O bloqueio de ajuda humanitária a Gaza levou Reino Unido, França e Canadá a ameaçarem ações inéditas contra Israel em nome do direito internacional
Em um comunicado conjunto divulgado na segunda-feira (19), os governos do Reino Unido, França e Canadá advertiram Israel sobre possíveis medidas enérgicas caso o país persista na expansão de suas operações militares em Gaza. Os líderes Keir Starmer, Emmanuel Macron e Mark Carney exigiram que o governo israelense “suspenda imediatamente suas ações militares” e “garanta o acesso irrestrito de ajuda humanitária” ao território palestino.
Leia também! ONU: Fome ameaça 14 mil bebês em Gaza; Israel não permite ajuda
Desde 2 de março, nenhum alimento, medicamento ou combustível foi autorizado a entrar em Gaza — situação que a ONU classificou como “catastrófica” para a população local. Tom Fletcher, responsável pela assistência humanitária das Nações Unidas, afirmou que a quantidade de suprimentos liberados até agora é “ínfima perante a necessidade urgente”.
Fletcher alertou que, sem a chegada de ajuda, cerca de 14 mil crianças podem morrer nas próximas 48 horas. Ele relatou que, embora cinco caminhões tenham atravessado a fronteira de Gaza após 11 semanas de bloqueio, os recursos ainda não chegaram às comunidades mais afetadas. O representante da ONU destacou a necessidade de “inundar Gaza com assistência humanitária”, com a meta de enviar 100 caminhões ainda nesta terça-feira.
Resposta de Netanyahu e reações internacionais
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, respondeu às críticas afirmando que os três países “premiaram o Hamas” ao pressionar por um cessar-fogo. No domingo (18/05), ele anunciou a liberação de uma “quantidade mínima de alimentos”, mas reafirmou o plano de “assumir o controle total de Gaza”.
A declaração de Reino Unido, França e Canadá classificou a medida como “insuficiente”, ressaltando que “negar assistência vital a civis é inaceitável e pode violar o Direito Internacional Humanitário”. Os líderes também repudiaram “a linguagem ofensiva de autoridades israelenses”, que sugeriram o deslocamento forçado de palestinos.
“O reassentamento compulsório é uma violação das leis internacionais”, afirmaram, acrescentando que, embora apoiem o direito de Israel à autodefesa, a escalada militar atual é desproporcional. Eles também exigiram que o Hamas liberte os reféns sequestrados no ataque de 7 de outubro de 2023, que deixou 1,2 mil mortos e 251 pessoas capturadas. Atualmente, 58 reféns permanecem em Gaza, sendo que apenas 23 podem estar vivos.
Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, mais de 53 mil palestinos morreram desde o início da ofensiva israelense.
Pressão por um cessar-fogo e a proposta de dois Estados
A declaração dos três países reiterou o apoio a um cessar-fogo e à “solução de dois Estados”, que prevê a criação de um Estado palestino independente ao lado de Israel. Netanyahu rejeitou a proposta, acusando os líderes de “premiar o Hamas” e “incentivar futuros ataques”. Ele ainda pediu que “a Europa siga a visão de Donald Trump” para resolver o conflito.
Crise Humanitária e Reações internas em Israel
Em uma reunião entre a União Europeia e o Reino Unido, o presidente do Conselho Europeu, Antonio Costa, denunciou a “violação sistemática do direito internacional” e a “força militar desproporcional” em Gaza. “A ajuda humanitária deve fluir sem obstáculos”, declarou.
A decisão de Netanyahu de permitir a entrada limitada de suprimentos foi criticada até mesmo por seus aliados ultranacionalistas. Itamar Ben Gvir, ministro da Segurança condenado por incitação ao racismo, acusou o premiê de “alimentar o Hamas” enquanto reféns israelenses sofrem em cativeiro.
BBC: Israel perde crédito com Ocidente
Segundo Jeremy Bowen, editor da BBC, Israel “esgotou sua credibilidade” junto a França, Reino Unido e Canadá, especialmente após o ataque a paramédicos em 23 de março.
“Um incidente simbólico pode mudar o curso da política. Desta vez, foi o massacre de 15 socorristas por tropas israelenses”, afirmou Bowen. Ele citou um vídeo gravado por uma vítima, que contradiz a versão oficial de Israel e mostra ambulâncias sendo alvejadas deliberadamente.
Uma fonte diplomática europeia revelou que a declaração conjunta reflete “fúria crescente contra a impunidade israelense”. No entanto, os países não detalharam quais sanções seriam impostas.
França e Reino Unido avaliam reconhecer Estado Palestino
A França estuda se unir a 148 países que já reconhecem a Palestina como Estado independente. O tema será discutido em uma conferência em Nova York, organizada com a Arábia Saudita, em junho. O Reino Unido também debate a medida, indicando uma mudança significativa na postura ocidental.
Enquanto isso, a crise humanitária em Gaza se aprofunda, e a comunidade internacional pressiona por uma solução imediata.
Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!