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Bolsonaro tramava golpe desde julho de 2022

A reunião golpista de julho de 2022, parte 1/3 Um dos momentos mais dramáticos do despacho divulgado hoje pelo ministro Alexandre de Moraes, contendo detalhes da investigação da Polícia Federal sobre a conspiração golpista de Bolsonaro, descreva uma reunião ocorrida em julho de 2022. No evento, vemos um Bolsonaro completamente ensandecido, pressionando seus ministros e […]

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Foto: Reprodução

A reunião golpista de julho de 2022, parte 1/3

Um dos momentos mais dramáticos do despacho divulgado hoje pelo ministro Alexandre de Moraes, contendo detalhes da investigação da Polícia Federal sobre a conspiração golpista de Bolsonaro, descreva uma reunião ocorrida em julho de 2022.

No evento, vemos um Bolsonaro completamente ensandecido, pressionando seus ministros e assessores a aderir à uma narrativa golpista e delirante. Vale a pena ler.

Segue o trecho:

(…) Na sequência, noticia a autoridade policial que, em 5 de julho de 2022, foi convocada pelo então Presidente Jair Messias Bolsonaro uma reunião da alta cúpula do Governo Federal. Essa reunião contou com a presença de Anderson Torres (então Ministro da Justiça), Augusto Heleno Ribeiro Pereira (então Chefe do Gabinete de Segurança Institucional), Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira (então Ministro da Defesa), Mário Fernandes (então Chefe-substituto da Secretaria-Geral da Presidência da República), Walter Souza Braga Netto (ex-Ministro Chefe da Casa Civil e futuro candidato a vice-Presidente da República), todos ora investigados.

O ato visava reforçar aos presentes a ilícita desinformação contra a Justiça Eleitoral, apontando o argumento de que as Forças Armadas e os órgãos de inteligência do Governo Federal detinham ciência das fraudes e ratificavam a narrativa mentirosa apresentada pelo então Presidente da República Jair Messias Bolsonaro.

A reunião, segundo a Polícia Federal, também teve como finalidade cobrar dos presentes conduta ativa na promoção da ilegal desinformação e ataques à Justiça Eleitoral: promoção e a difusão, em cada uma de suas respectivas áreas, desinformações quanto à lisura do sistema de votação, utilizando a estrutura do Estado brasileiro para fins ilícitos e desgarrados do interesse público.

Essa narrativa serviu, como um dos elementos essenciais, para manter mobilizadas as manifestações em frente às instalações militares, após a derrota eleitoral e, com isso, dar uma falsa percepção de apoio popular, pressionando integrantes das Forças Armadas a aderirem ao Golpe de Estado em andamento (fl. 10).

As investigações da Polícia Federal trouxeram aos autos excertos da fala do então Presidente Jair Messias Bolsonaro naquela oportunidade e que constam de vídeo identificado em computador apreendido na residência de Mauro Cesar Cid, realizada no RAPJ nº 4401196/2023 (fl. 31):

“Hoje me reuni com o pessoal do WhatsApp, e outras também mídias do Brasil. Conversei com eles. Tem acordo ou não tem com o TSE? Se tem acordo, que acordo é esse que tá passando por cima da constituição? Eu vou entrar em campo usando o meu exército, meus 23 ministros”.

No vídeo, o então Presidente ainda disse:

“E eu tenho falado com os meus 23 ministros. Nós não podemos esperar chegar 23, olhar para trás e falar: o que que nós não fizemos para o Brasil chegar à situação de hoje em dia? Nós temos que nos expor. Cada um de nós. Não podemos esperar que outro façam por nós. Não podemos nos omitir. Nos calar. Nos esconder. Nos acomodar. Eu não posso fazer nada sem vocês. E vocês também patinam sem o Executivo. Os poderes são independentes, mas nós dois somos irmãos. Temos um primo do outro lado da rua que tem que ser respeitado também. Mas todo mundo que quer ser respeitado tem que respeitar em primeiro lugar. E nós não abrimos mão disso”.

Segue a representação da Polícia Federal transcrevendo as falas do então Presidente Jair Bolsonaro e de outros participantes da reunião, nos seguintes termos (fls. 32-48):

“(…) A Câmara deve votar hoje o … a PEC da Bondade, como é chamada, né? E não tem como, né, depois dessa PEC da Bondade, a gente … a gente não tá pensando nisso, manter 70% dos votos, ok? Mas a gente vai ter 49% dos votos, vou explicar por que, né? (…)”

Prosseguindo no discurso, Jair Bolsonaro faz, novamente, acusações falsas e sem nenhum indício, afirmando que o dinheiro do narcotráfico teria financiado o atual Presidente da República Lula da Silva e outros ex-Presidentes de países da América do Sul:

“É … Nós estamos vendo aqui a … não é toda a imprensa, uma outra TV e as mídias sociais sobre a delação do Marcos Valério. A questão da … da execução do Celso Daniel. Né? É … O envolvimento com o narcotráfico. É … Temos informações do General Carvajal lá da Venezuela que tá preso na Espanha. Ele … já fez a delação premiada dele lá. É… Por 10 anos abasteceu com o dinheiro do narcotráfico Lula da Silva, Cristina Kirchner, Evo Morales. Né? Essa turma toda que cês conhecem. (…) E a gente vê que o Data Folha continua … é … mantendo a posição de 45% e, por vezes, falando que o Lula ganha no primeiro turno. Eu acho que ele ganha, sim. As pesquisas estão exatamente certas. De acordo com os números que estão dentro dos computadores do TSE. Né? E … Eu tô … Eu tenho que ter bastante calma, tranquilidade, e vou entrar em detalhes com vocês daqui a pouco (…)”

No transcorrer da fala, Jair Bolsonaro indaga os presentes: “(…) nós vamos esperar chegar 23, 24, pra se foder? Depois perguntar: porquê que não tomei providência lá trás? E não é providência de força não, caralho! Não é dar tiro. ô Paulo Sérgio, vou botar a tropa na rua, tocar fogo aí, metralhar. Não é isso, porra!”.

Em seguida, o então Presidente da República, Jair Bolsonaro, assinala, ostensivamente, o objetivo da reunião: coagir os Ministros e todos os presentes, para que aderissem à ilícita desinformação apresentada. (…)

Clique aqui para baixar a íntegra da decisão de Moraes.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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