Menu

A Direita e a Esquerda não existem mais?

comentário do leitor Paulo Maciel, ao post: ‘O golpe é bem mais complexo que uma briga entre esquerda e direita’ Vou analisar alguns dados e teorias do texto “O golpe é bem mais complexo que uma briga entre esquerda e direita”, escrito por Miguel Gouveia, que foi postado no site “O Cafezinho”1 em 02/09/2016. Primeiramente, quase […]

4 comentários
Apoie o Cafezinho
Siga-nos no Siga-nos no Google News

comentário do leitor Paulo Maciel, ao post: ‘O golpe é bem mais complexo que uma briga entre esquerda e direita’

Vou analisar alguns dados e teorias do texto “O golpe é bem mais complexo que uma briga entre esquerda e direita”, escrito por Miguel Gouveia, que foi postado no site “O Cafezinho”1 em 02/09/2016.

Primeiramente, quase todos os parágrafos iniciais têm erros históricos e culturais.

Quando ele escreve que “É estarrecedor o primarismo de alguns “jornalistas” ao reduzir o que ocorre no Brasil e no mundo a velha, mofada e ultrapassada peleja de esquerda vs direita. Se não for primarismo, é má fé mesmo.”, parece não estar acompanhando as notícias de todos os dias nas mídias nacionais! Na campanha do segundo mandato de Dilma, Lula disse no palanque: “Esta campanha está correndo o risco de ser uma campanha violenta, em que a elite brasileira está conseguindo fazer o que nós nunca conseguimos fazer: despertar o ódio de classe – ela está conseguindo fazer com que o ódio tome conta de uma campanha…”2 A luta entre Direita e Esquerda também pode ser visto nesta frase de Emir Sader: “O ódio a Lula é um ódio de classe, vem do profundo da burguesia paulista e de setores de classe média que assumem os valores dessa burguesia. O anti-petismo é expressão disso. Os tucanos são sua representação política.”3

Todo o processo de Impeachment, chamado pelo PT e outros partidos socialistas de “Golpe”, o movimento “Fora Temer” e o “Grito dos Excluídos” nada mais é do que a reafirmação do conflito Direito x Esquerda, que está longe de terminar em nosso país (e no mundo)…

O Comunismo clássico, ditatorial e sanguinário teve mesmo, o seu fim decretado em 1989, com a queda do muro de Berlim, como escreveu Gouveia: “A partir dali a podre União Soviética ruiu e explodiu em dezenas de pedaços, jogando na lata do lixo tudo o que tinha aprendido em geografia.”1 Mas o Comunismo vem tentando renascer como “Novo Socialismo” em várias partes do mundo! O Fórum de São Paulo é uma tentativa de ressuscitar o Socialismo, com uma cara nova, democrática… A Carta Capital, francamente de ideologia socialista, escreve sobre o Fórum de São Paulo:

“O Foro de São Paulo é uma organização que junta vários partidos e movimentos sociais populares e de esquerda da América Latina e do Caribe. Ele foi fundado em 1990 pelo PT do ex-presidente Lula e pelo Partido Comunista Cubano de Fidel Castro, entre outros. Ele se autodeclara como sendo de esquerda, anti-imperialista, socialista e democrático. No final dos anos 80, com a queda da União Soviética, parecia que a esquerda estava destinada a acabar. Alguns até sugeriam que a visão neoliberal da sociedade – baseada na utopia de que o livre mercado seria capaz de promover crescimento econômico para todos – era o “fim da história”.4 O Foro surgiu justamente para oferecer um contraponto a essa visão.” Palavras de Lula sobre o Fórum de São Paulo: “Em 1990, quando criamos o Foro de São Paulo, nenhum de nós imaginava que em apenas duas décadas chegaríamos onde chegamos. Naquela época, a esquerda só estava no poder em Cuba. Hoje, governamos um grande número de países e, mesmo onde ainda somos oposição, os partidos do Foro têm uma influência crescente na vida política e social.”5 E: “É importante lembrar que uma grande parte da elite da Venezuela não admite a chegada de Chávez ao poder (…), como não aceitam o Lula no Brasil e a Dilma no Brasil… E “nós chegamos e eu quero, companheiro da direção do Foro de São Paulo, debitar parte da chegada da esquerda ao poder da América Latina pela existência dessa cosita chamada Foro de São Paulo. Foi aqui e devemos muito aos companheiros cubanos, devemos muito aos companheiros cubanos, porque, ao contrário do que muita gente conservadora pensa, os companheiros cubanos sempre, sempre nos ensinaram que o exercício da tolerância entre nós, a convivência pacífica na adversidade entre nós, a convivência entre os vários setores de esquerda era a única possibilidade que permitia que nós tivéssemos avanço aqui nesse continente. E isso aconteceu e pode acontecer muito mais, porque agora nós temos a obrigação de não permitir que haja nenhum retrocesso nas conquistas que nós obtivemos até agora. Nenhum retrocesso!”5

