Não foi exatamente uma surpresa. A pesquisa Atlas Intel, realizada entre 29 e 30 de outubro de 2025, ajuda a explicar por que houve uma operação tão violenta no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. O levantamento foi feito em dois níveis: uma amostra nacional com 1.089 respondentes e outra específica da Cidade do Rio de Janeiro com 1.527 entrevistados. Os resultados revelam diferenças importantes entre a percepção nacional e a da capital fluminense.
Os dados indicam que houve interesse político, pois alguns setores sabem que a violência é popular. E como a direita não quer entregar educação, saúde ou mobilidade urbana, para ela é muito mais confortável entregar cadáveres. Consegue votos sem precisar repartir riqueza.
Há outra enorme vantagem para a direita em seguir essa estratégia: empurrar a esquerda para a posição desconfortável de defender a ordem institucional quando a maioria parece querer a barbárie.
Por outro lado, os números não são tão ruins assim. Em nível nacional, 55,2% dos brasileiros apoiaram a operação, mas um percentual expressivo de 42,3% não o fizeram. Isso mostra que o país amadureceu e que uma fatia importante da população se preocupa com um combate ao crime que preserve a segurança dos próprios policiais e dos civis.
Além do mais, 42% dos entrevistados no país consideram que a ação foi motivada por ganho político, contra 39,3% que a veem como a melhor forma de combater o crime.
A pesquisa revela uma divisão marcante de visões de mundo. Entre os eleitores de Lula no Brasil, houve uma percepção muito crítica da operação, especialmente pelo número de mortos. Já entre os eleitores de Bolsonaro, ela foi aprovada quase por unanimidade: 99,1% de aprovação entre bolsonaristas, contra apenas 12,1% entre lulistas.
O que é realmente preocupante é o cenário no Rio de Janeiro. Na capital fluminense, 62,2% apoiaram a operação, contra 55,2% no Brasil. E o que chamou a atenção foi o grande apoio nas favelas cariocas: 87,6% dos moradores aprovaram a ação. Mas isso não deveria surpreender. Quem vive nessas comunidades é quem mais sofre com o tráfico, a milícia e a guerra entre facções e com a polícia. É natural que desejem uma ação que resolva o problema da criminalidade.
Cabe às instituições da República oferecer proteção sem colocar a vida do cidadão em risco, sem colapsar a cidade e sem matar inocentes. Do ponto de vista político, os números mostram uma oportunidade para o campo progressista: há um setor social maior do que em outras ocasiões que está vendo criticamente esse tipo de operação.
A direita, naturalmente, brande os dados como prova de que “o povo quer a matança”. Não é bem assim. As informações sobre os possíveis excessos e a real intenção da operação ainda não circularam amplamente.
O levantamento alerta a esquerda sobre a “casca de banana” que a direita joga. É preciso incorporar a demanda popular por proteção e entender a revolta contra as facções. A luta contra o crime é uma causa democrática fundamental, pois o crime limita não apenas a liberdade de ir e vir, mas a mais fundamental de todas, a liberdade de estar vivo.
A esquerda precisa adotar uma linguagem dura nesse combate, defendendo o policiamento ostensivo e a repressão forte às organizações armadas.
Ao mesmo tempo, é preciso mostrar que a direita manipula o debate e que a resposta de longo prazo passa por políticas sociais, como emprego para a juventude. O discurso não pode ser misturado: um para combater o crime, outro para oferecer oportunidades.
Nesse contexto, o gesto do ministro Guilherme Boulos, que pediu um minuto de silêncio pelas vítimas, foi visto como inapropriado por 59,8% dos entrevistados no Rio de Janeiro. A pesquisa indica que a população das comunidades quer policiamento e proteção, não um minuto de silêncio. Foi um erro, embora bem-intencionado.
O episódio mostra que o governo Lula precisa de inteligência e iniciativa. É hora de mexer no orçamento, criar um Ministério da Segurança Pública e fazer um grande esforço nacional. Não basta oferecer estatística de queda nos homicídios; é preciso visibilidade, comunicação assertiva e demonstração de firmeza moral contra o crime.
Os relatórios do Atlas Intel, na íntegra, podem ser baixados aqui (nacional), aqui (cidade do Rio) e aqui (comparativo cidade x país).








Tiago Silva
02/11/2025 - 17h56
Os Governos Estaduais deveriam colocar a PM nos territórios do Tráfico e Milícias (que ocupam até mais territórios para obtenção de lucros através de violências), porém há mais policiais em bairros nobres do que nas comunidades.
E o Governo Federal poderia liderar ações para atingir os verdadeiros líderes que lavam esses dinheiro do tráfico/Milícias na Faria Lima e vivem em mansões na Barra da Tijuca ou Camboriú.
A ação contra o PCC não deu nenhum tiro, mas atingiu muito mais o PCC do que essa ação politiqueira de necropolítica em morros cariocas.
Marco Paulo Valeriano de Brito
01/11/2025 - 15h41
PASSADO MALDITO, PRESENTE OBTUSO E FUTURO INCERTO
Nenhuma vida é protegida num estado desses.
Nem a dos pobres, nem a dos remediados, talvez a dos ricos e bilionários, pois essas vidas estão blindadas por essa necropolítica.
A passageira de aplicativo foi alvo das balas certeiras e iniciou sua agonia na via amarela, pavimentada de sangue, no rescaldo da Operação Sucesso, da extrema-direita fascista, e levada no desespero por salvação, ao abandonado Hospital Federal de Bonsucesso, morreu vítima da sociedade violentadora e violentada, “no polarizado purgatório da beleza e do caos”.
Vidas de ninguém importam, a não ser a da oligarquia, cujo sucesso é comemorar nosso infortúnio e a morte do povo.
Queremos viver numa Nação, sermos um cidadão, uma cidadã, mas a classe dominante insiste em matar o País.
57% da população brasileira apoia o Estado Esquadrão da Morte.
Não há como protegermos o futuro do Brasil!
Sigamos entrincheirados resistindo!
Estou no meu ‘quarto do pânico’.
Marco Paulo Valeriano de Brito
Enfermeiro-Sanitarista, Professor e Gestor Público