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Morte de Campos traz caos às análises

“Nada será fácil: as escadas não serão o fim da viagem: mas darão o duro direito de, subindo-as, permanecermos.” O poema de Alberto da Cunha Melo, um dos grandes nomes da literatura pernambucana, encaixa-se bem na atual conjuntura. A trajetória de Campos não se encerraria com as eleições deste ano. Mesmo não ganhando, ele ganharia […]

29 comentários
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“Nada será fácil: as escadas
não serão o fim da viagem:
mas darão o duro direito
de, subindo-as, permanecermos.”

O poema de Alberto da Cunha Melo, um dos grandes nomes da literatura pernambucana, encaixa-se bem na atual conjuntura.

A trajetória de Campos não se encerraria com as eleições deste ano. Mesmo não ganhando, ele ganharia recall eleitoral e, portanto, subindo, ali permaneceria, pronto para ser candidato em outra oportunidade. Mas nada seria fácil. Ele poderia sair menor do que entrou.

No mesmo poema, Melo diz que “o céu parece revestido / de uma camada de cimento: /deixo as marquises porque sei / que esta chuva não passará.”

O que me faz voltar ao presente, porque o jatinho de Campos parece ter se espatifado contra um céu de concreto, o que é também uma metáfora das durezas da vida e da política. Agora, em meio às novas turbulências que se anunciam, não adianta se esconder sob marquises.

A chuva não passará.

Foi uma experiência curiosa ler os jornais hoje. A tragédia que aniquilou um dos principais nomes da eleição presidencial criou um cenário de verdadeiro caos nas redações. Todos vieram dar seu pitaco. Alguns dizem que a morte de Campos determinará um segundo turno. Outros afirmam exatamente o contrário.

De maneira geral, a mídia e as forças de oposição já iniciaram uma pressão gigante para que Marina assuma o lugar de Campos. Em entrevista para Folha, o cientista político Marcos Nobre assevera: “Vai haver uma pressão insuportável para o PSB lançar Marina. Insuportável”.

Por outro lado, quase todos concordam que a situação é complexa porque boa parte do PSB não gosta de Marina Silva. Quem a bancava era Eduardo Campos. Nos últimos meses, inclusive, ela vinha se afastando do comando das estratégias de campanha.

Em entrevista dada em outubro do ano passado, ela já advertia:

“Não sou uma militante do PSB. É uma filiação democrática transitória. Sou a porta-voz da Rede, militante da Rede. Meu partido é a Rede.”

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Com o tempo, a situação se agravou. E o fato de Campos permanecer estacionado nas pesquisas acentuou ainda mais o desgaste de Marina dentro do PSB.

Era muita dor de cabeça para pouco voto.

Por outro lado, não há como discordar da análise do Nobre, em relação às pressões.

Partindo do pressuposto de que Marina será candidata, contudo, as interrogações não são menores.

Como ficarão as alianças estaduais? Quem será o novo presidente do partido?

Sendo candidata, Marina terá posição de poder dentro do PSB, para determinar estratégias de campanha?

Vou dar alguns pitacos inocentes sobre o que vai acontecer.

Com Marina, o PSB pode crescer no Sudeste, mas perder bastante no Nordeste. Os votos de Campos em Pernambuco, por exemplo, tendem a migrar para Dilma.

Não estou certo de que a morte de Campos forçará um segundo turno. Marina pode tirar um bocado de votos de Aécio e a soma de votos da oposição pode ficar a mesma coisa.

Campos, em si, era um grande quadro. Falava melhor que Dilma e Aécio juntos. Minhas críticas a ele se davam no campo político e ideológico. Na retórica, ele era superior aos dois líderes da campanha.

Isso é uma perda irreparável para a oposição.

Marina é uma mulher inteligente e preparada, mas a voz esganiçada e débil prejudica o seu desempenho oral.

