A Polícia Federal localizou, na agenda pessoal do general da reserva Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), registros que sugerem monitoramento político e possível espionagem ilegal no período em que Jair Bolsonaro (PL) ocupava a Presidência da República. Os documentos, obtidos pela CNN Brasil, mencionam nomes de adversários do governo e fazem referência à chamada “Abin paralela”.
Entre os alvos citados está o ex-deputado federal Vicente Cândido (PT-SP), descrito como “novo Vaccari” — alusão ao ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso na Operação Lava Jato. Em um dos trechos, há a anotação: “Falar com PR [presidente]. Vicente Cândido é o novo Vaccari. ABIN está de olho nele”, indicando possível ciência da Presidência sobre a vigilância.
Nomes e expressões enigmáticas
Além de Cândido, aparecem nas anotações o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo e o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP). Expressões como “bunker em São Paulo” e “braço em Brasília” surgem sem maiores explicações.
Outro trecho sugere proximidade entre o então procurador-geral da República, Augusto Aras, e a Agência Brasileira de Inteligência, acompanhado da frase: “a PF preparando uma sacanagem grande”.
Contexto eleitoral e mapeamento de opositores
Páginas seguintes da agenda contêm fluxogramas que indicam preocupação com o período eleitoral, riscos à imagem do governo e menção a suposta atuação de manifestantes chilenos no Brasil. Na seção “Observação das Eleições”, são listadas pessoas e instituições ligadas ao PT como opositoras à reeleição de Bolsonaro, descrito como “amigo de Trump”.
Entre as entidades citadas estão o Washington Brazil Office (WBO), a Associação Juízes para a Democracia, a Transparência Eleitoral e o Grupo de Puebla, todas conhecidas pela atuação em temas democráticos e jurídicos na América Latina.
Decisão da PF e outros processos
Apesar do conteúdo, a PF optou por não indiciar Augusto Heleno no inquérito sobre uso político da Abin. O general, no entanto, responde criminalmente em outra ação que apura tentativa de golpe de Estado para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2023.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) aponta Heleno como parte do “núcleo crucial” do plano golpista, junto ao ex-diretor-geral da Abin Alexandre Ramagem. Segundo a denúncia, ambos compartilharam documentos orientando Bolsonaro a descumprir decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e planejavam a prisão em flagrante de autoridades que cumprissem ordens judiciais consideradas “manifestamente ilegais” pela organização.
Acusações e crimes imputados
A PGR afirma que Heleno tinha “pleno domínio” das ações clandestinas da Abin paralela e que os documentos apreendidos confirmam o alinhamento ideológico com Ramagem. Os dois são acusados de tentativa de golpe de Estado, organização criminosa armada e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
O caso amplia as investigações sobre a utilização de órgãos de inteligência para fins políticos e reforça o foco da PF nas estruturas paralelas montadas no período Bolsonaro.


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