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Com acenos a Lula e críticas a Freixo, Rodrigo Neves lança sua pré-candidatura ao governo do Rio

A sede do PDT em Niteroi fica num modesto e antigo sobrado no centro, numa área maltratada pelo tempo e pelo excesso de lojas, cujas esquinas são tomadas à noite por um baixo meretrício de rua que há tempos eu não via. No dia 30 de setembro, uma quinta-feira, recebi de um amigo o convite […]

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Plenário de lançamento de pré-campanha de Rodrigo Neves ao governo do Rio. Foto: Miguel do Rosário.

A sede do PDT em Niteroi fica num modesto e antigo sobrado no centro, numa área maltratada pelo tempo e pelo excesso de lojas, cujas esquinas são tomadas à noite por um baixo meretrício de rua que há tempos eu não via.

No dia 30 de setembro, uma quinta-feira, recebi de um amigo o convite para participar de um evento político no local, que teria como principais convidados o atual prefeito Axel Grael e seu antecessor, Rodrigo Neves.

O salão das plenárias fica no terceiro andar do sobrado sem escadas, e quando cheguei, pouco depois das 18 horas, já estava começando a encher.  Em poucos minutos, ficaria lotado, com algumas dezenas de pessoas (ou talvez um pouco mais de cem pessoas), todo mundo devidamente mascarado.

As fotos e vídeos são todos meus.

 

Os convidados principais chegaram uma hora depois, confirmando a tradição nacional, que parece mais arraigada na política do que em qualquer outra esfera da vida pública, de que eventos políticos sempre atrasam.

Neves foi recebido com muito entusiasmo, sob gritos de “eô, eô, Rodrigo Neves vai ser governadô, eô, eô”. Axel também teve recepção calorosa. Ambos atravessaram a sala para se posicionarem no centro do palco. Ao lado deles e atrás foram se acomodando as lideranças que compõem o grupo político de Rodrigo.

Na primeira fileira, à direita de Rodrigo Neves se via a vereadora Veronica Lima (PT-RJ), e o deputado federal Chico D`Angelo (PDT-RJ).

Rodrigo Neves e Axel Grael ocupam o centro da mesa. A direita deles, estava a vereadora de Niteroi, Veronica Lima (PT-RJ), e o deputado federal Chico D’Angelo (PDT-RJ).

O evento tinha um objetivo claro: ser um dos momentos culminantes do périplo político de Rodrigo Neves nos últimos 20 dias, durante os quais ele interrompeu seus estudos em Portugal para viajar pelo estado do Rio, fazendo reuniões com lideranças regionais, tentando estabelecer as bases de sua campanha para o governo do estado.

O primeiro a falar foi o prefeito Axel Grael, recém-filiado ao PDT, eleito no primeiro tuno das eleições de 2020 com 63% dos votos. Axel discorreu sobre os planos de sua gestão. Em seguida, falaram os principais aliados de Rodrigo.

Veronica Lima, que apesar de jovem, é um dos quadros mais experientes do PT fluminense, fez um discurso emocionado em defesa de Rodrigo Neves, que ela disse conhecer desde os tempos do movimento estudantil. Lima fez uma leve provocação política, ao mencionar que o candidato de seu partido [referindo-se a Lula], “com todo o respeito aos demais, liderava as pesquisas”.

A propósito, um dos grandes ausentes nos discursos de todos foi o candidato do PDT, Ciro Gomes. Mas isso tem uma razão simples, que o próprio Rodrigo Neves aborda em sua fala, quando dirá que sua campanha precisaria “de Lula, de Ciro e até de Dória”. A menção a Doria veio acompanhada de uma risadinha.

Em sua intervenção, Rodrigo Neves enfatizou que terá palanques duplo, triplo ou quádruplo, procurando se mostrar como um candidato disposto a ampliar ao máximo o leque de alianças.

