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A entrevista de FHC ao Estadão

Para registro histórico e para a gente fazer o debate por aqui. Mal ou bem, FHC parece ser o último cérebro pensante do PSDB, e um dos poucos que não se renderam a Bolsonaro. *** No Estadão ‘Não estou vendendo a minha alma ao diabo’, diz FHC Ex-presidente nega apoio automático a Haddad, critica o […]

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Para registro histórico e para a gente fazer o debate por aqui. Mal ou bem, FHC parece ser o último cérebro pensante do PSDB, e um dos poucos que não se renderam a Bolsonaro.

***

No Estadão

‘Não estou vendendo a minha alma ao diabo’, diz FHC

Ex-presidente nega apoio automático a Haddad, critica o PT, diz que não votará em Bolsonaro e defende mudar partidos

Entrevista com Fernando Henrique Cardoso

Por Pedro Venceslau, O Estado de S. Paulo

13 Outubro 2018 | 22h30

Alvo de ataques incessantes do PT por mais de duas décadas, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse, em entrevista ao Estado, que não aceita “coação moral” dos que agora buscam seu apoio. “Quando você vê o que foi dito a respeito do meu governo, nada é bom. Tudo que fizeram é bom. Quem inventou o nós e eles foi o PT. Eu nunca entrei nessa onda.” Segundo ele, “agora o PT cobra… diz que tem de (apoiar Haddad). Por que tem de apoiar automaticamente? Quando automaticamente o PT apoiou alguém? Só na vice-versa. Com que autoridade moral o PT diz: ou me apoia ou é de direita? Cresçam e apareçam. A história já está dada, a minha.” E desabafou: “Agora é o momento de coação moral… Ah, vá para o inferno. Não preciso ser coagido moralmente por ninguém. Não estou vendendo a alma ao diabo”. Apesar disso, ele diz que “há uma porta” com Fernando Haddad (PT), mas com o “outro (Jair Bolsonaro, PSL)”, não.

Como sr. vê o futuro do PSDB e avalia essa onda conservadora?

O PSDB, se quiser ter futuro, precisa se repensar. Depois de um terremoto, precisa reconstruir a casa. A onda conservadora é mundial.

O PSDB tem mais identidade com quem neste segundo turno?

Pelo que eu vi das pesquisas, é quase meio a meio do ponto de vista do eleitorado. Em seis Estados, o PSDB ainda disputa eleição para governador. Os candidatos ficam olhando o eleitorado. Do meu ponto de vista pessoal, o Bolsonaro representa tudo que não gosto. Só ouvi a voz do Bolsonaro agora. Nunca tinha ouvido. Não creio que seja por influência do que ele diz ou pensa que votam nele. O voto é anti-PT. O eleitorado parece estar contra o PT. No olhar de uma boa parte dele, o PT é responsável pelo que aconteceu no Brasil, na economia, cumplicidade com a corrupção e etc. É possível que a maioria dos líderes do PSDB seja pró-Bolsonaro, mas não é o meu caso.

O sr. tem mais identidade com o Haddad?

Não posso dizer isso. Como pessoa é uma coisa, como partido é outra. A proposta que o PT representa não mudou nada. Quando fala em economia, é a nova matriz econômica. Incentivar o consumo? Tudo bem, mas como se faz isso sem investimento? Como se faz sem enfrentar a questão fiscal? O PT no poder sempre teve uma deterioração da visão do (Antonio) Gramsci da hegemonia. Aqui não é cultural, é hegemonia do comando efetivo. Quando você vê o que foi dito a respeito do meu governo, nada é bom. Tudo que fizeram é bom. Quem inventou o nós e eles foi o PT. Eu nunca entrei nessa onda. Agora o PT cobra… diz que tem de (apoiar). Por que tem de automaticamente apoiar? É discutível. (O PT) Não faz autocrítica nenhuma. As coisas que eles dizem a respeito do meu governo não correspondem às coisas que acho que fiz. Por que tenho que, para evitar o mal maior, apoiar o PT? Acho que temos de evitar o mal maior defendendo democracia, direitos humanos, liberdade, contra o racismo o tempo todo.

