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Os 14 principais personagens de 2013, por Sergio Saraiva

Reproduzo abaixo uma qualificada e abrangente análise de Sergio Saraiva, sobre os principais personagens políticos de 2013, e como deverão ser vistos em 2014. 2014, um ano de crise, ou seja, de riscos e oportunidades ter, 31/12/2013 – 15:15 – Atualizado em 31/12/2013 – 21:36 Por Sergio Saraiva, em seu blog no jornal GGN. O […]

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Reproduzo abaixo uma qualificada e abrangente análise de Sergio Saraiva, sobre os principais personagens políticos de 2013, e como deverão ser vistos em 2014.

2014, um ano de crise, ou seja, de riscos e oportunidades

ter, 31/12/2013 – 15:15 – Atualizado em 31/12/2013 – 21:36

Por Sergio Saraiva, em seu blog no jornal GGN.

O saudoso Franco Motoro costumava falar sobre o ideograma chinês para crise – ele significa também risco e oportunidade, ensinava.

Fiz um exercício neste o último dia do ano. Recordar o que foi 2013 e tentar imaginar 2014 na pele de alguns de seus principais protagonistas. Já havia dito que 2013 foi um ano mesquinho e 2014 pareceu-me, ao fim do exercício de imaginação, um ano de crise. De uma crise a Montoro, felizmente.

14 personagens de 2013 para 2014.

1 – Aécio –perdeu a sua grande chance.

Em fevereiro de 2013 escrevi sobre ele: não conseguiu até agora encampar um discurso de pensamento conservador, que é o espaço político que restou à oposição. O pensamento conservador – não confundir com reacionário – está órfão no Brasil, mas teria, sem dúvida, aceitação junto ao eleitorado brasileiro. Ficar nessa tática de “besouro rola-bosta” não vai levá-lo a nada. Tem de buscar um discurso propositivo e esse discurso terá de sair do pensamento conservador, pois o socialdemocrata está com o PT. É reler Roberto Campos e Delfim Neto e preparar uma proposta de governo palatável à nova e à antiga classe média. Seu avô foi capaz de se mostrar e se viabilizar como a alternativa a Jango e a Maluf, Aécio é capaz de tanto?

Não foi.

Tivesse sido, e as manifestações de junho teriam sido seu momento. A classe-média conservadora estava nas ruas à procura de um líder. Aécio não tinha o discurso pronto.

Com mandato de senador até 2018, para 2014, deve continuar com o mesmo discurso “rola-bosta” e a mesma falta de proposta. Resta-lhe a candidatura à presidência para fazer recall para 2018.

2 – Alckmin – é o um dos mais fracos governadores de São Paulo dos últimos 60 anos, pelo menos. Só não é o mais fraco devido à figura, hoje esquecida, de Antonio Fleury Filho. Mas como compará-lo a Ademar de Barros, Jânio Quadros, Maluf, Montoro ou Covas? Mesmo governadores discretos como Laudo Natel, Paulo Egydio Martins e Abreu Sodré, durante a ditadura, tiveram mais influência que ele. Mantém-se devido à inércia da política e conservadorismo paulistas.

Em 2013, as manifestações de junho mostraram que seu governo sofre de uma grave “fadiga do material”. Arrasta toda uma história de massacres em seus governos e, agora, corrupção. Em 2014, vai enfrentar uma dura campanha contra o “novo” Alexandre Padilha. Não é de se espantar que perca.

3 – Blogueiros – foram a grande novidade da campanha de 2010. Formaram a linha de resistência à campanha suja. Em 2013 estão consolidados e aparecem como o futuro do jornalismo. Deram furos de notícias e trabalho à grande imprensa. 2014 pode ser o momento em que o futuro terá chegado para eles.

4 – Dilma – a grande vencedora de 2013. Sua grande hora foi as manifestações de junho. Saiu dela uma outra Dilma, não é mais “o poste de Lula”. Em 2014, disputará a sua sucessão à presidência com a autoridade de quem está no comando. Deve ser reeleita.

5 – Eduardo Campos – fez o que devia fazer e cometeu um grande erro. Não tinha escolha, ou era vice de Dilma ou candidato a presidente. É candidato a presidente. Em fevereiro escrevi sobre isso: “Sua campanha deverá ser coordenada por um relojoeiro suíço. Não tão forte que arrisque ser o segundo nem tão fraca que o faça ser o quarto, atrás de Marina Silva, por exemplo.”. Ainda achava que Marina viabilizaria sua candidatura, que Aécio iria para o 2º turno e que Eduardo Campos apoiaria Dilma, seria seu ministro e candidato do PT-PSB em 2018.

Seu erro foi Marina. Enquanto ela estiver no PSB, estará inviabilizada uma aliança com o PT. Em 2014, é possível até que Eduardo chegue ao 2º turno, dada a fraqueza de Aécio, mas não é provável que ganhe. E aí, sem cargo até 2018 poderá perder todo o recall conseguido com a campanha de 2014.

