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Exclusivo! Tio Sam vai ficar sem suco de laranja

Os americanos adoram o suco de laranja. É um dos itens mais tradicionais do seu café da manhã. No entanto, aparentemente eles terão dificuldades para manter esse hábito, caso Donald Trump não desista de sua ideia fixa de impor tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros. Nos últimos 12 meses, até maio de 2025, […]

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Imagem gerada com IA

Os americanos adoram o suco de laranja.

É um dos itens mais tradicionais do seu café da manhã. No entanto, aparentemente eles terão dificuldades para manter esse hábito, caso Donald Trump não desista de sua ideia fixa de impor tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros.

Nos últimos 12 meses, até maio de 2025, os Estados Unidos importaram um total de US$ 1,6 bilhão em suco de laranja, segundo os dados mais atualizados do departamento de estatística do governo americano. Houve um aumento significativo de 33% na importação de suco de laranja, em relação aos 12 meses anteriores, e de 80% acima dos gastos feitos dois anos antes.

O Brasil respondeu por 73% de todo suco de laranja importado pelos Estados Unidos nos últimos 12 meses, com aumento de 71% em 1 ano e 107% em 2 anos.

A ameaça das tarifas já está causando pânico no setor. A Johanna Foods, empresa que fornece quase 75% de todo suco de laranja “não concentrado” de marca própria para clientes nos Estados Unidos, entrou com uma ação judicial contra a Casa Branca questionando a legalidade das tarifas propostas.

A empresa, que atende gigantes do varejo como Walmart, Aldi, Wegman’s, Safeway e Albertsons, estima que a tarifa resultará em um impacto de US$ 68 milhões, superando qualquer lucro anual desde que foi criada em 1995. O CEO Robert Facchina alertou que demissões de funcionários sindicalizados, equipe administrativa e redução da capacidade produtiva nas instalações de Flemington, Nova Jersey, e Spokane, Washington, são quase certas caso essas tarifas entrem em vigor. A empresa emprega quase 700 pessoas nos dois estados.

“A tarifa do Brasil resultará em um aumento significativo, e talvez proibitivo, no preço de um alimento básico do café da manhã americano”, afirma a empresa no processo judicial. “Os ingredientes de suco de laranja não concentrado importados do Brasil não estão razoavelmente disponíveis de qualquer fornecedor nos Estados Unidos em quantidade ou qualidade suficientes para atender às necessidades de produção da empresa.”

Preços já em alta

Os preços do suco de laranja já vinham subindo em todo o país. No último ano, o preço médio de uma caixinha de 0,47 litros subiu 23 centavos, ou mais de 5%, para US$ 4,49, segundo o Bureau of Labor Statistics. Os futuros de suco de laranja, referência global que acompanha a commodity, também dispararam recentemente. Durante o último mês, subiram quase 40%, com a maior parte desse aumento ocorrendo após a ameaça de Trump.

A Johanna Foods projeta que os preços do suco de laranja podem subir entre 20% e 25% caso as tarifas sejam implementadas.

A justificativa política de Trump

O presidente Donald Trump disse em carta de 9 de julho ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que aplicaria uma tarifa de 50% a todas as importações do Brasil a partir de 1º de agosto. Trump afirmou que a alta taxa tarifária era necessária devido à “forma como o Brasil tratou o ex-presidente Bolsonaro”.

Promotores no Brasil alegaram que Bolsonaro fazia parte de um esquema que incluía um plano para assassinar o atual presidente do país, que o derrotou na última eleição, e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Bolsonaro negou qualquer irregularidade.

Trump também disse que o Brasil estava censurando plataformas de mídia social baseadas nos Estados Unidos e mantinha “déficits comerciais insustentáveis” com os Estados Unidos. No entanto, os Estados Unidos têm um superávit comercial de bens com o Brasil – mais de US$ 7 bilhões no ano passado, segundo dados do Escritório do Representante Comercial dos EUA.

A assimetria da dependência

Mas se os Estados Unidos dependem tão profundamente do suco de laranja brasileiro, a recíproca não é simétrica.

