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Em MS, petistas querem impedir filiação de jovem que integrou ato preconceituoso

Jean Ferreira participou de manifestações para expulsar funcionários da Suzano alojados em Residencial de classe média de Campo Grande Em Mato Grosso do Sul, a possibilidade de filiação do estudante Jean Ferreira no PT não foi bem recebida no partido. O jovem, que foi candidato a deputado estadual pelo PDT em 2022, encontra resistência dos […]

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Jean Ferreira. Reprodução: Henrique Kawaminami/Campo Grande News

Jean Ferreira participou de manifestações para expulsar funcionários da Suzano alojados em Residencial de classe média de Campo Grande

Em Mato Grosso do Sul, a possibilidade de filiação do estudante Jean Ferreira no PT não foi bem recebida no partido. O jovem, que foi candidato a deputado estadual pelo PDT em 2022, encontra resistência dos militantes petistas “raiz”, que apontam o envolvimento de Jean na expulsão de trabalhadores do Residencial Virgínia, em Campo Grande, em julho.

Na ocasião, Jean e outros moradores do condomínio realizaram manifestações contra o acolhimento de 366 funcionários da que realizavam a construção da fábrica da empresa Suzano, em Ribas do Rio Pardo. Após residentes do local impedirem a entrada dos trabalhadores que voltavam de seu turno, a polícia foi chamada. A empreiteira acabou desistindo de alojar os funcionários.

Os membros do PT afirmam que, diante do caso, o estudante de Direito “não possui credenciais para ser chamado de companheiro”. De acordo com o manifesto contra sua recepção, o PT não pode aceitá-lo, já que se trata de um partido “forjado na luta sindical do chão das fábricas”, composto por trabalhadores “como estes que foram vítimas da atitude higienista de moradores do Residencial Virgínia”.

Assinado coletivamente pela Juventude da Articulação de Esquerda (JAE) e de forma individual por membros da Juventude do PT (JPT) e de diversas correntes como Construindo um Novo Brasil (CNB), Reconstrução Socialista (RS) e Articulação de Esquerda (AE), o documento afirma que os trabalhadores “tiveram de enfrentar o constrangimento, o cansaço, a sede, a fome e a angústia do atraso para tomar banho e fazer necessidades básicas, além de dormirem na delegacia”.

O texto também se opõe à adesão de “carreiristas” e defende que não podem ser aceitas no PT “pessoas que não só coadunam, como lideram políticas higienistas, de viés elitista, racista, xenófobo e bacharelista”.

No ano passado, Jean teve apoio direto de Ciro Gomes e obteve 3.643 votos para deputado estadual, que não foram suficientes para se eleger pela chapa do PDT, o qual, nas eleições de Mato Grosso do Sul, apoiou o então candidato tucano (atualmente governador) Eduardo Riedel.

Em MS, petistas querem impedir filiação de jovem que integrou ato preconceituoso

Segue nota na íntegra:

Nós, abaixo assinados/as, vimos por meio desta pedir a não oficialização da filiação de Jean Ferreira no Partido dos Trabalhadores. Entendemos que, diante da trajetória política do citado e de ações recentes das quais esteve à frente, não há coerência em acolhê-lo nas fileiras da legenda.

Em caso amplamente divulgado por veículos de imprensa, Jean Ferreira integrou um movimento que tinha como objetivo expulsar trabalhadores alojados no Residencial Virgínia, em Campo Grande. Em primeira reportagem, publicada pelo Campo Grande News no dia 19 de julho de 2023 (clique para ler), Jean e outros moradores alegaram insegurança em relação à presença de 366 funcionários que atuam na construção da fábrica da empresa Suzano, em Ribas do Rio Pardo.

Questionamos: em primeiro lugar, viver em um condomínio já não é por si só estar cercado de pessoas desconhecidas, entre elas, homens? Levando em consideração a origem social e a cor dos trabalhadores em questão, podemos fazer um exercício mental. Imaginemos que, em lugar de 366 proletários braçais que constróem uma fábrica – em geral homens negros, dentre eles dezenas de imigrantes –, os alojados fossem 366 advogados, majoritariamente brancos, alojados para um Congresso da OAB. Companheiras e companheiros, perguntem-se se, neste caso, haveria tanta revolta e empenho para retirá-los do local. Sabemos ser óbvio que não. A ira dos envolvidos tem viés de raça e de classe.

No dia seguinte, conforme matéria publicada também pelo Campo Grande News (clique aqui para ler), a fúria dos moradores do condomínio contra os trabalhadores se tornou caso de polícia. Com faixas como “Vai acabar a paz” e “Residencial não é alojamento”, Jean e seus vizinhos se mobilizaram para barrar a entrada dos operários que voltavam de seu turno para descansar nos apartamentos em que estavam alojados. Desta vez, Jean não foi entrevistado, mas aparece na foto como um dos participantes do ato.

Chama a atenção que o argumento utilizado por Jean Ferreira foi o de que a empresa não teria oferecido condições dignas de moradia. De fato, não se trata de defender a empreiteira que, obviamente, tem preocupação maior com o lucro do que com os funcionários. No entanto, a revolta se direcionou contra os trabalhadores que, impedidos por horas de entrar no condomínio após turno de trabalho, tiveram de enfrentar o constrangimento, o cansaço, a sede, a fome e a angústia do atraso para tomar banho e fazer necessidades básicas, além de dormirem na delegacia. 

Ora, se a preocupação do supracitado fosse com as condições dos trabalhadores, em vez de buscar barrá-los do único lugar que tinham disponível para descanso e moradia temporária, haveria outras soluções no campo jurídico em relação à empresa. Para além disso, haveria um acompanhamento da situação dos operários após sua expulsão, que ocorreu e está documentada em reportagem do Top Mídia News (clique aqui para ler). Tal acompanhamento, obviamente, não aconteceu.

Companheiras e companheiros, o Partido dos Trabalhadores foi forjado na luta sindical do chão das fábricas do ABC Paulista, por homens considerados “brutos”, vistos com insegurança pela classe média e pelas elites, como estes que foram vítimas da atitude higienista de moradores do Residencial Virgínia, a qual teve em Jean Ferreira um de seus líderes. Temos no companheiro Lula nossa maior representação. Um homem nordestino, peão de fábrica, que até hoje é vítima do preconceito de pessoas como aquelas que não aceitaram compartilhar a vizinhança com proletários da construção civil.

Não podemos aceitar, dentro de nosso partido, pessoas que não só coadunam, como lideram políticas higienistas, de viés elitista, racista, xenófobo e bacharelista. Jean, que iniciou a trajetória política no MDB e, em 2022, fez campanha para Ciro Gomes à Presidência da República, demonstrou com sua atitude que não possui credenciais para ser chamado de companheiro. Que o Partido dos Trabalhadores seja, de fato, para as trabalhadoras e os trabalhadores, e não para oportunistas que pulam de legenda em legenda em busca de uma aventura carreirista, que despejam ódio e nojo contra a classe trabalhadora.

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