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Rejeição da Bolsonaro já é similar a que FHC tinha ao final do segundo mandato

Um fator que tem ajudado Bolsonaro é que o seu governo sucede duas administrações terrivelmente rejeitadas pela população. Dilma Rousseff  chegou a ter uma desaprovação de 81%, em outubro de 2015, segundo a CNT/MDA. Às vésperas do golpe, a rejeição havia caído um pouco, para 74%, mas ainda assim era um número sem comparação com […]

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Um fator que tem ajudado Bolsonaro é que o seu governo sucede duas administrações terrivelmente rejeitadas pela população. Dilma Rousseff  chegou a ter uma desaprovação de 81%, em outubro de 2015, segundo a CNT/MDA. Às vésperas do golpe, a rejeição havia caído um pouco, para 74%, mas ainda assim era um número sem comparação com nenhum outro governo anterior. 

O governo Michel Temer, que sucedeu Dilma Rousseff após a deflagração de um golpe de Estado parlamentar, conseguiu o que parecia impossível, e sua rejeição superou a de Dilma, chegando a 90% em maio de 2018.

Diante desses dois antecessores tão profundamente rejeitados pela maioria da população, a rejeição de 51,4% de Bolsonaro, conforme número divulgado hoje pelo mesma CNT/MDA, não parece tão alta. 

Mas é.

Essa rejeição é comparável ao pior momento de Fernando Henrique Cardoso, que terminou o seu segundo mandato com desaprovação similar à de Bolsonaro hoje. Em fevereiro de 2002, ano em que o PSDB perderia a eleição para Lula, a rejeição ao governo FHC era de 46,1%. Essa rejeição iria oscilar em torno desse número, chegando ao máximo de 54% na véspera das eleições de outubro.

Para se ter uma ideia comparativa da rejeição de Bolsonaro, vale apontar que Lula, em seu momento mais dramático, no auge do escândalo do mensalão, chegou a ter uma rejeição de 44,2%. Esse foi o momento mais difícil de Lula, quando parecia que ele jamais conseguiria se recuperar.

 

Hoje, 22 de fevereiro, o governo do presidente Jair Bolsonaro, tem rejeição de 51,4%.

A situação de Bolsonaro, no entanto, não parece trazer a mesma carga dramática – ou seja, não aparenta ser tão densa como parecia com Lula em seu pior momento – em função de razões sociológicas que abordaremos em outro momento. A mais importante dessas razões é que não havia grandes expectativas, ou pelo menos não expectativas “morais”, em relação a Bolsonaro. Ele decepciona muitos, mas o sentimento de decepção não é o mais importante para explicar a deterioração de seu prestígio. 

Olhemos para a avaliação do governo. 

Observe a forte variação dos extremos: a nota ótimo caiu quase 3 pontos de outubro do ano passado a fevereiro deste ano, de 13 para 10, e a péssimo subiu 7 pontos, de 18 para 25. 

Observe que essa deterioração não se verificou entre prefeitos e governadores. Muito pelo contrário. Entre prefeitos, a nota péssimo, que havia subido a 21,5% em outubro de 2020, caiu para 10% em fevereiro de 2021.

As notas para a atuação do governador permaneceram estáveis. Mas ainda estão melhores que as do presidente. 

A pesquisa CNT/MDA traz outros dados importantes para captar para onde irão os ventos nos próximos meses. 

A boa vontade que a população parecia ter com o governo se esvaiu. Passado o susto da pandemia (que ainda mata muita gente, mas que, depois de um ano, parece ter se tornando um drama “normalizado”), as expectativas estão muito ruins, com cerca de 70% dos brasileiros prevendo que a situação do emprego vai piorar ou ficar igual (40% acham que vai piorar e 30% que vai ficar igual). 

No campo da segurança pública, o sentimento é de decepção. Quase 80% dos brasileiros tem expectativa de que a situação vai piorar ou ficar igual, contra apenas 23% que tem esperanças de que vá melhorar. 

 

A tabela abaixo, com os percentuais de resposta sobre a principal qualidade de Bolsonaro, nos ajudam a entender o que a população pensa do presidente. 

Para 29% dos entrevistados, a principal qualidade de Bolsonaro é a sinceridade. Sua suposta honestidade tem apenas 11% das preferências. 