As pesquisas feitas agora, no calor da emoção, gerarão efeito artificial. Até porque a mídia já se aproveita da tragédia para burlar a legislação eleitoral e promover Marina.

Os primeiros programas do PSB serão obrigados a ser uma espécie de homenagem a Eduardo Campos, cuja figura permanecerá ainda muito presente no imaginário do PSB, qual um fantasma, a assombrar Marina Silva.

A campanha do partido, aliás, terá que ser inteiramente reformulada, acarretando um terrível desgaste físico e psicológico a seus profissionais.

O desaparecimento de Campos traz confusão ao cenário eleitoral, travando estratégias durante alguns dias.

A mídia é que não espera, até porque a sua dinâmica não o permite. Ela já começou a mexer seus pauzinhos. Seu objetivo é muito simples: produzir um segundo turno.

Suponho que mídia e alguns grupos financeiros até já se resignaram com possível reeleição de Dilma, mas temem que uma vitória num primeiro turno lhe daria uma força política que não lhes interessa.

A realização de um segundo turno obrigará tanto o governo quanto a oposição a estabelecer mais pactos e compromissos políticos com as forças econômicas e midiáticas. Por isso ele é tão importante.

Considerando friamente o cenário, a morte de Campos traz prejuízo apenas para o PSB, que perde sua principal liderança, aquela na qual vem investindo há décadas, inclusive com uma perigosa dose de personalismo (e a prova é que seu candidato em Pernambuco permanece num longínquo segundo lugar).

Aécio Neves ganha porque Campos é um adversário a menos e tende a ganhar os votos de oposição que iam para o socialista. Ou não, como diria Caetano. Aécio pode perder votos para Marina.

Dilma também pode ganhar: Campos era um adversário talentoso, que desapareceu. A presidenta tinha três adversários: Aécio, Marina e Campos. Agora tem dois.

Outra coisa que fico imaginando é o que estaria pensando Campos lá no além-mundo.

Marina se auto-convidou para ser candidata de Campos, o qual, pressionado pela lógica eleitoral de ter uma aliada de 20 milhões de votos, topou com visível entusiasmo. Só que jamais passou pela cabeça de ninguém que ela fosse uma possível substituta. Tanto que as especulações em torno de quem seria a cabeça de chapa foram logo esvaziadas pela cúpula do partido, que não admitia outro nome além do próprio Eduardo.

E agora, por uma reviravolta do destino, eis que Marina novamente tem a chance de concorrer ao cargo de presidente da República.

A vida é mesmo uma caixinha de surpresas! Daí voltamos ao poema de Alberto da Cunha Melo citado no início do post, que serve como luva para fechar nosso raciocínio:

Se esperasse um tempo de paz,
nem meu túmulo construiria.
Começo e recomeço a casa
de papelão em pleno inverno.
Um plano, um programa de ação
debaixo de uma árvore em prantos,
e voltar à primeira página
branca e ferida pela pressa.

Com as eleições marcadas para daqui a poucas semanas, o PSB terá de reconstruir seus planos e programas de ação debaixo de uma “árvore em prantos” e voltar à primeira página, Marina Silva, que foi justamente “ferida pela pressa” de fundar um novo partido.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Rina Ibirajara de Alencar Laboissiere

17/08/2014 - 21h56

Como suas analises tem sido importantes para mim.Voce é fabuloso.Considero-o guerreiro nesta nossa batallha.Na ansiedade dos meus oitenta anos,só deus artigos promentem sono tranquilo.Parabens. O Brasil tambem agradece

Pedro

16/08/2014 - 03h11

É bom lembrar que Marina foi uma forte candidata nas últimas eleições. No primeiro turno ela teve 19% dos votos válidos, Serra teve 33% e Dilma 47%.
Em 2.010 as pessoas votavam olhando o governo Lula que tinha ótima avaliação. Agora olham Dilma cuja avaliação está regular.