6 – Fernando Haddad – em 2013 teve seu batismo de fogo. Enfrentou as manifestações de junho e a guerrilha judicial contra o Controlar e o IPTU. Em 2014, acabará por ganhar as duas questões. Termina o ano íntegro. Tem a seu favor duas grandes vitórias. Uma medida simples e que melhorou substancialmente a velocidade dos ônibus urbanos. Simplesmente pintou-lhes faixas exclusivas. E o combate à corrupção da máfia do ISS. A máfia dos transportes públicos, no entanto, é sua esfinge e seu grande desafio. De como vai enfrentá-la depende grande parte de seu futuro político. É o quadro político melhor preparado intelectualmente desde Fernando Henrique Cardoso, deve ter aprendido muito neste ano. Em 2014, insuspeitamente, um componente desse futuro estará sendo decidido. Uma vitória de Padilha para o governo do Estado coloca Haddad como virtual candidato do PT à sucessão de Dilma. Claro, desde que Haddad se reeleja em 2016. É muita coisa para alguém que está vivendo o primeiro ano do seu primeiro mandato, mas Haddad é o homem a se prestar atenção nos próximos anos.

7 – Imprensa – sua única vitória foi contra os réus do mensalão. Em 2013 não acertou uma. Tentou influir nas expectativas racionais da população através de uma campanha de terrorismo econômico. Termina ridicularizada, fazendo cambalacho estatístico para “provar” que tudo vai mal. Não poderá utilizar o discurso do moralismo. Sob esse aspecto, seus aliados é que estarão na berlinda. E o discurso do caos econômico ficou velho. Está economicamente enfraquecida, mas ainda é muito poderosa. Aí mora o grande risco, o desespero e suas medidas desesperadas. Em 2014, dá sinais de que tentará, pelo menos no 1º semestre, incendiar o país convocando manifestações para causar tumulto na Copa do Mundo. Não deverá conseguir nada, ou quase nada. Mas é um jogo perigosíssimo.

8 – Joaquim Barbosa – só não é o grande perdedor de 2013 porque tomou aos prisioneiros da AP 470 a liberdade e seu direito à dignidade. Esses, sem dúvida perderam muito mais. Mas Joaquim Barbosa, que já não tinha o respeito da corte que preside, perdeu qualquer respeito que pudesse ter no meio jurídico. Em relação a isso, as manifestações são públicas. Joaquim Barbosa se sustenta graças a grande imprensa e aos seguimentos mais retrógrados ou influenciáveis da nossa sociedade. 2014 é uma sinuca de bico para ele. Pode ficar na presidência do STF até novembro. Mas, então, finda seu mandato. Após 3 anos de intensa exposição pública e prepotência, exposição e prepotência às quais deu sinais de curtir cada minuto delas, terá condições de voltar a ser o obscuro ministro que era até o mensalão cair-lhe nas mãos? Voltará a sentir fortes dores nas costas e precisará de longas licenças para tratamento médico? Se aposentará e irá viver em Miami? Em 2014, o problema de Barbosa será 2015.

Pior será se aventurar se na candidatura política. Barbosa não parece ter a menor capacidade de lidar com o controverso. E controvérsia e contas a justar não lhe faltam. Não é à toa que vários partidos já se manifestaram refratários a tê-lo como possível candidato. Como candidato, estará exposto às mesmas regras dos outros, será vitrine. E, sem a toga para usar como navalha não tem lá muita chance.

9 – José Serra – Em 2013, não saiu do PSDB. Foi desafiado a fazê-lo, por FHC, e arregou. Em 2014, ficará no PSDB como uma alma penada, uma assombração. Estará sempre a espera de uma oportunidade. Essa oportunidade é uma desistência de Aécio, logo, trabalhará contra essa candidatura. Não tem nada a perder, já perdeu tudo.

10 – Lula – foi a grande ausência de 2013. Pode ter aprendido a trabalhar nas coxias, pode ter sido estratégia. Durante as manifestações, escreveu um artigo, em inglês, para o NYT. Nada mais, que eu me lembre. Reconheceu a legitimidade das manifestações e elogiou o governo Dilma, soou algo que acaciano. Enfim, melhor para Dilma. Em 2014 é Lula de novo. Lula deve estar salivando, mais uma eleição, mais um “poste”. É disso, da adrenalina de uma campanha política, que ele gosta.

11 – Manifestações – foram o grande acontecimento político de 2013. E, no entanto, ainda não surgiu um cientista político para explicá-las. Não é tarefa fácil. Escrevi na época: “Os “protestos de junho” atravessaram todo o espectro ideológico nacional, foram da extrema esquerda a extrema direita em 15 dias”.

