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Análise: Datafolha reforça necessidade de voto estratégico em Lula

Lula, enfim, goste-se ou não dele, é o cara. Apenas ele tem condições reais, objetivas, de vencer as eleições.

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Imagem: Ricardo Stuckert

O Datafolha publicou uma nova pesquisa hoje, que devemos interpretar com muita objetividade, em virtude de sua importância, considerando tanto a sua qualidade, como o seu impacto na opinião pública. É a maior pesquisa presidencial feita até o momento, com 2.556 entrevistas presenciais realizadas entre os dias 22 a 23 de março.

Segundo a nota fiscal apresentada ao TSE, a pesquisa custou R$ 473.780,00, pagos pela empresa Folha da Manhã, que administra o jornal Folha de São Paulo.

Como as pesquisas anteriores usaram cenários diferentes, o comparativo das intenções de voto estimulado não é aconselhável. Mas podemos, sim, comparar os números espontâneos.

Lula segue na liderança isolada, com 30% de votos espontâneos, contra 23% de Bolsonaro; Ciro e Moro pontuaram 2% cada um.

Esses números são muito parecidos aos mostrados em outras pesquisas presenciais: na última Quaest, por exemplo, com entrevistas feitas entre os dias 10 a 13 de março, o petista tinha 27% na espontânea, contra 19% de Bolsonaro, e 3% para todos os outros somados.

Na espontânea da CNT/MDA, também presencial, Lula tinha 32,8%, Bolsonaro 24,4%, Ciro 2,6% e Moro 2,1%.

Os números espontâneos do Datafolha, portanto, estão alinhados com outras pesquisas e mostram um cenário de acomodação, não de mudança. Lula sempre oscila em torno de 30% das intenções espontâenas, Bolsonaro fica mais próximo de 20%.

Na estimulada, a situação é a mesma. O Datafolha confirmou o cenário de acomodação que outras pesquisas já sinalizavam. Lula tem 43% no Datafolha, contra 26% de Bolsonaro, 8% de Moro e 6% de Ciro, no cenário expandido.

Na Quaest da semana passada, Lula tinha 44%, Bolsonaro 26%, Moro 7% e Ciro 7%.

A pesquisa não é ruim para Lula, que continua na liderança isolada, tanto no primeiro como no segundo turno, e tanto na espontânea quanto na estimulada.  Ele caiu de dezembro para março, mas se considerarmos um pouco mais de cima, vemos uma candidatura se estabilizando em torno de 30% do eleitorado espontâneo.

Para Bolsonaro, a pesquisa é muito útil para afastar a tese de que ele estaria “morto”. Não está. A propósito, a tese também é útil para Lula, por razões que vamos explicar mais adiante.

Bolsonaro nunca esteve morto. Ele apenas desidratou alguns pontos, possivelmente em função da entrada de Sergio Moro, na pesquisa de dezembro. Mas ele tinha 26% de votos estimulados em setembro de 2021, e hoje continua em 26%. Voltou ao que era antes.

Lula tinha 44% de votos estimulados em setembro, e hoje tem 43%. Igualmente voltou ao que era.

Segundo relatado pelo jornalista Bruno Boghossian, o crescimento de Bolsonaro nos últimos três meses foi puxado pelo voto de “classe média”. Eu já me entusiasmei mais com esses dados segmentados, até descobrir que eles trazem margens de erro muito acentuadas, o que nos obriga a olhar com ceticismo e mesmo desconfiança para essas oscilações bruscas de uma pesquisa para outra. No próximo Datafolha, por exemplo, os números dessa classe média podem voltar ao que eram em setembro ou dezembro de 2021.

Boghossian informa que, entre eleitores com renda familiar de 2 a 5 salários, Lula e Bolsonaro empatam hoje com 45% e 43%, respectivamente, na simulação de segundo turno. Em dezembro,  porém, o petista ganhava por 53% a 36%.  Aparentemente, temos um setor de classe média que está recuperando seu bom humor, após dois anos de pandemia devastadora, e isso beneficia o incumbente.

Por outro lado, essa classe média ainda vive, aparentemente, os últimos dias de euforia pós-Covid. A crise econômica gerada pelo aumento brutal no preço da cesta básica, dos combustíveis e dos juros, já atingiu os pobres, mas ainda não a classe média. Mas atingirá.

Em verdade, a pesquisa é ruim mesmo para a terceira via. Ciro Gomes, por exemplo, tinha 9% em setembro de 2021, e hoje tem 6%.

