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A Lava Jato e a influência dos EUA

[s2If !current_user_can(access_s2member_level1) OR current_user_can(access_s2member_level1)] Espiando o poder: análise diária da grande imprensa Por Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho A delação da Odebrecht é a manchete de hoje do Globo e do Estado de São Paulo. É também chamada de capa da Folha e do Valor, mas somente o título do Estadão detalha que “delação […]

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Espiando o poder: análise diária da grande imprensa

Por Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho

A delação da Odebrecht é a manchete de hoje do Globo e do Estado de São Paulo. É também chamada de capa da Folha e do Valor, mas somente o título do Estadão detalha que “delação da Odebrecht só depende de multa dos EUA”. A Folha diz apenas que “desfecho de delação da Odebrecht atrasa devido a divergência”, e só nas páginas internas explica, logo no subtítulo, que “EUA cobram acréscimo em multa para leniência, mas enfrentam resistências de empreiteira e Ministério Público”. O Valor puxa pelo caos anunciado na política nacional ao afirmar que “‘megadelação’ da Odebrecht ameaça políticos e reformas”, e o Globo vai na mesma linha, com a diferença de que sequer cita o entrave referente à exigência norte-americana, nem na capa, nem na matéria que toma toda a página 3 do jornal carioca. E em seu “Xadrez da hora da verdade de Temer”, o jornalista Luis Nassif ressalta que “na audiência da Lava Jato, confirmou-se a parceria de delação firmada pelo Ministério Público Federal com o FBI, visando instruir o processo contra a Petrobras nos Estados Unidos.”

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“A tratativa da delação premiada e da leniência da Odebrecht está a um passo de ser concluída. O último entrave na mesa, neste momento, é relacionada ao valor que será pago pela empresa aos Estados Unidos, como multa da leniência negociada entre as autoridades americanas, o Brasil e a Suíça”, informa a Folha, em página interna. “Os EUA pressionam por um valor maior, o que gerou um impasse na reta final das negociações”, continua o diário paulista, enquanto o concorrente da mesma cidade explica que “como o dinheiro será repartido entre os três países, a exigência de montante maior pelos americanos gerou um entrave na negociação”.

Segundo o Estadão, “há dois caminhos possíveis: ou aumenta a multa a ser paga pela empresa ou Brasil e Suíça liberam uma parte do valor para equacionar o impasse.” Se forem essas, de fato, as únicas opções para a solução do empecilho, é plausível concluir que os Estados Unidos terão sua exigência atendida ou pela empresa, ou por Brasil e Suíça, mostrando mais uma vez a força da influência norte-americana nas ações envolvendo a operação Lava Jato

Ontem, a Folha publicou que a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva levantou a suspeita de que a força-tarefa da Operação Lava Jato colabore em caráter não formalizado com o governo dos Estados Unidos. “A revelação feita em audiência de que o Ministério Público Federal (MPF) estaria trabalhando junto com autoridades americanas parece não estar de acordo com o tratado que o Brasil firmou em 2001 com os EUA que coloca o Ministério da Justiça como autoridade central para tratar esse tipo de questão”, disse Cristiano Zanin, advogado do ex-presidente.

“Além disso, não há nenhuma formalização nos processos de que tivemos conhecimento até o momento”, completou Zanin. Ainda segundo a Folha, “em nota, o MPF afirmou que ‘o assunto em questão é sigiloso’ e que, portanto, não se manifestaria. Nassif fala da “falta de sentido da Procuradoria Geral da República trocar informações com autoridades dos Estados Unidos, visando processar uma empresa de controle estatal”, e lembra que “dias depois da volta dos Estados Unidos, a Força-Tarefa investiu contra a Eletronuclear, depois da visita do Procurador Geral Rodrigo Janot a uma advogado do Departamento de Justiça que até um ano antes servira ao maior escritório de advocacia que assistia o setor eletronuclear norte-americano.”

