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Presidente interino da Petrobras detona um campo do pré-sal, a BR Distribuidora e a Gaspetro. E muito mais…

Temer e a marcha à ré acelerada O neoliberalismo murcha no resto do mundo, a Rússia segue os passos da China e da Índia, enquanto o Brasil corre em direção ao tempo das cavernas (Foto: Shana Reis/ GERJ) por Carlos Drummond, na Carta Capital Embalado por manobras políticas para garantir o impeachment e pela maquiagem […]

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02/06/2016; Rio de Janeiro; O governador em exercício Francisco Dornelles participa da cerimônia de transmissão de cargo ao novo presidente da Petrobras, Pedro Parente; Foto: Shana Reis

Temer e a marcha à ré acelerada

O neoliberalismo murcha no resto do mundo, a Rússia segue os passos da China e da Índia, enquanto o Brasil corre em direção ao tempo das cavernas (Foto: Shana Reis/ GERJ)

por Carlos Drummond, na Carta Capital

Embalado por manobras políticas para garantir o impeachment e pela maquiagem midiática da situação deplorável da economia, o governo Michel Temer acelera o plano de liquidação de ativos estratégicos para o desenvolvimento.

Os últimos avanços contaram com a ajuda da Justiça, que liberou a Petrobras para vender a BR e a Gaspetro como quiser, isto é, sem salvaguardas para os acionistas minoritários e com prejuízos imensuráveis ao País. Esperar qualquer arrefecimento da escalada é perda de tempo.

A agenda do ministro das Relações Exteriores, José Serra, previa um encontro, na sexta-feira 25, com Andrew Brown, vice-presidente mundial da Royal Dutch Shell, e André Araujo, presidente da Shell Brasil Petróleo.

Na pauta, segundo funcionários do ministério, as perspectivas de avanço do projeto do tucano para eliminar o protagonismo da empresa pública no pré-sal e da participação do megagrupo estrangeiro nessa área de petróleo e gás.  

A estratégia privatista e desnacionalizante é, entretanto, anacrônica, mostra a crítica cada vez mais intensa ao neoliberalismo e à austeridade na Europa e nos Estados Unidos e a adoção recente, pela Rússia, de um plano nacional-desenvolvimentista.

Agora o Brasil é o único dos quatro maiores integrantes dos BRICS em marcha à ré acelerada rumo à desregulamentação, privatização, desnacionalização e corte de direitos sociais. A potência do Leste Europeu decidiu seguir a política econômica de China e Índia, os campeões mundiais de crescimento.

A dilapidação do pré-sal e da Petrobras está no centro do business plan de peemedebistas e tucanos, que buscam dissimular o poder devastador das suas propostas. O presidente da companhia, Pedro Parente, apresentou no começo do mês explicações técnicas insustentáveis na tentativa de justificar a desnacionalização do primeiro campo de petróleo daquela camada, o de Carcará, acusa Luciano Seixas Chagas, coordenador do grupo de trabalho para assuntos de petróleo da Federação Brasileira de Geólogos.

Ex-funcionário da companhia, o geólogo, ao contrário do executivo, é um especialista reconhecido no setor e explica, na entrevista abaixo, por que o volume potencial de óleo e gás é mais de quatro vezes superior ao contabilizado na venda à norueguesa Statoil, há um mês. A Febrageo e a Federação Nacional dos Engenheiros acionarão na Justiça a diretoria pela venda daquele que seria, segundo Parente, “um campo de menor interesse”.

O passo decisivo para o desmanche da Petrobras é o projeto de Serra para retirar seu poder no pré-sal, aprovado no Senado e em tramitação na Câmara. O marco regulatório em vigor, sancionado em 2010, estabelece a empresa pública como operadora única sob o regime de partilha da produção, o que dá ao governo brasileiro a propriedade do óleo e do gás extraí­dos.

É importante manter essa condição, porque só assim continuará no comando de todo o processo de definição de tecnologia e projetos de engenharia a serem utilizados, explica Guilherme Estrella, ex-diretor de Exploração e Produção.

Geólogo de renome mundial, integrou as equipes que fizeram as grandes descobertas no Iraque e no pré-sal, em 2007, no governo Lula. Esse privilégio do operador, diz, confere-lhe o poder de definir também “um imenso conjunto de materiais e equipamentos utilizados na construção, implantação, operação e manutenção dos grandes sistemas de produção de óleo e gás”, geradores de encomendas para a indústria local.

O conjunto das prerrogativas atuais da Petrobras, destaca Estrella, propicia ao governo brasileiro todas as condições de elaborar um projeto nacional de desenvolvimento industrial autônomo e soberano, inteiramente sustentável.