O PDT alimentava a expectativa de que o seu candidato chegaria próximo de 20% a essa altura da campanha. Sua única esperança, de substituir Bolsonaro e enfrentar Lula no segundo turno, sempre foi um sonho impossível. Mas agora ganhou um ar de ridículo. No Datafolha de dezembro, a distância de Ciro para Bolsonaro era de 15 pontos (22% X 7%), no cenário expandido. Agora é de 20 pontos.

Para Moro, o cenário também é desolador, mas ao menos ele pode alimentar uma vaga esperança: de que algum grande escândalo político atinja Bolsonaro, abrindo espaço para que ele, Moro, herde o voto conservador.

De qualquer forma, a disputa, entre Moro e Ciro, por um longínquo terceiro lugar, tornou-se patética.

Há ainda um grave complicador para Ciro, que é o fato de que ele está alijado de todas as possíveis articulações das forças que compõem a chamada terceira via. Nem sempre foi assim. Houve um momento em que Ciro foi chamado para essas conversas, mas ele mesmo dinamitou as pontes. Há especulações intermitentes sobre uma possível união de esforços entre PSDB, União Brasil, MDB, e até mesmo o Podemos, para superar a “polarização”. O candidato poderia ser Doria, Leite, Tebet ou Moro. Mas Ciro está descartado, em virtude do próprio voluntarismo de sua campanha, balisada num hipotético e inegociável “projeto”, que, por sua vez, estaria resumido num livro de 276 páginas à venda na Amazon por R$ 26,90.

Segundo a análise da Folha, após ter o espaço à esquerda bloqueado por Lula, o pedetista  “vem murchando paulatinamente por não atrair o centro e a centro-direita”.

Sobre João Dória, sua performance é risível. No cenário 3, ele cai para 2%, perdendo até mesmo para o novato André Janones, que tem 3%.

Aliás, Janones é uma pequena e curiosa surpresa. Embora dificilmente possa fazer cócegas em Lula ou Bolsonaro, o deputado do Avante poderia avançar sobre os veteranos da terceira via e lhes causar o embaraço de ter mais votos que eles.

Nos cenários de segundo turno do Datafolha, Lula continua dando uma surra em seus principais concorrentes. Num eventual (e provável) segundo turno com Bolsonaro, o petista venceria por 55% a 34%, 21 pontos de vantagem. Bolsonaro estreitou a diferença em relação a dezembro, mas os números não são muito diferentes do que tem sido ao longo das últimas cinco pesquisas.

O Datafolha também joga por terra uma das narrativas que Ciro Gomes tenta vender aos antipetistas, de que somente ele, Ciro, teria condições de vencer Lula no segundo turno. Bolsonaro, por sua vez, seria o “melhor adversário” para Lula, porque o mais fácil de derrotar. Não é isso que o Datafolha mostra. Num eventual segundo turno, Lula venceria Ciro por  54% X 28%, ou seja, por 26 pontos de diferença.

Em 2018, o pedetista usou generosamente simulações de segundo turno que mostravam, para ele, um desempenho melhor que o de outros candidatos, num embate direto com Bolsonaro.

Isso também não se reflete nessa pesquisa. Num segundo turno entre Ciro e Bolsonaro, o pedetista vence, mas com uma vantagem de apenas 9 pontos: 46% X 37%. Lembrando: Lula venceria Bolsonaro por 21 pontos de vantagem.

Conclusão

Esse Datafolha, publicado ainda antes do fechamento da janela partidária, num momento em que candidatos e partidos tem que tomar decisões difíceis e definitivas para a campanha eleitoral deste ano, tanto para a nacional como para as estaduais, aponta para um cenário de polarização fortemente cristalizado, e que, pelo jeito, não irá mudar. Bolsonaro não esvaziou. Ao contrário, está mais forte hoje do que há alguns meses. Lula segue na liderança:  é o candidato de oposição com mais votos, mais governadores, mais deputados, mais recursos de campanha, preferido pelos movimentos sociais, sindicatos e mídias progressistas, com mais prestígio internacional.

Lula, enfim, goste-se ou não dele, é o cara. Apenas ele tem condições reais, objetivas, de vencer as eleições.

Diante deste fato incontestável,  os eleitores de oposição ainda reticentes, espalhados por candidaturas de terceira via, se sentirão cada vez mais inclinados a votar estrategicamente em Lula, com o objetivo de enterrar politicamente, de uma vez por todas, esse fascista execrável e perigoso que ocupa a presidência da república.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Saulo

25/03/2022 - 21h50

O candidato com mais de 40% de votos e que ganha com 21% de votos a mais no segundo turno do atual Presidente da República não aparece em público, viaja em segredo, fica só nos ambientes de puxa saco dele… tá um pouco estranho a meu ver….

