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Jango tinha 72% de popularidade em 64

O blog Conversa Afiada, do Paulo Henrique Amorim, reproduziu há pouco uma matéria, contendo uma entrevista com historiador, publicada na Carta Capital, onde se derrubam mais mentiras históricas sobre João Goulart. Até então, o discurso dominante dizia que ele era um presidente fraco e sem apoio popular. A mídia sempre repetiu essa ladainha, até para […]

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O blog Conversa Afiada, do Paulo Henrique Amorim, reproduziu há pouco uma matéria, contendo uma entrevista com historiador, publicada na Carta Capital, onde se derrubam mais mentiras históricas sobre João Goulart. Até então, o discurso dominante dizia que ele era um presidente fraco e sem apoio popular. A mídia sempre repetiu essa ladainha, até para justificar o apoio que ela deu ao golpe.

Mentira.

Trecho do início da matéria:

Em 12 de março de 1964, o jornal O Estado de S. Paulo anunciava em seu editorial o “aprofundamento do divórcio entre o governo da República e a opinião pública nacional”. A exemplo dos seus pares, o diário da família Mesquita conclamava para uma intervenção militar, capaz de pôr fim à ameaça comunista representada pelo governo de João Goulart. A voz do povo precisava ser ouvida, bradava a mídia. Um estudo conduzido por Luiz Antonio Dias, chefe do Departamento de História da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, demole essa visão consagrada pelos meios de comunicação. Com base em pesquisas feitas pelo Ibope às vésperas do golpe, mas não divulgadas à época, Dias demonstra que não apenas Jango tinha amplo apoio popular, como também grandes chances de vitória caso disputasse as eleições presidenciais previstas para 1965.

Trecho da entrevista com o historiador Luiz Antonio Dias (sigla LAD na entrevista), da PUC-SP:

*

LAD: À exceção do Última Hora de Samuel Wainer, todos os jornais de expressão nacional clamavam por uma intervenção das Forças Armadas, sempre em nome da opinião pública. É interessante, pois os militares, em seus livros de memória, usam esse apoio como justificativa: eles só agiram porque a população pediu. As pesquisas do Ibope provam o contrário.

CC: Por que elas não foram divulgadas à época?
LAD: É possível que elas não tenham sido divulgadas porque não deu tempo de tabular os resultados. O golpe ocorreu dias após o trabalho de campo. Mas sou tentado a acreditar que elas só demoraram quatro décadas para vir a público porque contrariavam o discurso da mídia e os interesses dos contratantes, a exemplo da Federação do Comércio do Estado de São Paulo. Apenas em 2003, quando o Ibope doou seu acervo para a Unicamp, dados parciais de duas pesquisas foram divulgados pela imprensa.

CC: O que revelavam essas pesquisas?
LAD: A primeira, sem indicação de contratante, revelava amplo apoio à reforma agrária, com um índice superior a 70% em algumas capitais. A outra, realizada em São Paulo a pedido da Fecomercio na semana anterior ao golpe, apontava que 72% da população aprovava o governo Jango. Entre os mais pobres a popularidade alcançava 86%. Esse mesmo estudo revela que 55% dos paulistanos consideravam as medidas anunciadas por Goulart no Comício da Central do Brasil, em 13 de março, como de real interesse para o povo. Mas o acervo doado pelo Ibope é muito maior. Coletei mais de 500 páginas de pesquisas feitas entre 1961 e 1965 a revelar a dimensão do apoio popular a Jango e como ele tinha grandes chances de vitória caso disputasse as eleições.

CC: Esse apoio era sólido o bastante para garantir uma vitória?
LAD: Tenho elementos para acreditar que sim. Em junho de 1963, Jango era aprovado por 66% da população de São Paulo, desempenho superior ao do governador Adhemar de Barros (59%) e do prefeito Prestes Maia (38%). Além disso, uma pesquisa eleitoral realizada em março de 1964 revela que, caso fosse candidato no ano seguinte, Goulart teria mais da metade das intenções de voto na maioria das capitais pesquisadas. Apenas em Fortaleza e Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek tinha porcentuais maiores.

*

E aí, a Globo vai pedir desculpas de novo?

jango

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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