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Marcelo Camargo/ Agência Brasil

Conanda critica declaração de presidente do BC sobre adolescente

Por Redação

18 de fevereiro de 2023 : 12h00

Campos Neto naturalizou jovem vendendo produto na rua por meio do PIX

Publicado em 17/02/2023 – 23:31

Por Pedro Rafael Vilela – Repórter da Agência Brasil – Brasília

Agência Brasil — O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), colegiado vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, publicou nesta sexta-feira (17) um manifesto em repúdio à declaração do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre possível situação de trabalho infantil. A declaração de Campos Neto foi dada em entrevista ao programa ao Roda Viva, na TV Cultura, no dia 13.

Na ocasião, o presidente do BC, que falava sobre vantagens do PIX, disse ter ficado emocionado quando estava em um restaurante e um “garoto” o abordou para lhe vender um “produtinho” e ainda ofereceu a possibilidade de pagamento pela plataforma tecnológica de transações financeiras.

“Eu falei: ‘O Pix ajuda sua vida?’ Ele falou: ‘O Pix mudou a minha vida’. A gente que está no BC às vezes não tem a percepção de como que a gente consegue impactar a vida das pessoas na ponta. É muito importante essa agenda nossa social”, afirmou Campos Neto. Para o Conanda, a gravidade está no fato do presidente do BC ter ignorado uma possível situação de trabalho infantil.

“O que nos salta aos olhos não é a facilidade do pagamento, mas o fato de que havia uma criança em situação de trabalho infantil – e em uma das suas piores formas – que abordou um cidadão cuja providência não foi fazer a denúncia aos órgãos de proteção, mas incentivar a prática, não somente comprando o produto do ‘garoto’ como exaltando-o pela ‘iniciativa'”, diz um trecho da nota, que é assinada por Ariel de Castro Alves e Marina de Pol Poniwas, respectivamente presidente e vice do Conanda.

“Esperamos contribuir para o fim da naturalização do trabalho infantil no Brasil e solicitamos ao Bacen que adote medidas de garantia, proteção e defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes, em especial de combate ao trabalho infantil”, conclui a manifestação.

Criado em 1991, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o Conanda tem como função fiscalizar ações e elaborar normas e diretrizes para assegurar a proteção dos direitos da criança e do adolescente no país. É composto de forma paritária por nove representantes de entidades da sociedade civil e nove representantes do Poder Executivo.

O órgão tem entre suas atribuições a fiscalização de ações de promoção dos direitos da infância e adolescência executadas por organismos governamentais e não-governamentais; definição das diretrizes para a criação e o funcionamento dos Conselhos Estaduais, Distrital e Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente e dos Conselhos Tutelares; estímulo, apoio e promoção da manutenção de bancos de dados com informações sobre a infância e a adolescência; acompanhamento a elaboração orçamento da União voltado para essa área, gestão do Fundo Nacional para a Criança e o Adolescente (FNCA) e realização da Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Edição: Fábio Massalli

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3 comentários

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EdsonLuíz.

19 de fevereiro de 2023 às 14h40

Roberto Campos Neto e o Menino Vendedor.

A pessoa expressa sua experiência de interação social condicionada por seus limites ideológicos; assim como outros expressam suas experiência condicionados por seus preconceitos.
▪ É assim que eu entendo a fala lamentável do economista –como economista eu acho ele sensacional!– Roberto Campos Neto sobre o menino vendedor de rua.

Gramsci observou que o que cria perspectiva de transformação social não são as péssimas condições de vida material, mas o nível de consciência que a sociedade tenha dessa realidade. Gramsci é passado para uma sociedade dinâmica e uma história tão célere, difusa e mudada. Mas alguém com as preocupações sociais e culturais que Gramsci teve e sobre as quais escreveu, mesmo sendo Gramsci passado, sempre vai iluminar aspectos da realidade.

O brilhantíssimo economista Roberto Campos Neto bem poderia superar a ideologia a que adere e enriquecer seus estudos com leituras de pensadores de matrizes ideológicas diferentes daquelas que ele segue hoje. Todos devemos enriquecer nosssas visões de mundo abraçando com sinceridade a diversidade. Roberto Campis não precisa (nem deve) virar gramsciano para dar mais consideração á diversidade e à cultura, mas muito ele ganharia com a leitura de Gramsci e de outros autores que ele hoje rejeita.

Se definir e se agarrar a ideologismos limita nosso conhecimento de mundo e nossas atitudes de vida. As ideologias não definem a vida e não explicam o mundo! Ganham todos os que se desprendem das armadilhas das ideologias e dos ideologismos.

Naquela interação entre Roberto Campos Neto e o menino, era uma criança oferecendo venda de “produtinho” (um doce?) a alguém cuja aparência lhe deu a percepção de que poderia comprar. Mas o que aquela relação social ressalta para alguém como eu é o fato de a criança precisar estar ali fazendo aquilo como trabalho. Essa percepção de trabalho por alguém tão infantil, que ali seria o mais importante para mim, pode não ser a percepção mais importante para outro… Até que seja!

