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Impeachment e cadeia

Não sou um punitivista, nem o Cafezinho é um blog desta cepa, muito pelo contrário. Contudo, quando alguém que comete um crime oferece perigo para a sociedade caso permaneça livre, esse alguém deve obviamente ser afastado do convívio social. É o caso do presidente do Brasil (e do seu capacho que faz as vezes de […]

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Laerte

Não sou um punitivista, nem o Cafezinho é um blog desta cepa, muito pelo contrário. Contudo, quando alguém que comete um crime oferece perigo para a sociedade caso permaneça livre, esse alguém deve obviamente ser afastado do convívio social.

É o caso do presidente do Brasil (e do seu capacho que faz as vezes de ministro da saúde). É pior, na verdade, pois não se trata de simples perigo, mas de dano contínuo, pesado e irreparável à sociedade: as mortes diárias aos milhares provocadas pela psicopatia de Jair Bolsonaro.

O crime de genocídio é definido pela Lei nº 2.889/56, e uma das formas do crime é quando alguém tem a “intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional”, submetendo o grupo “a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial”.

É uma descrição precisa para o que Bolsonaro vem fazendo com os brasileiros desde o início da pandemia.

O presidente deve, portanto, ser preso o quanto antes porque suas ações e inações estão matando pessoas todos os dias. Sua responsabilidade é direta, na medida em que, por exemplo, incita o descumprimento dos protocolos adotados em todo o mundo e recusa(!) uma oferta do laboratório Pfizer que pretendia disponibilizar a vacina para a população brasileira ainda em dezembro. (Estamos na metade de janeiro e a vacinação não começou.)

A situação de Manaus é mais um agravante no quadro. Próceres do bolsonarismo como Eduardo Bolsonaro (filho do presidente) e Bia Kicis comemoraram efusivamente quando o governador de Amazonas cedeu à pressão pela abertura do comércio no fim de 2020 – abertura defendida pelo presidente a todo o momento e para quaisquer circunstâncias.

Além disso, a Força Aérea Brasileira não entregou ao estado os cilindros de oxigênio que deveria ter entregue. E, como se não bastasse, o ministro da saúde Eduardo Pazuello estava, há pouquíssimos dias, tentando “resolver” a crise iminente em Manaus desovando o estoque de cloroquina adquirido e produzido pelo governo Bolsonaro por conta da sua submissão imbecil a Donald Trump. (Há consenso científico quanto à ineficácia da cloroquina para o tratamento da covid-19; o remédio ainda pode provocar efeitos colaterais graves.)

É crime atrás de crime. Todos letais. Bolsonaro transformou o país em um campo de extermínio, como definiu o juiz Marcelo Semer.

Antes de prendê-lo, contudo, é preciso tirá-lo da presidência. A derrota política criará condições… políticas para que o presidente seja julgado por seus crimes.

A esquerda é, até onde sei, unânime na defesa do impeachment. Na direita parece que começa a haver uma movimentação mais forte nesse sentido. É, de fato, um bom momento para os especialistas em impeachment que arrancaram Dilma Rousseff do cargo por causa das “pedaladas fiscais” – como eram prosaicos os nossos problemas, não? – arregaçarem as mangas e mexerem os pauzinhos que bem sabem mexer para derrubar o genocida.

Se não for por uma questão de ética, de bom senso ou de arrependimento, que seja por sobrevivência política e de reputação. Os responsáveis por este extermínio não serão esquecidos, assim como os que se omitiram. Jornalistas, empresas de mídia, políticos, influenciadores e todos os demais cidadãos que escolheram apoiar e votar em um defensor da ditadura, da tortura e da morte têm uma mancha indelével em suas vidas, sem dúvidas. Mas podem ao menos contribuir para acabar com o mal que ajudaram a criar.

Não vai ser fácil, é claro: Bolsonaro ainda tem uma considerável base. Uma base fiel e violenta. Mas a opção é deixá-lo acumular mais forças, armar ainda mais seus apoiadores e cooptar mais forças de segurança para tentar resistir à sua inevitável derrocada.

Só que isso é impensável. É hora de arrancá-lo da cadeira presidencial. E em seguida submetê-lo a julgamento por genocídio.

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Pedro Breier

Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.