Só com a Petrobras na condição de operadora única do pré-sal o governo tem a propriedade do óleo e do gás, alerta Estrella (Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo)

Só com a Petrobras na condição de operadora única do pré-sal o governo tem a propriedade do óleo e do gás, alerta Estrella (Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo)

“Adiciona-se a esta extraordinária oportunidade estratégica o rico conteúdo em gás natural do pré-sal, para suprir com abundância a demanda da indústria e do consumo doméstico e fornecer matéria-prima para a fabricação de fertilizantes, outra fragilidade nacional na medida em que o importantíssimo agronegócio, uma das principais sustentações de nossa economia, depende da importação daqueles produtos.” Além disso, é rico em insumos básicos para a petroquímica e fundamental à geração termoelétrica, decisiva para impedir “apagões”.

Em vez de aprofundar a condução neo­liberal em crise no mundo avançado, o País deveria se inspirar na decisão do primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, que no mês passado determinou ao think tank heterodoxo Stolypin a preparação, até o próximo trimestre, de um plano quinquenal para a retomada do desenvolvimento econômico.

Depois de dois anos de desempenho declinante sob uma taxa de juros de 10,5%, Putin concluiu que, com aquele custo de financiamento, é impossível sair do atoleiro. O que dizer da situação do Brasil, entalado há mais de um ano em uma taxa Selic de 14,25%?

O plano visa à soberania econômica e ao crescimento de longo prazo, a imunização do país aos choques externos e à influência estrangeira excessiva, a retirada da Rússia da periferia e sua inserção no centro do sistema econômico global.

Os objetivos incluem o aumento do produto industrial em 30% a 35% dentro de cinco anos, a criação de uma economia do conhecimento socialmente orientada com a transferência de recursos substanciais à educação, à saúde e à proteção social, a criação de instrumentos para aumentar a poupança nacional em relação ao PIB e a transição para uma política monetária soberana. Nada mais distante da regressão promovida pelo governo.

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O plano desenvolvimentista de Putin visa a soberania econômica com o aumento da produção industrial entre 30% e 35% (Foto: Jussi Nukari/AFP)

A Rússia segue a tendência mundial mais avançada. Agências internacionais e economistas renomados convergem no diagnóstico que reconhece na orientação neoliberal uma das principais causas da devastação iniciada em 2008.

Um relatório da Organização das Nações Unidas sobre a situação econômica global e as perspectivas para 2016 identificou um declínio de 54% na taxa média de crescimento nos países desenvolvidos nos últimos sete anos. O total de desempregados aumentou para 44 milhões, com um acréscimo de 12 milhões de indivíduos desde 2007.

“Mais preocupante ainda, as taxas de crescimento tornaram-se também mais voláteis. Isso é surpreendente porque, com as contas de capital totalmente abertas, eles deveriam ter se beneficiado do fluxo livre de capital e do compartilhamento internacional do risco e, assim, experimentado pequena volatilidade macroeconômica”, destacam os economistas Joseph Stiglitz e Hamid Rashid, em artigo recente.

A sua conclusão dá mais razão ainda aos defensores do controle da conta de capital nos países emergentes. A contração fiscal e o quantative easing, ou compra, pelos bancos centrais, de títulos públicos e consequente abarrotamento do mercado com dinheiro “proporcionaram pouco suporte ao estímulo do consumo das famílias, ao investimento e ao crescimento. Ao contrário, pioraram as coisas”, concluem os especialistas.

O alerta de Stiglitz e Rashid vale para paí­ses desenvolvidos e emergentes, mas não se espera muita receptividade por aqui. 

Quais interesses Pedro Parente defende?

O geólogo Seixas Chagas arrasa as explicações “técnicas” da entrega de 6 bilhões de barris de óleo e gás como se fossem apenas 1,3 bilhão

O presidente da Petrobras, Pedro Parente, disse que vendeu o bloco exploratório BM-S-8 do pré-sal, com o poço de Carcará, à norueguesa Statoil, porque algumas das suas características “não eram interessantes”.

O coordenador do grupo de trabalho da Federação Brasileira de Geólogos para Assuntos de Petróleo, Luciano Seixas Chagas, ex-funcionário da empresa pública e renomado especialista no assunto, demoliu as explicações de Parente na entrevista abaixo:

CartaCapital: Algumas características do campo vendido não seriam “interessantes”, segundo o presidente da Petrobras. Isso é verdadeiro?

Luciano Seixas Chagas: As diretorias técnicas da empresa, principalmente a da área de exploração comandada pela engenheira Solange Guedes, sabem que os números são bem maiores do que o 1,3 bilhão de barris negociado.

Em primeiro lugar, porque nenhum dos três poços atingiu o contato óleo/água, o que denuncia ser área de acumulação muito maior que a delimitada por esses poços. Além disso, o gráfico de pressão plotando o gradiente do petróleo dos três poços, junto ao gradiente da água salina, demonstra que a primeira assertiva é verdadeira, ou seja, a área do reservatório é muito maior que a delimitada pelos poços perfurados.

Os testes de interferência realizados mostram que os reservatórios são comunicados e têm, portanto, continuidade hidráulica, com comunicação pelo espaço entre os poros e fraturas, sendo essas abundantes na área de Carcará.

Acrescente-se ainda que os fluidos oriundos do manto profundo aumentaram, por dissolução, o sistema poroso original. É possível que só na sua estrutura estejam acumulados 6 bilhões de barris recuperáveis de óleo e gás equivalente. Isso somente no bloco BM-S-8.

