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Brasil quer fortalecer filantropia negra

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostra que o Brasil teve 47.508 mortes violentas intencionais em 2022. A título de comparação com dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), o país figura entre os dez mais violentos. Em ambos os estudos, um olhar cuidadoso leva a pelo menos mais uma conclusão: […]

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O Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostra que o Brasil teve 47.508 mortes violentas intencionais em 2022. A título de comparação com dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), o país figura entre os dez mais violentos. Em ambos os estudos, um olhar cuidadoso leva a pelo menos mais uma conclusão: o não direito à vida ameaça mais pessoas negras. O Anuário, por exemplo, aponta que 76,5% dos homicídios vitimaram negros, independentemente do tipo de ocorrência registrada.

O número de estudantes negros com risco de abandonar a escola por não se sentirem acolhidos é o dobro quando comparado aos alunos brancos. Metade (50%) dos pais de estudantes negros que recebem até dois salários-mínimos temem a evasão escolar dos filhos, enquanto em famílias de alunos brancos com renda equivalente, o índice é de 31%. Os dados são da pesquisa “Educação na perspectiva dos estudantes e suas famílias”/2021, realizada pelo Itaú Social e a Fundação Lemann — instituições associadas ao GIFE [Grupo de Instituições, Fundações e Empresas] — em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Outro estudo, realizado pelo Instituto Ethos, mostrou que nas 500 maiores empresas do país, apenas 4,7% das pessoas negras ocupam funções de direção. Entretanto, nas posições de aprendizes e trainees, elas representam 57%. No recorte de gênero, é possível observar que para a mulher negra os indicadores são ainda piores: apenas 0,4% estavam [em 2018] em cargos de direção.

Reflexões sobre cenários como estes são destaques em agosto, durante o “Mês da Filantropia Negra”/“Black Philanthropy Month (BPM)”. A edição deste ano do BPM tem como tema “Love in action – Amor em ação: Cultivando o amor como ferramenta de liberdade e ação social”.

Inspirado nas obras da escritora e ativista bell hooks — buscando colocar o amor como protagonista das discussões e enxergá-lo como ferramenta para a liberdade e a ação social — o mote do Mês da Filantropia Negra 2023 remonta ao resgate do significado da filantropia como “amor pela humanidade”. No contexto da filantropia negra, destaca-se o poder do amor-próprio negro como um ato que promove direitos humanos, impulsionando a justiça racial, social, econômica, de gênero e ambiental em todo o mundo.

No Brasil, a ação que marca o Mês da Filantropia Negra foi realizada na manhã desta quinta-feira (3), em São Paulo, sob a coordenação do GIFE. Pela primeira vez, o país recebeu a cientista social, porta-voz mundial no assunto e criadora do Black Philanthropy Month, Jacqueline Copeland.

“A história está sendo escrita aqui”, ressaltou Copeland, ao pontuar o início inédito de iniciativas do Mês da Filantropia Negra fora dos Estados Unidos. “Filantropia Negra não contribui somente com comunidades negras; ela promove uma sociedade justa, equânime e que dá suporte para todos”, afirmou “Jackie”, como é conhecida.

Premiada internacionalmente por inovar em iniciativas sociais que beneficiam milhões de pessoas, Jacqueline Copeland falou sobre “Amor em ação: o poder da filantropia negra para justiça social”. Ao destacar a importância do financiamento de pesquisas e estudos sobre filantropia negra no Brasil, a cientista emendou: “Uma forma de demonstrar amor para as comunidades negras é investir nelas, fazê-las crescerem e serem fortalecidas”.

Jackie ainda enfatizou a importância de identificar e desfazer estruturas racistas na sociedade e dentro das organizações. “Não se esconda por trás do significado tradicional da filantropia. Pense em políticas de diversidade que guie sua organização em processos que garantem o amor para todos, alinhado aos princípios de bell hooks”, recomendou.

Outros especialistas participaram do evento. Entre eles, Aline Odara, idealizadora e diretora-executiva do Fundo Agbara, primeiro fundo filantrópico de mulheres negras do país; Giovanni Harvey, diretor executivo do Fundo Baobá para a Equidade Racial; Ligia Margarida, presidente da Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD); Paulo Rogerio Nunes, cofundador da aceleradora de impacto social Vale do Dendê; Luana Batista, coordenadora de pesquisa na Iniciativa PIPA e no Instituto Gesto; e Cassio França, secretário-geral do GIFE.