Alguma dúvida de que a Esquerda Socialista está mais viva do que nunca em toda a América latina? Quem disse que o Socialismo morreu?

Outro engano de Gouveia é dizer que a Direita morreu no mundo: “O Capitalismo cantou vitória até 2008, quando uma fraude financeira espetacular nos USA quebrou o mundo e quase o trouxe à falência global. A partir dali as agências de rating mostraram a sua cara de serviçais dos interesses financeiros e a falta de regulamentação no mercado provou ser um dos maiores erros do berço do capitalismo.”1

O Neoliberalismo, que pode ser considerado uma evolução da ideologia capitalista, já dava as suas caras nos anos de 30, emergindo como uma doutrina econômica entre acadêmicos liberais europeus ao tentar definir a denominada “terceira via” como sendo capaz de resolver o conflito entre o liberalismo clássico e a economia planificada coletivista. Seus defensores advogam em favor de políticas de liberalização econômica extensas, como as privatizações, austeridade fiscal, desregulamentação, livre comércio, e o corte de despesas governamentais a fim de reforçar o papel do setor privado na economia; isto não é o mesmo que o Capitalismo de sempre?

Embora o mundo esteja lentamente caminhando para uma política “de Centro” (o que eu particularmente aprovo e apoio), as ideologias da Direita e da Esquerda ainda estão vivas e muito fortes no mundo. O próprio Gouveia comenta esta mistura das economias nos países mais emblemáticos do mundo: China e EUA:

“Hoje em dia, o comunismo da China compra bancos e tem 4 deles entre os 10 maiores do mundo. Esse mesmo comunismo tem Bolsa de Valores e dança a ciranda do mercado financeiro como gente grande. Os índices financeiros da comunista China determinam a economia mundial.”1

“Nos USA, o prejuízo do desastre capitalista da fraude de 2008 foi socializado. O governo socorreu fartamente a iniciativa privada incompetente e criminosa com bilionárias verbas públicas, fazendo inveja ao nosso BNDES. De olho no aumento da pobreza USA, a administração Obama lançou o maior dos programas de medicina socializada do mundo: o Obamacare.”1

Mas esta transformação da China já vinha bem antes da queda da URSS, proposta em 1984 por Deng Xiaoping em 1984 com o lema “Um país, dois sistemas”: um sistema político Comunista e um sistema econômico capitalista, para a unificação da China!6

E apesar do Partido Democrata americano ser considerado “demasiadamente socialista” pelos Republicanos, a economia dos EUA se recuperou a ponto de nem ser discutida nas campanhas eleitorais deste ano pelos dois candidatos dos partidos daquele país (Hillary Clinton e Donald Trump).

A partir deste ponto, Gouveia foca o seu tema no Neoliberalismo, atacando-o formalmente: “A discussão hoje é bem mais profunda, mas o tema central é muito simples de ser identificado. Diz respeito ao fracasso do Neoliberalismo como política econômica de distribuição de riquezas.”1

Em primeiro lugar, Gouveia conclui que com o final definitivo da Direita e da Esquerda sobra apenas o Neoliberalismo, e que ele é culpado única e exclusivamente de tudo o que está acontecendo na economia mundial:

“O resultado do Neoliberalismo está disponível em números: nunca a concentração de riqueza foi tão acentuada na história do mundo. A organização não-governamental britânica Oxfam, baseado em dados do banco Credit Suisse relativos a outubro de 2015, mostrou que a riqueza acumulada pelo 1% mais abastado da população mundial agora equivale, pela primeira vez, à riqueza dos 99% restantes. Eis o resultado prático de décadas de neoliberalismo.”1

Realmente, os teóricos do Neoliberalismo diziam que suas ações aumentariam a riqueza mundial, mas não necessariamente que “todas as pessoas ficariam mais ricas”.

