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Análise Ibope: Boulos pontua 17% na classe média paulistana, empatado com Covas

Com Jilmar Tatto (PT) e Orlando Silva (PCdoB) ainda fora do páreo, e Marcio França enfrentando dificuldades para emplacar uma campanha nas redes sociais, o candidato progressista que vem apresentando mais crescimento, segundo a última pesquisa Ibope, é Guilherme Boulos, do PSOL. Embora na pesquisa estimulada, os números de Boulos sejam ainda modestos, 8%, contra […]

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Com Jilmar Tatto (PT) e Orlando Silva (PCdoB) ainda fora do páreo, e Marcio França enfrentando dificuldades para emplacar uma campanha nas redes sociais, o candidato progressista que vem apresentando mais crescimento, segundo a última pesquisa Ibope, é Guilherme Boulos, do PSOL.

Embora na pesquisa estimulada, os números de Boulos sejam ainda modestos, 8%, contra 24% de Russomano e 18% de Bruno Covas, a sua performance é inegavelmente robusta. 

Por exemplo, Boulos pontuou 5% na espontânea. Parece pouco, mas não é. 5% é um excelente número numa espontânea, tanto que o atual prefeito não tem muito mais que isso, 7%, e Russomano, que lidera a pesquisa estimulada, tem apenas 3% na espontânea. 

Isso significa que, ao menos na pesquisa espontânea, Boulos está empatado tecnicamente com Bruno Covas. 

Em alguns segmentos importantes, Boulos lidera a pesquisa espontânea: ele tem 6% entre homens, mesmo percentual de Covas; 8% entre jovens de 25 a 34 anos (contra 5% de Covas); e chega a 10% entre eleitores com ensino superior (contra 8% de Covas e 3% de Russomano). 

Boulos se tornou um candidato “chique”, e isso não é uma desvantagem numa cidade onde, segundo o mesmo Ibope, 37% dos eleitores tem ensino superior. 

Na pesquisa estimulada, fica claro que Boulos bebe sua força principalmente de eleitores com renda familiar acima de 5 salários, entre os quais ele tem 17% das intenções de voto, empatado com Russomano, que também tem 17%, e abaixo de Covas, que pontua 22% neste segmento.

Marcio França tem apenas 5% dos votos entre eleitores com renda familiar acima de 5 salários. 

Entre as faixas inferiores, porém, a votação de Boulos cai abruptamente: tem 9% entre eleitores com renda de 2 a 5 salários, 5% entre aqueles com renda entre 1 e 2 salários, e apenas 2% na faixa de renda mais humilde, até 1 salário.

Diante da notícia de que Boulos vem conquistando o apoio de algumas lideranças comunitárias (que antes apoiavam o PT), pode ser que o psolista melhore sua performance entre os eleitores mais pobres. 

De qualquer forma, essa força na classe média ilustrada facilita muito a campanha de Boulos, por se tratar de um segmento que detêm hegemonia nas redes sociais. 

Boulos se beneficia ainda de um outro fenômeno, que é o aumento da rejeição a Bolsonaro justamente nesses segmentos de maior renda e escolaridade.

Segundo a mesma pesquisa, entre os eleitores com renda familiar superior a 5 salários, 45% qualificam o governo Bolsonaro como “péssimo”, e 7% como ruim, contra apenas (no mesmo segmento) que o acham “ótimo” e 19% “bom”. Entre eleitores com ensino superior, o percentual de ruim e péssimo de Bolsonaro é de 56% entre os paulistanos. Esse aumento da rejeição a Bolsonaro nas classes médias paulistas faz com que o tom da campanha de Boulos, extremamente focado na polarização e nacionalização de sua mensagem, reverbere em alto volume. 

Há ainda um outro fator que beneficia Boulos. 

Segundo o Ibope, Lula tem mais prestígio que Bolsonaro em São Paulo: 25% dos entrevistados disseram que o apoio do ex-presidente “aumentaria muito” a vontade de votar num determinado candidato. Embora Lula apoie oficialmente o candidato do PT, Jilmar Tatto, Boulos goza de forte identificação com o ex-presidente, e tem muito mais facilidade do que Tatto para transferir, para si, os votos de eleitores simpáticos a Lula. 

De qualquer forma, a missão dos candidatos progressistas, seja Boulos ou Marcio França, não será fácil. 

Aparentemente Bolsonaro já escolheu um candidato. Há alguns dias, o presidente compartilhou uma postagem de Russomano, enviando sinais à sua ainda poderosa rede de apoiadores que este será seu candidato. A escolha de Bolsonaro faz sentido, após a conversão do governador de São Paulo, João Doria, em seu inimigo político. O tucano Doria é o principal fiador da candidatura de Bruno Covas. 

Isso não é garantia de nada, naturalmente. Na imprensa, houve quem entendesse que o apoio de Bolsonaro poderia mais atrapalhar do que ajudar Russomano. 

Uma das perguntas feitas na pesquisa Ibope mostra que 47% dos entrevistados responderam que o apoio de Bolsonaro a um candidato “diminuiria” a sua vontade de votar nele. Entretanto, não se pode esquecer que outros 24% responderam que o apoio de Bolsonaro “aumentaria” sua vontade de votar no mesmo. 

Este “apoio”, naturalmente, é relativo e só funciona se o candidato for bastante conhecido. Mas esse poderia ser justamente o ingrediente que faltava a Russomano em eleições anteriores. 

O apoio de Bolsonaro a Russomano pode ajudá-lo a chegar ao segundo turno, embora também possa prejudicá-lo na disputa final, em virtude da rejeição alta de Bolsonaro entre os paulistanos. 

