Taiwan se prepara para eleições presidenciais ‘grandes’ enquanto a sombra da China se aproxima
A corrupção e o custo de vida superaram as preocupações sobre um vizinho beligerante na disputa acirrada pela presidência
Por Helen Davidson e Chi Hui Lin, em Taiwan
Dom, 7 de janeiro de 2024, 09h00 GMT
The Guardian — Nas profundezas das montanhas do condado de Hsinchu, no norte de Taiwan , algumas dezenas de residentes de Smangus realizam a sua reunião matinal diária numa cabana de madeira, com vista para os altos picos próximos.
A remota aldeia indígena, onde vivem cerca de 200 pessoas Atayal, está se preparando para as eleições presidenciais de sábado . Eles levam isso muito a sério, administrando a sua própria assembleia de voto desde 2008 e discutindo candidatos com todos os residentes.
“Normalmente não falamos sobre política [na reunião], mas as eleições presidenciais são um grande acontecimento”, afirma Lahuy Icyeh, um líder comunitário. “Os anciãos da aldeia incentivam a tribo a escolher quem é melhor para Taiwan.”
A votação será a oitava eleição presidencial direta em Taiwan desde o fim da lei marcial no final da década de 1980. A atual presidente, Tsai Ing-wen, deve renunciar devido aos limites de mandato, e o seu atual vice, Lai Ching-te, concorre para manter o Partido Democrático Progressista (DPP) no poder. Ele enfrenta Hou Yo-ih, da oposição nacional Kuomintang (KMT) , que governou durante décadas de autoritarismo, e o Partido Popular de Taiwan (TPP), liderado pelo fundador Ko Wen-je.
A campanha foi dominada pela ameaça do Partido Comunista Chinês de anexar Taiwan , mas as pesquisas mostram que são as questões económicas que constituem a principal preocupação dos eleitores, incluindo os baixos salários, a acessibilidade da habitação, a segurança energética e a inflação. Em 2022, os salários registaram o declínio anual mais acentuado em 10 anos, enquanto a habitação em algumas cidades de Taiwan está entre as mais caras do mundo em relação ao rendimento.
A inflação foi inferior à de muitos outros países em 2023 – 2,48% – mas uma série de aumentos extremos de preços de produtos individuais, como os ovos, piorou a percepção do custo de vida . a educação e os direitos das minorias também são preocupações imediatas.
Todos os três candidatos presidenciais fizeram promessas sobre a maioria dos assuntos mais caros, mas muitos deles são bastante semelhantes. Dafydd Fell, diretor do Centro de Estudos de Taiwan da Universidade Soas de Londres, diz que isso neutralizou a maioria dos debates, exceto sobre o futuro controverso da situação de Taiwan. Central nuclear. A publicação de sondagens – que poderiam mostrar qualquer impacto potencial destas promessas – é proibida no período de indisponibilidade de 10 dias antes da votação.
A comunidade Smangus tem pedidos claros: melhor assistência para cuidados aos idosos, melhorias nas estradas e direitos à terra e justiça transicional para as tribos indígenas. Mas a aldeia, que opera uma economia ao estilo do kibutz, incluindo terra e habitação partilhadas, e um sistema de partilha de emprego com salário fixo, está protegida de algumas das questões económicas.
Para eles, a eleição presidencial trata de temas gerais, diz Yarah Pihu, ministro presbiteriano de Smangus e líder comunitário. “Queremos um presidente com uma perspectiva internacional e um sentido de identidade taiwanesa.”
Masay Sulung, um líder da comunidade Smangus, disse: “Espero que 90% dos Smangus votem em Lai Ching-te. Temos grandes expectativas para Lai, ele tem uma visão clara para o país.”
Num comício do DPP em Taipei, estudantes universitários de 20 anos, de apelidos Huang e Chen, dizem que apoiam a posição do DPP sobre questões de género, identidade taiwanesa e cuidados com os idosos. Mas há sinais de que os jovens – que representam cerca de 16% do público votante – estão a afastar-se do DPP, que é agora visto por eles como o establishment.
Num comício do KMT, um homem de 34 anos, de apelido Liu, diz que está a abandonar o DPP porque acha que os governos deveriam mudar frequentemente. No município de Guanxi, província de Hsinchu, uma mulher de sobrenome Lee sente o mesmo, mas não gosta de Hou ou Ko, então simplesmente não vai votar.
A corrupção é outra questão importante para a maioria dos eleitores taiwaneses. Fell diz que a corrupção política é frequentemente a “questão mais enfatizada nas eleições de Taiwan e tem sido a questão mais influente em várias eleições locais e nacionais”.
“Depois de oito anos no cargo, seria de esperar que o DPP fosse ameaçado por esta questão, e o KMT fez uma série de acusações. Mas não está totalmente claro qual lado é o dono desta questão.”
Os candidatos lançaram uma série vertiginosa de acusações uns contra os outros , desde plágio a estruturas habitacionais ilegais, fontes de rendimento duvidosas e outras formas de corrupção. Nas eleições locais anteriores, registaram-se alegações de compra de votos, suborno, intimidação de eleitores e ligações políticas com o crime organizado.
“A política local de Taiwan tem sido dominada há muito tempo por ‘máquinas eleitorais’ – um sistema de mobilização eleitoral através de redes de clientelismo e facções políticas locais – desde a era autoritária”, diz Kevin Luo, professor assistente do Departamento de Ciência Política da Universidade. de Minesota. “O fortalecimento da máquina partidária do KMT em Miaoli é um bom exemplo.”
De acordo com a Associação Anticorrupção e Proteção de Denunciantes de Taiwan, 11,6% dos 1.677 candidatos a vereadores em 2022 tinham antecedentes criminais – mais de 20% deles no condado de Miaoli, informou a revista New Bloom .
Numa sexta-feira à noite, o candidato independente Tseng Wen-hsueh está a reunir uma multidão num templo no condado de Miaoli, na costa oeste de Taiwan, numa plataforma de combate à corrupção e de mudança política. A lealdade partidária é profunda aqui entre uma mistura diversificada de grupos étnicos e uma elevada proporção de empregadores estatais no seu grande sector de recursos naturais. Em 72 anos, Miaoli nunca votou contra o KMT, independentemente das tendências nacionais. Uma piada popular refere-se a ela como “Nação Miaoli”.
“O ambiente político fechado de Miaoli permite que aqueles que estão no poder façam o que quiserem”, disse Tseng ao Observador . A maioria das pessoas tem dificuldade em imaginar mudanças depois de tanto tempo sem elas, diz ele. “Portanto, a maioria das pessoas tende a continuar a escolher o KMT em prol da estabilidade nas suas próprias vidas.
“[Mas] se alguém ganhar pela primeira vez, o público terá confiança na hora de votar, isso é o mais importante. O público compreenderá que esta votação em mãos pode realmente trazer mudanças.”
Outrora conhecida como a aldeia mais remota de Taiwan, Smangus só obteve electricidade em 1980, e uma estrada para as aldeias vizinhas em 1995. Essa estrada – um trilho de curvas em ziguezague e inclinações que sugam combustível, pontuadas por restos de frequentes deslizamentos de terra – está agora ocupada com caminhões de campanha e publicidade de candidatos.
Mas em Smangus a votação está em grande parte decidida. Pelo menos desde 2008, a aldeia tem votado no DPP em proporções quase inversas à região pró-KMT onde se situa. Mas o principal é que eles votarão.
“Desfrutamos da democracia mais tarde do que em outros lugares”, diz Icyeh. “É importante escolher alguém que possa proteger e liderar Taiwan e que aprecie a nossa democracia arduamente conquistada.”
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