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Wanderley: A hora do lobo de Luiz Inácio

(Cena de A Hora do Lobo, filme noir e terror de Ingmar Bergman) O texto abaixo, do professor Wanderley, foi publicado há alguns dias, e nesse frenesi quase pré-revolucionário dos dias que correm, muita coisa perde valor algumas horas depois de publicada, porque é atropelada pelos acontecimentos frenéticos. Não é o caso do texto de […]

9 comentários
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(Cena de A Hora do Lobo, filme noir e terror de Ingmar Bergman)

O texto abaixo, do professor Wanderley, foi publicado há alguns dias, e nesse frenesi quase pré-revolucionário dos dias que correm, muita coisa perde valor algumas horas depois de publicada, porque é atropelada pelos acontecimentos frenéticos. Não é o caso do texto de Wanderley. Que eu não publiquei antes aqui por pura e imperdoável distração.

O alerta do professor é importante: o PT precisa pensar estrategicamente à frente da mídia e iniciar um trabalho de consolidação da ponte cujos fundamentos já foram lançados, por Lula e pelas circunstâncias históricas, entre o PT e as correntes sociais progressistas. Essa aliança estratégica e tática entre todos aqueles que se opõem ao governo Temer, às suas reformas, ao autoritarismo midiático-judicial-policialesco, é aparentemente a única força capaz de arrostar esse terrível consórcio golpista, que encontrou uma fórmula de ação política que, até o momento, não perdeu quase nenhuma batalha.

***

No blog Segunda Opinião
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A HORA DO LOBO DE LUIZ INÁCIO
16 de Abril de 2018
Por Wanderley Guilherme dos Santos

A direita só chegará à presidência da República com o auxílio involuntário do Partido dos Trabalhadores. A estratégia do PT obedece às diretivas de Lula. Segue-se que o obstáculo a que Joaquim Barbosa – o cavalo de Troia que a direita busca contrabandear – impeça a reconstituição democrática, encontra-se no discernimento do ex-presidente Luiz Inácio. Submeter a plebiscito algumas das aberrações decretadas por Temer, por exemplo, jamais seria cogitado por tal demofóbico. No momento, fragmentar a esquerda equivale a criar inesperada oportunidade a uma direita sem rumo. Não é centralizando frentes de siglas sem voto ou efetiva representatividade que se evitará o abismo autofágico. Ao contrário, este talvez resulte da ambição de parasitas inoculados em movimentos de massa. Lula pode implodir a manobra de concentração burocrática, ou submeter-se a ela, vencido pelo estalinismo historicista que o cerca.

A sagacidade do emergente líder metalúrgico conquistou sólida adesão do lado esquerdo da política. O cálculo do sapo barbudo manteve os liderados na senda favorável aos pobres e à democracia. Embora desconfiando dos que cursaram universidades, foram muitos os diplomados que, com ele, colaboraram na construção do primeiro partido visceralmente trabalhista. A Universidade o adotou. Adotou-o, garantindo-lhe a tribuna negada pela mídia e, ainda, considerável fatia de votos surrupiados à classe média. A esquerda isolada não elege presidente da República. Foi Lula, seu discernimento, que dobrou o sectarismo da opinião vigiada e punida quando, antigamente, divergia do velho Partidão.

A barafunda de junho de 2013 gerou confusão ideológica na esquerda. Anônimos e mascarados abriram a porta das ruas à direita. E delas a direita não mais saiu, contribuindo para o baixo nível da campanha eleitoral de 2014. Pormenor relevante: a Lava Jato, a rigor, não existia. A demonstração de força da direita, com indisfarçada simpatia da mídia, animou o periférico time curitibano. Tinha padrinhos poderosos. Tinha jogo.

À difícil vitória de Dilma Rousseff, apesar da hesitação petista, seguiu-se a contestação de sua legitimidade pelo derrotado Aécio Neves. O mandato de Dilma passou às mãos do Judiciário. Não do STF, mas da Lava Jato curitibana. Sergio Moro reduziu toda atividade política dos brasileiros ao Partido dos Trabalhadores, e comprimiu esse complexo partido aos operadores associados à quadrilha de Pedro Barusco, Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró, Jorge Zelada, com coordenação do doleiro Youssef. Foram dois anos de conduções coercitivas, prisões humilhantes, vazamentos ilegais e ameaças apocalípticas, tolerados a pretexto de revelar o saque patrocinado pelo PT. Indiferente, destruiu segmentos estratégicos da infraestrutura brasileira, de onde os atuais desemprego e abulia empresarial.  Escrevia-se o capítulo inicial da saga “Prendam Lula”, só encerrado com o impedimento da presidente Dilma Rousseff, com prelibação na Câmara dos Deputados, em 17 de abril de 2016.

A lembrança não é ociosa porque poucos participantes das libações não estão presos ou em vias de sê-lo, em arrastão que incorporou parte ladravaz do empresariado. Consumado o impedimento, o pelotão curitibano aliviou a exclusiva malignidade do PT, descobriu quadrilhas operando fora da Petrobrás, e, em êxtase, vem anunciando que a sociedade e a economia brasileiras se transformaram em vasto cupinzeiro de corrupção. A Lava Jato replica raros tumores de efeitos colaterais positivos, sem, contudo, promover reparação aos caluniados e arbitrariamente presos. A meta, como sempre, era Lula. Mas nesta gigantesca facciosidade parte da esquerda embriagou-se com o rancor da psicologia reacionária.

