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Maurício Juvenal: por que inovar em pesquisa eleitoral gera tanta polêmica?

Antes de reproduzir o texto de Juvental, segue uma nota do Cafezinho: Por respeito ao debate democrático e a todo mundo que trabalha com pesquisas, publicamos abaixo o artigo de Maurício Juvenal, diretor da Badra Comunicação. Fizemos uma crítica a essa pesquisa em post publicado há algumas semanas, e por isso achamos importante publicar o […]

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Antes de reproduzir o texto de Juvental, segue uma nota do Cafezinho:

Por respeito ao debate democrático e a todo mundo que trabalha com pesquisas, publicamos abaixo o artigo de Maurício Juvenal, diretor da Badra Comunicação. Fizemos uma crítica a essa pesquisa em post publicado há algumas semanas, e por isso achamos importante publicar o contraponto do diretor do próprio instituto.

Queríamos ainda fazer algumas considerações.

É muito perigoso que se crie uma cultura oligopólica no mercado de pesquisas. Quanto mais diversidade, melhor.

É mais seguro, para o regime democrático, que haja bastante diversidade. Neste sentido, parabenizamos o trabalho e o esforço da Badra, que oferece um trabalho sobre o qual não temos críticas quanto a qualidade. Ou pelo menos, não ainda, antes que as urnas possam confirmar ou rechaçar a precisão de cada pesquisa. A Badra publica as pesquisas com gráficos bastante ilustrativos e elegantes, e, o que sempre considero essencial, traz sempre dados estratificados.

Considero ainda que é normal que institutos de pesquisa trabalhem para partidos políticos. Partidos políticos contratam profissionais e empresas, e seria antidemocrático criminalizar ou discriminar quem trabalha em prol da democracia.

Dito isso, me parece óbvio que é desaconselhável, para um instituto, fazer pesquisas abertas, direcionadas ao público, ou que sejam pagas – direta ou indiretamente – por um partido político que participa da mesma eleição mensurada, ou que sejam realizadas ao mesmo tempo em que o instituto presta serviços de outra natureza para o partido.

Entretanto, em respeito ao debate democrático, e ao profissionalismo, e para incentivar a diversidade no mercado de pesquisas, damos a palavra ao diretor da Badra, que nos solicitou espaço para defender seu ponto de vista:

Por que inovar em pesquisa eleitoral gera tanta polêmica?

Por Maurício Juvenal, diretor da Badra

Vem eleição, vai eleição, os levantamentos estatísticos de dados, as famosas e faladas pesquisas eleitorais, tornam-se assunto não só entre os candidatos e campanhas, mas também de parcela considerável do eleitorado. Todo mundo acaba virando um pouco especialista no tema, como técnico da seleção.

A Badra Comunicação foi a primeira empresa em 2020 a registrar, realizar e divulgar pesquisa de intenção de voto para a prefeitura de São Paulo. Ainda era janeiro. De lá para cá, realizou mais de uma dezena desses levantamentos sem que houvesse, até mais recentemente, algum pedido de impugnação ao registro. Isso mudou no dia 27/10/2020, quando uma liminar suspendeu a divulgação dos resultados de uma das pesquisas, com base no pedido de dois candidatos. O Juízo, que até o momento não fez nenhum juízo de valor, abriu prazo para contestação e o processo ainda aguarda julgamento, ou seja, não houve decisão nem sentença.

À parte o direito legítimo de questionamento por parte de qualquer cidadão e o devido rito legal, que deve ser respeitado sempre, tomo a liberdade de propor uma discussão saudável e técnica sobre esses argumentos que embasaram o pedido de liminar. O principal deles: a posição de uma pergunta, antecedendo a que trata da intenção de voto estimulada, como possível estratégia de induzir a resposta, do eleitor entrevistado, em favor de Márcio França, candidato derrotado em 2018 e atual candidato ao Executivo paulistano.

A pergunta objeto da celeuma: No segundo turno da eleição de 2018, para o Governo do Estado, você votou em João Dória ou Márcio França? E a seguir: Se a eleição para prefeito de São Paulo fosse hoje, e os candidatos fossem estes [momento em que um disco com os 14 nomes dos candidatos era entregue ao entrevistado], em quem você votaria?

De imediato, duas questões merecem mais atenção. Primeiramente, em ambas as perguntas, eram apresentadas ao leitor todas as opções correspondentes, ou seja, tanto os candidatos anteriores ao governo do estado como os atuais à prefeitura, sem qualquer possibilidade de favorecimento. Acreditar que a questão anterior induziria positivamente a resposta seguinte, é o mesmo que dizer que o eleitorado paulistano não tem inteligência suficiente para não ser manipulado. É, na verdade, um ataque ofensivo à capacidade de opinião própria do eleitor.