Luis

15/08/2014 - 20h45

Os abutres em ação: Claudio Regueira Koka “Acabei de receber dos meus colegas médicos que moram em Brasília:
Achei coerente

Rodrigo Toledo

15/08/2014 - 14h06

Caraco..a chamada da noticia diz uma coisa e a conclusao da reportagem, no ultimo parágrafo, diz outra coisa…continuo perdido xD

Rodrigo Toledo

15/08/2014 - 13h02

Li nao sei onde que o aviao pode ter se chocado com um drone..procede producao?

Cosme Henrique

15/08/2014 - 09h21

A pergunta que surgiu: “Quem vota em Marina?”
Ecochatos; pseudopolitizados; aqueles que votam em “história de vida” e não em projetos; desiludidos com a política; direitistas que acham o Aécio fraco demais (e sabem da sua fama de censor em Minas);ex- de todas as espécies (ex-petistas, ex-comunistas, ex-liberais, ex-telionatarios…); jovens que votam por moda ou mídia…

Monica Barnabè

15/08/2014 - 06h06

Por que o avião caiu?

    João Maurício Pimentel

    15/08/2014 - 04h56

    Vento.
    Aconteceu o mesmo com um Boeing na Alemanha, mas a turbina era mais alta, não bateu no chão.
    Há vídeo, escondido, mas tiraria o tesão das empresinhas jornalísticas.
    Pra mim, erro do controlador, não poderia pousar ali jamais!
    Mas precisaria ter muito culhão….. “vá para Viracopos, moço”!!!

    Cosme Henrique

    15/08/2014 - 09h21

    Porque estava no ar…

jose carlos lima

15/08/2014 - 02h46

Fico só observando no JN as carpideiras da oposição na telinha do noticiário sobre o velório do morto. Algo mórbido ver essa direita moribunda precisando da morte de uma liderança tão importante e respeitável para ver se desempaca e olha lá que a mídia amiga e rentistas já tentaram de tudo: Derrubada da CPMF, operação derruba ministro levada a cabo por Cachoeira e Veja, demonização da Copa, quem sabe agora, com a morte de Campos, a coisa vai

Marcos

14/08/2014 - 21h17

Me desculpem, mas acho que voces estao muito preocupados com pouco. A pergunta é: quem vota na Marina? Hoje é a direitona e alguns indecisos que votariam no Aecio. Ou seja, ela roubará votos do Aecio e no Pernambuco transferira para a Dilma. É Dilma no primeiro turno. Ps. Desculpem a falta de acentos.

Raimundo

14/08/2014 - 21h14

Marina Silva não reúne condições para governar um país do tamanho do Brasil. Vejo nela muitas contradições. Exemplo:deixar a corrente teológica da Teologia da Libertação e se filiar ao que existe de mais conservador. A Assembleia de Deus. Outro, foi aceitar o uso de sementes transgênicas quando ministra do meio ambiente no governo Lula, permanecendo no governo até o ano de 2009. Como também, apos a eleição de 2010, sabendo que iria deixar o PV, deixou para criar um partido no apagar da luzes, ou seja, este ano, quando a campanha eleitora já estava em curso. Por tudo isso, me parece ser ela uma pessoa que vive de improviso.

Messias Franca de Macedo

14/08/2014 - 18h48

… Sai o rábula psicopata, entra a Blábláblárina! Silva?… Ah essa DIREITONA inepta e desalmada!…

O próprio Eduardo Campos propugnava uma campanha política fundamentada no conteúdo das propostas e dos projetos!…

A Marina Silva se pintará com as tintas da Casa Grande? Veremos?…

… A propósito, o imoral DataFolha deveria pesquisar: qual é a lógica de o(a) eleitor(a) votar em Marina Silva para presidente do Brasil?!…

Jane Pita de souza

14/08/2014 - 16h49

Esse político se apresentou como “socialista”. Mas estava extremamente colado ao PSDB alem de estar ligado a usineiros e bancos. Acho que o avô dele, ( HOMEM QUE LUTOU CONTRA A DITADURA ), irritado com isso , dando voltas no túmulo, o chamou.

