Pezeshkian confronta EUA e Israel e reafirma que o país nunca buscou a bomba nuclear.
Na abertura da 80ª Assembleia Geral da ONU, o presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, trouxe à tribuna um discurso que escancarou as contradições da ordem internacional. A fala teve como eixo central a denúncia dos massacres em Gaza e a reafirmação de que o Irã nunca buscou e jamais buscará fabricar uma bomba nuclear.
O dirigente iraniano evocou tradições religiosas e filosóficas para lembrar o princípio ético universal: não fazer aos outros aquilo que não se deseja para si mesmo. A partir daí, questionou: seria esse o estado atual do mundo? Nos últimos dois anos, disse ele, a humanidade assistiu a genocídio em Gaza, destruição no Líbano, devastação da Síria, ataques ao Iêmen e até assassinatos seletivos de cientistas iranianos, sempre sob a justificativa hipócrita de “autodefesa”.
Pezeshkian acusou diretamente Israel e os Estados Unidos de violarem o direito internacional ao bombardear cidades iranianas em junho, justamente quando Teerã buscava negociar soluções diplomáticas. Para o presidente, os ataques não só assassinaram civis, crianças e intelectuais, como feriram de morte a confiança internacional e o próprio horizonte de paz na região. A ofensiva, lembrou, contou com total impunidade, sustentada pelo poderio militar e pela cumplicidade das potências ocidentais.
Em tom firme, o líder iraniano destacou que a população resistiu unida, apesar de décadas de sanções e bloqueios econômicos. “O povo do Irã nunca se curvou a agressores”, declarou, agradecendo a solidariedade de governos e organizações que se posicionaram contra os ataques. Para ele, os inimigos acabaram fortalecendo a coesão interna do país e expondo o fracasso de suas próprias estratégias.
O discurso desmontou a retórica de Israel, que tenta impor ao mundo a farsa de um “Grande Israel” sustentado pela força militar. Segundo Pezeshkian, o mapa dessa ambição territorial mostra que nenhum vizinho está seguro da sanha expansionista do regime sionista. “Isso não é paz nem força”, afirmou, “mas agressão baseada em coerção e intimidação”.
Ao apresentar sua visão de futuro, o presidente defendeu uma região forte com países soberanos, livres de armas de destruição em massa e unidos por mecanismos de cooperação. Propôs segurança coletiva, investimentos conjuntos, uso justo de recursos energéticos e respeito à diversidade cultural. Nesse cenário, a paz não seria imposta pela violência, mas construída pelo diálogo e pela igualdade entre Estados.
Pezeshkian também atacou a manobra recente de europeus que, a serviço de Washington, tentam ressuscitar sanções extintas no Conselho de Segurança. Classificou a medida como ilegítima e reafirmou que o Irã não busca a bomba nuclear, lembrando inclusive o edito religioso que proíbe tais armas. A acusação de que Teerã ameaça a paz mundial, afirmou, é uma inversão grotesca da realidade: quem de fato semeia guerra e destruição é Israel, com o respaldo dos Estados Unidos.
Encerrando, evocou a poesia de Rumi, Hafez e Sa’di para sustentar que a humanidade compartilha uma mesma essência. “Se não tens compaixão pela dor humana, não mereces o nome de ser humano”, disse. Com esse chamado, Pezeshkian ofereceu ao mundo uma alternativa à lógica da guerra: resistência digna, solidariedade entre povos e a construção de um futuro baseado em justiça e cooperação.


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