Um erro sério de Gouveia foi dizer que no Neoliberalismo ocorreu a “transferência de dinheiro público (nossos impostos) ao setor privado sem qualquer regulamentação” o que “se provou um equívoco, pois os donos da iniciativa privada o usaram para aumentar suas fortunas pessoais.”1 Não é verdade que “o dinheiro público foi transferido para o setor privado”; como isso seria possível? Quando isso aconteceu como princípio filosófico do Neoliberalismo? No auxílio de Obama ao salvar os bancos americanos na crise de 2008? Isso não faz parte da teoria do Neoliberalismo que, ao contrário, diz:

“Sob o neoliberalismo, reforma-se o Estado […]. Realizam-se a desregulamentação das atividades econômicas pelo Estado, a privatização das empresas produtivas estatais, a privatização das organizações e instituições governamentais relativas à habitação, aos transportes, à educação, à saúde e à previdência. O poder estatal é liberado de todo e qualquer empreendimento econômico ou social que possa interessar ao capital privado nacional e transnacional. Trata-se de criar o “Estado mínimo”, que apenas estabelece e fiscaliza as regras do jogo econômico, mas não joga. Tudo isto baseado no suposto de que a gestão pública ou estatal de atividades direta e indiretamente econômicas é pouco eficaz, ou simplesmente ineficaz. O que está em causa é a busca de maior e crescente produtividade, competitividade e lucratividade, tendo em conta mercados nacionais, regionais e mundiais. Daí a impressão de que o mundo se transforma no território de uma vasta e complexa fábrica global e, ao mesmo tempo, em Shopping Center global e Disneylândia global.”  Globalização e Neoliberalismo, Octavio Ianni (1998, p.28).7

Na política, o Neoliberalismo é um conjunto de ideias políticas e econômicas capitalistas que defende a não participação do estado na economia, onde deve haver total liberdade de comércio, para garantir o crescimento econômico e o desenvolvimento social de um país. Os autores neoliberalistas afirmam que o estado é o principal responsável por anomalias no funcionamento do mercado livre, porque o seu grande tamanho e atividade constrangem os agentes econômicos privados. O neoliberalismo defende a pouca intervenção do governo no mercado de trabalho, a política de privatização de empresas estatais, a livre circulação de capitais internacionais e ênfase na globalização, a abertura da economia para a entrada de multinacionais, a adoção de medidas contra o protecionismo econômico, a diminuição dos impostos e tributos excessivos etc.8

No Brasil, o Neoliberalismo começou a ser seguido de uma forma aberta nos dois governos consecutivos do presidente Fernando Henrique Cardoso. Neste caso, seguir o neoliberalismo foi sinônimo de privatização de várias empresas do Estado. O dinheiro conseguido com essas privatizações foi na sua maioria utilizado para manter a cotação do Real ao nível do Dólar8, mas não na “transferência de dinheiro público ao setor privado sem qualquer regulamentação” como afirma Gouveia.

Apesar de tudo isso, concordo plenamente com o autor, quando escreve que:

“Recentemente, o Neoliberalismo recebeu críticas de um de seus maiores defensores, o Fundo Monetário Internacional (FMI), em artigo publicado por três economistas da instituição. “Em vez de gerar crescimento, algumas políticas neoliberais aumentaram a desigualdade, colocando em risco uma expansão duradoura”, argumentaram seus autores.”1 Realmente, os ricos “ficaram mais ricos”; mas não “às custas dos mais pobres”.

O que eu venho demonstrando é que sempre houve, em toda a humanidade, uma minoria mais rica que era controladora do sistema político e econômico local e, na maioria das vezes, também religioso ao longo da história: os imperadores, reis, marajás, faraós, senhores feudais e ditadores sempre representaram a minoria rica e poderosa de todos os tempos! Mas o que acontecia antes era que todas as riquezas eram sempre de patrimônio: terras, castelos, rebanhos, ouro, pedras preciosas, etc. No período chamado “Mercantil”, a moeda era metálica: ouro, prata, cobre, operando o “padrão ouro”; no período “Pré-industrial” surge a “Moeda fiduciária”: moeda-papel com lastro total (Certificado de Custódia de Ouro). Já na era Industrial a Moeda fiduciária passa ao papel-moeda com lastro parcial e surge a Moeda escritural com o cheque bancário lastreado em papel-moeda e na era Monopolista a Moeda legal passa a ser sem lastro, como cédulas inconversíveis.9Finalmente, com a  abolição unilateral do padrão ouro-câmbio feita por Nixon em agosto de 1971, a tradição do dólar como moeda de reserva internacional vem sendo mantida até hoje.  Porém, houve uma alteração na lógica econômica por trás desta hegemonia: em vez de se basear no ouro, ela agora é fortemente mercantilista e especulativa! As riquezas não são mais de patrimônio, mas de mercado; e com isso elas puderam crescer exponencialmente, criando verdadeiras fortunas virtuais, que podem ser tão frágeis quanto à de Eike Batista:

“De homem mais rico do Brasil e 8º mais rico do mundo, Eike Batista viu seu império ruir. A fortuna pessoal, que em 2012 chegou a ser estimada em mais de US$ 34 bilhões, foi reduzida, pelas contas do próprio empresário, a um patrimônio líquido negativo de cerca de US$ 1 bilhão. Eike é acusado de manipulação ao vender ações sem antes informar os investidores sobre a situação negativa das empresas e de uso indevido de informação privilegiada (“insider trading”). Se condenado, a pena mínima pode chegar a seis anos de prisão.”10

A economia mundial atualmente é como o jogo Banco Imobiliário: eu finjo que tenho dinheiro e você finge que acredita; eu finjo que compro e você finge que vende… e tudo isso acontece tendo como intermediário um banco que trabalha livremente com as nossas falsas riquezas!

“Altamente endividadas, com ativos desmantelados e arrestados, operando no prejuízo ou nem sequer saídas da fase pré-operacional, as principais empresas do império de commodities criados por Eike “derreteram” e hoje é difícil saber se terão algum futuro. De um valor de mercado que chegou a somar quase R$ 100 bilhões em 2010, Ogpar (ex-OGX), OSX, MPX (atual Eneva), MMX, Prumo (ex-LLX) e CCX valiam, juntas, no final de 2014 pouco mais de R$ 2,5 bilhões.”10

Tudo uma grande farsa! Assim como as imensas fortunas dos 1% mais ricos do mundo!

É real que a riqueza acumulada pelo 1% mais abastado da população mundial agora equivale à riqueza dos 99% restantes, assim como as 62 pessoas mais ricas do mundo têm o mesmo em riqueza que toda a metade mais pobre da população global. Mas é importante observar duas questões:

  1. 1% de 7 bilhões representam 70 milhões de pessoas, o que é muita gente; e que para estar entre o 1% mais rico, é preciso ter apenas US$ 760 mil (R$ 3 milhões). Isto significa que uma pessoa que possui um imóvel médio em Londres, já quitado, provavelmente está na faixa do 1% mais rico da população global. Ainda segundo o estudo da Oxfam, quem acumula bens e dinheiro no valor de US$ 68 mil (cerca de R$ 275 mil) já está entre os 10% mais ricos da população (700 milhões de pessoas).11
  2. Estas imensas riquezas são virtuais, valores de mercado, controladas por especulações políticas de todas as naturezas.

Só os 10 homens mais ricos do mundo em 2016 acumulam U$ 505 bilhões (Bill Gates – Fortuna: U$ 75 bilhões – Empresa: Microsoft; Amancio Ortega – Fortuna: US$67 – Empresa: Zara Spain; Warren Buffett – Fortuna: US$ 60,8 bilhões – Empresa: Berkshire Hathaway; Carlos Slim Helu – Fortuna: US$ 50 bilhões – Empresa: Telecom/México; Jeff Bezos – Fortuna: US$ 45,2 bilhões – Empresa: Amazon.com; Mark Zuckerberg – Fortuna: US$ 44,6 bilhões – Empresa: Facebook; Larry Ellison – Fortuna: US$ 43,6 bilhões – Empresa: Oracle; Michael Bloomberg – Fortuna:  US$ 40 bilhões – Empresa: Bloomberg LP; Charles Koch – Fortuna: US$ 39,6 bilhões – Empresa: diversas; David Koch – Fortuna: US$ 39,6 bilhões – Empresa: diversas)!12

Recentemente tivemos o encontro do famoso grupo chamado “G-20” que reúne 20 países (Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Coreia do Sul, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos, além da União Europeia.) com economias que cobrem 85% do PIB global e têm cerca de 65% da população mundial!

