Menu
, , , ,

Mídia festeja PIB zero

Ainda bem que o PIB ficou no zero a zero. Se houvesse um sinalzinho de negativo, os jornais de hoje amanheceriam com citações do Apocalipse de São João. Admito que desenvolvi certa implicância com esse pessimismo crônico da mídia nacional. Existem leis não-escritas do marketing midiático, as quais ainda não consegui compreender muito bem (decerto por ignorância minha), que dão às notícias negativas um impacto comercial bem maior que as positivas.

7 comentários
Apoie o Cafezinho
Siga-nos no Siga-nos no Google News

Ainda bem que o PIB ficou no zero a zero. Se houvesse um sinalzinho de negativo, os jornais de hoje amanheceriam com citações do Apocalipse de São João. Admito que desenvolvi certa implicância com esse pessimismo crônico da mídia nacional. Existem leis não-escritas do marketing midiático, as quais ainda não consegui compreender muito bem (decerto por ignorância minha), que dão às notícias negativas um impacto comercial bem maior que as positivas.

Quando o IBGE divulga recorde na geração de emprego, queda na inflação, elevação recorde no consumo das famílias, anúncio de investimentos bilionários em novas instalações industriais, vemos notinhas ocultas em páginas internas, sem infográficos, sem nada. Quando é o contrário, como aconteceu hoje, a criatividade dos jornais atinge o apogeu. A Folha botou todos seus artistas para elaborar desenhinhos bonitinhos sobre a estagnação do PIB no terceiro trimestre. Claro que todo o foco, em todos os jornais, é exclusivamente para a variação percentual em relação ao trimestre anterior, onde se vêem os piores índices. Quando se compara com o mesmo período do ano anterior, ainda temos um crescimento de 2,1%; e, mais importante ainda, no acumulado do ano, o crescimento é de 3,2%. Em outros termos, a produção nacional de riquezas em 2011 foi 3,2% superior à produção de 2010, que foi um ano excepcional, quando o país cresceu quase 8%. No acumulado dos últimos quatro trimestres, o resultado é ainda melhor: alta de 3,7%.

Além disso, o terceiro trimestre de 2011 mostrou um PIB, pela primeira vez, superior a R$ 1 trilhão, como se pode ver no gráfico abaixo.

Devemos nos precaver contra a linguagem usada pela imprensa. É tanto “PIB parou”, “estagnação”, “para de crescer”, que podemos ter a impressão errada de que a atividade econômica encontra-se paralisada. Muito pelo contrário. O que vemos é um percentual estável em relação ao período imediatamente anterior, ou seja, a locomotiva deixou de acelerar, mas ainda corre em alta velocidade. Fábricas, lavouras e escritórios continuam produzindo e empregando.

Há um outro ponto importante: a base de comparação, o ano de 2010, foi um período de forte crescimento. Se comparássemos o PIB deste ano com o de 2009, por exemplo, teríamos uma ideia melhor do salto dado nesse intervalo. Como exercício podemos fazer o seguinte, o PIB do terceiro trimestre deste ano, fazendo o devido ajuste sazonal (ou seja, descontando a inflação), ficou 9,46% superior ao do mesmo período de 2009.

O crescimento de 3% esperado para 2011 está de bom tamanho. Não se pode comparar a situação brasileira à européia. Aqui, o governo deliberadamente freou o crescimento, sobretudo para conter a inflação, numa estratégia que se revelou exagerada (tanto que foi revertida bruscamente a partir do segundo semestre) porque não se previu a recessão no mundo desenvolvido.

Não custa lembrar qual tem sido o crescimento médio do PIB nos últimos 17 anos (infográfico da Folha):

É instrutivo ainda verificarmos, no gráfico abaixo, como as taxas de crescimento trimestrais são historicamente cíclicas. Elas crescem por um determinado período, depois recuam em outro, e voltam ao subir em seguida.