Se eu fosse no lugar dele sairia na rua para mostrar a força que tem, arrematar ainda mais votos e calar a boca de quem não acredita em pesquisas. Tá estranho…

Tiago Silva

25/03/2022 - 21h01

O Brasil está muito polarizado principalmente desde 2014 e poucas coisas mudariam os votos cristalizados do representante do Polo da Esquerda (Lula desde 2018) e Polo da Direita (Bolsonaro desde 2018) como: fatos inusitados (fakeadas, Farsa-Jato, etc), alguns dos candidatos buscar ou ser entendido como “terceira via” (do Capital/Elite) e surgir candidato mais à esquerda ou mais à direita que ocupe o lugar no polo da polarização (algo que aconteceu na América do Sul em que candidatos mais à Esquerda sobrepujaram candidatos de centro-esquerda associados ao “sistema”… Ou na Direita surgir candidato mais radical e com mais domínio midiático como foi o Zelensky na Ucrânia e seria a tentativa do MBL com Gentili ou Sérgio Moro), além de alguma mudança decorrente de melhor marketing na época de propaganda política, debates e comícios.

Os candidatos associados como “Terceira Via” demonstram suas inexpressividades eleitorais por estratégia políticas que lhe geraram desconfiança nos eleitores dos polos polarizados (algo em torno de 70% a 80% dos eleitores) e será difícil reconquistar votos de eleitores de esquerda identificados com Lulismo ou eleitores de direita identificados com Bolsonarismo. Isso já era perceptível desde 2019, mas parece que só caiu a ficha agora. No máximo o que sobrou para estes candidatos de Terceira Via é buscar ser conhecido para o pleito de 2026 ou 2030 (torcendo para que os próximos governos continuem no espiral deficiente de neoliberalismo tanto de governos do PSDB como de governos do PT anteriores que os eleitores se frustraram e identificaram como “sistema” – desigualdade tributária, pejotização, privatização de setores sociais, subsídios a poucos (empresários, finanças, agro, etc), descompasso com índices da OCDE e melhoras sociais insuficientes ao que prévia a CF/88).

Francisco*

25/03/2022 - 19h37

A pesquisa Datafolha de março de 2022 não serve para determinar a tendência atual das candidaturas pela simples razão que para tanto há a necessidade estatística de relacionar a pesquisa atual com a imediatamente anterior, e no caso do Datafolha, a anterior a março de 22, foi realizada lá no longínquo, estatisticamente, dezembro de 2021, sabendo-se que estamos a 6 meses da eleição, quando então já deveria estar realizando pesquisas mensais, de forma a poder comparar março/22 com fevereiro/22 e não com dezembro de 21.

Portanto se acompanharmos a evolução das pesquisas, Datafolha e Ipespe, a partir de dezembro de 2021, temos:

Dezembro/21
Datafolha/16: Lula 48% / Bolso 22% / Moro 9% / Ciro 7% / Doria 4% / Outros 1% / NBN 8% / NS 2%
Ipespe/20: Lula 44% / Bolso 24% / Moro 9% / Ciro 7% / Doria 3% / Outros 2% / NBN 9% / NS 3%

Janeiro/22
Ipespe/27: Lula 44% / Bolso 24% / Moro 8% / Ciro 8% / Doria 2% / Outros 3% / NBN 8% / NS 4%
Não há pesquisa Datafolha.

Fevereiro/22
Ipespe/25: Lula 43% / Bolso 26% / Moro 8% / Ciro 7% / Doria 3% / Outros 4% / NBN 7% / NS 2%
Não há pesquisa Datafolha.

Março/22
Ipespe/11 : Lula 43% / Bolso 28% / Ciro 8% / Moro 8% / Doria 3% / Outros 3% / NBN 7% / NS 2%
Datafolha/24: Lula 43% / Bolso 26% / Moro 8% / Ciro 6% / Doria 2% / Outros 5% / NBN 7% / NS 3%
Ipespe/25: Lula 44 % / Bolso 26% / Moro 9% / Ciro 7% / Doria 2% / Outros 4% / NBN 7% / NS 2%

Podendo observar-se que:

1. Na partida, em dezembro/21, o Datafolha diverge do Ipespe, dando a Lula uma margem maior e a Bolsonaro uma menor.

2. O Ipespe prossegue em sua série mensal, mostrando que Bolsonaro cresce 2 pontos em fevereiro/22 e mais 2 pontos na primeira pesquisa de março, no dia 11 (quando passam para duas pesquisas mensais), sendo que a partir da segunda pesquisa de março, no dia 25, bolsonaro cai 2 pontos, indicando a tendência de situar-se em torno de 25%, conforme mostra-nos a série de pesquisas realizadas, ou seja, tudo continua como dantes desde a pesquisa Datafolha de 12 de maio de 2021, há quase um ano, com Lula 41%, Bolso 23% , Moro 7% e Ciro 6%, com pequenas pequenas variações de Lula e Bolsonaro, dentro a margem de erro.