Nas encruzilhadas históricas, PSDB e PT se uniram. No caso de 2018 é diferente?

Não faço parte da direção do PSDB, que decidiu pela neutralidade. Cada um pode fazer o que quiser. Política não é boa intenção. Uma coisa é a minha apreciação como pessoa sobre outra pessoa. Isso não é política. Se vamos estar juntos, tem que discutir completamente. Nunca houve isso.

O PT não está colaborando para essa aproximação?

De forma alguma. O PT tem uma visão hegemônica e prepotente. Isso não é democracia. Democracia implica em abrir o jogo e aceitar a diversidade.

Já houve algum diálogo do PT com o senhor?

Não. Tenho relações pessoais e cordiais com o candidato Haddad, mas o que está em jogo é o que será feito com o Brasil. Minha preocupação não é comigo ou o PSDB, mas com o Brasil. Qual é a linha? Estão pensando que estamos nos anos 60 e 70 ou terá uma linha contemporânea? Aí não dá…

Se o PT fizesse autocrítica, seria possível apoiar Haddad?

Seria bom, mas o PT está propondo coisas inviáveis.

O sr. vai declarar seu voto?

Quero ouvir primeiro. Não sei o que vão fazer com o Brasil. O Bolsonaro pelas razões políticas está excluído. O outro eu quero ver o que vai dizer.

Há porta aberta para Haddad?

Eu não diria aberta, mas há uma porta. O outro não tem porta. Um tem um muro, o outro uma porta. Figura por figura, eu me dou com Haddad. Nunca vi o Bolsonaro.

Haddad é diferente do PT?

Não adianta ser diferente. Haddad é a expressão do Lula. Ele usou uma máscara do Lula. Agora tirou e colocou uma bandeira verde e amarela.

Marconi Perillo foi preso. Antes foi o Beto Richa. O PSDB caiu na vala comum?

Você nunca ouviu de mim acusação contra o PT. O papel de acusar é da polícia; de julgar é da Justiça. É importante que as investigações prossigam. Você nunca ouviu uma palavra minha de defesa só porque é do PSDB. Quero que tenha direito de defesa.

O sr. conversou com Luciano Huck, que desistiu de concorrer. Se o PSDB tivesse lançado outro nome, talvez um outsider, a história seria diferente?

É difícil avaliar o que aconteceria com um candidato outsider. Sou amigo do Luciano Huck. É pessoa interessante, mas não sei o quanto tem habilidade para manejar os problemas do Estado. Espero que não desista. Nas circunstâncias atuais, dificilmente um candidato do PSDB, fosse quem fosse, estaria isento de sofrer as consequências do terremoto. Estamos assistindo a um terremoto. Não creio que seja o caso de culpar A, B ou C. Na situação que vivemos, você vai precisar de liderança forte, o que não significa autoritária. O governador de São Paulo tinha experiência e é uma pessoa correta, mas não teve apoio. Tentei juntar o centro antes. Ninguém quis. Não adianta ter ideia. Ideia é bom na universidade. Tem que ter capacidade de convencer. Agora, estão me cobrando: tem que fazer isso, aquilo. Tem carta, intelectual da Europa, dos EUA, amigos meus me pedem isso… Eles não conhecem o processo histórico. Nessas horas, a palavra de alguém some no ar. Cobram de mim para tomar posições. Mas eu digo: Por quê? Qual é a consequência?

Para a história, talvez?

Eu já fiz a minha história. Todo mundo sabe o que eu penso. Não preciso provar que sou democrático. Eu sou! O PSDB sabe o que eu penso. Todo mundo sabe. Alguém pode imaginar que eu vou sair por aí apoiando o Bolsonaro? Nunca.

Mas isso não significa que o sr. apoia Haddad?