Sim, os Estados Unidos são o mercado mais importante para o suco de laranja brasileiro, tendo respondido por 38% de todas as exportações brasileiras do produto nos últimos 12 meses.

Mas o Brasil tem alternativas, os EUA não. O brasil possui outros 200 mercados para exportar, alguns deles com muito potencial, como a China, a União Europeia, os países do Sudeste Asiático e a África.

Os Estados Unidos, por outro lado, não têm essa flexibilidade. O país conta com apenas dois fornecedores principais de suco de laranja: México e Brasil, que juntos respondem por 96% de todo o suco de laranja importado pelos EUA.

E os EUA está brigando com os dois, sobretudo agora com o mais importante fornecedor, que é o Brasil.

Essa assimetria coloca os Estados Unidos em uma posição vulnerável. Enquanto o Brasil pode diversificar seus mercados de exportação, os americanos têm poucas opções para substituir o suco de laranja brasileiro em suas mesas de café da manhã.

A batalha judicial

Em resposta ao processo da Johanna Foods, um porta-voz da Casa Branca disse que o governo está “usando legal e justamente os poderes tarifários que foram concedidos ao poder executivo pela Constituição e pelo Congresso para nivelar o campo de jogo para os trabalhadores americanos e salvaguardar nossa segurança nacional”.

A empresa pede ao Tribunal de Comércio Internacional que declare que a Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional não concede a Trump a autoridade estatutária para impor as tarifas contra o Brasil, e que o presidente não identificou uma emergência nacional ou “ameaça incomum e extraordinária” conforme exigido pela lei IEEPA para impor as tarifas.

A questão central é se Trump tem o poder legal de impor essas tarifas sem uma emergência econômica real, usando apenas justificativas políticas relacionadas ao tratamento de Bolsonaro e questões de censura nas redes sociais.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Marco Paulo Valeriano de Brito

24/07/2025 - 15h33

O BRASIL TERÁ QUE ATRAVESSAR O VALE DAS SOMBRAS E TRANSPOR O RUBICÃO GEOPOLÍTICO

Olha o Caribe, a América Central, por que seguem tão pobres apesar do turismo e muitas outras possibilidades?

O México, o grande vizinho do sul da América do Norte, que os EUA tratam como se fosse uma nação de cucarachas, o que emperra o seu desenvolvimento, apesar de tantas riquezas naturais, sua gente, sua cultura?

Os EUA não são parceiros de ninguém!

Os estadunidenses são arrogantes, agiotas, beligerantes, mercenários, prepotentes, rentistas e se acham os donos do planeta Terra.

Seus governantes, democratas ou republicanos, tratam os demais países de forma imperialista e se achando no direito de determinarem nossas políticas internas.

A grande incógnita, neste século XXI, é se a China e o Brics+ de fato conseguirão quebrar a hegemonia do poder dos EUA e isso vai depender de que lado a União Europeia ficará no jogo geo-estratégico que está no tabuleiro geopolítico global.

A Nova Ordem Mundial só será multipolar e o Sul Global só terá protagonismo, se a Rússia vencer na Eurásia, o Sionismo for derrotado no Oriente Médio e a Europa parar de se alinhar automaticamente aos ditames dos EUA.

Não é um jogo fácil, que está sendo travado, nesta guerra híbrida, nas duas décadas iniciais do século XXI, e os EUA farão de tudo para vencê-lo de novo, como ocorreu no fim da segunda guerra mundial, em 1945, e ao final da guerra fria, com a extinta União Soviética, nos anos de 1980, no transcurso do século XX.

O Brasil terá que transpor o rubicão latino-americano, deixar de ser quintal dos EUA e assumir a maior idade diplomática, econômica, civilizacional e estratégica, para poder entrar como uma Nação Líder do Sul Global nesse novo contexto geopolítico que poderá advir, neste século XXI, ou não ir além de mais uma ficção na história da humanidade.

Marco Paulo Valeriano de Brito
Enfermeiro-Sanitarista, Professor e Gestor Público


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