Os presidentes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu, Ursula von der Leyen e António Costa, enviaram uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reafirmando o compromisso da União Europeia com a assinatura do acordo de livre comércio entre o bloco europeu e o Mercosul no início de janeiro de 2026.
A manifestação ocorreu após a não conclusão do tratado durante a Cúpula do Mercosul, realizada em Foz do Iguaçu, no Paraná, onde era esperada a formalização do acordo. Segundo a CNN Brasil, a carta foi enviada com o objetivo de esclarecer os motivos do adiamento e evitar a interpretação de que o processo estaria paralisado.
Procedimentos internos adiaram assinatura
No documento, Ursula von der Leyen e António Costa explicam que a assinatura prevista para dezembro não foi possível devido à necessidade de concluir procedimentos internos no Conselho Europeu, instância responsável por autorizar formalmente acordos internacionais firmados pela União Europeia.
“Embora, lamentavelmente, não seja possível avançar com a assinatura dos acordos em 20 de dezembro, uma vez que os procedimentos internos no Conselho necessários para autorizar a assinatura ainda estejam em fase de conclusão, estamos trabalhando ativamente para finalizar essas etapas sem demora”, afirmam os líderes europeus na carta.
Segundo o texto, o atraso tem caráter técnico e administrativo, não político. “Gostaríamos de reafirmar nosso firme compromisso de prosseguir com a assinatura do Acordo de Parceria UE–Mercosul e do Acordo Comercial Interino no início de janeiro, em um momento a ser acordado entre as respectivas partes”, acrescentam.
Expectativa frustrada na cúpula do Mercosul
A assinatura do tratado era esperada para ocorrer no sábado (20), durante a cúpula realizada no Brasil, último encontro do Mercosul sob a presidência brasileira antes da transferência do comando do bloco ao Paraguai. O evento havia sido inicialmente marcado para o início de dezembro e acabou adiado diante da expectativa da presença de Ursula von der Leyen para formalizar o acordo.
No entanto, pedidos de adiamento apresentados por França e Itália no âmbito do Conselho Europeu impediram o avanço da autorização. Sem o aval do colegiado, a presidente da Comissão Europeia ficou impedida de realizar a assinatura.
Resistência do setor agrícola europeu
O principal foco de resistência dentro da União Europeia vem do setor agrícola. Produtores rurais, especialmente na França e na Itália, pressionam seus governos contra o acordo, alegando que a ampliação do acesso de produtos agrícolas sul-americanos pode afetar a competitividade dos mercados internos europeus.
A primeira-ministra italiana Giorgia Meloni declarou publicamente que trabalha para convencer o setor agrícola de seu país sobre os benefícios do tratado e viabilizar a assinatura em janeiro. Diante desse cenário, os países do Mercosul aceitaram aguardar a conclusão dos trâmites europeus.
Lula cobra vontade política
Durante a cúpula em Foz do Iguaçu, o presidente Lula criticou a demora na conclusão do tratado, que está em negociação há mais de duas décadas. “Sem coragem e vontade política dos dirigentes, não será possível concluir negociação que já se arrasta por 26 anos”, afirmou.
Na carta, Ursula von der Leyen e António Costa reconheceram o papel do presidente brasileiro no avanço das negociações. “Gostaríamos de expressar nossa sincera gratidão por sua liderança e por seu firme compromisso pessoal com o relacionamento entre a União Europeia e o Mercosul”, escreveram.
Importância estratégica do acordo
Os dirigentes europeus destacaram que o acordo representa um passo estratégico para o fortalecimento das relações políticas, econômicas e comerciais entre as duas regiões. Segundo a carta, o tratado envia “um sinal poderoso de nossa determinação coletiva em aprofundar a cooperação com base em valores compartilhados, confiança mútua e interesses de longo prazo”.
O Acordo de Parceria UE–Mercosul prevê a redução gradual de tarifas, ampliação do comércio bilateral, regras comuns para investimentos, compras governamentais, sustentabilidade ambiental e compromissos trabalhistas. Caso seja assinado e ratificado, o tratado criará uma das maiores zonas de livre comércio do mundo, abrangendo mais de 700 milhões de pessoas.
Com a reafirmação do compromisso europeu, o governo brasileiro trabalha agora com a expectativa de que a assinatura ocorra nas primeiras semanas de janeiro de 2026, encerrando um dos processos negociadores mais longos da história do comércio internacional contemporâneo.


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