Quando automaticamente o PT apoiou alguém? Só na vice-versa. Com que autoridade moral o PT diz: ou me apoia ou é de direita? Cresçam e apareçam. A história já está dada, a minha. Não vou no embalo. Não me venham pedir posição abstratamente moral. Política não é uma questão de boa vontade, é uma questão de poder. E poder depende de instrumentos e compromissos efetivos. Agora é o momento de coação moral… Ah, vá para o inferno. Não preciso ser coagido moralmente por ninguém. Não estou vendendo a alma ao diabo.

A esquerda diz que o Bolsonaro representa o fascismo.

O autoritarismo, concordo, o fascismo, não, porque é um movimento específico de apoio popular e com ideias específicas de Estado corporativo, tinha uma filosofia por trás. Não sei se ele (Bolsonaro) tem alguma filosofia por trás. Ele tem uma vontade de mandar. Não sei o que ele é. O que propôs como parlamentar foi corporativismo. Agora vai ser liberal? Pode ser. As pessoas mudam. Mas não mostrou nada.

O PSDB amargou o pior desempenho eleitoral de sua história. O que houve com o partido?

Houve um terremoto. Nele, há escombros de muitos partidos. O que ganhou na Câmara em maior número é o PSL. As pessoas não sabem o que significa PSL. Elegeram 52 deputados, 11% da Câmara. É a fragmentação, um problema estrutural. Como levar adiante isso? Querendo ou não, vai ser preciso agrupar forças. Mas ao redor do quê? Qual a proposta para o Brasil? Os candidatos não falam.

O senador Tasso Jereissati criticou a decisão do PSDB de contestar o resultado da eleição de 2014 e de entrar no governo Temer. O que o sr. acha?

Em geral, concordo. Mas o caso da entrada no governo Temer é uma questão mais complicada. Fomos a favor do impeachment. Fui dos mais reticentes – e a todos os impeachments, mesmo do Collor. É traumático. É um processo que abala. Mas não acho que o PSDB tenha sido incoerente nisso. Quanto ao resto, ele tem razão.

João Doria e Alckmin tiveram um momento tenso. Alckmin disse não ser traidor, em referência a Doria. Como o sr. avalia?

Tenho certeza que Geraldo não é traidor. Não é do estilo dele. A eleição não está resolvida. O Doria ainda tem de disputar para saber qual será o grau de projeção dele. Não estou de acordo em apoiar o Bolsonaro. Não corresponde à minha história e ao meu sentimento. Não são os militares voltando ao poder, mas o povo abrindo espaço para a possibilidade de uma presença militar mais ativa. Os militares entenderam a função deles na Constituição. Neste momento é muito importante defender o que está na Constituição. Não estamos mais na guerra fria. As pessoas olham para o que está acontecendo no Brasil como se fosse 1964 e 1968. Havia guerra fria e capitalismo contra comunismo. Não é essa a situação que vivemos. Temos de resistir a qualquer tentativa de ferir os direitos fundamentais assegurados na Constituição. O PSDB não deve abrir mão da defesa da democracia.

E sobre a guinada liberal no PSDB que Doria defende?

Essa é uma questão do século 18. Estamos no século 21. Hoje você não tem mais a possibilidade de imaginar mercado sem regulamentação. Fake news? Tem que regulamentar. Você não pode pensar que o Estado vai substituir a iniciativa privada. Ninguém propõe controle social dos meios de produção. No passado, era isso que definia esquerda e direita. Liberal quer dizer o quê? É um falso problema.

O sr. disse, quando era senador, que a extinção do PSDB podia ser parte da solução para mudar o sistema partidário.

O sistema partidário e eleitoral que montamos a partir da Constituição de 1988 se exauriu. A prova é a fragmentação partidária. Nós temos mais de 20 partidos no Congresso, mas não há 20 posições ideológicas. Os partidos viraram quase corporações. São grupos de parlamentares que se organizam e obtêm o Fundo Partidário e tempo de TV. Estamos assistindo à explosão desse sistema. Portanto, acredito que sim, será preciso repensar essa estrutura.

Pode-se deduzir que do PSDB poderá nascer um novo partido?