Os principais objetivos do G20 são:

  • Favorecimento de negociações econômicas internacionais;
  • Debates sobre políticas globais para promover o desenvolvimento econômico mundial de forma sustentável;
  • Discussão de regras comuns para a flexibilização do mercado de trabalho;
  • Criação de mecanismos voltados para a desregulamentação econômica;
  • Criação de formas para liberação do comércio mundial.11

Um fato curioso e importante: a Oxfam verificou que a proporção de riqueza do 1% dos mais ricos vem aumentando a cada ano desde 2009, depois de cair de forma gradual entre 2000 e 2009; ou seja, logo após o colapso da economia americana!

Quais seriam, então, as propostas da ONG britânica para dividir melhor as riquezas? São elas:

  1. Que haja redução da diferença entre o que é pago a trabalhadores que recebem salário mínimo e o que é pago a executivos.
  2. Que haja o fim da diferença de salários pagos a homens e mulheres, compensação pela prestação não remunerada de cuidados a dependentes e a promoção de direitos iguais a heranças e posse de terra para as mulheres.
  3. Que os governos imponham restrições aos lobbys, reduzam o preço de medicamentos e cobrem impostos pela riqueza em vez de impostos pelo consumo.13

É verdade que, “com o aumento da desigualdade social, passamos a conviver com mais pobreza, menos educação, menos saúde, mais violência, menos moradia, mais miséria, mais protestos, mais manifestações, mais crise e todos aqueles problemas sociais que estamos fartos de saber”.1 Mas não é verdade que tudo isso foi causado pelas teorias econômicas do Neoliberalismo! Até mesmo porque nem todos os países ricos aceitaram completamente ou praticaram as teorias propostas por esta linha de pensamento econômico:

“A estratégia de privatização encorajada por ideais neoliberais não foi seguida por todos os países. Ao contrário do Brasil, a China e Índia (países que têm mostrado um crescimento enorme nas últimas décadas) adotaram tais medidas de forma restrita e gradativa. Nesses países, os investimentos de grupos econômicos foram feitos em parceria com empresas nacionais.”13

Foi Deng Xiaoping que pôs em prática as reformas econômicas que fariam da China o país com maior crescimento econômico do planeta. Dentre essas reformas, destacam-se as quatro modernizações, nos setores da agricultura, indústria e comércio, ciência e tecnologia e na área militar. Durante seu governo, a China passou por uma grande abertura diplomática. Em 1979, Xiaoping foi o primeiro líder chinês a visitar os Estados Unidos. Buscando atrair investimentos estrangeiros, Deng criou diversas “zonas econômicas especiais”, onde empresas estrangeiras podiam se instalar, desde que tivesses parceria com empresas chinesas.14

A proposta final de Gouveia é saber “como redistribuir as riquezas de forma mais justa”; e ele conclui que “redistribuir riquezas de forma mais justa significa reduzir muito a política neoliberal que encheu o setor privado de dinheiro sem cobrar resultados econômicos”.1

Novamente ele erra ao dizer que “o setor financeiro pegou as benesses do Neoliberalismo e saiu emprestando aos governos de diversos países para com esse dinheiro público (de graça) gerar mais dinheiro ainda e aumentarem absurdamente seus lucros. E saiu emprestando para todo mundo – e os governos saíram gastando em programas sociais diversos para combater o aumento da desigualdade social.”1

De onde Gouveia tirou esta ideia de que os setores financeiros pegaram dinheiro público e emprestaram para os governos de diversos países? Ele está falando do Neoliberalismo mundial, ou imaginando que os bancos americanos pegaram o dinheiro do protecionismo de Obama e investiram internacionalmente? Isso não é verdade pelo seguinte fato:

“No total da crise da bolha imobiliária, até o fim do ano de 2008, o Fed (Banco Central Americano) viria a emprestar US$125 bilhões para a AIG (American international Group, uma grande empresa do ramo de seguros) em troca de 80% da empresa.  Segundo o The New York Times, esta foi “a mais radical intervenção no setor privado em toda a história do Banco Central”. Após todas estas intervenções, o Fed assumiu uma postura totalmente inaudita em toda a sua história: ele simplesmente passou a comprar todos os títulos hipotecários em posse dos bancos.  Ou seja, ele passou a imprimir dinheiro e dar aos bancos em troca dos títulos hipotecários em posse destes bancos.  Isso limpou o balancete dos bancos e fez com que a base monetária explodisse.  No entanto, e felizmente, todo este aumento da base monetária não se converteu em expansão do crédito.  Ou seja, os bancos não jogaram este dinheiro na economia.  A quase totalidade do aumento da base monetária transformou-se em “reservas em excesso”.  “Reservas em excesso” são as reservas que os bancos mantêm voluntariamente depositadas junto ao Fed, além do volume determinado pelo compulsório.”15

Ou seja, todo aquele aumento da base monetária não se converteu em expansão do crédito: os bancos não jogaram este dinheiro na economia; a quase totalidade do aumento da base monetária transformou-se em “reservas em excesso”. Aí está a grande falha do pensamento de Goulart!