Por outro lado, em história relações sociais são sempre processos e a infância como instituição humana e social e uma invenção muito recente e está em processo de seu pleno estabelecimento.

Fui vendedor de rua. Ainda com apenas cinco anos de idade (sic) fui vendedor de rua.

Crescendo na rua, virei “puta de rua” e aprendi a saber a olhar as caras. Mas erro, e foi a esperiéncia da rua mesmo que me ensinou que se erra com as pessoas, mesmo quando você é “puta de rua” e pensa que sabe olhar as caras. Por isso, uma coisa que aprendi –Tão raro!Tão raro!– foi evitar juízos e preferir sempre o aprofundamento em aprendizado e percepção.

Da rua passei a Metalúrgico, e depois a Professor, e depois a…, e depois a Auditor Fiscal.

Estou decidido a mudar tudo novamente. Mudar de história; mudar de país e/ou voltar à economia, me reciclar e agora voltar como profissional na honradíssima e socialmente relevante área de finanças ou mudar mais radicalmente e aprender Cinema para virar documentarista ou aprender Enologia e passar a fazer vinhos.

Quando amigos se assustam com a minha decisão de interromper tudo e mudar, acostumados que são com uma imagem minha de permanência e estabilidade, e perguntam o que vou fazer se eu não aprender a fazer um bom vinho, digo-lhes que se não aprender a fazer bom vinho aprendo a fazer um bom vinagre.

Mudo tudo após o tempo necessário, que podem ser décadas, mas continuo sendo da rua e continuo vivendo entornado na rua.

A experiência plural e tolerante que a rua me deu —ao mesmo tempo que me dava a experiência de ter a antena ligada para saber olhar as caras e ser menos otário e menos enganado— foi um legado importante, mas não foi o que a rua me deu de melhor.

O que a rua me deu de melhor foi a… PUREZA. Sim, a pureza! A rua me deu segurança e me ensinou cautela, honestidade e ter margem de segurança antes de fazer julgamentos. E a ser muito restrito nos julgamentos que faço.

Eu acabei valorizando muito o conhecimento. O conhecimento sem narrativas, sem distorções, sem juízos forçados. Na rua acabei valorizando o conhecimento em geral, o conhecimento dos cheiros, o conhecimento dos tons, o conhecimento de Roberto Campos, o conhecimento de Celso Furtado, o conhecimento de Gramsci (talvez por isso o meu desejo de virar documentarista), o meu conhecimento do outro.

Costumamos ter medo do que não conhecemos. Tememos mais aquilo de que somos ignorantes! Mesmo quando perdemos o medo das coisas, o medo das ideias e o medo do outro, não ajuda nada a superação dos nossos limites se conformarmos o outro à nossa ideologia. É preciso se desprender da ideologia (e principalmente de ideologismos) para se conseguir realmente enchergar o outro. É preciso enxergar e ter respeito por coisas e realidades fundamentadas diversas das nossas.

…E é preciso estar seguro e preparado para rejeitar a enganação e a impostura.

Mantendo-nos com nossos limites, acabamos por não problematizar de modo necessário o que não conhecemos.de forma mais correta.

Roberto Campos Neto, esse economista estupendo, íntegro e que eu invejo profissionalmente, me passa a percepção de ser muito preocupado com os mais frágeis. Mas se for mesmo isso, ele pouco saberá fazer para contribuir com a melhoria de condições materiais de vida das pessoas se ele mesmo não aprender a ver a vida e o outro com visões diversas que se somem àquela que ele já tem.

E arrisco dizer que quem mais nos ensina sobre o outro é ele mesmo, esse outro. A vivência direta de sua realidade é o que mais nos ensina. A consciência da realidade é transformadora, como diz Gramsci, mas consciência verdadeira só vem quando nos envolvemos diretamente com a realidade do outro.

Edson Luiz Pianca.

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Paulo

18 de fevereiro de 2023 às 21h57

Eticamente, totalmente reprovável a conduta do presidente do BC. Vale-se de expediente de exploração da miséria humana para promover a sua própria miséria intelectual (jactar-se de uma suposta grande conquista na área de transações financeiras) …E mais ainda, o que seria o tal “produtinho”? Teria insinuado a prática de tráfico, por parte do menino? Não que efetivamente não possa ter ocorrido, de fato (sabemos a realidade brasileira), mas os “fatos mercantis”, nesse episódio, são o que menos importa…

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Alexandre Neres

18 de fevereiro de 2023 às 12h22

Bob Fields Neto, na sua visão tacanha, acredita que seja sinal de evolução para uma criança de 11 anos o fato de efetuar uma venda via PIX. Este é o exemplo máximo que quis dar ao presidente Lula da agenda social do Banco Central.

Parece piada, mas é sério. Uma tremenda bola fora.

Bob naturalizou uma criança em situação de trabalho infantil. Provavelmente nem se deu conta da manota que deu. Decerto também podemos adivinhar qual era a cor da criança.

A única coisa que permite que uma criança se emancipe se chama educação.

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