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José Carlos de Assis: O que o terror em Araçatuba ensina sobre Jair Bolsonaro

Por José Carlos de Assis Araçatuba é o tipo de guerra civil que Jair Bolsonaro vem preparando para o Brasil. Ele não quer o confronto de dois exércitos, um de esquerda e outro de direita. Quer a desestruturação social completa da sociedade para justificar a aplicação  da Defesa da Lei e da Ordem nos Estados, […]

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Por José Carlos de Assis

Araçatuba é o tipo de guerra civil que Jair Bolsonaro vem preparando para o Brasil. Ele não quer o confronto de dois exércitos, um de esquerda e outro de direita. Quer a desestruturação social completa da sociedade para justificar a aplicação  da Defesa da Lei e da Ordem nos Estados, sob controle do Governo Federal, sem interferência dos governadores. A concordância dos governadores estava prevista num decreto de Dilma Roussef. Com uma canetada, pode ser retirada por ele.

A milícia que invadiu Araçatuba e espalhou o terror na cidade está armada até os dentes por conta de decisões de Bolsonaro, e atende, como outras, a suas  recomendações explícitas para que os radicais brasileiros do crime, organizado ou não, se armem livremente com arsenais moderníssimos de acesso facilitado a qualquer um pelo estímulo tributário do governo ao contrabando. A invasão não deveria ser uma surpresa. Já houve outras. Estão na agenda do presidente da República.

O confronto entre dois exércitos seria muito complicado. Os generais brasileiros não estão muito interessados. Para haver dois exércitos, seria necessária uma divisão explícita entre eles entre esquerda e direita. Poderiam perder o controle da situação. É melhor deixar o trabalho sujo nas mãos de milícias, traficantes, assaltantes de bancos, gente especializada em espalhar a insegurança social e a intranquilidade pública com bombas acionadas pelo deslocamento de pessoas.

São fuzis que deveriam ter sua comercialização sob o controle do Exército, mas Bolsonaro mandou destituir do posto o coronel da ativa que tinha essa missão. Demitiu também os três comandantes das Forças que sinalizaram não estar dispostos a ser vassalos de seus caprichos. Acontece que ninguém sabe direito a posição dos comandantes atuais que os substituíram. Sabemos, sim, que o ministro da Defesa é inconfiável. Chegou ameaçar o Congresso se não aprovasse o voto impresso. 

Os céticos dirão que o Exército, influenciando as outras forças e seus membros ativos e inativos, foi um instrumento decisivo na eleição de Bolsonaro. Ele próprio o reconheceu, na presença de seu inspirador, o então comandante Villas Boas, na cerimônia de posse no Planalto. O cético, então, diria: Quem pariu Mateus que o embale! Parece, porém, que os mais exaltados no apoio ao projeto miliciano de Bolsonaro são os generais empoleirados no Planalto. Não têm tropas.

Daí que não há mesmo muita alternativa a não ser armar a ralé do povo para um confronto, não com um exército de esquerda, mas com a própria sociedade. É a estratégia de Hitler. E,curiosamente, segue uma linha de ação que revela Bolsonaro como um extremista de direita que se espelha no extremismo de esquerda na época da ditadura. Mesmo antes desta última, Brizola armou o povo gaúcho para garantir a posse de Jango. Na ditadura, parte da esquerda partiu para assaltos a bancos e guerrilha urbana e rural.

O ódio de Bolsonaro à esquerda não é uma questão política, é uma questão psicológica. Ele quer imitar a radicalização da esquerda pela radicalização da direita. É isso que alimenta seu ódio a tudo que, com ou sem razão, se refere à esquerda. Dessa forma, por qualquer desatenção a seus preconceitos, abandona aliados, salta de partido em partido, trai compromissos, e se recusa a apresentar qualquer iniciativa prática para resolver os graves problemas brasileiros,  fora do campo ideológico.

A história, para os marxistas, avança pelo conflito entre opostos, produzindo o novo.  Bolsonaro radicaliza esse conceito, porém, voltando no tempo. Seu herói é o torturador Ultra. Seu espelho são os assaltantes de banco e sequestradores de esquerda que fustigaram a ditadura militar, principalmente diante do desespero pela impossibilidade da luta contra o AI-5 no plano político. Espelha-se também em Leonel Brizola, que armou o povo gaúcho para garantir a posse de Goulart em 1961.

É por isso que deve ser levado a sério. Percebi o desequilíbrio psicológico de Bolsonaro, embora não seja psicanalista, menos de três meses depois de sua posse. Escrevi um artigo dizendo que Bolsonaro não tinha superego. Tinha só id, a fonte dos instintos animalescos, que se projeta direto no ego, sem controle moral do superego. Isso explica suas atitudes brutais e seu apelo constante ao ódio e à violência, e seu instinto selvagem que esconde um caráter medroso e covarde.

Sim, porque é um covarde. Só esmaga os fracos. Seu desespero diante do Supremo é porque se viu diante de uma força que não pode enfrentar sozinho. Daí o apelo à cumplicidade do Senado, cuja negativa em apoiá-lo o deixa em desespero ainda maior. Cada vez se vê mais sozinho. Sem ter no Exército uma cumplicidade garantida, apela para a PM, que lhe parece uma força bruta do mesmo nível de brutalidade que o seu. Odeia intelectuais e artistas porque têm a cultura que não tem.

Porque é um primitivo, muitos não veem como um perigo. Enganam-se. Quando liderou o levante da cervejaria de Munique que o levou à cadeia e depois à glória, também Hitler não foi levado a sério. E não era presidente da República, porém um simples aventureiro político radical, dominado pelo ódio a judeus, a homossexuais como ele mesmo, e a pobres em geral. Exatamente como Bolsonaro. Se não lhe forem cortadas as asas logo, voará livre sobre os cadáveres da democracia e de nós próprios.

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HIELSON FERREIRA IVO

31/08/2021 - 18h33

Comparar a resistencia armada de Brizola contra os Bolsonaros da época com o Bolsonarismo de hoje, é ser pior do que Bolsonaro. Das duaas uma: ou é incompetente mesmo, ou é mau-caratice


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