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Algoritmo chinês resiste e desafia pressão de Trump

Pequim confirma que TikTok dos EUA seguirá usando tecnologia chinesa enquanto Trump adia prazo e promete acordo O futuro do TikTok nos Estados Unidos continua sendo palco de uma disputa que mistura negócios bilionários, tecnologia de ponta e tensões geopolíticas entre Washington e Pequim. Nesta semana, autoridades chinesas confirmaram que, mesmo com a cisão exigida […]

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Autoridades chinesas confirmam que o algoritmo original seguirá operando nos EUA, mesmo sob exigência de cisão.
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Pequim confirma que TikTok dos EUA seguirá usando tecnologia chinesa enquanto Trump adia prazo e promete acordo


O futuro do TikTok nos Estados Unidos continua sendo palco de uma disputa que mistura negócios bilionários, tecnologia de ponta e tensões geopolíticas entre Washington e Pequim. Nesta semana, autoridades chinesas confirmaram que, mesmo com a cisão exigida pelo governo americano, o aplicativo de vídeos curtos seguirá operando com o algoritmo original desenvolvido pela empresa-mãe ByteDance, sediada em Pequim.

A informação foi dada por Wang Jingtao, vice-chefe do regulador de segurança cibernética da China, que afirmou que autoridades dos dois países chegaram a uma estrutura de entendimento que inclui “licenciamento do algoritmo e outros direitos de propriedade intelectual”. Ele explicou que a ByteDance ficará encarregada de gerenciar a segurança de dados e o conteúdo produzido pelos usuários americanos do TikTok, embora não tenha detalhado como esse processo ocorrerá na prática.

Enquanto isso, em Washington, o presidente Donald Trump voltou a adiar o prazo para a conclusão da venda da operação americana do TikTok. A medida amplia o espaço de negociação com investidores e mantém a plataforma ativa nos EUA por mais algumas semanas. A nova data-limite foi transferida para meados de dezembro, segundo ordem executiva assinada na terça-feira. O republicano pretende selar os detalhes finais do acordo em uma conversa direta com o presidente chinês, Xi Jinping, marcada para sexta-feira.

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O coração da polêmica está no sofisticado algoritmo de recomendação do TikTok, considerado uma das principais razões para o enorme sucesso do aplicativo entre jovens e influenciadores digitais. Essa tecnologia, baseada em inteligência artificial, é capaz de personalizar de forma quase imediata a exibição de vídeos para cada usuário, criando uma experiência viciante e altamente envolvente.

No entanto, a mesma inovação que impulsionou a popularidade global do TikTok também acendeu alertas nos EUA. Autoridades americanas temem que o algoritmo possa ser manipulado para difundir propaganda política chinesa ou conteúdos capazes de acirrar divisões sociais dentro do país. Por isso, Washington insiste que qualquer arranjo empresarial preserve a soberania digital dos dados e reduza a influência de Pequim sobre o que os usuários americanos consomem na plataforma.

A China, por sua vez, não abre mão do controle sobre sua tecnologia mais valiosa. Ainda no governo Trump, Pequim chegou a impor restrições à exportação de algoritmos, justamente para evitar que o TikTok fosse vendido sob pressão e com perda de propriedade intelectual. O impasse transformou o aplicativo, antes visto apenas como uma febre juvenil, em peça central de um jogo de poder que ultrapassa fronteiras digitais e chega ao coração das disputas comerciais e estratégicas entre as duas maiores economias do mundo.

Segundo um investidor asiático ligado à ByteDance, a nova empresa que assumirá as operações americanas do TikTok deverá utilizar ao menos parte do algoritmo chinês, mas passará a treiná-lo com base em dados coletados apenas nos Estados Unidos. Essa solução seria um meio-termo entre os interesses dos dois lados: manter a eficiência tecnológica que sustenta o sucesso do aplicativo, ao mesmo tempo em que tenta responder às exigências de soberania digital feitas pela Casa Branca.

Ainda assim, muitas dúvidas permanecem. Não está totalmente claro até que ponto a matriz chinesa manterá poder real sobre a tecnologia utilizada nos EUA ou se a parceria se resumirá a um licenciamento controlado. A ausência de respostas concretas reforça a incerteza sobre o futuro do TikTok no mercado americano e mantém em aberto uma disputa que, mais do que empresarial, simboliza o choque entre segurança nacional, inovação tecnológica e diplomacia internacional.