De qualquer forma, os números do Ibope nos ajudam a entender melhor o que vai pela cabeça dos paulistanos, e portanto, de um pedacinho importante do Brasil. 

Entre eleitores com renda familiar superior a 5 salários, a rejeição a Bolsonaro é bem superior àquela verificada entre os mais pobres. Segundo o Ibope, 55% dos eleitores com renda familiar acima de 5 salários responderam que um eventual apoio de Bolsonaro a um candidato “diminuiria” a sua vontade de votar nele. 

Entre eleitores com ensino superior, 55% responderam que o apoio de Bolsonaro “diminuiria” sua vontade de votar no candidato.

É interessante comparar o prestígio de Bolsonaro e Lula junto ao eleitor paulistano. 

Segundo o Ibope, a moral de Lula em São Paulo está melhor que a de Bolsonaro: 32% dos entrevistados disseram que o apoio do ex-presidente “aumentaria” a vontade de votar num determinado candidato, ao passo que 40% responderam que o apoio de Lula “diminuiria” sua vontade.

Entretanto, Lula continua enfrentando problemas na classe média: entre eleitores com renda familiar superior a 5 salários, e entre eleitores com ensino superior, 54% e 47%, respectivamente, responderam que o apoio de Lula diminuiria sua vontade de votar nele.

Conclusão

É sempre bom deixar algumas palavras de prudência em relação a pesquisas. Pesquisas criam muita ilusão e falsas expectativas. Elas deveriam servir como um instrumento acessório da análise política, mas não o principal e jamais o único. É preciso sempre cotejá-las com único dado que realmente importa: o voto. No caso de São Paulo, é preciso olhar os resultados eleitorais de 2018. 

Bolsonaro ganhou, no segundo turno, com 3,69 milhões de votos, ou 60% dos votos válidos na capital paulista. No primeiro turno, Bolsonaro havia obtido 2,8 milhões em São Paulo.

No segundo turno, Haddad obteve 2,4 milhões de votos.

É importante notar, todavia, que a cidade de São Paulo, tem 8,66 milhões de eleitores!

Ainda sobre o primeiro turno das eleições presidenciais, Haddad obteve 1,2 milhão de votos, Ciro Gomes 943 mil votos, Alckmin 559 mil votos, Amoedo 362 mil votos e Boulos, 76,9 mil votos.

No segundo turno das eleições para governador, em 2018, o então candidato Marcio França, obteve 3,39 milhões de votos na capital paulista, 58% dos votos válidos da cidade.

No primeiro turno, França havia obtido 1,22 milhão de votos em São Paulo, e o candidato do PT, Rogério Marinho, 901 mil votos. Enquanto esses votos petistas parecem estar indo para Boulos, os votos de França ainda não apareceram.

Esses números, que tem um valor político superior a qualquer pesquisa, devem sempre ser considerados nas análises eleitorais para São Paulo. Eles sinalizam que não se deve subestimar nem bolsonarismo, nem o petismo (nem o antipetismo); tampouco o potencial de Marcio França.

Muitas águas rolarão por debaixo da ponte, e a temperatura política da campanha paulistana ainda deverá subir muito nas próximas semanas, quando o debate eleitoral começar a entrar, efetivamente, na rotina dos paulistanos.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Wellington

09/10/2020 - 16h02

Foi a melhor análise que eu li sobre as intenções de votos em Guilherme Boulos, assim como nos demais candidatos. Análise realizada na base da razão, com números e estatísticas, sem militância partidária que tem sido tão comum nas análises políticas atualmente. Parabéns!!

JOSÉ SANTOS

08/10/2020 - 08h57

Apoiou o Bolsonaro, queimou o filme.

Alexandre Neres

23/09/2020 - 09h26

Coluna do Estadão de hoje: “» Decifra-me… Os rumos da candidatura de Márcio França (PSB) a prefeito de São Paulo ainda são uma incógnita. Vai radicalizar à esquerda? Apostará no caminho do meio? Ou flertará novamente com Bolsonaro?”

Francisco

23/09/2020 - 02h18

“Com Jilmar Tatto (PT) e Orlando Silva (PCdoB) ainda fora do páreo, e Marcio França enfrentando dificuldades para emplacar uma campanha nas redes sociais, o candidato progressista que vem apresentando mais crescimento, segundo a última pesquisa Ibope, é Guilherme Boulos, do PSOL.”

TRADUZINDO: Com Orlando Silva fora do páreo, desde sempre, e Marcio França a caminho, sem volta, e com Jilmar Tatto AINDA fora do páreo, o candidato de esquerda que vem apresentado mais crescimento, é Guilherme Boulos.

CONCLUSÃO NÃO MANIFESTA: O segundo turno será entre, Covas ou Russomano e Boulos ou Tatto, com votos úteis ocorrendo nos dois lados, a partir da antevéspera da eleição, definidos os com mais chances em cada lado.

Tadeu

22/09/2020 - 19h35

Não tem preço ver a burguesia paulistana (ainda que provavelmente seja só a ala intelectual dela) se assumindo “comunista”. A ver se o povão evangélico vai comprar a ideia e se aliar a essa burguesia em torno da candidatura do PSOL comuno-gayzista. Eu tenho sérias dúvidas.

Paulo

22/09/2020 - 18h33

O que se verifica de plano, na pesquisa estimulada, é que Covas e França são os candidatos com maior equilíbrio entre os seus eleitores de diferentes faixas de renda. Isso, creio, dá potencial de crescimento a França, que tem pouca rejeição. Já Boulos atingiu seu teto e não evoluirá desse patamar atual…Russomano vai quebrar a cara com o apoio do Capetão (e quebraria sem esse apoio, também). Errar é humano, persistir no erro…


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