 

O mais interessante, todavia, é quando observamos o índice móvel no trimestre.  Por aí, sim, identificamos que o ciclo de estagnação no PIB, na verdade, já foi revertido, e agora encontra-se em recuperação. Para o Natal deste ano, já temos notícias bastante positivas sobre o aumento das vendas, as quais devem crescer ainda mais depois das medidas de incentivo ao crédito e ao consumo anunciadas pelo governo recentemente.

 

 

Abaixo as capas dos jornalões de hoje.

Falta, por parte da nossa imprensa, o esforço em separar as razões desta desaceleração do nosso PIB, induzida pelo próprio governo, com a crise européia, que se dá num contexto de endividamento descontrolado dos Estados. Na Europa, temos razões estruturais para estagnação. Aqui, não. Quanto à indústria de transformação, que na verdade foi quem travou o PIB, trata-se de um setor extremamente concentrado, capaz de puxar o freio do país após um jantar em Higienópolis. Este setor retraiu-se, de fato, este ano, mas não confundamos esse movimento com produção paralisada. Ele continua em forte atividade. Ele parou de crescer, o que é bem diferente.

O perfil da economia brasileira é totalmente diverso da Europa. Nossos investimentos estão crescendo de maneira muito firme. Temos uma população jovem, recursos naturais abundantes, hidroenergia sobrando, descobrimos petróleo, possuímos os maiores reservatórios de água potável do planeta, dívida pública em acelerada queda.

Ah, Brasil cresceu menos que outros países do chamado BRICs. Ok, mas comparemos: a Rússia afundou em 2008 e 2009, e cresceu pouco em 2010, por causa da crise financeira. Ainda está se recuperando; sem contar que é uma sociedade em forte crise democrática, onde a distribuição de renda tem piorado; o Putin mandou prender quase 900 pessoas que protestavam contra o governo esta semana. A China é uma ditadura, e ainda vive um profundo processo de migração do campo para as cidades. O PIB per capita chinês é muito menor que o do Brasil, o PIB industrial per capita também, por isso o país apresenta taxas tão altas de crescimento. A base deles é pequena. A Índia continua daquele jeito, uma elite se ultraeducando e enriquecendo e a maioria da população agonizando na miséria. Prefiro o Brasil e seu crescimento humilde.

Os índices da indústria de transformação, por sua vez, embora realmente tenham apresentado queda, puxados pelo freio na produção siderúrgica, estão fadados, por assim dizer, à recuperação, visto que as maiores jazidas de ferro encontram-se no Brasil e todas as siderúrgicas do mundo estão plantando raízes por aqui para reduzirem seus custos de frete. Além disso, ainda no setor industrial, há investimentos gigantescos em novas bases fabris em todo país, incluindo aí os grandes projetos, como a Comperj e a Abreu Lima, refinarias de petróleo no Rio e Pernambuco. Para quem não sabe, o petróleo é matéria-prima de uma infinitude de produtos industrializados, a começar por todo o tipo de plásticos.

Apenas a título de curiosidade: outra notícia boa trazida pelo IBGE é sobre o aumento da produção da mandioca. Embora sua participação no PIB total seja ínfima, a mandioca, pelo fato de ser cultivada predominantemente por pequenos agricultores, é um grande gerador de empregos no interior, sobretudo nas regiões mais pobres do país. O PIB em alta do segmento, portanto, ajudou a distribuir renda e promover justiça social. Outra razão para falar na mandioca é que O Globo deu a notícia, mas numa matéria onde consta um grave erro de interpretação; cita a queda na produção de café e cana-de-açúcar sem informar que, apesar do recuo na safra, houve aumento muito forte na receita de exportação de ambos os produtos, em virtude dos preços altos. A exportação de café está perto de 9 bilhões de dólares nos últimos 12 meses, mais do que o dobro do registrado há alguns anos, e mais de 52% de aumento sobre 2010! Além disso, a produção do café é bianual, registrando um ano bom e um ano menos bom, tradicionalmente; esse ano foi o menos bom; ano que vem, cresce de novo.

