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A grande falácia da geração de saldo de vagas

  Agora, todos os meses, sempre que o Ministério do Trabalho divulga os números de geração de emprego, os jornais mancheteiam o apocalipse: geração de emprego é a pior em 15 anos! É uma falácia, um caso de burrice coletiva, que assola até o governo federal. Espero que, ao longo da campanha eleitoral, alguém tome […]

25 comentários
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Agora, todos os meses, sempre que o Ministério do Trabalho divulga os números de geração de emprego, os jornais mancheteiam o apocalipse: geração de emprego é a pior em 15 anos!

É uma falácia, um caso de burrice coletiva, que assola até o governo federal. Espero que, ao longo da campanha eleitoral, alguém tome uma providência para estancar essa verdadeira fraude.

Vamos lá. Segundo o IBGE, as regiões metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, monitoradas de perto pelo governo, possuíam uma população economicamente ativa estimada em 24,1 milhões de pessoas em abril deste ano.

Deste total, 22,9 milhões estão ocupadas, ou seja, possuem um emprego ou exercem um trabalho não remunerado (donas de casa, por exemplo).

A taxa de desocupação (desemprego) em abril de 2014 era de 4,9%, o que corresponde a 1,2 milhão de pessoas.

A imprensa faz uma confusão deliberada quando fala que o mercado criou tantas vagas em tal mês. Os números do Caged, do Ministério do Trabalho, trazem três colunas: admissão, demissão e saldo. Apenas o saldo é levado em conta, para efeito midiático.

Se as regiões metropolitanas tinham 1,2 milhão de pessoas (economicamente ativas) desocupadas em abril de 2014, então para haver saldo, uma parcela dessas pessoas tem de arrumar emprego.

Pois bem, apenas cinco anos atrás, em 2009, as mesmas seis regiões metropolitanas tinham 2,84 milhões de pessoas desocupadas.

Os saldos de emprego espetaculares registrados nos últimos anos se deram porque a magnitude da população desocupada também era grande.

Conforme a população desocupada vai diminuindo, junto com a queda no desemprego, a tendência é haver saldos menores de geração de emprego.

Essa lógica só é quebrada quando pessoas que já tinham desistido de procurar emprego, por serem jovens demais, ou idosas demais, ou doentes, resolvem voltar a procurar. Isso não acontece apenas em momentos de boom econômico. Acontece também durante crises.

Se o desemprego chegar a zero, então teremos, no mês seguinte, um saldo igual a zero de geração de empregos. O que a imprensa dirá? Haverá manchete apocalíptica dizendo que é o menor saldo desde a chegada de Cabral ao Brasil?

Temos uma situação absurda, que se reflete nas manchetes de jornal. De vez em quando um analista diz que há uma incoerência entre o desemprego baixo, os salários altos, e a baixa geração de emprego. Mas não há. É uma relação lógica.

Entretanto, o saldo de emprego deveria servir de termômetro para checarmos a temperatura da economia. Só que alguém tem de inventar uma fórmula que faça a mediação entre o saldo e o desemprego. Não é tão fácil, contudo. Porque à medida que declina o número de pessoas desocupadas, vão ficando aquelas com mais dificuldade, por alguma razão física, psicológica, intelectual ou profissional, em ingressar no mercado de trabalho.

Nem o “emprego na indústria” me parece um bom indicador econômico, não como a imprensa o vem usando. Se uma fábrica com dois mil funcionários demitir 50% deles e substituí-los por robôs japoneses, isso não é indicativo de “crise” econômica, e sim de mudança de modelo tecnológico. Ao Estado, cabe oferecer o colchão social que dê tempo para os trabalhadores migrarem para outros setores.

Do jeito que está, as notícias sobre o saldo se tornaram inúteis. Desinformam mais que qualquer outra coisa. Pior, cumprem uma função idiotamente negativa, porque induz a sociedade a imaginar uma situação pior do que ela é na realidade. Cumprem uma função recessiva, desestimulando investimentos e, portanto, a geração de… empregos.

Os únicos números realmente completos para se entender o mercado de trabalho e a situação sócio-econômica do país são a taxa de desemprego e o nível dos salários: a primeira é a mais baixa da história; e o segundo, o mais alto.

Como será possível falar em crise no mercado de trabalho se o desemprego está abaixo de 4% em algumas regiões metropolitanas importantes?

A crise está em nosso sistema de informação, isso sim!

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Weslei

26/08/2014 - 11h08

Esse e vários índices estão bons e avançando, como:
Coeficiente de Gini
PIB per Capita
Mas, não se noticia, pois, só analisar o PIB é falho, olha que está crescendo, mas os economistas que tem espaço na mídia só falam do PIB e inflação. Lógico que a inflação é importante, mas, não é nada alarmante até o momento. Fora que há vários à países com índice de desemprego altíssimo e aqui estamos bem.

Vitor

24/08/2014 - 18h06

Absurdo mesmo isso… Mas… Hoje em dia todo mundo manipula dados e gráficos… Não tem santo mais não!