Eu não diria o PSDB, mas é preciso mudar as regras partidárias. Você não faz partido porque gosta. Quais serão as ideia-força capazes de reagrupar partidos? Não é questão puramente legal, mas de existirem ideias e líderes que debatam essas ideias. Os partidos perderam o sentido originário.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Carlos Augusto Rodrigues da Silva

16/10/2018 - 10h36

FHC parceiro oficial do condenado, aparece agora para tentar manter o domínio do poder entre eles, o medo do ostracismo deve estar incomodando, Verdades vão aparecer e a limpeza do Brasil será feita, Psdbistas e Petistas já vislumbram o seu fim, FORÇA BOLSONARO , FORÇA POVO BRASILEIRO, não deixemos que velhas raposas sujas atrapalhem o nosso caminho…….

Tamosai

16/10/2018 - 06h55

Para evitar a barbárie, é preciso ajuda até de pessoas como o FHC. As alternativas ditatoriais e autoritárias são piores. É preciso ter racionalidade numa hora dessas.

Ultra Mario

15/10/2018 - 20h56

https://www.youtube.com/watch?v=IiQWIgP3-x4

Essa onda conservadora é uma farsa forjada no exterior e agora temos provas disso. Assistam e compartilhem.

Pedro Bala

15/10/2018 - 06h39

Fernando Henrique: “Não estou vendendo minha alma ao diabo.” Essa “alma” já foi vendida há muito tempo. O Boca-Mole não tem compromisso com nada. Não tem nenhum caráter. É totalmente desonesto. Irresponsável.

Marcos Pinto Basto

15/10/2018 - 03h34

Vamos esquecer os defeitos do PT, de Lula, de Haddad ou FHC. A questão maior é o Brasil como Nação democrática e soberana!
A opinião de FHC tem o peso de quem já foi Presidente da República e sempre opinou em prol da democracia, portanto, quando afirma que nunca apoiaria Boçalnaro, mostra o grande risco que o Brasil corre.
Aos que não se cansam de tentar denegrir o PT e Lula, como forma de prejudicar Haddad, lembramos que o imprestável Boçalnaro sempre defendeu o grande torturador assassino, coronel Brilhante Ustra!
Quem votar neste fantoche, não estará regulando bem da cabeça.

Paulo

14/10/2018 - 20h17

“Assim não dá, assim não pode”, rsrs. Vendeu a Vale mas fez seu sucessor – no caso, ele mesmo. Assim como Quércia, que se gabava de ter quebrado o Banespa mas feito seu sucessor. Por aí se vê o nível de responsabilidade, perante o país, desses senhores que nos governam

manoel

14/10/2018 - 14h46

Goste ou não o PT esta no foco da discursão…isso é/era inevitável num segundo turno. Normal…

João Batista kreuch

14/10/2018 - 13h49

Miguel, pra mim já deu de vc derramar seu rancor. Tudo pra vc vira oportunidade de criticar o PT. O que procura, angariar simpatizantes entre os coxinhas?
Para mim basta. Você não é mais uma opinião que me ajude a entender nada.

    Miguel do Rosário

    14/10/2018 - 14h34

    A entrevista é de FHC, único tucano de alta estirpe que aceita dialogar com Haddad. O próprio Haddad tem anunciado apoios tucanos com estardalhaço. https://noticias.uol.com.br/politica/eleicoes/2018/noticias/2018/10/09/haddad-diz-esperar-apoio-de-tucanos-ha-social-democracia-ainda-no-psdb.htm

    Qual o problema em debater, nem que seja para falar mal? Mais importante: o que eu tenho a ver com isso? Onde tem “rancor” nesse post?

      João Batista Kreuch

      14/10/2018 - 16h28

      Esse cartaz todo que você dá, que cérebro pensante o que? Um grandessíssimo farsante, oportunista e desonesto. Por isso, alçado pela mídia tradicional a farol da intelectualidade conveniente a ela. Vc podia nos proporcionar algum contraponto mais inaceitável, por isso, não estou entendendo a quem quer agradar exaltando esse pilantra.

