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Venda de petroquímica do Suape: mais uma “Lava Jato” que se esvai pelo ralo

Nesse artigo, Santayana observa que a mídia fez todo um escândalo com a compra, pela Petrobrás, da refinaria de Pasadena, um ativo valioso, encrustado no coração do corredor energético dos Estados Unidos, adquirida a um preço compatível com seu valor e com a média internacional, e agora deixa passar em branco a venda, a preço […]

9 comentários
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Nesse artigo, Santayana observa que a mídia fez todo um escândalo com a compra, pela Petrobrás, da refinaria de Pasadena, um ativo valioso, encrustado no coração do corredor energético dos Estados Unidos, adquirida a um preço compatível com seu valor e com a média internacional, e agora deixa passar em branco a venda, a preço vil, da petroquímica brasileira de Suape.

Enquanto a mídia brasileira, associada à Lava Jato, magnetiza a opinião pública com as últimas “delações”, o Brasil vai enregando, a cada semana, ativos com valor equivalente, cada um, a todos os desvios apurados pela Lava Jato.

***

Escândalo da Petroquímica de Suape – a ‘Pasadena’ de Temer

Por Mauro Santayana

Após a derrota de sindicatos – que deveriam ter insistido, em todo o país, com novas ações – o Judiciário acabou autorizando a escandalosa venda da Petroquímica Suape e da Citepe, de Pernambuco, a mexicanos pelo equivalente ao valor de pouco mais de cinco dias de seu faturamento.

Na Petroquímica Suape foram investidos R$ 9 bilhões pela Petrobras. No final de 2015, a dívida da empresa era menos de R$ 2 bilhões, o equivalente, portanto, a apenas dois anos de sua vendas, sua receita líquida cresceu em 19% naquele ano e o seu prejuízo caiu em 35% frente a 2014. Para que vender?

As razões daquele prejuízo, aliás, devem ser procuradas no próprio México. Por meio de um acordo de preferências tarifárias, a empresa que está comprando a refinaria, a Alpek, vende milhares de toneladas de PET ao Brasil sem pagar um centavo de imposto, e é o principal concorrente, em nosso próprio país, da mesma Companhia Petroquímica Suape, obrigando-a a trabalhar com um baixo nível de ocupação de apenas 65% de sua capacidade instalada.

Há perguntas que não querem calar. Por que – se tocar a petroquímica é um mau negócio – nossos hermanitos mexicanos estão comprando a empresa, que, aliás, poderia ter sido negociada com compradores que têm potencial para pagar muito mais, como os chineses, por exemplo? Ou por que não se colocou, a esse preço de ocasião, a empresa para ser vendida em bolsa, diluindo o seu capital e beneficiando, com esse negócio de pai para filho, milhares de acionistas brasileiros?

A primeira e mais óbvia razão para a compra pelos mexicanos é que ela está sendo vendida a preço de banana, por acionistas da Petrobras – como fundos de investimento, por exemplo – que podem comprar ações da Alpek na Bolsa de Valores do México antes, ou logo depois da concretização do negócio, lucrando, junto com os donos da Alpek, uma fortuna de bilhões de dólares na compra da refinaria por pouco mais de 10% do que foi investido no negócio. Vendendo barato, com uma mão, e comprando com a outra, fora do país, um patrimônio que foi levantado com dinheiro de todos os brasileiros e que pertence majoritariamente a toda a população brasileira.

A segunda é que a Alpek e o seu controlador, o Grupo Alfa, não passam, exatamente, por um bom momento – por isso suas ações estão ainda mais “baratas” do que o normal – e precisam produzir boas notícias.

O fundador do grupo Alfa, Armando Garza, morreu na semana passada, e as ações da Alpek já tiveram uma queda de 16% no primeiro trimestre de 2017, com uma baixa de valor de mercado de mais de 5 bilhões de pesos mexicanos.

Os investidores mexicanos estavam preocupados com o futuro das ações devido à debilidade do relatório trimestral da empresa, justamente na área em que pretende se consolidar no Brasil, a de poliéster e de polipropileno, na qual suas vendas retrocederam em 3%, fazendo com que o seu Ebtida (sigla em inglês para Earnings before interest, taxes, depreciation and amortization; ou “Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização”) tenha diminuído em 2016 em 7% com relação ao último trimestre de 2015.

Por tudo isso, a imprensa mexicana comemora ruidosamente em suas manchetes a compra da petroquímica de Suape pela Alpek.

A aquisição aumentará, potencialmente, a produção de ácido PTA pela Alpek em 33% e a de PET em 25% – pagando-se uma mixaria, a metade do valor que era esperado no início pelos observadores.

Calculava-se, na Cidade do México, que a compra poderia sair por um valor mínimo de US$ 600 milhões – só os ativos de Suape valem várias vezes isso. Mas o preço final acabou ficando por pouco menos de US$ 400 milhões, o equivalente a aproximadamente cinco dias de faturamento da Petrobras – por um patrimônio no qual foram investidos, voltemos a lembrar, R$ 9 bilhões, que embute, na prática, o virtual controle do mercado brasileiro de um dos insumos mais usados em nossa economia.

A terceira razão do negócio, e a mais importante para os mexicanos, é – independentemente da situação da Alpek e da Petrobras, que, com crescimento constante de sua produção neste ano, e um aumento no valor de suas ações de 200% nos últimos 12 meses, é muitíssimo melhor do que a do grupo mexicano – é de interesse nacional, por sua natureza geopolítica e estratégica.

