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Fernando Brito: O que é feito de sonho não desaparece

Por Fernando Brito Dizem que ninguém é insubstituível. Mentira. Ninguém pode, para a minha geração, substituir Pelé. No campo, quando jogava – com o perdão do Vavá de 1962 – mas, sobretudo, no significado que tinha e ainda tem, porque me sinto tentado a repetir a contradição quase espetacular da capa do site de O Globo, se […]

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Foto: Sandro Baebler/Getty Images/AFP

Por Fernando Brito

Dizem que ninguém é insubstituível. Mentira.

Ninguém pode, para a minha geração, substituir Pelé.

No campo, quando jogava – com o perdão do Vavá de 1962 – mas, sobretudo, no significado que tinha e ainda tem, porque me sinto tentado a repetir a contradição quase espetacular da capa do site de O Globo, se a gente cortá-la pela metade e deixa apenas: “Morre Pelé, o imortal”.

Porque rei do futebol – ou “atleta do século” – é uma bobagem, coisa que passa perto do insignificante diante do que ele representou para nós e demoramos a compreender, porque havia outros grandes craques nas duas gerações de jogadores que estiveram em campo com ele.

Pelé era a antítese do “complexo de vira-latas” rodrigueano, a prova real, de calções e chuteiras e, de que não havia razão para temer qualquer adversário. Ao contrário de Garrincha, também assim, não era fugaz e durou o suficiente para ser um homem, além de uma lenda.

O mundo olhava para ele, num misto de temor e admiração, de medo e encanto, como nunca tínhamos sido vistos. Não havia uma parte do mundo que não se soubesse quem era.

E os guris, olhávamos para ele como nunca nos tínhamos visto. E cada um de nós um dia quis ser também o melhor do mundo, ainda que ouvíssemos sempre que os brasileiros eram um povinho de segunda categoria.

E, de repente, o mundo tinha um rei de pele negra e vindo lá das profundas de Três Corações.

Pelé não permitia que nos desprezássemos.

Vi-o jogar umas poucas vezes, muito menos das que ouvi pelo rádio, e futebol pela televisão era uma raridade antes dos anos 70. Nem para mim, nem para nenhum dos meus contemporâneos isso importava. Pelé, afinal, era uma entidade que carecia de outras comprovações, mesmo a de ver para crer, até porque víamos e não conseguíamos crer.

A mágica significava mais que a própria realidade. Tanto é assim que em dois de seus “maiores gols”, a bola nem entrou: o chute de antes do meio campo contra a Tchecoslováquia e o do “drible da vaca” no uruguaio Mazurkiewicz, na Copa de 1970.

Ou melhor, não entrou “oficialmente”, porque para quem sonha, juro que entrou.

E sonho, so os tolos não sabem, dispensa estes “detalhes” da realidade e sobrevivem.

É por isso que ninguém vai substituir Pelé, porque ninguém ocupará o seu lugar na memória e na história, e nada mais consegue ocupar a atenção dos brasileiros no dia em que lhe dizemos adeus.

Texto publicado originalmente no Tijolaço

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Bandoleiro

30/12/2022 - 12h35

Garrincha e Maradona foram superiores a Pelé mas um vivia bebado e o outro drogado, impossivel se tornarem os queridinhos dos da Fifa. Pelé sabia se vender bem, era mediatico, todo certinho, arrumadinho, etc…

Na copa de 94 Maradona estava levando a Argentina até a final sozinho…a Fifa nao queria isso e foi “casualmente” sorteado para fazer o teste antidoping, foi achado positivo a uma substancia que nao é doping.

As copas de 58 e 62 sao obras de Garrincha…basta perguntar a Didi, Vavà e Nilton Santos.

Quem substitui Garrincha no coracao dos brasileiros foi Senna.


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