Rodrigo Toledo

24/08/2014 - 02h34

Ninguem comparou salarios…o que foi comparado foram os impostos que os empregadores pagam por cada funcionario que contratam..e nao foi comparado somente com os Brics, mas muitos outros paises tbm..obvio que o Brasil cresce…cresce desde que foi instaurada a republica no pais…

Rodolpho Augusto

24/08/2014 - 02h16

Quando a pessoa faz comparação de salário com os demais países dos Brics é que não sabe nada do sistema geopolítica e as discrepâncias sociais democráticas. Vai lá ver se na Rússia, China etc tu tem os direitos trabalhistas, apenas 44 horas e salário vinculado ao crescimento da nação. Ao invés de ficar de mimimi distorcendo a verdade que Brasil cresce forte e melhor pq não luta contra a sonegação fiscal das grandes empresas e para tributação menor para os pobres/classe média e maior para as maiores fortunas. Será que tu ainda sonha em ser um primo perdido dos Marinhos?

    vinícius

    24/08/2014 - 15h52

    Rodolpho Augustos, boa tarde. Tudo bem com você!
    Você leu o que está escrito lá em cima? Leia com calma porque há uma leve diferença entre o que está escrito no texto e o seu comentário.
    O texto não discute direitos trabalhistas e salário vinculado a crescimento da nação e sim a forma como é interpretada os números relativos a geração de empregos.

Rodrigo Toledo

24/08/2014 - 00h46

Corrigido. Gracias.

Maria Cristina Marques

24/08/2014 - 00h37

Tds desempregados q conheci hj estão empregados! Graças ao desenvolvimento q o Brasil alcançou.

Denise Vírgula

24/08/2014 - 00h15

“houveram”, então hão houve nada

Rodrigo Toledo

23/08/2014 - 22h41

outra coisa, o conceito de “melhoria” pode ser quantificado e, por isso, pode ser que a melhora poderia ter sido muito maior do que foi…se vc comprar ano-a-ano desde 1800 até 2014..sempre houveram melhoras, sob vários aspectos, em vários indicadores…a velocidade com que melhoramos e qualidade da melhoria é o que importa..

    zé oreia

    23/08/2014 - 22h10

    Nossa, quando partem para o sofismo é porque a razão já esta a 10 palmos debaixo da terra.

    Então agora vamos discutir conceitos relativizantes de melhoria de vida apenas para sustentar um argumento frágil, que é a piora da situação nos governos petistas? “A velocidade com que melhoramos e qualidade da melhoria é o que importa”, de onde saem essas pérolas da filosofia?

    O conceito de evolucionismo foi a pérola dessas mensagens. Quer dizer que de 1800 para cá, importante, comparando “ano a ano”, como se houvessem indicativos normalizados para isso, “sempre houveram melhoras”. Nossa, esqueçam todo pensamento antropológico desenvolvido até hoje, alguém ressuscitou uma teoria de dois séculos atrás já superada e fala dela como se fosse a última moda.

    Como alguém pode ter uma visão tão tacanha de processos sociais complexos, e ainda falar com tremenda propriedade baseado em tamanho conhecimento raso?

Rodrigo Toledo

23/08/2014 - 22h38

conceito de melhorar de vida é relativo Socrates…o que pode ser melhora para voce e seus amigos, pode não ser um exemplo de melhoria para outros…

Rodrigo Toledo

23/08/2014 - 22h33

Aposto que vc pensou que eu leio a veja e assisto a globo né?? pois bem, eu acertei e vc errou…

Socrates Niclevisk

23/08/2014 - 22h33

TODO MUNDO que eu conheço melhorou de vida na ultima decada.

Rodrigo Toledo

23/08/2014 - 22h32

e quanto falei minha empresa, quis dizer a empresa na qual trabalho…mudar de canal e de revista? porque, vc sabe qual canal eu assisto e qual revista eu leio somente pelo que eu escrevi?

Rodrigo Toledo

23/08/2014 - 22h30

O cafezinho sua mulher deixou vc contratar uma secretária?? ai sim hein…xD

O Cafezinho

23/08/2014 - 22h29

Bem, a minha empresa duplicou o número de empregados, saiu de um (eu), para dois. Agora tenho uma secretaria. A da minha mulher, trabalha c cinema, tb tá crescendo. Tudo 100% iniciativa privada, sem se endividar. Os estrangeiros tb nunca investiram tanto $ no Brasil como nos últimos anos.

Socrates Niclevisk

23/08/2014 - 22h05

Manda esse empresario ai de cima mudar de canal e de revista que a empresa dele decola.

Socrates Niclevisk

23/08/2014 - 22h04

Eles nao sabem fazer contas. Ou, melhor, sabem, mas não gostam.

Rodrigo Toledo

23/08/2014 - 21h59

Fico imaginando o quanto nossos salários poderiam aumentar se, pelo menos, tivessemos o padrão do BRICS de 22%….

Guy Lucena

23/08/2014 - 21h52

Manda este link pro ministério do Trabalho!

Rodrigo Toledo

23/08/2014 - 21h43

A produtividade na industria vem caindo nos ultimos tres meses…pib per capta? Rsrs…nossos salarios é o dobro do que ganhamos..metade vai pro governo…veja se nossos empregadores tem incentivos para contratar: http://exame2.com.br/mobile/economia/noticias/brasil-lidera-ranking-de-impostos-sobre-trabalhadores

Emerson Heringer

23/08/2014 - 21h33

Rodrigo Toledo e aumento de produtividade? PIB per Cápita? Acho que contam mais que a história da sua empresa, não?

Danilo Dan

23/08/2014 - 21h08

Burrice estratégica

Rodrigo Toledo

23/08/2014 - 21h05

Um ponto importante a ser analisado é o fato de que se o Brasil cresce, automaticamente espera-se criacao de mais empregos…o crescimento de nosso pais está estagnado, desta forma, desaceleram as contratacoes…essa é uma das explicações..a minha empresa, por exemplo, demitiu 50 pessoas em jumho e cortou cerca de 10 postos de trabalho…

Francisco Milton Da Silva Neto

23/08/2014 - 20h51

Boa questão. Essa é para matemático s e estatísticos.


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