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Sara Goes: Não é você, sou eu

A disputa real em 2026 será pelo Congresso, não pela cadeira presidencial, e já está em curso sem que a maioria perceba Está em curso uma ruptura silenciosa no campo da extrema-direita brasileira. O bolsonarismo, como fenômeno centrado num líder messiânico, já não é necessário. A engrenagem anda sozinha. O plano agora é conquistar uma […]

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A ofensiva de Trump contra o Brasil foi um recado velado ao avanço geopolítico dos BRICS, liderado por Lula e desconectado da cartilha dos EUA.
Enquanto a extrema-direita se automatiza, Lula age com precisão cirúrgica para reposicionar o Brasil como líder do Sul Global / Reprodução

A disputa real em 2026 será pelo Congresso, não pela cadeira presidencial, e já está em curso sem que a maioria perceba


Está em curso uma ruptura silenciosa no campo da extrema-direita brasileira. O bolsonarismo, como fenômeno centrado num líder messiânico, já não é necessário. A engrenagem anda sozinha. O plano agora é conquistar uma maioria legislativa absoluta que permita transformar o Brasil num parlamentarismo informal, operado por dentro da Constituição, mas contra ela. Um regime de exceção digital, onde a política é terceirizada aos algoritmos e o povo é capturado por redes de desinformação.

A disputa real de 2026 não será pelo Planalto. Será pelo Congresso. E os operadores dessa engrenagem já perceberam que não precisam mais de Bolsonaro, nem de Tarcísio. Precisam do controle da máquina e da blindagem legal para manter os privilégios de sempre. O projeto é estrutural, não pessoal. Bolsonaro virou acessório, não motor.

É nesse cenário que se inscreve o ataque de Trump ao Brasil. Não se trata de solidariedade com Bolsonaro. Trata-se de um recado do império à colônia. Um aviso: não se atrevam a mudar as regras. Trump não escreveu aquela nota de próprio punho. Leu um bilhete e publicou. O alvo real não era um aliado decadente, mas um adversário ascendente.

Esse adversário atende pelo nome de BRICS. E está em plena expansão. A nova configuração do bloco, com entrada de países estratégicos como Irã, Egito, Etiópia e Arábia Saudita, altera o equilíbrio global de forças e ameaça diretamente a hegemonia do dólar, do sistema SWIFT, do FMI e das normas unilaterais ditadas por Washington. E quem tem articulado essa reorganização é o Brasil. Mais precisamente, Lula.

A ofensiva dos Estados Unidos contra o Brasil é uma reação à perda de controle sobre o quintal que sempre consideraram seu. A criação de uma moeda alternativa no BRICS, o fortalecimento das relações com a China e a adesão crescente de países do Sul Global a um novo modelo de cooperação econômica e política deixam claro que a ordem liberal ocidental perdeu o monopólio da legitimidade. E isso incomoda.

Lula não apenas participa desses fóruns, ele os reposiciona. Transformou o G20 num espaço de reivindicação do Sul, propôs alianças energéticas, bancárias e logísticas que prescindem do aval americano. Ao propor, por exemplo, uma ferrovia bioceânica entre Brasil e Peru com financiamento chinês, Lula confronta diretamente o domínio dos EUA sobre a logística continental e sinaliza que o futuro do continente não está mais acorrentado ao Canal do Panamá, mas às escolhas soberanas dos seus próprios povos.

Nesse contexto, a retórica de Trump ganha contornos mais claros. Não é protecionismo. É pânico. O Brasil já não é só um país incômodo. É um polo de articulação de uma nova ordem. Não se trata de conter Lula como indivíduo, mas de impedir que ele se transforme num catalisador histórico.

E por isso ele não se precipita. Não grava pronunciamento, não dá o troco em rede nacional. Responde com entrevista, com pausa, com cálculo. Porque sabe que uma fala oficial, neste momento, seria o equivalente simbólico da bomba atômica que Flávio Bolsonaro tentou invocar sem saber do que estava falando. A verdadeira potência não se exibe. Se prepara.

No fim das contas, a frase que dá título a este texto nunca fez tanto sentido. Não é você, Bolsonaro, sou eu, Lula. E o mundo sabe.

Por Sara Goes*

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