O que isso significa? Bem, isso deve significar exatamente o que a pesquisa diz, que a população admira um político sincero, mesmo que essa sinceridade seja um tanto caricatural. 

Já os defeitos são bastante fragmentados: mau educado, despreparado, autoritário…

Interessante notar ainda que a atuação do governo federal no combate a pandemia continua ser majoritariamente aprovada, embora tenha piorado substancialmente de outubro para cá: em outubro, 57% aprovavam, hoje são 54%. Os números são piores que os dos governos estaduais. 

Para 49,7% dos entrevistados, o presidente Bolsonaro “não tem culpa nenhuma” em relação ao número de mortes em decorrência da Covid, enquanto para outros 47%, ele é um dos culpados ou o principal culpado.

A pesquisa abaixo mostra o respeito da população pelas instituições científicas, cujo prestígio se fortaleceu nessa pandemia. Perguntados sobre quem estaria fazendo mais pelo Brasil no combate a pandemia, 37,5% colocaram as instituições de pesquisa (Butantan e Fiocruz) em primeiro lugar. O presidente Bolsonaro  recebeu 16,6% dos pontos, e o ministério da Saúde, apenas 13,5%. 

A pesquisa fez ainda uma série de questões ligadas a agenda política discutida hoje. Por exemplo, a CNT apurou que 60% da população é contra a privatação das empresas públicas. 

 

Ainda segundo a pesquisa, 83% responderam que estão interessados em proteger o meio ambiente, com a maior parte enfatizando que estão “muito” interessados!

O questionário sobre o uso ou compra de armas de fogo mostram que um das obsessões mais caras de Bolsonaro, não fazem parte do imaginário nacional. Segundo a pesquisa, 68% dos brasileiros são contra alterações para flexibilizar ou adquirir armas de fogo, e 74% declararam que não tem posse de armas nem interesse em passar a ter.

A obsessão de Bolsonaro por esse tema é uma bizarrice importada dos EUA, um país que, desde o início do século XX, experimenta uma configuração social inteiramente oposta a do Brasil. Até meados do século XX, os EUA era um dos países mais igualitários do mundo desenvolvido, com um Estado de bem estar social musculoso, educação pública de qualidade (embora concentrada apenas nos ensinos fundamentais e médio), e leis tributárias fortemente distributivas. A classe média americana, espalhada por subúrbios ricos, tinha desejos de se armar, para supostamente se defender do ataque de uma minoria pobre violenta e maginalizada. No Brasil, a pobreza constitui maioria absoluta da população. Armar a população numa configuração tão desigual como a que temos é apostar no caos. 

 

Por outro lado, a pesquisa deixa claro que Bolsonaro tenta impor agendas ideológicas que são altamente impopulares e marginais no Brasil. Isso explica em grande parte a derrota do bolsonarismo na votação sobre a prisão de Daniel Silveira, além dos resultados negativos dos candidatos pró-Bolsonaro nas eleições municipais de 2020.

Um analista disse há alguns dias que a oposição precisaria errar muito para perder de Bolsonaro em 2022. Os números dessa pesquisa confirmam essa observação. Todos sinalizam para uma deterioração contínua do governo e do presidente.

Se a oposição não fizer muita besteira, pode ganhar inclusive de WO.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Alan C

23/02/2021 - 07h57

E ainda tem 1 ano, 10 meses, 5 dias e algumas horas pra sangrar.

Assistindo de camarote.

Paulo

22/02/2021 - 22h25

“Por outro lado, a pesquisa deixa claro que Bolsonaro tenta impor agendas ideológicas que são altamente impopulares e marginais no Brasil”.

Sim, mas eu diria, da mesma forma, que a esquerda tenta impor pautas culturais estadunidenses com as mesmas adjetivações…Vide aborto, agenda LGBT, cotas raciais, etc…

    Ivan

    23/02/2021 - 10h57

    Defina “pautas culturais estadunidenses”.

    A esquerda não impõe nada, ela tem suas bandeiras como qualquer outra ideologia política. Impor é jogar bomba contra o STF, ir na casa de ministro pra intimida-lo e etc.

    Pedro

    23/02/2021 - 12h29

    Em resumo: nem esquerda nem direita se salvam.


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