Mas ele está certo sobre o Brasil quando escreveu que o sistema financeiro “saiu emprestando para todo mundo – e os governos saíram gastando em programas sociais diversos para combater o aumento da desigualdade social”. Foi exatamente isto que o Lula fez quando “pagou a Dívida Externa do Brasil”:

“Quando Lula assumiu o seu primeiro mandato em 2002, a dívida externa era de R$ 212 bilhões, enquanto a dívida interna era de R$ 640 bilhões. Ou seja, o total, dívida externa mais interna, chegou aos inacreditáveis R$ 852 bilhões.

Em 2008, quando Lula assumiu ter pago a dívida, a dívida externa caiu para 0, já a interna chegou a – pasme – R$ 1,4 trilhão. Total da dívida: R$ 1,4 trilhão – 65% do PIB do Brasil. Agora em 2013 passou de R$ 2 trilhões!!

Mas por que nosso endividamento aumentou tanto? Então aí vai a resposta que os petistas que tanto abrem a boca pra falar em “elite e burguesia” não queriam ouvir: Para pagar ao FMI, Lula captou dinheiro junto aos banqueiros, que compraram os títulos da dívida (pagaram ao FMI). O Brasil, que pagava 4% de juros ao ano para o FMI, passou a pagar 19,5% ao ano para os banqueiros, beneficiando-os. Ou seja, os banqueiros, ou a “elite” satanizada pelos petistas passaram a ser donos do Brasil, e que foi entregue por Lula para sustentar uma mentira política. E esses dados são da CPI da Dívida, que ocorreu entre 2009 e 2010 da Câmara dos Deputados, com farta documentação do Ministério da Fazenda e do Banco Central, sendo assim INCONTESTÁVEIS!” 16

Portanto, quem fez o estrago no Brasil não foi a prática Neoliberal, como escreve Goulart, mas a inteligência inestimável do Lula, que governava sob uma ideologia de Esquerda, que pretendia “dividir as riquezas”!

Se quisermos saber como o governo do PT gastava o dinheiro público arrecadado pelos impostos, devemos olhar para estes valores: Juros, amortizações e refinanciamento da dívida: 44,93%; Previdência Social: 22,12%; Transferências a Estados e Municípios: 9,24%; Saúde: 3,91%. O restante, são insignificantes: Educação: 2,98%; Cultura: 0,06%; Esporte: 0,02%; Ciência e Tecnologia: 0,38%.. e por aí vai…17

Finalmente, como um profeta apocalíptico, Gouveia escreve que “essa exploração indevida do 1% sem espaço para o social sem ser na forma de esmola com as necessidades do 99%, o confronto interno será inevitável”: “Esse confronto não será, apesar de possível, necessariamente uma guerra civil; mas virá na forma do aumento da violência do 99% em cima de si mesmo e, transpostas as barreiras de segurança, em cima do 1%: testemunharemos mais assaltos, mais roubos, mais crimes e mais mazelas sociais de que tanto tememos e que também afetará, consequentemente, o 1%”!1

Ou seja, Goulart prevê um aumento na escala de violência de tal forma que acabará, a longo prazo, “afetando os bilionários que estão no topo da lista da riqueza”… mas ele esquece que, muito mais ricos que os multibilionários, são os detentores dos dinheiros, os Bancos Centrais que imprimem dinheiro do nada, sem lastro algum, e os outros bancos que recebem estes dinheiros e especulam de forma absurda, desonesta e desumana!

