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Era uma vez… o cineasta Juan José Campanella – Parte 2

Victor Lages, pela Fênix Filmes Era uma vez um amor, uma chuva e o mesmo diretor que falamos semana passada e seguimos explorando sua cinematografia nessa segunda parte da série sobre como Juan José Campanella é fundamental para o cinema argentino. No texto anterior, contamos sobre sua infância em Buenos Aires, a mudança de curso […]

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Victor Lages, pela Fênix Filmes

Era uma vez um amor, uma chuva e o mesmo diretor que falamos semana passada e seguimos explorando sua cinematografia nessa segunda parte da série sobre como Juan José Campanella é fundamental para o cinema argentino. No texto anterior, contamos sobre sua infância em Buenos Aires, a mudança de curso para estudar o mundo dos filmes e suas primeiras obras. Hoje, traremos o início de sua parceria com o brilhante ator Ricardo Darín e sua primeira indicação ao Oscar.

O ano era 1999. O segundo milênio estava acabando, Brasil ganhava de 4 a 2 da Argentina nos amistosos da Copa, o presidente argentino Carlos Menem assumia e passaria só um ano no posto, falecia o jornalista Adolf Bioy Casares e Campanella lançava seu quarto longa-metragem, o primeiro legitimamente nacional. Chegava aos cinemas, em 16 de setembro, O MESMO AMOR, A MESMA CHUVA.

Cena de O MESMO AMOR, A MESMA CHUVA

O filme era uma crônica que registrava o tradicional do modo de fazer do diretor: pessoas comuns que viviam pequenos dramas em meio à grandes transformações que aconteciam no país. Darín interpretava um escritor que sobrevivia como autor de contos românticos para uma revista e Soledad Vilamil era uma aspirante a pintora, ambos vivendo e se apaixonando pelas décadas de 70, 80 e 90, enquanto enfrentavam a Guerra das Malvinas e a busca pela redemocratização.

O que víamos nesse filme era uma gratificante experiência para o cinema argentino, cuja linguagem se fundava nas relações humanas e esse foi um dos motivos que fizeram o cineasta repensar sua carreira internacional. Em entrevista anos depois, disse que “depois de 14 anos morando nos Estados Unidos, comecei a sentir muita falta da Argentina e voltei em 1997. Aqui, me encontrei com Fernando Castets e o ator Eduardo Blanco, de quem sou amigo há muitos anos. Foi quando fizemos O MESMO AMOR, A MESMA CHUVA. Ao terminarmos o filme, no começo de 1999, percebi que queria ficar”. E o cinema só podia agradecer por isso, já que a obra venceu 8 prêmios da Associação de Críticos Argentinos e ainda foi indicado ao Kikito de Ouro no Festival de Gramado, sendo ainda exibido em Moscou e Oslo.

Campanella começou, então, a enveredar pelo mundo das séries de televisão, o que serviu para ir amadurecendo seu senso crítico e estético, mesmo que de forma diferenciada. Dirigiu três temporadas de STRANGERS WITH CANDY, comédia satírica que apostava no surreal para contar a história de uma ex-prostituta e ex-viciada que decidia retornar ao ensino médio aos 46 anos de idade; produziu a minissérie argentina de drama CULPABLES, que recebeu o prêmio Martín Fierro, um dos mais importantes do meio audiovisual do país; e retornou rapidamente à Nova York, cidade que ganhou seu coração, para dirigir um episódio especial de LEI E ORDEM, conceituadíssima série que já passa de 190 episódios.

Cena de STRANGERS WITH CANDY

Questionado, certa vez, sobre essa relação entre ser um diretor de cinema e ser um diretor de televisão, Juan José respondeu: “Eu não faço distinção. Os movimentos da câmera são muito diferentes, mas trabalhar com os atores é o mesmo modelo e a análise do roteiro é a mesma. Nos filmes, você pode permitir mais silêncio do que na tevê. A televisão é mais como os filmes “no rádio”, há muito medo de ter dois minutos sem palavras”.

E eis que chega 2001. O milênio tinha virado e todos sobrevivemos ao bug que ameaçou o mundo inteiro. Esse era o ano internacional da mobilização contra o racismo, discriminação racial, xenofobia e todas as formas de intolerância. É criada a maior fusão da mídia da história, George W. Bush toma possa da presidência nos Estados Unidos e Campanella lança seu maior filme de sucesso até então.

O FILHO DA NOIVA revivia a parceria entre o cineasta e Ricardo Darín, alcançando mais de 600 mil dólares de bilheteria só para os americanos a partir do maior questionamento que a narrativa levanta na cabeça dos espectadores: se vivemos num ritmo alucinante nesse milênio que chegou, até que ponto podemos lidar com essa velocidade sem deixarmos de lado o que realmente importa?

Cena de O FILHO DA NOIVA

Darín encarna, aqui, um homem de 42 anos, separado, pai de uma menina e que administra um restaurante construído por seus pais, agora idosos. Além da rotina frenética do estabelecimento, o personagem ainda precisa lidar com sua namorada, tentar ter uma boa relação com sua ex-esposa e sua filha e cuidar de sua mãe, que está enfrentando um Alzheimer, e de seu pai, que precisa de sua ajuda com essa doença.

Para o crítico Rodrigo Pereira, “recheado de grandiosas atuações, um ótimo roteiro e diversos momentos emocionantes (misturado de algumas cenas cômicas), O FILHO DA NOIVA é uma obra tocante e muito bem idealizada que expõe com maestria todos os problemas que podemos adquirir ao nos preocuparmos em excesso com trabalho e esquecermos de viver e nos importar com o que e com quem realmente importa”. Não por menos foi indicado ao Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, perdendo para TERRA DE NINGUÉM, da Bósnia.

Mas Campanella mal sabia que, até o final da década, ainda ganharia seu prêmio especial… o que só será falado na próxima semana, quando traremos mais dois longas com a dobradinha Juan José-Ricardo e ainda a entrada do diretor no mundo das animações! Hasta luego!

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