3. O Datafolha ao comparar março de 22 com dezembro de 21, permite a impressão de acontecer um momento de grande avanço de Bolsonaro, arrastando junto com a mesma todos os lépidos e excitados da mídia, à falsa impressão, que o ciclo mensal e ora bi mensal de pesquisas do Ipespe, clareia, ao mostrar inclusive em sua última, hoje divulgada, a tendência atual de queda na preferência pelo infrator e destruidor mor da República.

Uganga

25/03/2022 - 10h30

Eu gostaria saber quais assuntos a esquerda levou aos brasilerios nesses 4 anos para achar que alguém possa mudar de voto…?

Eu vi sò narrativas para fazer barulho, cretinices infantiloides (leite condensado, genocida, Queiroz, e babaquices inuteis afins…) uma CPI vergonhosa de tao baixa, ecc…enfim, o nada absoluto.

Alguém sabe dizer quais assuntos de interesse dos brasilerios foram levados a frente pela esquerda pois eu desconheço…

Bandoleiro

25/03/2022 - 10h01

Sim Miguel do Rosario, vamos votar todos no Lula porque vc acha bom…

Roberto Kodama

25/03/2022 - 09h52

Não foi mostrado aqui, mas a tragédia da terceira via só aumenta, quando num cenário de terceiro turno de Dória x Bolsonaro, há empate técnico.

    Roberto Kodama

    25/03/2022 - 09h55

    Ops! “Cenário de segundo turno”

Paulo

25/03/2022 - 09h04

Um dos cenários eleitorais mais desalentadores da história do Brasil. O povo brasileiro está prestes a dar mais um tiro no próprio pé, seja um ladrão de partido e do “Ronaldinho dos Negócios”, seja um ladrão de “rachadinhas” e de pastores, o escolhido. E o pior é que atinge o nosso coração…Acorda, Zé!

Francisco*

25/03/2022 - 01h34

O fato mais relevante na pesquisa e que deve ser devidamente destacado, é que decorridos dez meses da pesquisa Datafolha realizada em maio de 2021, os números na pesquisa atual, de março de 2022, permanecem os mesmos, com pequenas variações, entre 1 e 2%, dentro da margem de erro, entre os candidatos, indicando que a parada

Saulo

24/03/2022 - 22h45

A culpa vai ser novamente dos eleitores do Cirolipa que não votaram no Lula desde o primeiro turno….kkkkkkkkkkk

Ronei

24/03/2022 - 22h40

Acreditar ou até fingir de acreditar em pesquisa onde Lula ganha com 21% de votos no segundo turno é a mesma coisa de apresentar certificado de imbecilidade no INSS para tentar aposentar.

Zulu

24/03/2022 - 22h36

O Miguel do Rosário tá pedindo os votos dos eleitores do Ciro Gomes desde o primeiro turno pois no segundo turno Bolsonaro ganha.

Tem que votar logo no Lula e calados viu….kkkkkk

Alexandre Neres

24/03/2022 - 22h35

Perfeita a análise, Miguel! Destrinchou para nós com maestria o significado da nova pesquisa Datafolha.

William

24/03/2022 - 22h33

O que é engraçado é que quem chamam os outros de gado elegem e lambuzam o escroto do mesmo Pilantra há mais de 20 anos…cai entender essa presunção, essa arrogância….

Jhonatan

24/03/2022 - 22h30

Lula pode sim ter 30% de votos mas Bolsonaro tem bem mais que 23%.

Tony

24/03/2022 - 22h28

No ano de 2022 se agarrar ao escroto de um ex político, ex presidente, ex corrupto e ex lavador de dinheiro depois de toda a imundícia que esse animal e seus companheiroa se merenda é claro sinal de completa falência, de falta de planejamento, de falta de tudo.

Por um pseudo fascismo no meio é exaustivamente e como de costume uma forma de justificar um puxasaquismo escroto de quarta série.

Nada contra, cada um de nós faz o que quer.

Ronei

24/03/2022 - 22h24

Lula é o cara para quem gosta e para quem não gosta é uma merda como qualquer outra.


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