    Liz Almeida

    14/08/2014 - 17h23

    Não ia votar no Eduardo Campos, mas me choca a falta de respeito e sensibilidade de alguns.

      Vitor

      14/08/2014 - 20h01

      Total. As pessoas esquecem que antes de político ele era um pai de família com 5 filhos… Lamentável…

João Maurício Pimentel

14/08/2014 - 18h24

Acho que Dilma corre sério risco…. o Brasil corre. Continuo com Lula, o único que conseguiria segurar. Enfim…..

João Maurício Pimentel

14/08/2014 - 18h23

Sim…… mas Marina é fraca, cede.

    Edmilson

    14/08/2014 - 16h18

    Docemente constrangida…

O Cafezinho

14/08/2014 - 18h21

É um grande poeta, Renato Abreu.

Vitor

14/08/2014 - 15h20

Miguel, avisa o pessoal do Instituto Lula que o site que lançaram está vergonhoso… Acompanhe a passagem:

“Com Lula e Dilma, o Brasil ficou três vezes mais rico. O Produto Interno Bruto (PIB), soma de todas as riquezas que o país produz no ano, saltou de R$ 1,48 trilhão em 2002 (com FHC) para R$ 3,77 trilhões em 2010 (com Lula) e para R$ 4,84 trilhões em 2013 (com Dilma).” –> http://brasildamudanca.com.br/macroeconomia

Acho que nem a Veja faria uma frase tão cretina, comparando PIB nominal. É como se o Brasil tivesse crescido mais de 11% ao ano no período…
Dilma disse que o novo site é um “instrumento muito importante no debate democrático”, pois estaria baseado na “verdade”. Se isso é verdade pra ela, me desculpe, mas ela não é tão honesta igual eu imaginava. Realmente vergonhoso, manipulador e vigarista. Acho que os blogs realmente progressistas deveriam condenar esse tipo de prática, que tanto criticam… Abraço!

Jorge Pereira

14/08/2014 - 15h20

Se houver 2º turno, pode ser Dilma x Marina. Perdeu Playboy…E pior…Dilma ganha fácil no 2º do turno de Aércio mas pode perder para Marina…Porque os votos de Marina/PSB passam quase todos para Dilma mas os votos do Aércio/PSDB passam quase todos para Marina…Logo podemos virar uma imensa floresta…Comer só frutas (colhidas de agroextrativismo)e verduras..Transporte “SP2” (à pé)…e por aí vai….

Carlos Trindade

14/08/2014 - 18h19

concordo joão…mas com o aécio o balaio esta mais arrumado..

paulo

14/08/2014 - 15h15

Miguel. ótima análise.
Mas tanto você quanto os demais comentaristas parecem não levar muita fé no horário eleitoral.
Dilma tem 11 minutos para mostrar, no mínimo, o que durante 4 anos foi escondido.
Para os que não tem ódio no coração será uma grande descoberta.
Abs.

João Maurício Pimentel

14/08/2014 - 18h14

Tanto faz, Carlos. Marina ou Aécio satisfazem a mídia e etc…..

Vitor

14/08/2014 - 15h03

Boa análise Miguel. Sinceramente acho que o PSB não vai ceder a cabeça da chapa para a Marina, é muito suicídio para eles… Agora acho que Dilma leva no primeiro turno, antes acreditava que ela levaria no segundo…

Carlos Trindade

14/08/2014 - 17h57

Quando a mídia diz…muda tudo nas eleições…é porque considerava o eduardo um candidato ruim ou porque vão apelar para o emocional?

A defesa da candidatura da marina é pra valer ou é só pra arrumar um segundo turno para o aécio?

Renato Abreu

14/08/2014 - 17h48

Po, Miguel, que texto, muitíssimo obrigado por apresentar esse poeta que eu desconhecia. Forte o cara, heim?


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