Mês da Filantropia Negra — Este ano, o Mês da Filantropia Negra destaca o amor como um valor para a transformação social, a conscientização e a sensibilização em relação às opressões presentes na sociedade, incentivando a empatia e a responsabilidade social. Em todo o mundo, o BPM mobiliza, em média, cerca de 17 milhões de pessoas em 60 países.

No Brasil, o encontro desta quinta-feira — realizado na Unibes, em Sumaré (SP) — teve também o objetivo de apontar novos caminhos para o fortalecimento da filantropia.

De acordo com o Censo GIFE, de 1.015 iniciativas filantrópicas mapeadas em 2020, executadas com Investimento Social Privado (ISP) pelas instituições associadas ao GIFE, 40% tinham relação transversal com temas sobre diversidade e equidade, sendo a pauta racial o maior destaque.

“Investir recursos privados em iniciativas que beneficiam milhares de pessoas é contribuir para a redução das desigualdades, a promoção de desenvolvimento social e inclusão, o pleno exercício da cidadania e para uma nação efetivamente democrática”, afirma o secretário-geral do GIFE, Cassio França.

O GIFE — O Grupo de Instituições, Fundações e Empresas [https://gife.org.br/] é referência nacional em mobilização de Investimento Social Privado e fortalecimento da filantropia no país. Há 28 anos, a associação conecta e incentiva instituições para que elas invistam e executem iniciativas e projetos de interesse público, voltados à redução das desigualdades, equidade racial e de gênero, educação, saúde, justiça climática, sustentabilidade e apoio à juventude, entre outros segmentos.

O GIFE promove a integração de uma rede de mais de quase 170 associados que, juntos, aportaram R$ 5,3 bilhões em ISP no ano de 2020 [pico da pandemia da Covid-19], segundo dados do Censo GIFE. Com estes recursos, os associados operaram projetos próprios ou viabilizaram ações de terceiros.

A rede GIFE [https://gife.org.br/associados/] é composta por empresas, institutos e fundações de origem empresarial, familiar e independente. Para mobilizar empresários e outros perfis de doadores, incentivando o Investimento Social Privado em iniciativas de interesse público, o GIFE promove diferentes espaços de diálogo e colaboração entre as instituições, ao longo de todo o ano. Também produz e compartilha conhecimento a partir de pesquisas, análises e debates, buscando referências inovadoras para o constante aprimoramento da atuação dos associados e o fortalecimento do setor.

Jacqueline Copeland — Jacqueline Copeland é especialista em Arte, Ciência e Finanças de Mudança Social e Ambiental. Unindo diferentes conhecimentos e comunidades com o propósito de beneficiar pessoas, a sociedade e o planeta, “Jackie”, como se tornou mundialmente conhecida, também é fundadora e diretora-executiva do The Women Invested to Save Earth Fund (WISE), uma instituição de inclusão financeira que apoia mulheres e pessoas negras atuantes em tecnologia ambiental, restaurando comunidades de baixa renda mais afetadas pelas mudanças climáticas, em todo o mundo.

O Mês da Filantropia Negra é um movimento global que acontece há 22 anos, em agosto, envolvendo 60 países, para tornar a filantropia negra mais poderosa e equitativa.

“Artista da mudança”, Jacqueline Copeland é cantora e compositora de longa data. Com o apelido de “Bouvier”, ela lançou seu disco de estreia, “Blachant”: um álbum espiritual de jazz contemporâneo enraizado em sua herança afro-americana e diferentes experiências culturais. A música “Holla!” foi considerada para o prêmio inaugural do Grammy de Música de Mudança Social.

Líder e estudiosa premiada, Jackie é reconhecida pela Philanthropy Unbound como uma das 100 maiores filantropas do mundo. Ao longo de 40 anos de carreira, o trabalho dela impacta pelo menos 20 milhões de pessoas.

Uma “fazedora de história”, incluída no “The Congressional Record” por suas contribuições cívicas significativas, Jacqueline Copeland também estudou Antropologia Cultural e Designer Urbano, com dois diplomas de graduação pela Universidade de Georgetown e três de pós-graduação pela Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Ela é, ainda, diplomada em Finanças Sociais pela Universidade de Oxford, nos EUA. “Coach de vida” master certificada, Jackie também possui certificação em Governança pela Universidade de Santa Clara.

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Comentários

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Paulo

04/08/2023 - 23h28

Não deveria existir uma “filantropia negra”, mas apenas uma filantropia cristã, que não aparta nem segrega…


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