
(Brasília - DF 25/11/2016) Presidente Michel Temer durante almoço com o PSDB no Palácio da Alvorada. Foto: Beto Barata/PR
Com Governo em crise, Temer muda estratégia
Jornalista revela nova estratégia de Temer diante de um Governo cuja imagem está cada vez mais degastada.
No Estadão
Temer muda estratégia de comunicação para tentar conter crise
Com a imagem desgastada pela crise política, presidente foi aconselhado por sua equipe a dar respostas imediatas a temas que vêm minando cada vez mais a avaliação do governo
Por Vera Rosa
Brasília – O anúncio do presidente Michel Temer de que seria impossível sancionar uma emenda para anistiar o caixa 2 eleitoral, caso a proposta seja aprovada pelo Congresso, marca o início de uma nova estratégia de comunicação do Palácio do Planalto. Com a imagem desgastada pela crise política, Temer foi aconselhado por sua equipe a dar respostas imediatas a temas que vêm minando cada vez mais a avaliação do governo. Nos bastidores, o diagnóstico é o de que, até agora, o presidente virou refém da agenda negativa.
Nos constantes monitoramentos das redes sociais, a Secretaria de Comunicação (Secom) constatou que a ideia de embutir a anistia ao caixa 2 no pacote anticorrupção tem potencial de causar estrago ainda maior para o Planalto. Foi então que Temer decidiu, em conjunto com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) – todos eles pressionados por reações da sociedade -, anunciar um acordo institucional no sentido de barrar qualquer movimento para perdoar quem cometeu crime de caixa 2.
Sob o risco do ressurgimento das manifestações de rua, em defesa do “Fora, Temer”, o presidente resolveu lançar vacinas para blindar o governo e, na tentativa de mostrar que não é conivente com falcatruas, admitiu a possibilidade de solicitar ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) que grave todas as suas audiências públicas. Temer manifestou esta intenção após ser acusado pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero de ter agido para atender aos interesses pessoais do então chefe da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, na briga com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O imbróglio ocorreu por causa de um empreendimento imobiliário embargado, em Salvador, onde Geddel comprou um apartamento.
A ideia de criar uma espécie de “gabinete de portas abertas” faz parte da nova política de comunicação do governo, montada depois que o Planalto foi informado de que Calero gravou conversas com Temer, com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e também com Geddel, que caiu na sexta-feira. Orientado por auxiliares a sair da defensiva e ir a público pessoalmente para reagir – não deixando a iniciativa apenas a cargo do porta-voz, Alexandre Parola -, Temer considerou o ato de Calero como de “uma indignidade absoluta”.
A percepção no Planalto é a de que a saída de Geddel ameniza, mas não acaba com a crise política, que contamina a recuperação da economia. Em conversas reservadas, aliados de Temer lembram que a oposição, apesar de minoritária, tem conseguido fazer muito mais barulho no Congresso e pode obter respaldo popular ao levantar a bandeira do impeachment, caso o Executivo não apresente resultados em curto prazo.
No momento em que a projeção do Produto Interno Bruto (PIB) de 2017 caiu de 1,6% para 1% e a Fazenda prevê queda de arrecadação, o desafio imediato do governo é aprovar o Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita os gastos públicos – âncora do ajuste fiscal -, sobreviver às delações de executivos da empreiteira Odebrecht, no âmbito da Operação Lava Jato, e evitar que manifestações de “Fora, Temer” se alastrem pelo País.
Em almoço no Palácio da Alvorada, na sexta-feira, com a presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do senador Aécio Neves (MG), entre outros tucanos, Temer ouviu que é necessário ter uma ofensiva não só para se contrapor à onda de acusações, mas também para mostrar o que sua equipe está fazendo. Em seis meses de administração, Temer ainda não tem nenhuma marca de governo para “vender”.
O publicitário Nizan Guanaes também pediu ao presidente, no último dia 21, que aproveite sua impopularidade para fazer as reformas de que o Brasil precisa, mesmo com medidas amargas. “Não é possível passar as reformas sem um trabalho de comunicação. O Ministério do Emprego, hoje, é o Ministério do Desemprego”, provocou Nizan, em reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, numa alusão aos 12 milhões de desempregados. “O senhor deve puxar esse trabalho para si e falar à Nação.” Foi exatamente isso o que Temer tentou fazer neste domingo, ao seguir a máxima do apresentador Chacrinha, segundo a qual “quem não se comunica, se trumbica”.