“O objetivo de Pequim é um acordo de licenciamento”, afirmou um investidor asiático próximo às negociações. Segundo ele, a China deseja reforçar a imagem de potência exportadora de tecnologia para os Estados Unidos e o restante do mundo. Do outro lado, um assessor americano envolvido nas tratativas não poupou ironia ao comentar os bastidores: “É a negociação definitiva do Taco”, disse, referindo-se à sigla criada por críticos de Donald Trump — “Trump sempre se acovarda”. E completou: “Depois de tudo isso, a China fica com o algoritmo”.

As falas resumem o clima de tensão em torno do destino do TikTok. Depois de dois dias intensos de reuniões em Madri, autoridades americanas e chinesas chegaram, na última segunda-feira, a um acordo-quadro que mantém a plataforma chinesa funcionando em território norte-americano. A medida garante fôlego à ByteDance, que vinha enfrentando a ameaça de proibição caso não aceitasse ceder sua operação nos EUA a investidores locais.

Apesar da legislação americana determinar a alienação obrigatória da operação do TikTok ou sua retirada completa do país, o governo Trump interveio repetidas vezes para encontrar uma saída negociada. O presidente argumenta que o aplicativo, popular entre milhões de jovens, não pode simplesmente desaparecer, mas que também não pode permanecer vulnerável à influência de Pequim.

A pressão aumentou depois que os dois principais negociadores comerciais da China, He Lifeng (vice-primeiro-ministro) e Li Chenggang (vice-ministro do Comércio), sinalizaram que Pequim estaria disposta a autorizar a exportação do algoritmo do TikTok. Do lado americano, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, declarou que a versão desmembrada da empresa seria controlada por investidores dos EUA, mas ainda preservaria algumas “características chinesas”.

Paralelamente, fontes próximas à ByteDance revelaram que o TikTok já trabalha no desenvolvimento de uma versão independente do aplicativo para o mercado americano, mas busca garantir que o conteúdo produzido pelos usuários dos Estados Unidos continue acessível no restante do mundo — e vice-versa. Essa estratégia mostraria que, mesmo diante da divisão, a plataforma não pretende perder sua força global.

Antes do prazo estabelecido em abril, a Casa Branca esteve perto de fechar uma proposta que criaria uma nova empresa nos EUA, apoiada por aportes de investidores privados. O plano incluía gigantes do Vale do Silício como Andreessen Horowitz e Silver Lake, que ficariam com cerca de 50% da operação, enquanto investidores institucionais como General Atlantic, Susquehanna e KKR deteriam aproximadamente 30%.

Outro ponto importante do esboço de acordo era a participação da Oracle. A empresa de tecnologia já hospeda os dados dos usuários americanos em servidores locais e teria ampliado seu papel como guardiã da privacidade digital. Pelo arranjo, a Oracle receberia uma pequena fatia acionária no TikTok dos EUA e assumiria responsabilidade direta pela segurança das informações.

Trump, por sua vez, confirmou na terça-feira que seu governo mantém conversas com “um grupo de empresas muito grandes” interessadas na compra da plataforma. No entanto, fontes próximas à negociação revelaram que o consórcio de Wall Street, formado por cerca de uma dúzia de investidores em abril, encolheu após a saída de players relevantes, como a Blackstone. Ainda assim, novos investidores de peso estariam em discussões para assumir parte da fatia.

A grande questão, no entanto, segue sendo o algoritmo. Analistas apontam que a legislação de desinvestimento ou proibição, sancionada pelo então presidente Joe Biden no ano passado, determina que a tecnologia de recomendação precisa estar totalmente sob operação americana. Isso colocaria em xeque qualquer arranjo que envolva apenas licenciamento da ByteDance, como Pequim deseja.

Mas há uma brecha: a própria lei permite que o presidente dos Estados Unidos avalie se a cisão promovida pela ByteDance atende às exigências legais. Isso dá a Donald Trump, novamente no centro do tabuleiro, o poder de aprovar ou barrar a negociação — uma decisão que pode definir não apenas o futuro do TikTok nos EUA, mas também o rumo das relações tecnológicas e comerciais entre as duas maiores potências do planeta.

Com informações de Financial Times*

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