“No Brasil há uma superconcentração bancária, em que os 10 maiores bancos detêm 85% de todo o sistema financeiro brasileiro. O Brasil é dominado por um oligopólio de cinco bancos (chamados doravante de G5 – Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, CEF e Santander) que foram favorecidos pela hiperinflação na década de 80 e depois foram novamente favorecidos pelos juros mais altos do mundo, que prevalece até hoje. Nos últimos 16 anos, nos dois mandatos de FHC e dois mandatos de Lula, os cinco maiores bancos cresceram em 1.260% nos ativos (todas as riquezas em poder dos bancos, seus e de terceiros). Isto é, um crescimento de 80% ao ano! Os lucros cresceram 1.575% nos últimos 16 anos, uma média de 121% ao ano! Isto significa que, a cada ano, os bancos dobram seus lucros de forma continuada há 16 anos.  Boa parte dessa riqueza vem do parasitismo da Dívida Interna Pública, em que os bancos ganharam R$ 146 bilhões de reais em 2010, somente com agiotagem dessa dívida que já chega a R$ 2,5 trilhões de reais, quase igual a toda a riqueza produzida em um ano no Brasil. Para se ter uma ideia, a quantia que os banqueiros ganharam com juros da Dívida Pública é maior do que tudo que o Governo Lula gastou com Saúde, Educação, Bolsa Família e Reforma Agrária no ano de 2010.”18

Para concluir esta reflexão, dois resumos de notícias recentes sobre bancos particulares do nosso Brasil varonil:

O Itaú Unibanco anunciou nesta terça-feira (2) que registrou lucro líquido de R$ 5,518 bilhões no segundo trimestre de 2016, depois de atingir R$ 5,184 bilhões nos três primeiros meses do ano: um aumento de 6,4%.19

O lucro do banco Bradesco recuou no primeiro trimestre de 2016, segundo balanço divulgado nesta quinta-feira (28). No período, a instituição registrou ganho de R$ 4,121 bilhões – resultado 5,3% abaixo do obtido no quarto trimestre de 2015 e 2,9% inferior ao lucro informado nos três primeiros meses do ano passado.20

Finalmente, para completar a opinião ingênua de Goulart em relação à “distribuição de riquezas”, um comentarista simpatizante de Goulart, escreveu: “Sim, não existe mais esquerda ou direita. O mundo continua dividido entre os solidários e os egoístas. Como sempre.” Ao que outro respondeu: “Solidário com dinheiro dos outros é fácil, né? kkkk”1

Paulo Maciel, 10/09/2016

Fontes:

  1. https://www.ocafezinho.com/2016/09/02/o-golpe-e-bem-mais-complexo-que-uma-briga-entre-esquerda-e-direita/
  2. http://g1.globo.com/pernambuco/eleicoes/2014/noticia/2014/06/apos-xingamentos-lula-ve-risco-de-campanha-eleitoral-se-tornar-violenta.html
  3. https://drpaulomaciel.wordpress.com/sobre/quem-e-a-elite-brasileira-tao-ferozmente-atacada-pelo-pt/
  4. http://www.cartacapital.com.br/politica/voce-sabe-o-que-e-o-foro-de-sao-paulo-7773.html
  5. http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil/america-latina/conheca-o-foro-de-sao-paulo-o-maior-inimigo-do-brasil/
  6. https://pt.wikipedia.org/wiki/Deng_Xiaoping
  7. https://filosofonet.wordpress.com/2015/10/20/estado-e-neoliberalismo/
  8. https://www.significados.com.br/neoliberalismo/
  9. https://drpaulomaciel.wordpress.com/sobre/quem-e-a-elite-brasileira-tao-ferozmente-atacada-pelo-pt/5-os-ladroes-2/
  10. http://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/2015/02/veja-o-que-sobrou-do-imperio-de-eike-batista.html
  11. http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/01/160118_riqueza_estudo_oxfam_fn
  12. http://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/2016/03/veja-lista-dos-homens-mais-ricos-do-mundo-em-2016-segundoforbes.html
  13. http://www.suapesquisa.com/economia/g20.htm
  14. https://pt.wikipedia.org/wiki/Deng_Xiaoping
  15. http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1696
  16. https://www.facebook.com/notes/armando-fontoura/a-grande-mentira-do-pagamento-da-d%C3%ADvida-externa/560605500652239/
  17. https://drpaulomaciel.wordpress.com/sobre/quem-e-a-elite-brasileira-tao-ferozmente-atacada-pelo-pt/os-ladroes-1/
  18. http://www.ilaese.org.br/wp-content/uploads/2012/10/Grandes-bancos-brasileiros-parasitas-do-Brasil.pdf
  19. http://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/2016/08/lucro-do-itau-unibanco-cresce-para-r-5518-bilhoes-no-2-trimestre.html
  20. http://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/2016/04/lucro-do-bradesco-recua-para-r-412-bilhoes-no-1-trimestre-de-2016.html
Apoie o Cafezinho
Siga-nos no Siga-nos no Google News