Em segundo lugar, vale a pena examinar a inferência de que a sequência proposta beneficia largamente um dos atuais candidatos à prefeitura. Idêntica alegação poderia ser feita em sentido contrário, afirmando que essa sequência prejudica o mesmo candidato, uma vez que historicamente o eleitor, em função daquilo que se rotulou chamar de voto útil, não gosta de votar em candidato derrotado.

A verdade é: nem uma coisa nem outra. O que se propôs foi uma arquitetura da informação inovadora, e, portanto, inusual, em termos de “padrões vigentes”, que privilegia identificar como se moveu o sentimento do eleitor paulistano desde o último pleito. Quem votou em Dória, como está votando agora? Quem votou em França, como está votando agora? A intenção foi arejar a maneira de realizar a pesquisa, dotá-la de mais criatividade, para que, traduzida em números, em análise estatística, possibilitasse a composição de panoramas e compreensões diversas. Sempre e antes de tudo, prezando por coletar informação qualificada, do tipo interpretativa, que viabilize ao leitor e eleitor traduzir e formar seu próprio juízo de valor, quando divulgada.

Vale registrar que outro argumento apresentado para o pedido de impugnação foi o de uma “suposta” ou “flagrante” relação entre a empresa e o candidato. Frágil e desproporcional argumento, acertadamente não considerado pelo Juízo, que se limitou a apontar possível desacordo com a legislação e a jurisprudência eleitoral, no tocante ao plano amostral (outra boa discussão técnica que merece um capítulo à parte) e à ordem das perguntas do questionário.

Muito correto esse posicionamento da Justiça Eleitoral, ele nos lembra que pouco importa quem executa o levantamento, mas sim, se o levantamento é executado dentro e a partir das boas normas técnicas, éticas e metodológicas, bem como em atenta observância ao arrazoado legal vigente. Atendidos tais aspectos, que asseguram por si só a neutralidade e a imparcialidade do levantamento estatístico, não há por que se apontar ligações de ordem pessoal como indutoras de um possível comportamento fraudulento por parte do instituto. Seria o mesmo que dizer que Pablo Picasso só foi considerado um dos maiores pintores do século 20 porque era amigo do presidente da república espanhola, ou que um candidato sempre terá tratamento diferenciado da cobertura jornalística em função do quanto investe em anúncios publicitários em determinado veículo ou do quanto os profissionais desse veículo se alinham ideologicamente a ele. Não é razoável nem correto.

O tipo de pesquisa que a Badra se propõe a fazer, muito além de “pensar fora da caixa”, tem por roteiro justamente um dos tantos pensamentos de Picasso: queremos “penetrar sempre mais fundo no conhecimento do mundo e dos homens, a fim de que esse conhecimento nos liberte cada dia mais”.

Pesquisa de opinião pública não pode se aprisionar ao conceito de ser simplesmente uma fotografia do momento, como os institutos adoram representar. Ou de fato elas servem para medir intenções, e acertam os resultados, ou serão simplesmente exercícios despretensiosos de coleta e divulgação de dados, protegidos por largos percentuais de indecisos e margens de erro cada vez maiores. Reconhecemos e prezamos muito a tradição dos grandes institutos de pesquisa eleitoral e suas metodologias consolidadas, porém também estamos atentos à crise que afeta o setor não só no Brasil, por conta da dificuldade de acertar os resultados eleitorais. Com todo respeito, acreditamos que inovar – assegurando sempre toda ética, transparência e lisura – pode funcionar para todos. Acertará mais, quem ousar e testar mais.

Para além da análise, vamos mostrar o último levantamento feito pela Badra que mostra números diferentes das pesquisas tradicionais do Ibope e Datafolha.

Na pesquisa, o atual prefeito Bruno Covas (PSDB) mantém sua liderança com 28,2%, seguido por Celso Russomano (Republicanos) com 18,4%, Márcio França (PSB) com 12,7% e Guilherme Boulos (PSOL) com 8,5%.

Fonte: Badra Comunicação

Já no quesito rejeição, o candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, Celso Russomano (Republicanos) lidera isolado com 24,5%, seguido por Bruno Covas (PSDB) com 18,2% e Jilmar Tatto (PT) com 11,6%.

Fonte: Badra Comunicação

O Badra ouviu 1.500 eleitores da cidade de São Paulo entre os dias 5 e 6 de Novembro, com margem de erro de 2,5 pontos porcentuais para mais ou para menos e índice de confiança de 95%.

Maurício Juvenal é jornalista, especialista em Pesquisa Social e diretor da Badra Comunicação

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Comentários

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Felipe

11/11/2020 - 14h41

Tive a curiosidade de abrir o powerpoint da pesquisa. Me chamou a atenção os locais onde as perguntas foram realizadas.
Na zona norte e oeste, foram realizadas na região de Santana e Lapa, na zona sul em Santo Amaro.
Falta muito o cheiro da periferia, não vi Brasilandia, Cachoeirinha, Tremenbé, Peri, Pirituba, Taipas, Perus, Campo Limpo, Cidade Dutra, Capão Redondo, Parelheiros.
Enfim, cadê a periferia?


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