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Trump recua e reconhece direito de um Estado palestino

Israel enfrenta isolamento internacional e críticas éticas, enquanto Netanyahu vê seu projeto de anexação e expulsão de palestinos cada vez mais contestado Enquanto o mundo assiste, horrorizado, aos escombros de Gaza e ao desespero de um povo sob constante bombardeio, surge uma rara — ainda que tímida — brecha diplomática. O mais recente plano de […]

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O novo plano de Trump prioriza cessar-fogo e reconhecimento palestino, mas exige pressão contínua para garantir direitos plenos e autogoverno.
A solução de dois Estados só será efetiva se respeitar igualdade, retorno de refugiados e soberania plena, não como concessão temporária / Reprodução

Israel enfrenta isolamento internacional e críticas éticas, enquanto Netanyahu vê seu projeto de anexação e expulsão de palestinos cada vez mais contestado


Enquanto o mundo assiste, horrorizado, aos escombros de Gaza e ao desespero de um povo sob constante bombardeio, surge uma rara — ainda que tímida — brecha diplomática. O mais recente plano de paz apresentado por Donald Trump na Assembleia Geral da ONU, embora venha de um ator historicamente alinhado a Israel, traz elementos que, por si só, deveriam ser celebrados como vitórias da resistência palestina e da pressão internacional: o reconhecimento explícito de um Estado palestino como meta final, a rejeição categórica à expulsão forçada de palestinos de suas terras e a condenação à anexação da Cisjordânia. Esses não são “gestos de generosidade” de potências ocidentais. São conquistas arrancadas do silêncio cúmplice da comunidade internacional por décadas de luta, sofrimento e dignidade inquebrantável do povo palestino.

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É urgente deixar claro: a soberania palestina não é um “plano” negociável, nem uma moeda de troca em acordos geopolíticos. É um direito humano fundamental, consagrado pelo direito internacional, negado há mais de 75 anos por um regime de ocupação que se sustenta com o apoio incondicional — até recentemente — de potências ocidentais. O fato de Trump, um presidente que em seu primeiro mandato reconheceu unilateralmente Jerusalém como capital de Israel e desmantelou o aparato diplomático pró-palestino dos EUA, agora recuar diante da pressão global e retomar a ideia de dois Estados, não deve ser interpretado como um ato de benevolência, mas como um reconhecimento tardio do fracasso absoluto da política de subjugação israelense.

O isolamento de Israel é merecido — e necessário

O que vemos hoje é o colapso da impunidade que Israel desfrutou por décadas. Países europeus como França e Reino Unido, seguidos por Canadá e Austrália, passaram a reconhecer oficialmente o Estado da Palestina. A União Europeia revisa seu acordo comercial com Israel. Equipes esportivas e artistas israelenses enfrentam boicotes crescentes. Um painel da ONU acusa Israel de cometer genocídio em Gaza — uma acusação gravíssima, mas respaldada por evidências irrefutáveis de destruição sistemática, bloqueio humanitário e negação do direito à vida.

Esse isolamento não é “antissemitismo”, como tentam fazer crer os defensores do regime israelense. É a reação natural de uma comunidade internacional que finalmente começa a distinguir entre o Estado de Israel e o povo judeu — e que não aceita mais que crimes de guerra sejam cometidos em nome da “segurança” enquanto milhões de palestinos vivem sob apartheid, cerco e desespero.

Benjamin Netanyahu, encurralado por sua própria agenda de extrema direita — que inclui a anexação da Cisjordânia, a expulsão em massa de palestinos e a destruição de qualquer perspectiva de paz —, agora fala em transformar Israel numa “super Esparta”. Mas a analogia mais justa, como apontam analistas, é com a África do Sul do apartheid: um Estado paria, condenado pela moralidade global, sustentado apenas por aliados que começam a hesitar diante do custo político e ético de seu apoio.

A força multinacional árabe: um sinal de mudança histórica

Um dos aspectos mais simbólicos do novo plano de Trump é a proposta de uma força multinacional de estabilização em Gaza, composta por tropas de nações árabes e muçulmanas. Isso representa uma virada histórica: os países árabes, outrora marginalizados nas negociações de paz, agora são vistos como atores centrais na construção de uma solução. O Catar, apesar de ter sido alvo de um ataque israelense que quase desestabilizou a região, mantém seu papel crucial como mediador — graças, em parte, à sua influência sobre Washington e ao seu compromisso com a causa palestina.

A Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, que antes buscavam normalizar relações com Israel sem exigir avanços reais para os palestinos, agora demonstram uma postura mais firme. Isso mostra que, mesmo no mundo árabe, o silêncio em relação à opressão palestina está se tornando politicamente insustentável. A Palestina não está sozinha — e nunca esteve.

O cessar-fogo é urgente, mas não suficiente

É louvável que o plano de Trump coloque como prioridade imediata o fim da matança em Gaza e a libertação dos reféns. Nenhuma vida deve ser perdida enquanto diplomatas discutem mapas e fronteiras. Mas devemos ter clareza: um cessar-fogo humanitário não substitui a justiça. A reconstrução de Gaza não pode ser feita sob ocupação. O autogoverno palestino não pode ser uma fachada sem soberania real. E um Estado palestino não pode existir como um enclave cercado, fragmentado e dependente da boa vontade de seus opressores.

A solução de dois Estados, embora ainda distante na prática, só será viável se for baseada na igualdade de direitos, no retorno dos refugiados e na desmilitarização da política israelense. Caso contrário, será apenas mais um instrumento de contenção — não de libertação.

Conclusão: o direito palestino não depende da generosidade de Trump

Não devemos iludir-nos: Trump não se tornou um defensor da causa palestina. Seu plano é pragmático, movido por cálculos geopolíticos, pressão internacional e a necessidade de conter os excessos da extrema direita israelense, que ameaçam até mesmo os interesses estratégicos dos EUA na região. Mas isso não diminui a importância do momento.

Pela primeira vez em anos, a narrativa está se deslocando. A ocupação israelense já não é vista como um “conflito simétrico”, mas como o que sempre foi: um regime colonial que nega direitos básicos a um povo inteiro. E a soberania palestina, longe de ser um “sonho irrealista”, está sendo reconhecida como condição indispensável para qualquer paz duradoura.

Que fique claro: os palestinos não precisam de salvadores. Precisam de aliados. E o mundo, finalmente, começa a ouvir. A luta pela Palestina livre não terminará com um plano de 21 pontos. Terminará quando cada palestino puder viver em sua terra com dignidade, liberdade e justiça — não como favor, mas como direito.

Com informações de Financial Times*

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