Comentários

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site O CAFEZINHO. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Escrever comentário

Escreva seu comentário

Antonio Carlos Lima Conceicao

12/09/2016 - 18h45

“Quando Lula assumiu o seu primeiro mandato em 2002 (…) dívida externa mais interna, chegou aos inacreditáveis R$ 852 bilhões.
Em 2008, quando Lula assumiu ter pago a dívida, a dívida externa caiu para 0, já a interna chegou a – pasme – R$ 1,4 trilhão. Total da dívida: R$ 1,4 trilhão – 65% do PIB do Brasil. Agora em 2013 passou de R$ 2 trilhões!!”
Posto assim parece que o salto se deu da noite para o dia. Compara-se o volume da dívida em 2002 com o volume em 2008, sem considerar o lapso de tempo e sem apontar o que isso representa do PIB.
“O Brasil, que pagava 4% de juros ao ano para o FMI, passou a pagar 19,5% ao ano para os banqueiros, beneficiando-os”.
Mas a dívida externa não era em dólar e teria sido trocada por dívida em reais?
Ter dívida na sua moeda não deixa o país menos vulnerável do que tê-las em dólar?
Com a desvalorização do real ocorrida em 2015, a dívida, se ainda fosse indexada em dólar, não teria crescido muito mais?
Não foram as reservas em volume recorde da era Lula que permitiram essa conversão de dívidas?
O Plano Real não foi bancado na era tucana com juros para atrair dólares e garantir a âncora cambial (e no fim o país ficou quase sem reservas)?
Parte do dinheiro das privatizações não bancaram a os juros?
O que era mais insustentável: endividar o país para manter uma inflação baixa e que estrangulava o crescimento (face as elevadas taxas de juros) ou endividar o país para ampliar ensino superior, habitação popular e o consumo que é o verdadeiro criador de demandas por investimento?

Diogo Romero Vidal Lessa

12/09/2016 - 17h48

Eu não acredito que eu li isso. E eu não acredito que O Cafezinho deu espaço pra esse bando de asneira? Tem algum objetivo didático divulgar esse texto? Confesso que não entendi.

Sérgio Silveira

12/09/2016 - 13h01

Parei de ler quando o autor/leitor Paulo Maciel AFIRMA que:
* “Um erro sério de Gouveia foi dizer que no Neoliberalismo ocorreu a “transferência de dinheiro público (nossos impostos) ao setor privado sem qualquer regulamentação” o que “se provou um equívoco, pois os donos da iniciativa privada o usaram para aumentar suas fortunas pessoais.”
* 1 Não é verdade que “o dinheiro público foi transferido para o setor privado”; como isso seria possível? Quando isso aconteceu como princípio filosófico do Neoliberalismo? No auxílio de Obama ao salvar os bancos americanos na crise de 2008? Isso não faz parte da teoria do Neoliberalismo” ???????
* “O dinheiro conseguido com essas privatizações foi na sua maioria utilizado para manter a cotação do Real ao nível do Dólar, mas não na “transferência de dinheiro público ao setor privado sem qualquer regulamentação” como afirma Gouveia.” ???????
Vender estatais à preço de banana para empresários amigos é o que ?????
Socorrer bancos FALIDOS com DINHEIRO PÜBLICO é o que ?????
Vender as melhores partes e poços da Petrobrás à preço de banana é o que ?????
Não cobrar impostos sobre patrimônio/renda dos ricos é o que ??????
Quis criticar o outro e falou mais besteira…

Antonio Pazó

12/09/2016 - 09h06

“Só os 10 homens mais ricos do mundo em 2016 acumulam U$ 505 bilhões” – Você quis dizer trilhões.

“O Comunismo clássico, ditatorial e sanguinário teve mesmo, o seu fim decretado em 1989” – Lembrar que os regimes de China e URSS eram sistematicamente atacados por darem consciência aos oprimidos. Não vá na onda de Olavo de Carvalho de que a URSS mataram duas vezes e meia sua população senão você pode incorrer no erro de que os comunistas possuem a capacidade de ressuscitar múltiplas vezes.


Leia mais

Recentes

Recentes