O México resolveu controlar a produção de polietileno, um artigo que se usa aos milhares de toneladas por dia, no Brasil – que tem um mercado maior que o mexicano e é o maior da região – para afastar o Brasil como concorrente e controlar o mercado desse insumo, não apenas aqui, no Brasil, mas, em dimensão continental, na América Latina.

Com a entrega da Petroquímica de Suape à Alpek, o mercado brasileiro de PET passa a ficar nas mãos dos mexicanos, que poderão a partir de agora até mesmo fechar, no futuro, a fábrica pernambucana, ou diminuir a sua produção quando lhes der na telha.

Para isso, podem, por exemplo, aumentar as exportações de PET para o Brasil a partir de suas fábricas mexicanas, ou produzir, aqui, no Brasil, com petróleo vindo do México, beneficiando, indiretamente, a Pemex, a companhia estatal de petróleo mexicana.

E regular a oferta em nosso mercado, para aumentar o preço do insumo, estabelecendo um virtual monopólio nessa área.

Cortando a possibilidade estratégica que o Brasil tinha de alcançar a autossuficiência na produção de PET e de produzir aqui mesmo com petróleo nacional, agregando valor ao petróleo produzido pela Petrobras.

Tirando do Brasil a possibilidade que ele tinha, com essa refinaria, de disputar a supremacia, com o beneficiamento direto de nossa crescente produção de petróleo, com os nossos maiores concorrentes nessa área, que são – ou melhor, eram, porque praticamente saímos do negócio depois de gastar bilhões montando essa unidade petroquímica para eles – justamente nossos hermanos do país dos tacos, do Chapolin Colorado e do Speedy Gonzalez, o Ligeirinho.

Os negócios envolvendo a compra, pela Petrobras, da refinaria norte-americana de Pasadena, com um controvertido prejuízo – foram pagos US$ 7.200 por barril de capacidade de processamento, em um ano em que a média de negócios nessa área (11 vendas de refinaria em todo o mundo) foi feita com preço mais alto, de US$ 9.200 o barril) transformaram-se em uma das principais bandeiras da campanha midiota-jurídico-política que levou à derrubada de Dilma Rousseff da Presidência da República.

Não é de se estranhar que a desculpa do governo Temer, de diminuir os prejuízos da construção da Petroquímica Suape – que por maiores sejam, um belo dia se pagariam e começariam a dar lucro –, não desperte neste país cada vez mais canalha e hipócrita a mesma indignação por parte da imprensa e de milhares de carregadores de pato e de batedores de panela. Como cidadãos, na entrega de mão beijada dessa gigantesca refinaria aos mexicanos, restará a todos um prejuízo várias vezes maior do que o primeiro.

Comprar uma empresa lá fora – expandido nossa influência no mundo – é um escândalo. Repassar uma empresa brasileira, muito mais moderna, aumentando o poder de estrangeiros aqui dentro, para gringos, a preço de banana, é a coisa mais normal do mundo.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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João Maurício Rocha

13/04/2017 - 18h36

Pasadena a preço compatível de mercado?! Insano isso.

Maria Madalena Santos Martins

13/04/2017 - 01h33

Odlan Costa Rh

13/04/2017 - 00h05

É Pasadena está a todo valor?

Ana Guilhermina Cerqueira

12/04/2017 - 23h30

CARTA CAPITAL desmascarada! Marcelo Odebrecht confessa que bancava a revista esquerdista e explode o esquema de mídia do PT: “a revista fazia uma linha interessante para o governo”. O Jornalismo vermelho afunda na lama do capital da corrupção

Paulomaia Maia

12/04/2017 - 19h24

Pensar que a Presidenta COMPROU uma REFINARIA DE PETRÓLEO, na terra do Tio San.

Laercio Ferreira

12/04/2017 - 18h43

OUTRA VEA O JUDICIÁRIO , COMANDANTES PODEROSO DA DESTRUIÇÃO DO PATRIMÔNIO PÚBLICO , UM BANDO DE TUCANOS ABUTRES , COORDENADO PELO PSDB E PMDB, A DEIXAR A NEO COLÔNIA AOS DOMÍNIOS DOS PREDADORES IMPERIALISTAS ? A DOAÇÕES, SÃO CARIDOSAS , A UMA NAÇÃO DE MENDIGOS UM HAITI É ALI NO NORTE DAS AMÉ??RICA

Sonia Medeiros

12/04/2017 - 18h34

O que podemos fazer para barrar essa destruição do patrimônio publico.

Acorda Brasil

    Atreio

    12/04/2017 - 16h40

    pressionar, ridicularizar e envergonhar golpistas. carminha, janota, dr. lewadinho….todo esse nosso judiciário conveniente a si mesmo.
    em todo lugar. qq lugar. email, face, zap. apontar na rua. gritar na rua.

    golpistas devem pagar por seus erros.

    sem crime, sem impeachment.
    já babou o golpe. não vai levar 21 anos d novo.

    Marcos Silva

    12/04/2017 - 22h24

    O Judiciário, com o apoio da mídia, está destruindo a economia e a política brasileira com essa lorota de corrupção de caixa dois, como se isso fosse o pior dos males. Vem aí um aventureiro oportunista e psicopata surfar nessa onda. Triste burrice acreditar em realidade perfeita, abrindo mão, assim, de escolher, apenas o que nos cabe: o melhor possível.


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