Apesar disso, nunca vi tamanho consenso. Todo agente político que ouvi falando do assunto reconhece que foram importantes, válidas e legítimas. Após algum tempo, os partidos, nos seus programas de TV, as apresentavam como se tivessem sido parte de sua estratégia política. Quando não se apresentam, até agora, como seus donos.

Vou desafinar o coro dos contentes. Afora o MPL (Movimento pelo Passe Livre) que inicialmente organizou as manifestações e obteve uma enorme vitória ao conseguir a revogação do aumento das passagens de ônibus urbanos, afora os que oportunisticamente aproveitaram as manifestações para inviabilizar politicamente a aprovação da PEC 37 e afora os que protestavam contra a Rede Globo – veja a multiplicidade dos que, pelo menos, tinham uma causa, os demais não sabiam por que estavam lá. Eram as turmas do “contra tudo o que está aí”, “não é só pelos 20 centavos”, “a favor de qualquer coisa padrão FIFA” ou, simplesmente, do “vem para a rua”. Foi em grande parte um “espasmo cívico”.

Por que essa análise é importante? Porque a imprensa, nosso mais poderoso partido de oposição, vai tentar aparelhá-las em 2014. Não acho que vão conseguir. Ninguém sabe o que bota o povo na rua. Nem o povo sabe.

Mas vão conseguir alguns babacas nas portas dos estádios querendo aparecer para as câmeras. E aí mora o perigo, estúpidos fazem coisas estúpidas – midiáticas, mas estúpidas. Aliás, quanto mais estúpidas, mais midiáticas.

Aqui, pelo menos no 1º semestre, o preço da liberdade será a eterna vigilância.

12 – PT x PSDB – o PT não é mais o PT. O “PT de Lutas”, o grande “PT de Lutas”, com sua poderosa base sindical e movimentos populares não resistiu ao “PT do Lula Lá” que assumiu o governo. Por que esse enorme capital político duramente amealhado não soube ir para as ruas e defender o “seu” governo ainda é coisa para a qual não tenho explicação. Mas lamento profundamente. O “PT do Lula Lá” estará, com a vitória de Dilma em 2014, no seu último mandato. O PT que emergirá do final do mandato Dilma, em 2018, estará baseado nos Estados e não mais em Brasília e na figura central de Lula. Será o PT de Tarso Genro no Rio Grande do Sul, de Patrus Ananias e Fernando Pimentel em Minas, de Haddad e, talvez, Padilha em São Paulo, de Lindberg Farias no Rio e de Jaques Wagner na Bahia. Que PT será, não sei. Mas 2014 é o início de sua transição.

O PSDB corre o risco de se tornar insignificante. Se perder a presidência, Minas e São Paulo, já não tendo o Rio e com uma campanha dura no Paraná, o que restará ao PSDB? Mudar sua sede para a Goiânia de Marconi Perillo?

Esse é o risco, o fim. A visão da forca aguça a mente e FHC já avisou: “serve qualquer um, menos eles”. E “eles” é o PT.

Não gostei nada, nada dessa declaração. Cabe muita coisa ruim dentro dela.

13 –Prisioneiros do mensalão – Em 2013, foram a demonstração do quanto há de doentio no nosso sistema judiciário e de vilania na nossa grande imprensa. Estão sendo tratados como se fossem propriedade de Joaquim Barbosa, seus animais. E Joaquim Barbosa maltrata animais. Terão de encontrar uma maneira de sobreviver a 2014 com Joaquim Barbosa ainda presidente do STF. Em 2015, com Joaquim Barbosa em Miami fazendo tratamento para suas dores na coluna, com Dilma reeleita, com Ricardo Lewandowiski na presidência do STF e, talvez, com o mensalão tucano sendo julgado, a racionalidade deverá voltar a ampará-los.

Até lá, só espero quma tragédia não venha resgatá-los.

14 – Skaf e Feliciano – por fim, 2013 reservou-nos também dois outsiders na política. Em comum, ambos têm um profundo senso de oportunismo e a rara capacidade de usar o dinheiro dos outros em benefício próprio.

Que tenham obtido sucesso mostra o quanto ainda somos um povo despolitizado. Para 2014, Feliciano deverá ser reeleito. Mas não estranharia se começasse a apanhar justamente dos seus. No campo em que ele atua existem muitos, mas os votos são os mesmos. E aí vale a máxima – “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Skaf talvez nem se candidate. Rouba votos de Alckmin e foi muito acintosa a sua “pré-campanha”. Não estranharia se tivesse sua candidatura impugnada pela Justiça Eleitoral por abuso poder econômico.

Que venha 2014 com seus riscos e oportunidades e que nele cuidemos apenas das coisas do coração. Mas das emotivas e não das fisiológicas como foi meu 2013. Em dezembro, então, veremos o que foi o ano. Nada como fazer previsões após os fatos consumados.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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