Em 2010, a alegada marola de 2008 submergiu o planeta. Não obstante, Dilma acrescentou programas à pauta social petista. Ousada ou imprudente, seu primeiro mandato sustentou a generosidade da era de abundância em contexto econômico de soma zero. O conflito consistia em saber quem pagaria a conta social. Ao fundo, a ganância estrangeira pelo pré-sal e o incômodo do Império com as fumaças brasileiras de autonomia nuclear. A hesitação do segundo mandato, com ministério formado com decisiva influência de Lula, espelhou a intensidade da queda de braço. O impedimento de Dilma assinalou a derrota de toda a esquerda.

Os petistas aceitaram a tese da hierarquia partidária, debitando o infortúnio à incapacidade de Dilma Rousseff e sua personalidade belicosa. Defeitos nada triviais, embora sem contribuição significativa para a essência do conflito central. Na versão em uso, todavia, a maioria dos militantes imagina que, fosse Lula presidente, o desastre seria evitado. Ilusão sebastianista, exceto se o imaginário presidente cumprisse o programa de Michel Temer.

Intrigas à esquerda, o enredo curitibano avançava, valendo-se de excepcionalidades quando necessárias.

Surpreendentemente, as derrotas jurídicas extraíram das lideranças de esquerda a reclamação de que a direita estava se comportando como direita! Desde 17 de abril de 2016 ficara selado o destino de Lula e, sem Judiciário e Legislativo, ruas lotadas não comprometeriam o sucesso do projeto “prendam Lula”. Nem as ruas foram lotadas, mas repartidas com a direita em lua de mel com Moro, em Curitiba, e as polícias militares locais.

A associação entre inocência penal e direito à candidatura respondia ao ataque direto ao ex-presidente. Mas, apesar da reiteração de que as leis concluiriam pela prisão de Lula, o clamor contra a injustiça penal continuou, por interpolação de cálculo eleitoral, subordinado ao reconhecimento de seu direito à candidatura. Com a condenação em segunda instância, a guilhotina da “ficha suja” vedou a essencial via de sucesso jurídico. O sebastianismo adquiriu, então, uma dimensão mística, exigindo conversão dos eleitores a credo contrário à racionalidade. Sustentar a candidatura Lula “até o fim” não tem sentido político claro.

Ou melhor, algum sentido faz. O silêncio de Lula, ignorando a fúria vocabular do “sebastianismo evangélico” contra os que discordam, mantem sitiada grande parte das esquerdas. A chantagem emocional com que assediam históricos apoiadores decepciona. Levantar o sítio à esquerda se impõe como urgente medida reunificadora, indispensável à vitória contra a avalanche reacionária.

Não importam os bumbos acampados em Curitiba. O cárcere solitário sadicamente imposto a Lula não é único. A hora do lobo é a hora da solidão interna. A hora de Lula.
 

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Galvão

24/04/2018 - 20h49

Sem essa de Ciro!

OP

23/04/2018 - 11h38

Lula Livre!!! Nada de Ciro!!! Nada de abutres!!!

Mirko Kraguljac

21/04/2018 - 12h27

Não concordo nem um pouco com professor e tenho impressão que ele já tem em mente nome de um outro candidato da esquerda. Sem problema, tem direito de “candidatar” quem quiser, a esquerda já tem vários candidatos. Agora, autor precisa saber uma coisa – o Lula não é candidato somente do PT e da esquerda em geral, ele é candidato do povo!

Antonio Passos

20/04/2018 - 23h47

Ninguém é perfeito e mestre Wanderlei prova isto errando feio. Como é possível alguém com tantos anos de estrada na política, não perceber que a luta por Lula não tem nada a ver com as próximas eleições. É a luta pelo estado de direito, por justiça, pela democracia, pelos direitos humanos, pelo futuro do Brasil. Pensar apenas nas próximas eleições é mesquinho, até porque me parece ridículo pensar que alguém terá legitimidade para governar o Brasil com Lula preso e um golpe em andamento.

Antonio

20/04/2018 - 11h33

Ao considerar a dinâmica das forças sociais que compõe o PT, fazendo uma leitura com o mínimo de rigor lógico chega-se a conclusão: a proposta do professor teria como consequência jogar Lula aos lobos. A bons leitores e conhecedores mínimos do partido, a argumentação professoral besuntada de eloquência mas de retórica frígida, é facilmente desconstruída, deixando apenas a dúvida: o acadêmico induziu tal descalabro por displicência analítica ou por representar interesses de uma das correntes do partido?

    Antonio

    20/04/2018 - 11h36

    Correção: “A bons leitores e conhecedores mínimos do partido, a argumentação professoral besuntada de eloquência mas de retórica frígida é facilmente desconstruída…”

      Mário Rabelo

      20/04/2018 - 19h36

      O professor é defensor ardoroso da candidatura do Ciro Gomes, busca a desafinação da defesa intransigente do Presidente LULA.

luiz gonzaga

20/04/2018 - 09h48

Aumento da pobreza, aumento da criminalidade, aumento da miseria, aumento da corrupcao, perseguicao política, justica seletiva, judiciarios covardes, bandidos decidindo o futuro da nossa nacao, dos nossos filhos, enfim, a desgraca consumada. Ao serpentario de curitiba, paneleiiros, mbl, ven pra rua, pseudo-elite, juizes e políticos traidores, a todos voces que querían mudar o Brasil, parabens! CONSEGUIRAM.

Luis Campinas

20/04/2018 - 09h46

Lula Livre! Livre ou preso, candidato a presidente do Brasil pelo Partido dos Trabalhadores, com seu vice ao lado. E todos batalhando para elegermos uma bancada de esquerda e ou progressista no senado e na Câmara, unificada no compromisso da radicalização democrática, que provoque, entre tantas, a garantia da liberdade de expressão de todos!


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