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Comentários

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Heleno (o que NÃO é general)

16/01/2021 - 06h48

DISCORDO DE BEMVINDO SEQUEIRA

É que ele apelidou o PAZUELLO de sargento GARCIA, aquele gorducho que era o arqui-inimigo do Zorro.

Não concordo. Sargento Garcia era meio abobalhado mas era um homem bom. Queria prender ou matar o Zorro, mas nunca pensou em torturá-lo, como está fazendo a dupla Bolsonaro+Pazuello com todo o povo brasileiro. Não só no caso específico de Manaus, mas principalmente pela falta de seringa e vacina para imunizar o povo de todo o país contra as covid-19. Bolsonaro e Pazuello são psicopatas e genocidas convictos. São doentes contagiosos, e por isso muita gente no Brasil tem adoecido por causa do comportamento criminoso desse dois crápulas. A quantidade de brasileiros com “síndrome do pânico” e outras doenças psicológicas se alastra como uma praga de gafanhotos.

O sargento Garcia era um tolo, um bonachão, mas não havia crueldade nos seus pensamentos e ações. Simplesmente achava que Zorro era um bandido, como ainda tem pessoas bobas no Brasil que acham que bandido é o Lula.

Nelson

15/01/2021 - 22h29

A mídia hegemônica fez, deliberadamente, uma longa campanha de denúncias de corrupção envolvendo a classe política. Seu objetivo era o de depurar a política brasileira, limpar os parlamentos? De forma alguma. O objetivo era difamar o quanto fosse possível os políticos e afastar ainda mais as pessoas da política.

Um dos efeitos foi o enorme aumento das abstenções ocorrido já na eleição de 2018 e que se repetiu em 2020. O outro efeito é a crença, que tomou conta de boa parte da sociedade, de que elegendo gente ligada a sua religião ou militares e policiais os parlamentos a corrupção e os vícios seriam eliminados dos governos e parlamentos.

Ao invés de se tornarem mais protagonistas, de influírem com mais contundência nas decisões políticas, muitas pessoas continuaram a repassar a responsabilidade, que é delas, de fazer com que a política funcione para o todo e não somente para um restrito grupo da sociedade, o grupo dos que têm maior poder econômico.

O resultado é o que estamos vendo. A política sendo inundada de militares, policiais civis ou militares, e religiosos, principalmente de igrejas neopentecostais.

Muita gente passou a acreditar que entregando novamente o poder aos militares, como ocorrera na ditadura civil-militar de 1964 a 1985, tudo ia se resolver pela mágica competência e honestidade desse grupo da sociedade.

Espero que o descalabro do atual governo, que é total, como podemos ver, sirva de lição, dura lição, para que os brasileiros se convençam, de uma vez por todas, a assumirem suas responsabilidades na condução da nação e a não continuarem a “passar cheque em branco” a quem quer que seja.

Afinal, os militares são, como qualquer um de nós, feitos de carne e osso e suscetíveis, sim, a cometerem as mesmas falhas e os mesmos erros que os civis cometem. Sáo mais de 6.000 militares ocupando postos nesse governo e o que vemos além de desmantelamento das estruturas do país?

    Pedro Breier

    16/01/2021 - 14h56

    Boa a análise!

Alexandre Neres

15/01/2021 - 18h14

Vou começar replicando o começo do excelente artigo da Maria Hermínia Tavares ontem na Folha chamado Roteiro para o Golpe: “A democracia começa a ter um sério problema quando os vencido s numa eleição contestam os seus resultados. Embora sejam muitas as condições que asseguram a estabilidade do sistema, a escolha dos governantes pelo voto – comas instituições garantindo a lisura do jogo – e a aceitação do desfecho por todos os competidores formam o alicerce da ordem democrática.

Em 2014, um desatinado Aécio Neves se recusou a ouvir a voz das urnas favorável a Dilma Rousseff e abriu caminho para a crise política que culminaria com a ascensão da extrema direita ao poder quatro anos depois.”