As alfinetadas em Marcelo Freixo, deputado federal (PSB-RJ) e seu principal concorrente à esquerda pela mesma vaga, foram várias. Uma delas é que Freixo estaria vendendo, como fait accumpli, uma série de apoios que efetivamente ainda não dispunha. Deu o exemplo de Raul Jungmann, um nome ligado mais a centro-direita (foi ministro da Segurança Pública do governo Temer). Freixo espalhou que o seu principal consultor na área de segurança pública era Jungmann, uma afirmação que soou, na opinião pública, como um esforço político de Freixo de se mostrar como um político capaz de atrair o centro. Neves contou outra história, dizendo que também tinha conversado com Jungmann, e que este lhe assegurou não ter estritamente nenhum compromisso com a candidatura de Marcelo Freixo.

Neves criticou ainda o falta de experiência de Freixo como administrador. Embora não tenha citado isso em sua fala, os apoiadores de Neves tem dito que Freixo também exagera quando vende um apoio de Lula a sua candidatura que ainda não se materializou. Alguns outros lançam dúvidas de que Freixo será mesmo candidato.

Neves explicou que voltaria a Portugal para terminar seu trabalho de pesquisador visitante na Universidade de Coimbra. Ele deve entregar um artigo científico em novembro. Depois disso retorna ao Brasil para se entregar inteiramente à sua pré-campanha ao governo do Estado.

Rodrigo Neves é um candidato competitivo. Na pesquisa mais recente, divulgada há uma semana, do RealTime Big Data, ele está em terceiro, com 9%, e tem a menor rejeição dentre os principais candidatos.

Entretanto, os desafios de Rodrigo Neves são maiores do que os números sinalizam. Com o Freixo liderando pela esquerda,  e Claudio Castro pela direita, os caminhos do pedetista passam pelo centro. A rejeição a Freixo, como se vê na pesquisa, é a mais alta de todas, o que permitiria a Neves usar a narrativa de que apenas ele, Neves, tem condições de vencer o candidato apoiado por Bolsonaro no segundo turno. Mas Ciro usou essa carta em 2018 e não deu certo. Aliás, Ciro Gomes hoje representa uma questão delicada para o candidato. O pré-candidato do PDT a presidência da república obteve um bom resultado no estado do Rio em 2018, em termos relativos, pois ficou em segundo lugar, com 15,22% dos votos, um pouco à frente de Haddad, que registrou 14,69%. Na capital, Ciro também ficou em segundo, com 19%, sete pontos à frente de Haddad.

Mas o núcleo duro do eleitores de Ciro no Rio de Janeiro aparentemente veio da esquerda, a julgar pelas zonas onde ele foi mais votado, as mesmas que também deram muitos votos a Marcelo Freixo e Alessandro Molon. A estratégia adotada por Ciro, de confronto muito duro com Lula, pode ter afastado parte desse eleitorado.

A estratégia de Rodrigo Neves para vencer as eleições, de qualquer forma, é totalmente diferente. O grupo político de Rodrigo Neves tem ótimas relações com o PT, e ele, inclusive, deverá apoiar a vereadora Veronica Lima em sua campanha a deputada estadual. Um de seus principais desafios é atrair Lula para seu palanque.  Em suas redes, Neves tem mandado algumas indiretas, como o elogio ao encontro de Lula e Cid Gomes no Ceará. No compartilhamento comentado de uma postagem de Camilo Santana, governador petista, Neves disse que “é fundamental o  diálogo e unidade das lideranças democráticas e progressistas”.

Neves busca  também – como todo mundo, aliás – o apoio do prefeito Eduardo Paes, embora o prefeito do Rio venha insistindo que seu candidato ao governo do Rio é o atual presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, que está se filiando ao PSD, mesmo partido do prefeito. O que Paes irá fazer ainda é um mistério, mas será determinante para o jogo eleitoral no estado.