        Damião Bonfim

        14/10/2018 - 19h04

        Nada que estimule pensar o PT tal como ele QUER ser é bem-vindo. Autocrítica não faz parte do processo de fortalecimento desse partido. É irritante ler as diversas matérias que sites simpatizantes ao PT têm propagado, praticamente exigindo apoio a uma estratégia que todos sabiam, tinha e tem tudo para dar errado. Mas a que conclusão deve chegar o partido após a provável derrota para Bolsonaro? – A culpa é dos outros, fizemos nossa parte. Problema é que a parte que coube ao PT foi assegurar que ninguém da esquerda ou do centro chegasse ao 2º turno, que não um “ungido por Lula”, porque a honra de entregar a eleição ao candidato do PSL tinha de ter do protagonismo do PT. A arrogância e prepotência saltavam aos olhos, por exemplo, naquela ilustração em que Lula aparece como que sendo Moisés, a dizer: “Que comesse a transferência [de votos]”. Ela começou, mas parou, cedendo lugar a outro fenômeno: a transferência da rejeição ao partido. No fim das contas, o candidato que mais usou e soube aproveitar do antipestismo, conseguiu a garantia de sua vitória: enfrentar o partido que mais embalou sua campanha, graças a uma ideia genial de um “infalível” estrategista. Lula ou nada. Lula é Haddad (agora não é mais), mas parece que a alternativa continua, e entre Lula ou nada, ficaremos com nada.

          João Batista Kreuch

          14/10/2018 - 21h29

          Engraçado, como se não houvesse inúmeros outros fatores a detonar o Brasil. Inocentes vocês, ou simplesmente mal intencionados. Lula foi praticamente o único a representar uma força capaz de fazer frente à onda avassaladora do golpe — ou já não se pode também chamar o golpe de golpe??? — e em vez de toda a esquerda se unir a um projeto comum alguns tentaram fazer carreira solo e ajudaram a enfraquecer o PT. Vão, reclamem “autocrítica”… Chamem de “projeto de poder”… Idiotas. Se algum outro tivesse sido injustiçado assim teria se resignado e aceitado calado a pecha de ladrão e corrupto????
          Vocês estão repetindo o discurso da mídia!

          Damião Bonfim

          15/10/2018 - 18h35

          “… em vez de toda a esquerda se unir a um projeto comum alguns tentaram fazer carreira solo e ajudaram a enfraquecer o PT” (“petecentrismo”).

          Pelo contrário, o PT ama a carreira solo (o protagonismo tem de ser dele), e enfraquece qualquer um que se proponha a não agir como seu puxadinho (e é isso que enfraquece a esquerda).

          Se o PT tivesse ouvido Wagner (eleito Senador), essa mesma esquerda teria, de fato, se unido em melhores condições que as impostas pela burocracia petista. Ser grande, também é saber reconhecer o momento de dar a vez a outro. Afinal, alternância no poder faz bem à democracia. Mas a tal alternância não quer dizer trocar de nomes mantendo-se o mesmo partido no poder, nem se fortalece vendendo-se a ideia de que fulano no governo (Haddad) é beltrano (Lula) no poder. Talvez por isso, fica difícil descolar do candidato petista a imagem de um fantoche (que ele nem merece, mas que o próprio partido fez questão que assim fosse visto, supondo que isso seria vantagem numa eleição em que a população buscava alguém representasse força, não submissão).

          Se há uma coisa boa nessa história de provável derrota petista, é a consciência de uma esquerda que não se vê representada apenas no/e pelo PT. Mania essa de achar que nada fora do domínio petista é legítimo!

          Lula não é eterno, mas queria que a esquerda dependesse dele e se curvasse ao PT, a ponto de traçar estratégia cujo foco não foi obter apoio partidário, mas simplesmente evitar que outro o obtivesse. O resultado está à porta, e agora se sentem no direito de cobrar do prejudicado que se una a quem o sabotou; ou cobrar de outros, a quem sempre demonizou, que se uma a eles, para que fiquem mais fortes. O mundo dá voltas. Restará dois caminhos aos infalíveis: 1º: reconhecer que erraram ou 2º: alegar que erraram os que não o apoiaram (não tenho certeza, mas o PT deve escolher a segunda alternativa).


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