considere a possibilidade de banir as importações de carne bovina do Brasil devido à devastação causada pelas queimadas. (…)

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No El País:

Macron acusa Bolsonaro de ter “mentido” sobre o clima e se opõe ao acordo com o Mercosul

Irlanda também ameaça bloquear o tratado se o Brasil não proteger a Amazônia dos incêndios.

Alemanha, Canadá e Reino Unido reiteram preocupação com queimadas
Uma coluna de fumaça emana de dentro da Amazônia brasileira.

Por Silvia Ayuso e agências

Paris / Dublin 23 AGO 2019 – 14:20 BRT

O embate entre o Brasil e a França sobre os incêndios devastadores na Amazônia endureceu. Horas depois de o presidente francês, Emmanuel Macron, anunciar sua intenção de incluir esta “crise internacional” na cúpula do G7 que ele organiza neste fim de semana em Biarritz, o Governo francês deu um passo além e agora ameaça bloquear o acordo da União Europeia com o Mercosul por causa das “mentiras” do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, em matéria de compromisso com o meio ambiente. O presidente brasileiro, que se reuniu com ministros nesta sexta-feira para tratar sobre como o Governo reagirá às queimadas florestais, disse pela manhã, ao deixar o Palácio da Alvorada, que a “tendência” é enviar militares para ajudar no combate aos incêndios na região da Amazônia.

“Em vista da atitude do Brasil nas últimas semanas, o presidente da República não tem escolha a não ser constatar que o presidente Bolsonaro mentiu para ele durante a cúpula de Osaka” do G20 em junho, comunicou o Palácio do Eliseu. Para o Governo francês, está claro que “o presidente Bolsonaro decidiu não respeitar seus compromissos com a mudança climática nem agir na questão da biodiversidade”. “Nestas condições, a França se opõe ao acordo com o Mercosul”, conclui a breve, mas contundente mensagem francesa sobre o tratado de livre comércio assinado entre a União Europeia e o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) em junho, depois de duas décadas de negociações.

A decisão da França é uma resposta taxativa a Bolsonaro, que nesta quinta-feira disse que, com a intenção de incluir os incêndios na Amazônia na agenda do G7, Macron quer “instrumentalizar” uma questão interna brasileira para “obter créditos políticos pessoais” e qualificou essa atitude de “colonialista”. Também acusou países que dão dinheiro para a preservação da floresta de “interferir na soberania do Brasil”.

No entanto, nesta questão, Macron não está sozinho. A chanceler (primeira-ministra) alemã, Angela Merkel, está “convencida” de que os incêndios na Amazônia “precisam estar na agenda do G7” porque, como Macron disse nesta quinta-feira ao falar sobre “crise internacional”, a Alemanha considera que a amplitude da catástrofe é “assustadora e ameaçadora não só para o Brasil e os demais países envolvidos, mas o mundo inteiro”, disse o porta-voz da chefe do Governo, Steffen Seibert, em Berlim, nesta sexta-feira. Na quinta-feira, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, também endossou o discurso do colega francês e disse que “não poderia concordar mais” com a preocupação de Macron. Nesta sexta-feira, o premiê britânico, Boris Johnson, também disse estar “profundamente preocupado” com as queimadas na Amazônia e defendeu que o assunto seja debatido no G7.

A Irlanda também está disposta a bloquear o acordo entre a União Europeia com o Mercosul se o Brasil não mudar de atitude, alertou seu primeiro ministro, Leo Varadkar. O chefe do Governo irlandês também criticou o presidente brasileiro por suas acusações na quarta-feira, nas quais afirmou que as ONGs que lutam pela proteção do meio ambiente são as responsáveis pelos incêndios. Varadkar considerou estas acusações orwellianas, segundo o jornal The Irish Independent. O Executivo irlandês está passando por um momento de grande pressão dos produtores de carne bovina, que temem que o acordo com o Mercosul –associação que agrupa Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai– os prejudique por causa da chegada ao país de produtos sul-americanos mais baratos.

Até agora, o Governo irlandês vinha mantendo a intenção de revisar o acordo ponto por ponto antes de decidir ratificá-lo ou não. Mas desde que os dados do aumento notável de incêndios na floresta amazônica foram revelados – de 83% a mais até agora este ano, em comparação com o mesmo período de 2018– e as acusações de Bolsonaro às ONGs, Varadkar afirmou que “não há como a Irlanda apoiar um tratado de livre comércio se o Brasil não cumprir suas obrigações com o meio ambiente”. Anteriormente, a França também ameaçara vetar o pacto comercial se o Brasil decidisse abandonar o acordo de Paris de combate às mudanças climáticas. A França nomeou uma comissão de especialistas independentes que deve apresentar um relatório ao Governo sobre várias questões do pacto, incluindo seus efeitos sobre os gases do efeito estufa, desmatamento e biodiversidade, conforme anunciou no mês passado.

O Comissariado de Comércio da UE calcula que o tratado não entrará em vigor antes de dois anos, durante os quais o Executivo irlandês pretende monitorar as ações ambientais do Brasil. O primeiro-ministro argumentou que os agricultores europeus não podem ser obrigados a seguir uma série de normas rígidas, como a redução de pesticidas e fertilizantes, “se não chegarmos a um firme acordo com medidas aceitáveis em termos de trabalho, meio ambiente e qualidade do produto”. O acordo “faz isso”, mas precisa ser monitorado de perto, acrescentou Vadkar.

A Comissão Europeia informou nesta sexta-feira que está preparada para prestar assistência às autoridades brasileiras e bolivianas na luta contra os incêndios florestais que afetam múltiplas áreas da Amazônia, com os quais se declarou “profundamente preocupada”. “Estamos em contato com as autoridades brasileiras e bolivianas e estamos prontos para ajudar de qualquer maneira que pudermos, seja enviando assistência ou ativando o sistema de satélites Copernicus”, disse a porta-voz da comunidade, Mina Andreeva, na coletiva de imprensa diária da instituição.

A verdade é que os incêndios no Brasil não são os únicos que estão devastando o subcontinente americano. Bolívia e Paraguai concordaram nesta quinta-feira em unir esforços para combater o gigantesco incêndio florestal que se alastra por ambos os territórios e está devastando a flora e a fauna. A superfície afetada no departamento boliviano de Santa Cruz (leste do país) já chega a 654 mil hectares, enquanto no Paraguai os focos ígneos, na fronteira com a Bolívia, ainda não foram quantificados.

Países vizinhos oferecem ajuda ao Brasil

Os Governos do Chile, Venezuela e Argentina ofereceram ajuda ao Brasil para mitigar os incêndios que afetam a Amazônia e devastaram milhares de hectares. O ministro da Agricultura chileno, Antonio Walker, informou que entrou em contato com a titular do mesmo cargo no Brasil, Tereza Cristina Dias, para oferecer “toda a nossa ajuda para enfrentar o grave incêndio na Amazônia”.

O presidente da Argentina, Mauricio Macri, também anunciou que pôs à disposição do Brasil e Bolívia o sistema de emergências de seu país. “Entrei em contato com o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, para acompanhar de perto a gestão da emergência. Estamos comprometidos a ajudar nossos vizinhos a combater os incêndios florestais”, disse em sua conta na rede social Twitter.

O Governo venezuelano expressou preocupação com os incêndios no “pulmão vegetal da Terra”, fez um chamado à “consciência” e ofereceu “ajuda imediata para mitigar esta dolorosa tragédia”.

Redação:
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