Uma outra dificuldade de Rodrigo Neves é enterrar de uma vez por todas as denúncias que ainda pesam contra si no Ministério Público. Recentemente, a justiça acatou mais duas, por corrupção. Rodrigo Neves tem dito que está confiante que, ao final, será absolvido. O processo contra Rodrigo é, de fato, muito irregular. Eu já li a denúncia, e não virtualmente nenhuma prova contra Neves: nenhuma conta bancária, nenhuma transferência, nenhum telefonema ou mensagem suspeitos,  nada. Tem muita cara de processo político. Neves tem vida modesta, de classe média, assim como toda sua família. Não tem imóveis ou fortunas, à diferença, por exemplo, da família Bolsonaro. Eu publiquei há alguns meses um artigo sobre isso, intitulado “Rodrigo Neves e jogo sujo da Lava Jato em Niteroi“. Trecho:

(…) O procurador que assina a acusação, Carlos Alberto Gomes de Aguiar, era o coordenador da Lava Jato no Rio de Janeiro. Aguiar parece ter sido contaminado por todos os vícios do lavajatismo, em especial um rancor incomensurável pela classe política, como se depreende pela peça de acusação contra Rodrigo Neves, que traz tantas ilações sem fundamento que apenas se pode atribuí-las a um preconceito de ordem ideológica.

Voltando ao discurso de Rodrigo Neves na plenária do PDT, eu vi um candidato profundamente motivado, com disposição de enfrentar todos os desafios citados aqui. Ele mesmo afirmou, em sua fala, que “para fazer política, é preciso ser casca grossa”, e que ele, após passar por tudo que passou [menção velada a sua prisão por alguns meses, sem que sequer soubesse do que estava sendo acusado] havia desenvolvido uma “couraça de aço”.

A couraça de aço certamente será necessária, porque Neves enfrentará dois concorrentes fortes, cada um em seu respectivo campo.

De um lado, Freixo. O deputado migrou para o PSB como uma tentativa de se distanciar da imagem de “radical de esquerda”, que seu antido partido, o PSOL, ostenta com orgulho. Freixo já tem alguns trunfos. Ele conta com apoio da ala mais ideológica do PT fluminense, tem uma boa relação com Lula, e se tornou um dos políticos com maior força nas redes sociais.  O deputado tem 1,7 milhão de seguidores no Twitter, para dar um exemplo, o que é mais que Ciro Gomes, que tem 1,2 milhão. Neves tem 37,5 mil seguidores.

De outro temos o governador Claudio Castro (que a propósito tem 28 mil seguidores no twitter), que controla a máquina do governo e possivelmente será o candidato apoiado pelo presidente Bolsonaro, cujas redes sociais, abertas e fechadas,  são as maiores dentre todos os políticos brasileiros.

O principal capital político de Rodrigo Neves, e o que lhe mantém no jogo como um candidato forte e competitivo, é sua contagiante paixão pela política enquanto meio de transformação social, seu talento como articulador e orador, e sua experiência como administrador bem sucedido de uma importante cidade.

Com a palavra, os eleitores fluminenses!

Abaixo, alguns registros do discurso de Neves na plenária do PDT.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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TT

16/10/2021 - 18h13

Vai que é tua, Neves! Vamos combater não só o fisiologismo político carioca, mas a falta de experiência. Com a volta do PDT vamos fazer deste estado um bom lugar de novo.

Alexandre Neres

10/10/2021 - 21h08

Tenho simpatia por Rodrigo Neves.

Sem dúvida, foi uma das inúmeras vítimas do lavajatismo que nos deixou de legado Bolsonaro.

No entanto, preocupa-me o caminho que está trilhando. Afigura-se-me que o campo progressista está sendo acometido pelas táticas da direita e fazendo o contrário do que nos ensinou Brizola.

Não acho que Rodrigo Neves deva se arreganhar pra Lula. É ótimo que cultive relações respeitosas, mas ele tem partido no Rio e um partido forte. Ninguém desconhece que Lula tem um manancial de voto, mas o candidato do partido dele é Ciro.

Não posso concordar com as críticas e ataques desferidos a Freixo. Não podemos ficar digladiando entre nós. Freixo é do campo progressista, assim como Rodrigo Neves.

Nosso adversário é outro, é a direita obtusa.

Mesmo não nutrindo simpatia pelo atual PSB, só pelo de Arraes, Mangabeira, Jamil Haddad etc., reconhecendo que tem melhorado bastante ultimamente com as novas filiações, no Rio é Freixo!


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