Na véspera da Cúpula da Amazônia, três lideranças indígenas foram baleadas no Pará nesta segunda-feira (7). A cerca de 100 km de onde o presidente Lula (PT) está, o povo Tembé sofre violência desde a última semana.
Na última sexta-feira (4), o primeiro indígena foi ferido. Três dias depois, nesta segunda, mais um homem e duas mulheres foram atingidos por tiros, além de outros dois indígenas estarem desaparecidos, indica a Comissão Pastoral da Terra.
As polícias Civil e Militar do Pará ainda não têm informações sobre o início do conflito. No entanto, as lideranças tembé acusam uma empresa de segurança privada da BBF (Brasil BioFuels) de provocarem os ataques.
Para o povo, o atentado foi motivado pela denúncia feita pelo cacique após o primeiro conflito na semana passada, em Belém. Ele informou, em lágrimas, que seu filho criança foi alvejado nas partes íntimas durante o ataque.
Além de confusões, correria e tratores incendiados, imagens de segurança mostram manifestantes com pedaços de pau depredando a guarita de entrada da empresa de cultivo de dendê e produção de biocombustíveis. Na situação, um dos indígenas atingidos pelos tiros acabou preso pela PM do Pará, sem motivos explícitos. Segundo os relatos, o homem detido estava sendo atendido no hospital quando foi levado pela polícia. Sem receber socorro médico, um grupo de moradores se concentrou na tarde de segunda na porta da delegacia pedindo a soltura imediata e o atendimento ao indígena baleado.
“Foi atingido com um tiro nas costas, na região do ombro, estava recebendo atendimento no hospital e a polícia o levou para a delegacia, para prestar depoimento. Chegando lá, ele foi algemado, colocado em um camburão e levado preso”, contou a presidente da Associação Indígena Tembé de Tomé-Açu, Miriam Tembé, em entrevista à Folha de S. Paulo. “A gente se sente muito afrontado. Ele foi baleado, é uma vítima e foi levado preso”
Por outro lado, os indígenas argumentam que faziam o protesto pacífico para cobrar agilidade nas investigações do primeiro caso de violência registrado na sexta-feira, contra o primeiro jovem baleado. As lideranças indicam, ainda, que os ataques à comunidade são recorrentes há anos.
No último final de semana, os representantes do povo tembé foram a Belém para denunciar a situação, quando acontecia o evento preparatório para a Cúpula. Nesta segunda, o protesto foi em Tomé-Açu, também no Pará.
“Desde 2009, reivindicamos a ampliação de nossos territórios. E até então não tivemos resposta. Por não termos resposta, fazemos nossa autodemarcação, reocupando o nosso território. De 2014 para cá, o conflito ficou mais acirrado”, explicou Miriam.
O grupo indígena esperava receber nesta tarde representantes do CNDH (Conselho Nacional de Direitos Humanos), da ONU (Organização das Nações Unidas), do Ministério Público do Trabalho, da Human RIghts Watch, da Comissão Pastoral da Terra e do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) para discutir sobre os conflitos na região.
Em maio, o cacique Lúcio Gusmão, uma das principais lideranças contra a BBF, foi baleado na cabeça. Em dezembro de 2022, seguranças contratados pela empresa foram flagrados apontando armas de fogo para os indígenas. Além disso, os tembé foram um dos povos que mais sofreram com o aumento da violência contra indígenas às vésperas das eleições presidenciais no ano passado.
Em nota, a BBF indicou que os conflitos da semana passada e o desta semana eram para defender o patrimônio e os trabalhadores da empresa, uma vez que a área privada da multinacional havia sido invadida e que a equipe de segurança agiu para conter as ações dos invasores e defender os trabalhadores.
Segundo a empresa, na sexta “em invasores armados com terçados, facas, armas de fogo e armas caseiras entraram em conflito com trabalhadores, incendiando e destruindo as instalações físicas da fazenda, maquinários e equipamentos da empresa”. Já na segunda, “trinta invasores armados ameaçaram e agrediram trabalhadores da empresa, antes de incendiar dezenas de tratores, maquinários agrícolas e edificações da companhia”.
A Procuradoria-Geral da República pediu informações à Polícia Federal e à Funai sobre as providências dos casos de violência, mas ainda não houve manifestação de nenhum dos órgãos.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, comentou sobre a situação: “É necessário que haja investigação – obviamente, a atuação do Poder Judiciário para que não haja violência – e a negociação para a solução da controvérsia em torno da questão fundiária. Nesse momento, a atuação do Ministério da Justiça é uma atuação de acompanhamento daquilo que esses outros órgãos estão providenciando”, afirma.
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