Hoje, na editoria Mercado, 19 páginas depois da matéria principal sobre a delação da Odebrecht, a Folha publica no pé, em matéria pequena, que “Petrobras faz acordo com mais 11 fundos para encerrar ação nos EUA”. “Estatal separou US$ 364 milhões no 3o trimestre para esses acertos”, diz o subtítulo do texto a informar que  “desde que ficou comprovado que havia participação de diretores da Petrobras em esquemas de corrupção, fundos de investimentos e investidores individuais abriram processos contra a estatal reclamando perdas com investimentos em ADRs, que são os papéis de empresas estrangeiras negociadas na Bolsa de Valores de Nova York”.

Delatores como Paulo Roberto Costa colaboraram com a Justiça americana para que a Petrobras fosse condenada a pagar centenas de milhões de dólares a fundos e investidores americanos. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot e a força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol à frente, também. E Nassif afirma que “em um ponto qualquer do futuro, quando se recobrar a normalidade democrática – ou na hipótese de assumir alguma liderança nacionalista de esquerda ou direita – Rodrigo Janot e seus companheiros, mais a equipe da Lava Jato,  responderão por crime de traição ao país. Agora, trata-se de encontrar a maneira mais rápida de apagar o incêndio que se alastra. Quem se habilita a enquadrar a Lava Jato?”

“Delação da Odebrecht deve atingir ao menos 130 políticos” é a manchete do Globo, sem nada sobre multa nem processos nos Estados Unidos, e bem acima de outra chamada na mesma largura, avisando que “Comissão da Câmara aprova pacote anticorrupção”. “Deputados fazem acordo para aprovar, em plenário, anistia ao caixa 2”, afirma, lá dentro,  subtítulo da matéria a dizer que “a comissão especial da Câmara aprovou por unanimidade, ontem à noite, o texto-base do projeto com medidas de combate à corrupção.”

Segundo o Globo, “foram aprovadas a criminalização do caixa dois, do enriquecimento ilícito, a punição de eleitor que venda seu voto, a criação da figura do “reportante” — que pode denunciar corrupção no local de trabalho —, e a medida que torna a corrupção crime hediondo, entre outras.” “O receio dos integrantes da comissão é que o plenário da Câmara votasse, ainda na madrugada de hoje, uma anistia para qualquer crime associado a doações de campanha cometido até a aprovação da lei”, continua o jornal carioca, indo de encontro à manchete de hoje da Folha.

“Maia e líderes partidários acertam anistia ao caixa 2”, afirma a notícia principal de hoje do diário paulista, que no subtítulo diz que “acordão busca livrar a maioria dos investigados pela Operação Lava Jato”. O texto fala do almoço na residência do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para negociar a inclusão da anistia no texto, que reuniu líderes dos principais partidos da base aliada e de oposição, com exceção de PSol e Rede.

O Globo dá chamada na capa sobre o caso dizendo que “deputados fazem acordo para aprovar, em plenário, anistia ao caixa 2”. “A emenda da anistia seria apresentada em plenário, desde que todos os partidos concordassem em assumir a autoria”, afirma o jornal carioca, que cita a nota assinada por 26 dos 58 deputados da bancada do PT criticando a inclusão da anistia no texto. “No documento, os petistas afirmam que este é mais um movimento do que chamam de golpe parlamentar que tirou Dilma Rousseff do poder e tem por objetivo proteger deputados que votaram a favor do impeachment.”

Na coluna Panorama político, Ilimar Franco avisa, sob o título “Ofensiva contra o Judiciário”, que os parlamentares não vão parar por aí na disputa entre os Poderes. “A vida não se resume à Lava-Jato. Esse é o argumento que deputados e senadores usam para aprovar a lei do abuso de autoridade. E a que submete juízes e promotores a uma lei por crime de responsabilidade. Nesse caso, seriam julgados pelo Parlamento. Alegam que defendem o cidadão comum, que seria vítima da violência e dos maiores abusos”, diz Franco.

