Pesquisadores do Instituto de Automação da Academia Chinesa de Ciências anunciaram o desenvolvimento de um robô automatizado para implantação de microeletrodos, denominado CyberSense. A inovação representa um avanço na área de interface cérebro-computador (ICC) e foi divulgada pelo Science and Technology Daily na quinta-feira (23).
O equipamento é projetado para inserir microeletrodos ultrafinos e flexíveis — com espessura comparável à de um fio de cabelo — em cérebros de animais de forma precisa e controlada. A tecnologia pretende contribuir tanto para pesquisas em neurociência quanto para o aprimoramento de sistemas de ICC implantáveis.
A implantação robótica de microeletrodos é uma área interdisciplinar que integra tecnologias como neurocirurgia, inteligência artificial, engenharia de materiais, eletrônica e decodificação neural. O processo exige ferramentas capazes de atuar em estruturas biológicas sensíveis, como o tecido cerebral, que apresenta fragilidade extrema.
Yu Shan, pesquisador do instituto, explicou que os eletrodos utilizados atualmente são “mais finos e flexíveis do que um fio de cabelo”, característica que reduz o trauma cirúrgico e o risco de reações imunológicas. “Mas quando se trata de conectar delicadamente algo tão frágil quanto o tecido cerebral — macio como tofu —, isso está além da capacidade das mãos humanas. É aí que um ‘cirurgião-chefe’ robótico se torna essencial”, afirmou Yu.
Segundo os pesquisadores, o CyberSense foi projetado para suprir essa demanda com alto grau de automação. O sistema é capaz de implantar grandes quantidades de eletrodos com precisão espacial, controlando o tempo do procedimento e desviando de vasos sanguíneos durante a inserção.
Qin Fangbo, pesquisador associado e coordenador do projeto, destacou que o robô é compatível com diversos modelos de microeletrodos flexíveis e pode ser usado em implantações corticais em animais, incluindo roedores e primatas não humanos.
As características do CyberSense, segundo Qin, aumentam significativamente a taxa de sucesso e a estabilidade dos implantes, além de ampliarem o escopo das pesquisas em BCI (interface cérebro-computador) e eletrofisiologia.
O equipamento já foi utilizado em implantações realizadas em parceria com o Instituto de Semicondutores da Academia Chinesa de Ciências e com a empresa We-Linking, com sede em Shenzhen. Esses procedimentos fazem parte de um esforço conjunto para desenvolver novas tecnologias de monitoramento e interação neural.
A iniciativa também se insere em uma estratégia nacional voltada à ampliação da autonomia tecnológica da China em áreas consideradas estratégicas. A expectativa dos pesquisadores é de que o CyberSense contribua para o avanço do conhecimento sobre o funcionamento cerebral e para a criação de sistemas de ICC com aplicação futura em reabilitação, comunicação assistida e controle de dispositivos por meio da atividade neural.
Ainda de acordo com o Science and Technology Daily, o instituto planeja expandir a linha de equipamentos CyberSense, adaptando o sistema para diferentes modelos experimentais e ampliando as possibilidades de estudo em neurotecnologia.
Os pesquisadores afirmam que a automação em procedimentos de implantação é um passo fundamental para a consolidação da interface cérebro-computador como uma ferramenta de uso amplo, tanto em laboratórios quanto, futuramente, em aplicações clínicas.
Com o uso do CyberSense, o processo de inserção dos eletrodos se torna mais eficiente, minimizando variáveis manuais e permitindo controle preciso sobre profundidade e posicionamento. A redução do risco de danos ao tecido cerebral é apontada como um dos principais ganhos do novo sistema, essencial para garantir a fidelidade dos sinais neurais captados e a durabilidade dos implantes.
A pesquisa integra uma linha de desenvolvimento que acompanha o aumento global do interesse por tecnologias de interação neural. Diferentes centros de pesquisa, incluindo universidades e empresas do setor biomédico, têm investido em dispositivos implantáveis para fins de controle motor, comunicação alternativa e exploração de funções cerebrais.
A aplicação em animais, como indicam os autores, tem o objetivo de validar a eficácia da tecnologia e permitir o refinamento dos métodos de inserção e análise dos sinais cerebrais obtidos. O uso em humanos ainda depende de novos estágios de testes, regulamentação e certificação.
Com a criação do CyberSense, a Academia Chinesa de Ciências reforça sua posição nas pesquisas em neuroengenharia e biotecnologia. A instituição afirma que continuará investindo em plataformas robóticas e em soluções integradas para ampliar as aplicações da ICC e aprofundar o entendimento das atividades cerebrais em diferentes espécies.
Com informações da Global Times
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