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Lula, o candidato das mulheres, negros e índios

(Ricardo Stuckert – 15.mar.201/Divulgação) A última pesquisa Datatfolha tem pontos ainda pouco explorados por analistas. Ela traz uma estratificação das intenções de voto por gênero e raça. Daí descobrimos algumas coisas interessantes, como uma tendência muito marcante da população negra, parda e índia de votar em Lula, principal candidato da esquerda. Na divisão dos votos […]

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(Ricardo Stuckert – 15.mar.201/Divulgação)

A última pesquisa Datatfolha tem pontos ainda pouco explorados por analistas. Ela traz uma estratificação das intenções de voto por gênero e raça.

Daí descobrimos algumas coisas interessantes, como uma tendência muito marcante da população negra, parda e índia de votar em Lula, principal candidato da esquerda.

Na divisão dos votos por gênero, igualmente notamos que, entre mulheres, a vantagem de Lula sobre seus adversários é bem maior que entre homens.

Vamos aos números.

No geral, o cenário C do Datafolha (o instituto fez um cenário A e B sem o ex-presidente), com Lula, mostra-o na liderança, com 31 pontos, 16 pontos à frente de Bolsonaro, que tem 15.

Ente mulheres, Lula tem 32 pontos, contra 9 de Bolsonaro. Ou seja, entre mulheres, Lula está 23 pontos à frente do segundo colocado nas pesquisas.

Vamos à raça.

Entre pardos, Lula tem 35 pontos, contra 15 de Bolsonaro. 20 pontos de vantagem.

Entre negros, Lula tem 34 pontos, contra 11 de Bolsonaro. 23 pontos de vantagem.

Entre índios, Lula tem 48 pontos, contra 11 de Bolsonaro. 37 pontos de vantagem!

Detalhe, Bolsonaro é o segundo entre índios. A vantagem de Lula sobre outros candidatos, entre brasileiros identificados como de origem indígena, portanto, é ainda maior. Exemplo: entre índios, Marina Silva e Geraldo Alckmin tem, cada um, 5 pontos, 43 pontos atrás de Lula.

No Nordeste, Lula tem 50 pontos, segundo o Datafolha, contra 7 pontos de Bolsonaro.

Entre brasileiros mais pobres, que ganham ate 2 salários, Lula tem 39 pontos, contra 9 de Bolsonaro. 30 pontos de vantagem.

Os números de rejeição trazem as mesmas tendências vistas nas intenções de voto.

Entre mulheres, negros e índios, Lula tem uma rejeição baixa. Importante notar que a pesquisa foi feita depois da prisão do ex-presidente. Entre mulheres, a rejeição a Lula é de 34%, que é quase a mesma de Jair Bolsonaro, 32%, que é menos conhecido. Entre índios, a rejeição a Lula é de 21%, um índice baixo, sobretudo para um político com tanta projeção, como Lula.

Toda a carga negativa contra Lula se concentra nas faixas de renda mais alta. É aí que o ódio político a Lula aparece com muita nitidez. Enquanto entre os trabalhadores que ganham até 2 salários, a rejeição a Lula é de apenas 27%, esta cresce vertiginosamente para 60% entre aqueles com renda familiar superior a 10 salários.

A prisão de Lula, portanto, e todo o esforço midiático-judicial para inviabilizá-lo eleitoralmente, arrasta inexoravelmente uma pesadíssima carga de opressão contra as classes oprimidas: pobres, mulheres, negros, índios.

***

Analisando pesquisas segmentadas nos Estados Unidos, chegamos a alguns resultados interessantes, que nos permitem entender tendências além-fronteiras.

Antes de entrar no voto segmentado, por gênero e raça, nos EUA, vale observar esse gráfico do Pew Research Center, sobre a opinião dos americanos acerca a importância de uma rede social pública para proteger a população mais pobre.

São alternativas bem claras oferecidas aos entrevistados:

1) O governo não pode fazer muito mais para ajudar americanos pobres.
2) O governo deve fazer mais para ajudar americanos pobres, mesmo que isso signifique aumentar a dívida pública.

Essa me parece a divisão mais clara, nos dias de hoje, entre direita e esquerda.

Repare que os “core conservatives”, ou conservadores duros, não querem saber, em sua maioria, de ajuda governamental aos mais pobres, ao passo que os “solid liberals’, ou liberais sólidos, são fortemente favoráveis a um Estado social presente.

No geral da população, 50% concordam que o Estado deve ajudar os pobres, enquanto 43% afirmam que não.

Trago esses dados aqui, no entanto, apenas à guisa de introdução para o que mostro a seguir. Nos EUA, assim como no Brasil, há uma tendência à radicalização política, no sentido de que cada vez mais eleitores democratas se caracterizam como liberais duros, e cada vez mais eleitores republicanos se caracterizam como conservadores duros.

É uma polarização clássica entre esquerda e direita, que existe em todo o mundo democrático. É preciso não confundir a tendência dos eleitores com o perfil, bem mais conservador, dos partidos, submetidos a cálculos burocráticos e a necessidades de financiamento que os afastam das inclinações sociais mais orgânicas.

Olhem essa pesquisa, também do Pew Research Center, de 2016, sobre a estratificação do eleitorado de Clinton e Trump. É uma pesquisa de intenção de voto e, portanto, traz apenas uma ideia aproximada.

Note que, entre mulheres, Trump perde estrepitosamente de Clinton: a democrata tem 59% X 35% de Trump, uma diferença de 24 pontos!

Trump ganha apenas entre homens, e brancos!

Não consigo deixar de pensar na vantagem de Lula sobre Bolsonaro entre público feminino, de 23 pontos.

Na população afro-americana, as diferença entre Clinton e Trump são ainda mais brutais. Entre homens negros, temos Clinton 85 X 7 Trump, e entre mulheres negras, Clinton 91 X 6 Trump.

Há outros itens, como a diferença entre casados e não casados, tanto homens como mulheres, que vale a pena observar, para entender as diferenças eleitorais entre os votos liberais ou conservadores nos EUA.

De qualquer forma, as tendências políticas de hoje, no Brasil e no resto do mundo democrático, parecem seguir orientações parecidas, determinadas pelas questões universais da luta de classes, a qual, por sua vez, se entrelaça com questões raciais e de gênero, na medida em que as categorias sociais historicamente oprimidas (mulheres, negros, índios), mesmo que pertencentes a estratos sociais com renda acima da média, tendem a se aliar politicamente com as classes trabalhadoras.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Reginaldo Gomes

24/04/2018 - 16h45

Existem no Brasil 3 assuntos, cujo debate , são violentamente proibidos à alguns séculos:
1) 500 anos de genocídio indígena;
2) 500 anos de ” apartheid” dos índios;
3) 500 anos de preconceito com os índios;
Será que o presidente Lula terá coragem de pelo menos comentar esses assuntos?


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