A pressão por sanções culturais contra Israel cresce após o primeiro-ministro espanhol criticar a participação do país no Eurovision
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, defendeu publicamente nesta segunda-feira (19) que Israel seja excluído do Festival Eurovisão da Canção enquanto mantiver sua campanha militar em Gaza. A declaração foi feita durante a apresentação do relatório “Os setores culturais e criativos na Espanha”, em que Sánchez comparou a situação israelense às sanções impostas à Rússia após a invasão da Ucrânia em 2022, que resultou no banimento do país de competições internacionais, incluindo o Eurovision.
“Não podemos aceitar dois pesos e duas medidas”
Sánchez foi enfático ao afirmar que a comunidade internacional deve ser consistente na aplicação de sanções culturais a países envolvidos em conflitos armados.
“Se a Rússia foi obrigada a se retirar de competições internacionais e não pôde participar do Eurovision, Israel também não deveria. Não podemos permitir dois pesos e duas medidas na cultura”, declarou o chefe do governo espanhol.
Ele ainda reforçou que a Espanha deve manter uma postura firme na defesa do direito internacional e dos direitos humanos, independentemente das pressões políticas.
Polêmica no Eurovision 2024 e posicionamento da TV espanhola
As declarações de Sánchez ocorreram dois dias após a final do Eurovision 2024, realizada em Malmö, Suécia, onde Israel ficou em segundo lugar, atrás apenas da Áustria, mas liderando a votação popular online. A participação israelense foi marcada por protestos dentro e fora do evento, com críticos acusando o país de usar o festival para promover uma imagem positiva enquanto prossegue com a ofensiva em Gaza.
A RTVE, emissora estatal espanhola responsável pela transmissão do evento, teria sido advertida pelos organizadores para evitar comentários sobre o conflito durante a final, depois que seus apresentadores mencionaram a guerra nas semifinais. Em resposta, a rede exibiu uma mensagem em sua transmissão pouco antes da final:
“Diante dos direitos humanos, o silêncio não é uma opção. Paz e justiça para a Palestina.”
Reações e possíveis consequências
A posição de Sánchez deve reacender o debate sobre a politização do Eurovision, que tradicionalmente se apresenta como um evento apartidário e de união pela música. Em 2022, a União Europeia de Radiodifusão (UER), organizadora do festival, baniu a Rússia sob alegação de que sua participação poderia manchar a reputação da competição. Agora, a pressão para que Israel enfrente medidas semelhantes tende a crescer, especialmente entre países europeus críticos à ofensiva em Gaza.
No entanto, a UER já havia afirmado anteriormente que não há motivos para excluir Israel, argumentando que o conflito no Oriente Médio não justifica uma suspensão cultural. Ainda assim, a declaração de um líder europeu de peso como Sánchez pode influenciar futuras discussões sobre o tema.
Cenário político e repercussão internacional
A fala de Sánchez alinha-se à postura progressista de seu governo, que já havia reconhecido o Estado da Palestina em 2023 e criticado publicamente as ações israelenses em Gaza. A medida também reflete o crescente descontentamento na Europa em relação à guerra, que já dura sete meses e deixou mais de 34 mil palestinos mortos, segundo autoridades locais.
Enquanto isso, Israel mantém sua defesa, alegando que a operação militar visa eliminar o Hamas e garantir a segurança do país após os ataques de 7 de outubro. O governo israelense ainda não se manifestou sobre as declarações de Sánchez, mas a polêmica deve seguir reverberando nos próximos dias.
Um festival dividido pela política?
O Eurovision, que há décadas se orgulha de ser um espaço de celebração musical e diversidade, encontra-se novamente no centro de uma disputa geopolítica. Se em 2022 foi a Rússia, agora é Israel o alvo de críticas por sua participação.
A intervenção de Pedro Sánchez coloca a Espanha na vanguarda desse debate, pressionando por uma postura mais dura contra países em conflito. Resta saber se a UER revisará sua posição ou se manterá a decisão de não misturar política e música.
Enquanto isso, a mensagem da RTVE ecoa o sentimento de muitos espectadores: “Paz e justiça para a Palestina” — um chamado que, para milhões, não pode ser ignorado, nem mesmo no palco do Eurovision.
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