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Fim da linha para Bernie Sanders? (ou, como a batalha de New York será decisiva para o futuro do socialismo na América)

por Carlos Eduardo, editor-assistente do Cafezinho No início da semana passada o candidato das primárias democratas, Bernie Sanders, organizou uma teleconferência com repórteres e analistas políticos dos principais meios de comunicação para dizer que não estava fora da disputa pela presidência dos Estados Unidos e que ainda acreditava num “caminho para a vitória” (tradução livre […]

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Democratic presidential candidate Sen. Bernie Sanders, I-Vt., pauses while speaking during a campaign rally at St. Mary's Park, Thursday, March 31, 2016, in the Bronx borough of New York. (AP Photo/Julie Jacobson)

por Carlos Eduardo, editor-assistente do Cafezinho

No início da semana passada o candidato das primárias democratas, Bernie Sanders, organizou uma teleconferência com repórteres e analistas políticos dos principais meios de comunicação para dizer que não estava fora da disputa pela presidência dos Estados Unidos e que ainda acreditava num “caminho para a vitória” (tradução livre para “path to the victory”) contra Hillary Clinton.

Embalado pelas conquistas de Sanders nos estados de Alaska, Hawaii e Washington, no último fim de semana, seu gerente de campanha, Jeff Weaver, afirmou que o senador de Vermont havia recuperado o ímpeto, a gana de vencer, e estava prestes a superar a grande vantagem de Hillary em número de delegados prometidos.

Segundo o estrategista da campanha de Sanders, Tad Devine, ex-consultor da campanha de Al Gore a presidência dos Estados Unidos em 2000, apesar da liderança de Clinton, alguns super delegados do partido Democrata estão começando a mudar de opinião, em favor do socialista, após a divulgação de pesquisas que apresentam uma vitória de Trump diante de Clinton e uma derrota de Trump para Sanders, numa possível corrida presidencial.

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Para ser eleito candidato nas primárias democratas são necessários 2,383 delegados e Hillary Clinton está na frente com 1,712 (Pesquisa: AP)

As vitórias de Hillary nos estados da Florida, North Carolina, Illinois e Ohio, no dia 15 de março – quando obteve um ganho líquido de 104 delegados, 68 deles somente na Florida – fez a mídia anunciar o fim da linha para Bernie Sanders.

Mas vale lembrar que Bernie já foi declarado morto várias vezes pela própria mídia e, no entanto, continua incomodando sua adversária, Hillary Clinton.

Para o estrategista de Bernie Sandes, a campanha de Clinton atingiu seu ápice no dia 15 de março, com a vitória esmagadora que obteve em quatro estados.

Na avaliação de Tad Devine, as últimas vitórias de Clinton quase não contam, pois ela simplesmente venceu nos estados onde Sanders não possuía recursos e pessoal suficiente para competir de igual para igual.

Já nos estados onde a campanha de Sanders teve as mesmas oportunidades, ele se saiu muito bem. Porém o próprio estrategista admite que os números não estão a favor de Sanders. Para vencer as primárias ele teria que ganhar em todos os estados restantes no calendário eleitoral.

No dia 19 de abril teremos a derradeira disputa entre Bernie Sanders e Hillary Clinton, quando ocorrem as primárias do estado de New York. O que os analistas já estão chamando de “Batalha do Brooklyn” (ou Battle of Brooklyn, em inglês).

Sanders terá a oportunidade de mostrar ao grande eleitorado norte-americano que Hillary Clinton começou como “líder absoluta” do partido, mas que ao longo da campanha se revelou uma “líder fraca”, repleta de falhas.

Uma das piadas mais recorrentes nos programas de comédia política dos Estados Unidos é de que Hillary Clinton diz o que os eleitores querem ouvir, praticamente repete um discurso escrito pelos marqueteiros. Mas se nos atentarmos nos seus financiadores de campanha, fica claro que num possível governo Clinton, esta não faria nada do que está prometendo agora.

Hillary Clinton é a candidata destas primárias que mais recebeu doações de Wall Street, enquanto Bernie Sanders é o único candidato que vem criticando veemente o comportamento criminoso dos grandes bancos.

Tanto que este lançou uma plataforma de dez medidas para regular a crescente especulação na bolsa de valores, impondo regras rígidas para os bancos e agências de crédito.

Se em Manhattan e New Jersey, bairros da classe média tradicional de New York, Hillary Clinton leva a disputa. Nos bairros mais pobres, como Harlem e Bronx, Bernie Sanders aparece na frente. Por isso a decisão será realizada no Brooklyn, que há tempos deixou de ser um bairro pobre para se tornar endereço da nova classe média norte-americana. Jovens e adultos abaixo dos 55 anos, que segundo as pesquisas correspondem aos indecisos do estado.

Não é à toa que Clinton e Sanders montaram suas bases de campanha no Brooklyn.

Se Hillary Clinton, senadora por New York nos últimos oito anos, perder a primária do estado para Bernie Sanders, será a demonstração definitiva de que a candidatura de um socialista para a Casa Branca é sim viável.

E os delegados dos estados restantes tenderiam a votar em Sanders, já que este vence Donald Trump em todas as simulações realizadas até então.

Contudo, a reação de Bernie Sanders não indica uma mudança real no cenário. Hillary Clinton continua sendo a forte candidata a vencer as primárias do partido Democrata.

Mas é importante ressaltar: a nomeação de Clinton não significa o fim no racha que se criou dentro do partido Democrata.

Seria ingenuidade acreditar que uma vitória de Hillary Clinton poria fim na divisão entre os pragmáticos do partido, que desde o início apoiaram a candidatura de Clinton, e a nova “esquerda” norte-americana, composta majoritariamente de jovens democratas que apoiam as ideias de Bernie Sanders.

Como disse o economista francês e autor do livro “O Capital do Século XXI”, Thomas Piketty, talvez por ser velho demais, branco demais e judeu demais, a campanha de Bernie Sanders estava destinada ao fracasso desde o princípio. Mas o fundamental é que Sanders já se tornou um marco histórico na política norte-americana, deixando um legado para as futuras gerações.

Mesmo que Sanders não vença Clinton, é certo que outro democrata, talvez mais jovem, menos branco e menos judeu, desponte nas próximas eleições, em 2020.

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