Bahia: Refinaria privatizada provoca desabastecimento de Gás de Cozinha

Marcelo Camargo/ Agência Brasil

Regras da privatização podem fazer governo rever venda do controle da Eletrobras

Por Redação

27 de fevereiro de 2023 : 22h03

A pedido de Lula, AGU inicia estudos sobre operação que reduziu poder da União sobre empresa elétrica

Publicado em 27/02/2023 – 06:08

Por Vinicius Konchinski – Brasil de Fato – Curitiba (PR)

Agência Brasil — As regras para a privatização da Eletrobras estão hoje em processo de revisão na Advocacia-Geral da União (AGU). A pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o braço jurídico do governo federal iniciou um estudo sobre o caso. Esse trabalho tende a culminar em pedidos à Justiça para reversão de determinados pontos da operação.

No último dia 7, Lula declarou num café com jornalistas que a privatização da Eletrobras foi “leonina contra o governo” e “lesa-pátria”. “Foi feito quase que uma bandidagem para que o governo não volte a adquirir maioria na Eletrobras”, afirmou ele, antes de anunciar o início dos estudos da AGU.

Em 19 de janeiro, membros do Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE) já haviam se reunido com o próprio advogado-geral Jorge Messias para tratar do assunto. No encontro, os eletricitários listaram a ele suspeitas de irregularidades na privatização.

Ikaro Chaves, diretor da Associação dos Engenheiros e Técnicos do Sistema Eletrobras (Aesel) e ex-membro do governo de transição, afirmou que parte do que foi informado pelos trabalhadores à AGU deve embasar os processos contra a privatização.

Tem mas não controla

Chaves afirmou que o primeiro problema apontado pelos eletricitários é que a lei da privatização da Eletrobras, na prática, limitou o poder de voto do governo na empresa num patamar abaixo do controle acionário da União.

Antes da privatização da Eletrobras, a União detinha cerca de 63% das ações da empresa. Os votos do governo tinham peso proporcional a essa parcela. Isso significa que ele controlava a empresa.

Após a privatização, a participação societária da União na Eletrobras foi reduzida para cerca de 42%. Acontece que, com base na lei sobre a operação, o governo vota como se tivesse só 10% das ações da companhia.

Chaves explicou que a lei da privatização limitou a participação de todos os acionistas em votação da Eletrobras para que, teoricamente, nenhum grupo específico –seja ele público ou privado– tivesse controle sobre a empresa. No entanto, hoje, só a União tem mais de 10% das ações da companhia. A lei da privatização, portanto, serviu exclusivamente para “esterilizar” as ações do governo nos processos de votação.

“A única prejudicada foi a União. Foi com o objetivo de evitar que no futuro governo assumisse [a empresa]”, disse Chaves.

Lula, aliás, criticou essa “esterilização” na conversa com jornalistas.

Não controla mas paga

Chaves ressaltou que essa situação sobre o poder de votação desproporcional ao capital da União pode criar uma situação absurda.

Ele lembrou que, no caso Americanas, os sócios-controladores da empresa podem ser obrigados a arcar com prejuízos causados pela varejista. No caso da Eletrobras isso também pode acontecer por conta de uma eventual má gestão, principalmente porque a empresa é hoje controlada por indicados dos sócios das Americanas.

Chaves explicou que, nessa hipótese, a União teria que assumir 42% das dívidas, já que tem 42% do capital da empresa. Isso, mesmo tendo poder de voto sobre os rumo da companhia de só 10%.

“Um princípio básico da sociedade por ações é o de cada ação, um voto. Você tem que ter os ônus e os bônus”, explicou Chaves. “Numa eventual má gestão de uma empresa pública, a União vai ter que arcar com isso. Só que ela não determina o rumo da gestão. Então como é que ela vai vai arcar com o prejuízo que ela não causou?”

Vende mas não pode comprar

Por fim, Chaves lembrou que a privatização da Eletrobras prevê uma espécie de punição para acionistas que atuem para tornar-se sócios majoritários da empresa, isto é, deter mais de 50% das ações. Essa previsão encarece uma possível tentativa do governo parar recompra do controle da companhia.

A tal punição é chamada de cláusula de poison pill – pílula de veneno, na sigla em inglês. Por meio dela, se um acionista adquirir na bolsa de valores ações para deter mais de 50% do capital da Eletrobras, ele é obrigado a ofertar aos donos dos outros 49,9% das ações um valor 200% acima do de mercado para compra dos papéis.

Segundo cálculos do CNE, por conta desta cláusula, a União teria de pagar R$ 161 bilhões para reaver o controle da Eletrobras. Caso a poison pill e a limitação sobre poder de voto sejam derrubadas, o custo para reestatizar a Eletrobras seria de cerca de R$ 5 bilhões.

“Foi como um sequestro”, disse Chaves. “Ele sequestraram a empresa e falaram: te devolvo, mas se você quiser pegar ela toda de volta tem que vir pagar o resgate aqui.”

Lula afirmou que a compra de ações da Eletrobras para retomada da empresa não é prioridade em seu governo. O presidente, contudo, não descartou essa possibilidade.

Chaves afirmou que todos os problemas indicados pelo CNE à AGU já são temas de ações judiciais em tramitação. Ele, aliás, disse que há ações que visam o cancelamento de toda a privatização ainda aguardando julgamento.

Após as declarações de Lula sobre a privatização, o atual presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior afirmou que a operação foi debatida no Congresso Nacional e aprovada no Tribunal de Contas da União (TCU). Ele informou, em nota encaminhada à revista Veja, que o processo atraiu investimentos e garantirá tarifas de energia módicas.

A AGU informou que não estipulou datas para o fim de seus estudos nem adiantou qual será o resultado deles.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

Apoie O Cafezinho

Crowdfunding

Ajude o Cafezinho a continuar forte e independente, faça uma assinatura! Você pode contribuir mensalmente ou fazer uma doação de qualquer valor.

Veja como nos apoiar »

4 comentários

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site O CAFEZINHO. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Escrever comentário »

Fanta

28 de fevereiro de 2023 às 14h29

Privatizar e abrir o mercado, quanta maior a concorrência melhor.

Onde moro na Europa há usinas públicas e privadas que produzem a energia já a distribuição e entrega é 100% privada que briga pelos preços, ofertas, etc.

Quem abriu o mercado ao setor privado foi um governo de esquerda civilizada 20 anos atrás sem dogmas ideológicos dos anos 60, preconceitos e imbecilidades afins.

Só o que é preciso fazer no momento usando a cabeça e nada mais.

Responder

Alexandre Neres

28 de fevereiro de 2023 às 13h27

Que é isso Paulo, que maldade! Por meio de jabutis e que tais, os liberais ricaços envolvidos na motociata das Americanas botaram as duas mãos na Eletrobras…

Responder

Marcio

28 de fevereiro de 2023 às 11h41

Aprendamos com os europeus que estão estatizando vários segmentos, as tarifas diminuíram, o serviço melhorou e o povo tá muito satisfeito.

Responder

Paulo

27 de fevereiro de 2023 às 23h18

Não há como “garantir tarifas de energia módicas” se a empresa estiver nas mãos de particulares, simplesmente porque, a experiência demonstra, esses “capitalistas de monopólio” não têm por que fazê-lo…O macaco terá que comprar a banana, e pagará o preço que lhe for imposto…Nesse sentido, eu condeno veementemente qualquer privatização que incida sobre bens de uso comum do povo, como água, energia elétrica, combustíveis, etc…

Responder

Deixe um comentário