Agora aparece uma série de pessoas indignadas com a situação, arrependidos, como se Bolsonaro não tive sempre sido transparente e deixado muito claro quem ele era, como por exemplo João Amoêdo, Joice Hasselman ou Huck. Por óbvio, não é o seu caso, Pedro Breier. Um jornalão dizia em 2018 ser uma escolha difícil entre o professor e o misógino, homofóbico e racista. Um outro da mesma cidade se recusava peremptoriamente a dizer que Bolsonaro era de extrema direita. Um apresentador de telejornal que hoje posa de valente, não falou um “a” quando o capetão mencionou em pleno JN o kit gay. Ninguém na grande imprensa nem da oposição à época se manifestou acerca do discurso do infeliz defendendo o Ustra, o pavor da presidenta. Enfim, este é o mosso país.

Somos obrigados a ouvir de uma alta autoridade americana que vai ser difícil de lidar com uma pessoa que fica fazendo apologia de ditaduras e da tortura dia e noite. Dória, Maia, ACM Neto, Kassab. não podem querer fingir de égua e agora se esquivar, pois isso tudo estava incluído no pacote e Bolsonero não pode ser acusado de ter praticado estelionato eleitoral. Tudo era previsível, menos a pandemia. Temos também um ex-senador canalha que foi rejeitado nas urnas, que foi um péssimo ministro da educação, traidor da classe à qual representava. O que dizer sobre esta corja?

Para os analfabetos jurídicos, cabe a explicação. Dilma Roussef não foi impichada pelo conjunto da obra, isso não é permitido pelo direito, as acusações que pesaram sobre ela foram pedaladas fiscais e edição de decretos suplementares, que a título de exemplo era especialidade do ex-governador Anastasia que teve a pachorra de apontar o dedo de seta para Dilma, os quais não constituem nem nunca constituíram crime de responsabilidade. Inúmeros governantes já haviam praticado tais atos e nada acontecera com eles. Vou dar um exemplo para o caso ficar claro: 100 pessoas ultrapassaram o sinal e nada aconteceu com elas; uma passou depois disso e foi condenada; posteriormente, vários furaram o sinal, mas ninguém mais foi indigitado. Pergunto: isso é Justiça? Porque impeachment é um crime jurídico-político, não basta a legitimidade dos procedimentos para caracterizar o crime, além da questão política precisa se configurar um crime de responsabilidade.

Mas o que fazer no país em que as pessoas veem como normal a formação da Liga de Justiça, onde a justiça é instrumentalizada para perseguir adversários políticos? Juiz julga, procurador acusa e denuncia e polícia investiga, este é o princípio da segregação das funções. Aqui não, como ficou claro por meio da Vaza Jato que o chefe da força-tarefa era o juiz, considerando que a imprensa deixou de apurar os fatos para se tornar mera correia de transmissão da Lava Jato. Aliás, fingiu que não existia a Vaza Jato, à exceção da Folha, o restante não se pronunciou a respeito do assunto, só há pouco a CNN furou a bolha, já que a ligação entre a Globo, por meio de João Roberto Marinho, Merval e Vladimir Netto (filho da Leitão e autor de um livro laudatório sobre ladrão), e a Lava Jato por meio do Tantã Dinheirol era íntima e estreita. Há pouco também a Justiça atestou a integridade dos arquivos da Vaza Jato obtidos por meio da Operação Spoofing. O processo do Lula correu a jato para condená-lo em duas instâncias e para tirá-lo das eleições, o juiz foi ser ministro de quem ajudou a eleger, porém o habeas corpus para considerar o juiz parcial se encontra paralisado há mais tempo do que o processo demorou para ser julgado.

Então, o cenário é dantesco. Muitas pessoas não podem digerir tais fatos por terem de se assumir como golpistas e não dão conta disso. Eu também não conseguiria me olhar no espelho. Políticos velhacos querem aproveitar a oportunidade para se desvencilharem de Bolsonero, mas cabe a nós deixar claro que não venham posar de arrependidos, pois sabemos quem são e que nos trouxeram para essa situação vexatória. É dura a sina de quem nasceu numa republiqueta de banana!

    Pedro Breier

    16/01/2021 - 14h59

    Boa. Tá foda mesmo.

Sócrates

15/01/2021 - 16h22

É preciso convocar uma campanha pressionando o congresso. Vinculando diretamente esses absurdos todos à conivência dos deputados de sua base.
É preciso escancarar:
#QuantosBolsonarosTemNoCongresso

Marcio Cruzeiro

15/01/2021 - 15h25

Genocida !!!!!


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