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Moniz Bandeira faz uma radiografia do momento político brasileiro

Da Redação do blog O Cafezinho Reproduzimos aqui, com autorização do entrevistado, a publicação do jornal A Tarde da Bahia. Transcrição voluntária da ativista política Camila Govedice. Entrevista de Moniz Bandeira para o Jornal A Tarde de Salvador “Enxergo a Operação Lava-Jato como uma ópera para o entretenimento do povo” Com obras traduzidas para o […]

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Da Redação do blog O Cafezinho

Reproduzimos aqui, com autorização do entrevistado, a publicação do jornal A Tarde da Bahia.
Transcrição voluntária da ativista política Camila Govedice.

Entrevista de Moniz Bandeira para o Jornal A Tarde de Salvador

“Enxergo a Operação Lava-Jato como uma ópera para o entretenimento do povo”

Com obras traduzidas para o inglês, espanhol, alemão, russo e mandarim, publicadas em dezenas de países, o intelectual baiano Luiz Alberto Moniz bandeira é, aos 81 anos, um dos pensadores brasileiros mais respeitados do mundo.

Na semana em que a editora Civilização Brasileira relança dois clássicos do mestre em meio ao centenário da Revolução Russa, A TARDE publica entrevista concedida por e-mail da Alemanha, onde ele vive há muitos anos, sem jamais desviar o olhar lúcido do que acontece na pátria natal.

De que forma o sr. acompanha e participa do processo de tradução das suas obras para línguas tão diferentes do português, como o mandarim?
Esta não pude acompanhar, não falo esse idioma. Mas o tradutor foi um diplomata chinês, o conselheiro Shu Jianping. Ele consultava, às vezes meu filho Egas, que fala, escreve e lê o mandarim. Formação do Império Americano é a minha obra traduzida para o mandarim e publicada pela Editora da Universidade de Renmim da China, uma das três maiores do país. Nos dois primeiros anos, saíram três edições. A terceira, ilustrada, é reimpressa aos milhares. Mas só uma vez tive pagamento. Lá, os livros são baratíssimos.

Qual o impacto na carreira de um intelectual ter obras traduzidas para tantos países?
Nenhum. Já estou a caminho de 82 anos, cheguei ao último nível da carreira, como professor titular da UnB, títulos e condecorações. As traduções e publicações nos países mostram, porém, que o Brasil não possui somente romancistas que se podem projetar internacionalmente; que possui também acadêmicos na área de ciências sociais capazes de escrever obras com interesse mundial, sobre outros países e não só sobre o próprio ou relações bilaterais.
Tenho, como cientista político e historiador, obras sobre a formação do Império Americano, Oriente Médio, países do Cáucaso, reunificação alemã, Argentina e os Estados da Bacia do Prata, Revolução Cubana e América Latina, golpe no Chile etc. Esses temas, que desenvolvo em uma linha de pesquisa da causalidade da expansão imperial dos Estados Unidos, são de interesse universal, têm mercado, quando analisados e escritos com objetividade e baseados em pesquisas.

Toda essa expansão editorial do seu trabalho se traduz em retorno financeiro?
Apenas com a venda de livros acadêmicos, creio que ninguém poderia viver.

Entre os livros que estão sendo traduzidos para outros idiomas destaca-se A Segunda Guerra Fria. Como o senhor avalia hoje as tensões entre EUA e Coreia do Norte, além da guerra na Síria, tendo EUA e Rússia em lados opostos?
Não creio na eclosão de uma guerra entre EUA e Coreia do Norte. Só por uma acidente afigura-me possível. A Coreia do Norte tem enorme poder de retaliar, ainda que não possuísse armas atômicas. Poderia retaliar os EUA, atacando a Coreia do Sul e o norte do Japão com mísseis convencionais, além das bases americanas na região e até causar colapso na economia dos EUA pelos vínculos entre esses países, e, consequentemente, na economia mundial. Os EUA não têm condições de saber onde todos os mísseis da Coreia do Norte se ocultam. E eles só atacam, como fizeram com o Iraque e a Líbia, quando os países se desarmam e não dispõem de poder de retaliação. Essa, aliás é a razão pela qual a Coreia trata de desenvolver mísseis e ogivas nucleares, quanto mais Washington ameaça. Não me parece que Kim-Jong-un pretenda iniciar uma guerra, pois sabe que o país seria devastado. O objetivo principal dele é salvar o regime e a dinastia. Quanto à Síria, o presidente Baschar al-Assad, com o apoio diplomático e militar da Rússia, já ganhou, virtualmente, a guerra contra o Exército Islâmico e outros grupos de terroristas armados e treinados pelos Estados Unidos.

