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As cores de um mundo cinza

(Imagem: Koz Palma)   Por Ricardo Azambuja, colaborador do Cafezinho   Quem assistiu e lembra de A Trilogia das Cores? Os três filmes do diretor Krzysztof Kie?lowski (1941-1996), A Liberdade é Azul (Trois Couleurs: Bleu, 1993), A Igualdade é Branca (Trois Couleurs: Blanc, 1993) e A Fraternidade é Vermelha (Trois Couleurs: Rouge, 1994). Neles são mostrados como as pessoas reagem em situações limite que englobam […]

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(Imagem: Koz Palma)

 

Por Ricardo Azambuja, colaborador do Cafezinho

 

Quem assistiu e lembra de A Trilogia das Cores? Os três filmes do diretor Krzysztof Kie?lowski (1941-1996), A Liberdade é Azul (Trois Couleurs: Bleu, 1993), A Igualdade é Branca (Trois Couleurs: Blanc, 1993) e A Fraternidade é Vermelha (Trois Couleurs: Rouge, 1994). Neles são mostrados como as pessoas reagem em situações limite que englobam a liberdade, a igualdade e a fraternidade.
O contraste entre as reações do final do século passado, sensivelmente captadas pelas lentes 35 mm do diretor polonês, e as do atual cinema digital, repleto de ações espetaculares e de pouca profundidade, dizem muito sobre o momento que vivemos.

O desconhecimento ou pouco respeito às palavras liberdade, igualdade e fraternidade desfilam em matérias da grande mídia, redes sociais e por bocas que vomitam falta de conhecimento, memória e senso crítico. Um indício de que a direita tem se aproveitado melhor das complexidades do mundo atual do que a esquerda.

 

Histórico

 

A globalização, no início dos anos 90, prometia um mundo colorido, de crescimento e fartura, capitaneado pelo livre mercado. Não adiantou o aviso do prêmio Nobel de Economia de 2001, Joseph E. Stiglitz, em seu livro Os Exuberantes Anos 90, no qual apontava falhas no otimismo financeiro da época. Não deu outra, a globalização caiu em grave contradição com a crise do subprime nos EUA em 2008.

A tímida recuperação que sucedeu o desastre global não reverteu as perdas nos salários médios reais, atingindo em cheio as classes média e baixa. Um descontentamento geral favoreceu o crescimento de um populismo de direita, seja na figura de Donald Trump nos EUA, de Marine Le Pen, na França, ou no plebiscito de saída do Reino Unido da União Europeia, baseado numa retórica nacionalista e antiimigração.

A crise de 2008 ocorreu em um novo capitalismo financeiro pouco entendido por uma esquerda desprovida de utopia revolucionária. O desaparecimento dos outrora poderosos partidos comunistas italiano e francês e a perda de rumo da social-democracia europeia, partidária de uma profunda reforma intervencionista no capitalismo, contribuíram para o triunfo do neoliberalismo e o enfraquecimento da esquerda.

Segundo Costas Lapavitsas, ex-deputado do partido grego de esquerda Syriza, “a esquerda perdeu a confiança em si depois da derrota histórica com a queda do muro de Berlim. Sua análise econômica é antiquada, e seus valores históricos não foram substituídos.”

 

O Brasil e a mídia

 

É o que acontece no Brasil de hoje, idiotizado pelo pensamento direitista de que tudo que é democrático e favorece a uma maior liberdade, igualdade e fraternidade é comunista. Um Brasil elitista que vê com olhos preconceituosos qualquer ascensão do “zé povinho”. Um Brasil dos ricos e exploradores senhores de engenho, cujo pensamento retrógrado permanece vivo em empresários e políticos de bancadas ruralistas vestidos em roupas de grife e de posse de celulares de última geração. Um Brasil fundamentalista em suas crenças e religiões com segundas intenções. Um Brasil de uma classe média que insiste em acreditar em sonhos de consumo e achar que pertence à parte de cima da pirâmide social. Um Brasil carente de autoestima e saber.

Os meios de comunicação não ajudam a esclarecer. Pouco ensina e muito manipula a favor dos interesses de meia dúzia de proprietários bilionários. Não é só no Brasil que esse fenômeno midiota ocorre. Os órgãos de mídia foram os grandes beneficiários do vácuo ideológico deixado pelo fim da Guerra Fria e se tornaram os grandes intérpretes do futuro econômico, político e social do planeta.

As palavras do escritor e jornalista americano Walter Lippmann, no começo do século passado, sobre a “construção de consensos” pela mídia são previsões que se confirmam num mundo onde 85% da informação é controlada por cerca de dez conglomerados midiáticos, com poder para “gerar consenso” a favor ou contra um partido, político ou iniciativa.

De nada adianta, o Brasil exterminar a fome endêmica e ter promovido a maior ascensão social da história da humanidade durante os governos petistas. De ter retirado da miséria e da pobreza o equivalente à população da França, num intervalo de 10 anos, talvez menos. Ter ampliado investimentos em pesquisa, em políticas de cultura, em aumento significativo de vagas nas universidades, em ampliação dos campi universitários, em oferta de cursos técnicos e no maior programa de habitação popular da história do país. Ser o país que reconheceu e incluiu políticas de enfrentamento e combate ao racismo. Ser o país que, apesar de seu machismo repulsivo, elegeu e reelegeu uma mulher para o mais alto cargo da república, agora ameaçada por um golpe dado pelos que representam o que de mais atrasado e corrupto existe no país.

É urgente a necessidade de repensar e democratizar os meios de comunicação. O que nada tem a ver com censura. E, sim, com pintar as informações cinzas com as cores da verdade.

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Comentários

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marco

28/08/2016 - 22h09

Isso sim,é UTOPIA! Ora senhor autor da matéria,descrente de soluções que suprimam o engodo histórico de IGUALDADE,FRATERNIDADE E HUMANIDADE.Sabe o que os BURGUESES pensam ao respeito? Me arrisco a afirmar que dizem;não passarão, a não ser por cima de nossos cadáveres.E os cadáveres dos seus fieis seguidores,os pequenos burgueses.Estão nos dando DICAS,façamo-los portanto,CADÁVERES !


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