Depois da pressão de Dallagnol e cia, magistrados e integrantes do Ministério Público ficaram livres de qualquer possibilidade de punição na aprovação do pacote das medidas de combate à corrupção pela comissão especial da Câmara, o que tem relação direta com o artigo de Ranier Bragon hoje, na Folha de São Paulo. “Indignação seletiva” é o título do texto em que Bragon diz que “o CNJ puniu até hoje 75 magistrados, uma média de 7 ao ano. Isso em um universo atual de cerca de 17 mil togados. Desses, 48 sofreram a sanção administrativa máxima: a aposentadoria com vencimentos proporcionais”.

“Toga tivesse, Eduardo Cunha contaria ainda com o salário de mais de R$ 30 mil e, com certeza, estaria em bem melhores lençóis dos que o cobrem na carceragem do Paraná, continua o autor do artigo, para em seguida dzer que Deltan Dallagnol “é contra discutir agora a lei sobre seus pares. Vê pura e simplesmente a tentativa de retaliar a Lava Jato. Resta saber em que o crime cometido com toga difere daquele praticado com terno e gravata, esporte fino ou guardanapo na cabeça”.

E quem busca também sua anistia, mas não sai da berlinda, é Geddel Vieira Lima, ministro da Secretaria de Governo de Temer. A coluna Painel, da Folha avisa no título que “mudou de patamar” a situação do ministro. “O ex-ministro Marcelo Calero prestou depoimento à Polícia Federal sobre as acusações, feitas em entrevista à Folha, de que Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) usou o cargo para pressioná-lo a liberar a construção de um empreendimento imobiliário em Salvador. Ate então, o caso estava restrito à Comissão de Ética da Presidência, que viu indícios de conflito de interesse na atuação do articulador político de Michel Temer” diz a nota.

Jânio de Freitas afirma que “Geddel não esta só” no título de sua coluna de hoje, e encerra o texto ressaltando que “Calero duvidou da idoneidade de Geddel . Michel Temer, não. Levou-o para a Presidência da República sabendo muito bem a quem entregava uma boa fatia do poder. Se aí não for o início do enredo, Michel Temer está ainda mais atrás”.E se a Folha diz na chamada de capa que “projeto de aliado de Geddel tenta esvaziar Iphan”, o Globo publica na primeira página que “primo de Geddel atuou em obra”.

“O escritório de advocacia de um primo do ministro Geddel Vieira Lima atuou para a construção de prédio barrado em Salvador”, informa o jornal carioca, que na página interna, logo abaixo dessa matéria, mostra o quanto o atual presidente está preocupado com isso na matéria sobre a posse do substituto de Calero na Cultura, Roberto Freire (PPS), no título em que “sem citar antecessor da pasta, Temer diz que, com novo ministro da Cultura, vai ‘salvar o Brasil’”.

Míriam Leitão parece não concordar muito com otimismo do presidente na coluna “Lista de erros”, a qual já na capa, conclui que o “Governo Temer começa a se perder no labirinto”. “Os erros do governo Temer vão minando a pouca confiança que reapareceu logo após o fim do governo Dilma. O caso do ministro Geddel Vieira Lima mostra falta de entendimento básico. Ninguém pode usar um cargo público para tratar de questões de seu interesse pessoal. É simples, não é novo, é crime tipificado e faz parte do conjunto de comportamentos de autoridades que está atormentando a vida do país”, afirma a colunista, sentenciando ainda que “um ministro que gasta mais tempo se explicando e pedindo que o avalizem não tem condições de conduzir a espinhosa articulação com o Congresso”.

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Luis Edmundo

Luis Edmundo Araujo é jornalista e mora no Rio de Janeiro desde que nasceu, em 1972. Foi repórter do jornal O Fluminense, do Jornal do Brasil e das finadas revistas Incrível e Istoé Gente. No Jornal do Commercio, foi editor por 11 anos, até o fim do jornal, em maio de 2016.

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