Qual a avaliação que o senhor faz hoje das suas obras sobre a Revolução Russa com cerca de 50 anos e que estão sendo reapresentadas?
Essa 4º edição de O Ano Vermelho é um livro inteiramente novo. Tive de reescrevê-lo totalmente. A 1º edição tornara-se impublicável ao meu ver. Fora escrita nas piores condições da clandestinidade, em que me encontrava ao regressar do exílio no Uruguai. Era uma obra pioneira. Mas, desde então e, sobretudo, a partir dos anos 1980, ocorreu um avanço das pesquisas, com diversas dissertações e teses, inclusive na Bahia, sobre a greve geral de 1919, quando meu tio-avô, Antônio Ferrão Moniz de Aragão, como governador do Estado, apesar das fortes pressões, se recusou a reprimir o movimento e, juntamente com o líder socialista Agripino Nazareth, negociou com os patrões a jornada de oito horas de trabalho e outras reivindicações dos operários. E a greve triunfou. O outro livro – Lenin – Vida e Obra – apenas revisei e ampliei.

A Revolução Russa deixou algum legado positivo para a humanidade?
Claro! O temor de que ela se espraiasse levou o presidente Woodrow Wilson [EUA, 1913 a 1921] a inserir no Tratado de Versailles um capítulo sobre os direitos sociais, obrigatório para todos os signatários, o que reforçou a conquista das reivindicações pelas quais o proletariado do Ocidente havia tempo que lutava. No Brasil, adensou a eclosão das greves ocorridas entre 1917 e 1919 em quase todos os Estados, o que resultou na legislação trabalhista, que atualmente o empresariado industrial e banqueiros tratam de derrogar. Há a mesma tentativa nos mais diversos países, sustentada pelo avanço tecnológico, como a robotização, digitalização, fabricação offshore etc. Não obstante o regime stalinista, que se dissolvia, o fim da União Soviética representou catástrofe, não só geopolítica, mas também social, ao abrir espaço para o neoliberalismo.

Uma mensagem do senhor ao jornalista Paulo Henrique Amorim, em que apontou intervenção militar como única saída para o Brasil, causou rebuliço. O senhor ainda defende esta ideia?
Não se trata de defender a ideia de intervenção militar, mas de prever, vislumbrar a perspectiva que se desdobra, diante da radical divisão da sociedade brasileira, a efervescência do ódio e da intolerância, como nunca antes houve. E aí está a crise institucional com o conflito de poderes, como ocorre entre o Senado e o Supremo Tribunal federal, enquanto a criminalidade se expande, com a desmoralização dos poderes políticos assenhoreados por chefes e membros de organização; o apodrecimento político do país e a falta de um projeto nacional. Porém, o problema não é só a corrupção, que é inerente à república presidencialista, com o financiamento eleitoral, distribuição política de cargos etc. A Operação Lava-Jato é uma ópera para o entretenimento do povo, e na qual o juiz Sérgio Moro e diversos procuradores da república parecem esperar contrato para papel de heróis de Hollywood. Entrementes, o presidente de fato, Michel Temer, entrega o patrimônio nacional aos estrangeiros em termos de sell off, como promoção. E a situação econômica e política cada vez mais se complica. Investimentos estrangeiros não afluem para países em recessão, a não ser para comprar os ativos existentes a baixo custo. assim, todas as condições apontam para uma intervenção militar. Mas as Forças Armadas até hoje sofrem o desgaste do golpe de 1964 e da ditadura que impôs, e o Alto Comando está dividido. E daí que não desejam entrar em uma aventura. Todos sabem como um golpe inicia, mas não como pode terminar. Sobretudo nas atuais circunstâncias em que se encontra o Brasil.

E neste momento de redefinição (ou indefinição) política e econômica no Brasil, qual a expectativa do senhor para os próximos anos no país? O senhor tem otimismo?
O Brasil chegou a um ponto que não permite qualquer previsão. A imagem no exterior é a de um país que afunda na lama. É atualmente visto como republiqueta. Muitos estudantes brasileiros escrevem-me perguntando sobre as possibilidades de estudar na Alemanha. Querem sair do Brasil de qualquer jeito. Não veem futuro. Como pode alguém ser otimista?

O senhor está com projeto de escrever alguma nova obra?
Não. Cada obra que escrevo esgota minha saúde, preciso descansar. Quero voltar a reler romances, peças, poemas, como fazia na adolescência, na Bahia de outrora, onde nasci e me criei, antes de voar pelo mundo e estacionar na Alemanha, pátria de Goethe e de Schiller, de Marx e Engels.

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Wellington Calasans

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Comentários

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Vinicius

26/10/2017 - 10h06

O camarada Moniz Bandeira presente, sempre nos inundando com o seu brilhantismo e as suas análises sóciopolíticas de altíssima envergadura.


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