CC: As características condenadas por Parente são elevadíssima pressão, necessidade de sair do padrão dos demais campos da empresa e desenvolver equipamentos novos e mais caros. Alegou também a grande distância das outras operações e exigência de construção de um novo gasoduto.

LSC: Diante dos imensos volumes recuperáveis nos polos atuais e em Carcará, os dutos agora projetados e em execução já seriam, de todo modo, insuficientes. Portanto, a alegada grande distância entre os projetos é falaciosa.

Os novos dutos obviamente seriam mais caros. Suportariam elevadas pressões, podem ser projetados com maior capacidade de transporte e de interligação dos dois polos principais, além de outros menores.

A tecnologia é dominada pelo mercado, não há necessidade de novas pesquisas, só adaptações. Dizer que serão gerados custos adicionais devido às modificações do sistema de produção, escoamento e infraestrutura é açodamento.

CC: Por quê?

LSC: O que a princípio parece verdade pode ser justamente o contrário. O petróleo de Carcará tem pressão 50% superior aos das redondezas, baixa densidade e alta mobilidade, não tem CO2 e tampouco o H2S corrosivos, o óleo é leve e tem elevada razão de solubilidade.

Isto significa que há muito gás em solução a ser produzido com o óleo. Em razão da grande espessura dos reservatórios, o projeto usaria poços verticais ou inclinados, muito mais baratos que os horizontais.

Se, por um lado, os equipamentos de perfuração e complementação dos poços serão mais caros, por outro, com as suas elevadas vazões e pressões os reservatórios de Carcará produzirão por muito mais tempo, tornando o projeto de implantação ainda mais econômico.

*Reportagem publicada originalmente na edição 916 de CartaCapital, com o título “Marcha à ré acelerada”.

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Comentários

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Doge

12/09/2016 - 12h47

Privatizem já !

Embraer estava a um passo da falência e quando a privatizaram tudo mudou, vide a Vale.

E os Correios então ? Monopólio postal do Brasil que consegue ter prejuízo atrás de prejuízo.

FIM DO CABIDÃO DE EMPREGOS.

Maria Thereza G. de Freitas

09/09/2016 - 11h54

que tristeza… que atuação devastadora pra o futuro do país.

André Luiz

09/09/2016 - 11h39

vergonha nacional!

    Paulo Lima

    09/09/2016 - 12h24

    Sem destemor ou vergonha, há que continuar a informar, organizar, mobilizarmos a nação brasileira na defesa de nossas riquezas. Quando as instituições de Estado se omitem, ou acumpliciam-se à patifaria nativa ou estrangeira de ladrões do patrimônio público nacional, o céu é o limite, para tudo e todos. Fora Temer, Fora Cunha!

Elvi Got

09/09/2016 - 10h44

Dívida líquida do setor público sobe a 42,4% do PIB em julho 2016, R$ 2,572 trilhões diz BC.
Dívida líquida do setor público sobe a 36,7% do PIB em 12/2014, R$ 1,883 trilhão diz BC.
Veja que o prejuízo causado pelos golpistas é de R$ 689 Bilhões com o aumento da dívida liquida do Brasil, ou seja 36,67% do PIB para 42,4% Que vai ser dividido por todos nós, pergunto quem ficou com o crédito disso tudo? R$ 689 Bilhões? Novamente Bancos nacionais e estrangeiros. USA. Globo ajudou a concretizar isso tudo com muito dinheiro em seu bolso… http://www.dci.com.br/economia/divida-liquida-do-setor-publico-sobe-a-42,4–do-pib-em-julho,-diz-bc-id571261.html
http://www.valor.com.br/brasil/3886126/divida-liquida-do-setor-publico-soma-367-do-pib-em-2014-diz-bc
Já a dívida bruta do governo geral encerrou o mês passado julho/2016 em R$ 4,214 trilhões, o que representou 69,5% do PIB.

    Elvi Got

    09/09/2016 - 10h45

    R$ 689 Bilhões? Isso significa muito para os brasileiros e pouco para os golpistas que estão com ou bolso cheio inclusive o Sérgio Morango da lava Jato, digo Sérgio larapio que veio com a conversa que o Brasil acabaria com a corrupção… Ou da Petrobrás? Vendendo os seus principais ativos através de seus paus mandados dos USA golpistas, cambada de Manes, pobre pais que tem um povo que são todos Maria vai com os golpistas, agora a conta vem através de pacotes bombas contra o povo… Pacotes bombas também foram utilizados contra Dilma e seus 54 milhões de eleitores, com ás tais pedaladas fiscais como pretexto que agora em menos de um mês já estão legalizadas, veja que a mídia fica calada, já recebeu por seu trabalho na defesa dos golpistas.

JOHN J.

09/09/2016 - 10h43

Esse governo e todos seus elementos vão encher muitas celas de cadeias pelo Brasil afora, quando essa festa dos corruptos golpistas acabar.


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