Apoie o Cafezinho

Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

Mais matérias deste colunista
Siga-nos no Siga-nos no Google News

Comentários

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site O CAFEZINHO. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Escrever comentário

Escreva seu comentário

Elson

07/12/2011 - 23h48

Caro Miguel , a economia real é diferentte desta que o PIG propagandeia . Como já deixei explicito em outro comentário , aqui onde moro o bicho tá pegando . Tenho 3 amigos que estão empregados , porém torcem para serem demitidos , eles tem uma renda mensal de R$ 1.400,00 , e ainda assim acham que ganham pouco .

Por aí voce imagina como anda nossa economia , enquanto nos EUA e Europa as pessoas estão com 9 , 10 ou 20°/° de desemprego , aqui os sujeitos estão clamando para serem demitidos , pois sabem que encontrarão emprego melhor remunerado em outro lugar ,

Edmundo

07/12/2011 - 17h36

Por que será que a Presidenta Dilma não entra no horário nobre e apresenta para a População Brasileira o que de fato está acontecendo como bem foi explicado pelo excelente post do MIguel ?
Na minha modesta opinião mandar o Mantega falar só para a imprensa não dá.
Dilma tem mais que usar a TV em horário nobre para explicar ao povo brasileira as lambanças ou melhor, as desinformações que essa Grande Mídia tem feito com o intúito de desestabilizar o seu governo.
Que falta está fazendo o ex-Presidente Lula!

    Miguel do Rosário

    07/12/2011 - 18h56

    O Lula também não falava tanto assim na TV. O Brasil sofreu muito com o terrorismo econômico durante a era Lula. A sorte é que o brasileiro pobre não estava nem aí para isso, e continuava comprando. Tenho receito que a nova classe média seja mais vulnerável à propaganda negativa. Os momentos são outros, Edmundo. Presidentes diferentes, circunstâncias diferentes, sociedades diferentes. Saudosismo não nos leva a nada. Mas eu te entendo perfeitamente. Abraço.

Gilson Raslan

07/12/2011 - 11h32

Miguel, você deu uma aula de economia para os leigos. Parabéns.
Há questões na economia que nem Freud explica. Veja como raciocina os economistas: duas pessoas, uma com renda de 1.000 reais e outra com renda de 5.000 reais. Ambas gastam 50% de seu rendimento, ou seja: a primeira gastou 500 reais e poupou 500 reais; a segunda gastou 2.500 reais e poupou 2.500 reais. Para os economistas, a primeira pessoa gastou mais do que a segunda.
É com este tipo de raciocínio que os economistas trabalham, sem explicar para os pobres mortais, os leigos, a fórmula usada para análise dos fundamentos econômicos, que são seguidos, caninamente, pelos jornalistas.

baixadacarioca

07/12/2011 - 11h05

Coisas que só causam impacto cardiológico para esse grupelho que desesperadamente tentam retomar o poder. Interessante é ouvir dona Míriam com uma alegria eufórica na voz ao comentar o assunto. Qualquer coisa que lhes dê motivos para falar mal do governo é um cálice de alegria para suas mediocridades.

Wagner

07/12/2011 - 10h43

O Miguel, inclua os posts econômicos do L. Nassif na sua análise de hoje,. Ele esta INTEIRAMENTE PAUTADO PELO PIG.

saudações pentacorinthianas

Wagner Moraes

    Miguel do Rosário

    07/12/2011 - 11h18

    Fala Wagner, nesse post aqui: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-preco-…. O Nassif está totalmente certo. Alguém apenas poderia ponderar que a decisão foi do Banco Central de elevar os juros no inicio do ano, não do governo. Foi um erro, sim, mas o BC pode usar como desculpas (esfarrapadas) o fato de não poder prever que o cenário internacional se deterioraria. E o erro foi corrigido logo mais adiante. De qualquer forma, o Nassif tá certo. O BC errou quando tomou medidas restritivas, e agora está correndo atrás do tempo perdido. Mas a situação é a que eu mostrei nos gráficos. A mídia está fazendo tempestade em copo dágua.


Leia mais

Recentes

Recentes