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O tarifaço de Trump confirma a razão de ser dos BRICS

Agressões comerciais americanas fortalecem causa do multilateralismo e consolidam Brasil como líder de nova ordem mundial. Foi um presente cobrir os desdobramentos das últimas semanas. Horas antes do presidente americano Donald Trump anunciar em suas redes sociais tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos, a Comissão de Relações Exteriores da […]

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Prefeito Eduardo Paes defende que o Rio de Janeiro tem estrutura e vocação para receber os líderes de uma nova era diplomática em tempos de reordenação geopolítica.
Em proposta histórica, prefeitura do Rio quer transformar o Jockey Club em sede permanente do Brics e fortalecer o protagonismo brasileiro no cenário global / Foto: Alexandre Brum / BRICS Brasil

Agressões comerciais americanas fortalecem causa do multilateralismo e consolidam Brasil como líder de nova ordem mundial.

Foi um presente cobrir os desdobramentos das últimas semanas. Horas antes do presidente americano Donald Trump anunciar em suas redes sociais tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos, a Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, liderada pelo deputado Felipe Barros (PL-RS), sugeriu uma moção de louvor ao presidente americano. Nada poderia ser mais irônico.

Mas talvez os partidos que apoiam o governo Lula, que defendem o multilateralismo e que apoiam os BRICS também devessem se juntar a essa iniciativa de louvor a Trump. Porque nada poderia ser melhor para fortalecer a causa do multilateralismo e consolidar os BRICS do que essas agressões de Donald Trump ao Brasil. Elas simplesmente mostram de forma cristalina a razão de ser dos BRICS, a razão pela qual aconteceu o encontro do Rio de Janeiro e a razão pela qual o bloco foi criado: justamente para criar uma rede de proteção geopolítica, diplomática e comercial dos países contra esse tipo de agressão que agora o Brasil está sofrendo.

Vale lembrar que não é só o Brasil que está sofrendo. O mundo inteiro enfrenta tarifas impostas pelos Estados Unidos que serão pagas pelos importadores e consumidores americanos, mas que evidentemente afetam os negócios e países do mundo inteiro. O Canadá, por exemplo, acaba de receber a notícia de que suas vendas para os Estados Unidos sofrerão tarifas de 25%, e o Canadá não é dos BRICS. É um país totalmente alinhado aos Estados Unidos. A mesma coisa acontece com o Japão e a Coreia do Sul.

Tabela: Tarifas anunciadas por Trump em julho de 2025

País/Região | Tarifa | Data de Vigência
Brasil | 50% | 1º de agosto de 2025
Canadá | 25% | 1º de agosto de 2025
Japão | 25% | 1º de agosto de 2025
Coreia do Sul | 25% | 1º de agosto de 2025
Malásia | 25% | 1º de agosto de 2025
Cazaquistão | 25% | 1º de agosto de 2025
Tunísia | 25% | 1º de agosto de 2025
Argélia | 30% | 1º de agosto de 2025
Líbia | 30% | 1º de agosto de 2025
Iraque | 30% | 1º de agosto de 2025
Sri Lanka | 30% | 1º de agosto de 2025
Países alinhados aos BRICS | +10% adicional | A definir

A resposta brasileira: três caminhos estratégicos.

Diante dessa escalada, o governo brasileiro não ficou parado. Segundo análises especializadas, Brasília está trabalhando em três frentes estratégicas para responder às pressões americanas.

O primeiro caminho é a diversificação de parcerias comerciais. O Brasil está intensificando as negociações do acordo Mercosul-União Europeia, que criaria um mercado comum de 700 milhões de pessoas. Simultaneamente, avançam conversas com Canadá, Austrália, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos, Vietnã e Indonésia. O acordo com a EFTA (Islândia, Noruega, Liechtenstein e Suíça) também está próximo da finalização.

O segundo caminho aposta na narrativa e no desgaste político de Trump nos próprios Estados Unidos. A estratégia é explorar o “efeito rebote” das tarifas, que inevitavelmente aumentarão os preços para os consumidores americanos, especialmente de produtos como café – onde o Brasil fornece um terço do consumo americano.

O terceiro caminho, caso tudo mais falhe, é a retaliação direta. O Brasil possui desde abril de 2025 a Lei de Reciprocidade Econômica, que autoriza o governo federal a retaliar países que imponham barreiras comerciais a produtos brasileiros. O presidente Lula já sinalizou que “qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica”.

BRICS+ consolidam alternativa multipolar.

Enquanto Trump escala sua guerra comercial, os BRICS+ consolidaram avanços significativos durante a Cúpula do Rio de Janeiro, realizada em 6 e 7 de julho. O bloco, que cresceu de cinco para onze membros plenos nos últimos dois anos, representa agora quase metade da população mundial e 40% da riqueza produzida no planeta.

Os principais avanços incluem a incubação da Iniciativa Multilateral de Garantias dos BRICS como projeto piloto no Novo Banco de Desenvolvimento, um instrumento para reduzir riscos de investimento e expandir a oferta de recursos. O Acordo de Reservas Contingentes também será revisado para reduzir a dependência do dólar americano, avançando no processo de desdolarização.

Pela primeira vez, a inteligência artificial entrou oficialmente na agenda BRICS, com defesa da regulamentação multilateral e da soberania digital. Na área de saúde, foi lançada a Parceria BRICS para Eliminação de Doenças Socialmente Determinadas, fortalecendo a cooperação entre os países membros.

O paradoxo Trump: fortalecendo o que pretende combater.

A ironia da situação é evidente: ao tentar enfraquecer o Brasil e os BRICS através de pressões comerciais, Trump está acelerando exatamente o processo que pretende combater. As tarifas unilaterais demonstram na prática por que o mundo precisa de alternativas ao sistema dominado pelos Estados Unidos.

A China já se manifestou oficialmente contra as medidas, com a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, declarando que “tarifas não devem se tornar ferramentas de coerção, intimidação ou interferência nos assuntos internos de outros países”. O acordo de swap de moedas Brasil-China, assinado em maio de 2025 no valor de R$ 157 bilhões, ganha ainda mais relevância neste contexto.

O Brasil emerge dessa crise não como vítima, mas como líder natural de uma resposta coordenada. A presidência brasileira dos BRICS em 2025 coincide com um momento histórico em que o mundo busca alternativas ao unilateralismo americano. As pressões de Trump, paradoxalmente, aceleram a construção da nova ordem mundial multipolar que o próprio Brasil ajuda a liderar.

O processo de desdolarização, ou seja, de emancipação do mundo da ditadura do dólar, segue seu curso inexorável. E Trump, sem perceber, tornou-se um dos seus principais catalisadores.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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